por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 2 de janeiro de 2011

Vida na segunda casa



O primeiro dia de aula da vida gente é inesquecível.
Lembro do material escolar, cujo encanto ofuscou todos os meus brinquedos. A partir de então apenas livros faziam a minha cabeça. Deixei de gostar de bonecas, justamente nesse dia. Uma pena, porque fiquei velha antes do tempo.
Lembro do primeiro dia de aula do meu filho mais velho. Era tão pequeno, e me pareceu um homenzinho. A vida começava naquele dia, quando o dia começara mais cedo.
A Escola sempre foi para mim um sanctum sagrado. Lugar de abastecimento para o futuro. E, nos estudos, fui faminta, voraz, como a fome de um diabético.
Passei essa carga de carência para os meus filhos.
Minha mãe brigava comigo para que eu encostasse os livros por momentos; que eu lesse de menos, nos dias de férias. Achava péssimo, quando o ano escolar terminava. Não sabia brincar, não sabia o que fazer da vida, sem aquela obrigação diária. Depois fui ficando cansada...!
Meu filho do meio é um nerd. Sua maior compulsão é estudar, estudar, estudar. Esse também não aprendeu a brincar.
Pais, oportunizem a infância dos seus filhos.Deixe-os brincar na terra !.
Sinto saudades do tempo mal aproveitado, nas brincadeiras de roda. Eu só queria mesmo era ouvir histórias !
Se o tempo voltasse, eu teria um bicho de estimação , e cataria borboletas e florzinhas pelos caminhos.
Não viveria os contos de fada com a emoção centrada, nos finais felizes.
A vida exige praticidade. Graças aos números , sai das viagens da Carochinha, e pisei no palco da realidade, onde a palavra de ordem é sobrevivência !

Mas, ser estudante é um dom da alma. Somos eternos aprendizes. O mestre é quem está por perto... Seja um sábio ou um menino !

O sol




Quando a sua luz poderá explicar o infinito?
Diário , sempre irrepetível!
No turno da noite, sempre escondido!
Nasce, brilha, possibilita vida!
Foge do olhar que se apaga
Queima a planta do destino

Ilumina  almas que viajam.
Põe-se no horizonte,
mar , nuvens
Verdeja a flora , que enfeita a casa
- O sol!
.

ao encontro da luz



madrugo
quando corro ao encontro da luz
o sonho se despede,
e parte numa nave azul
ficam cenas
olhares, sorrisos
e uma lágrima vertente
que molha o dia
preciso dessa paz
que as auroras me trazem
minha cama me chama
pra mais um conto pirotécnico
onde as emoções brincam,
e se escondem,
no meu travesseiro,
um surto lúdico.

O Patinho feio


Lembro que, quando descobri que sabia ler, só encontrava prazer, em descobrir o mundo, através dos livros. Deixei pra lá até as bonecas, e a brincadeira de roda com as meninas da minha idade. A leitura me preenchia!
O primeiro livro, que ganhei aos quatro anos de idade, foi “O patinho feio”. A identificação foi total. Certamente porque me considerava feinha com meus óculos de grau e as pernas gordinhas.
A partir de então me tornei insaciável. Queria compulsivamente, todos os livros de histórias que existiam. Quando faltava a novidade, pedia às pessoas, que me contassem histórias. E lá estavam meu avô, avó, Ricarda (uma Ba do Piauí), minha mãe, e todo mundo que tinha algo para contar.
As revistas do meu pai saiam das prateleiras, e os livros da biblioteca de Dona Liô, nossa vizinha da Pedro II, também!
Existia um programa de rádio, na Educadora, por Terezinha Siebra, que contava histórias, no final da tarde. Eu não perdia uma audição!
Gostava das férias no Mauriti, quando a meninada contava histórias, desenhando no patamar da igreja. Elas não tinham fim...Minha prima Socorro Montoril nos prendia, horas a fio, ou o tempo que queria. Geralmente a temática girava em torno de uma menina rica e feia, e uma menina pobre e bela. A beleza e a bondade, sempre compensavam a pobreza. Valores de uma época!
No Ginásio, fomos muito estimulados pelo nosso professor de Português: Dr. José Newton.Cobrava diário, vida escolar, em capítulos, relatório de férias, etc.
Adotei o diário íntimo, copiando um livro que toda menina do meu tempo leu : “O Diário de Ana Maria “. Aí, colava fotos, pétalas de flor, papel de chocolate, além de relatar fatos pitorescos que marcavam o meu dia a dia. Chegou um tempo, em que contei meus sonhos, na sua confusão de imagens e diálogos!
Escrevi cartinhas para tios, primos, e até namorados. Especializei-me em cartas de amor. Podia namorar através delas, com qualquer moço distante, inclusive os desconhecidos.
No São João Bosco existia uma boa biblioteca, complementada pelo acervo da Faculdade de Filosofia. Com isso, íamos trocando livros, revistas, entre os amigos, que apreciavam a leitura. Lambuzei-me de tanta coisa boa, romântica, mitológica, e até nostálgica. Mas optei pelos números, pelas exatas, e tomei o rumo das contabilidades.
Depois do exercício findo, tento resgatar o meu prazer original pelos livros e escritos, mas calculo alargado demais, o tempo de defasagem. Mesmo assim, tô na estrada. Colhendo palavras, encontrando o som e o sentimento que elas produzem em mim. Quem lê e escreve, tem a solidão compartilhada por uma infinidade de personagens universais.

Vida itinerante de uma bancária - Bahia !



Setembro de 1988

Voltando para o Nordeste, mas novamente para um ninho estranho. Nem sabia que Barra do Mendes existia. Encontrei uma casa para administradores à minha disposição. Pela primeira vez, gozaria do conforto de um ar condicionado, no quarto de dormir. Não faltavam pessoas pra ajudar na luta de casa, e era muito gostoso fazer a feira livre, e comprar as coisas da terra. A Bahia é festiva por excelência, e a gente sem querer, entra no ritmo. E haja dança, e pequenas viagens turísticas. Lençóis, Salvador, e até uma esticada no Rio, em feriados prolongados. O salário aumentara consideravelmente. Deu pra comprar um carro novo, e presentear o Caio, com um outro, no seu aniversário de 18 anos. Deu também pra comprar um Gradiente, última geração, com aparelho de CD (coisa rara, naqueles tempos).
Por problemas familiares, houve uma inadaptação social, e, depois de um ano fui removida, a pedido, no mesmo cargo, para a cidade de Valente, região do sisal. E começou um tempo negro, no funcionalismo. Meu cargo era desejado por todos, e acharam razões, para que eu fosse destituída da comissão. Os motivos, os mais absurdos: excesso de bebida alcoólica, comprometimento com agiotas. Provada a ausência de culpa, ofereceram-me reparação. Eu poderia escolher uma outra Gerência, a meu critério de escolha. Mas, naquelas alturas, eu já estava morando em Salvador. E, gostando! Havia comprado um apartamento na Pituba, carro na garagem, e marido nas cobertas. André cursava o pré-vestibular, Victor fazia Medicina e Caio estava vivendo o seu primeiro emprego, depois de concluir o ensino médio.
Trabalhava no Caixa da Metropolitana Brotas, e tinha um bom relacionamento interno. Quando me ofereceram um cargo de Gerente Especial (aquele que negocia diretamente com os grandes clientes), resolvi fazer nova escolha. Candidatei-me a agências impossíveis, como : Gramado, Ouro Preto, Maceió, Friburgo, Curitiba. E de imediato, chegou minha nomeação como Gerex de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.
Dessa feita eu deixava para trás uma vida confortável, mas ainda tinha missões especiais a cumprir. Novamente, o caminhão de mudanças parou na minha porta, e eu peguei um avião para o novo destino. Agora conheceria a região serrana do Estado do Rio. Friburgo era o meu destino!

Mas, Jair tem razão ...!
Passados uns 5 anos na Bahia, eu fiz por lá, meu aniversário de 40 anos. Ainda cheia de sonhos e com algumas esperanças. Gostava de viver a vida , mas sentia já um certo cansaço das rodas de violão , ganhando as madrugadas.
Em Salvador tinha como compromisso de paz, visitar a família da minha prima Gracinha, em Itacimirim. Final de semana com guloseimas e aconchego da amizade. Meu companheiro sabia tocar bem violão, tinha voz belíssima, e um repertório fantástico. Todo mundo gostava, e cantava junto. Mas, nem só de pão vive o mundo !
Naqueles anos, meus filhos perderam o pai, e minha dor foi tripla.Já sabia o que era enfrentar as alegrias do mundo, com uma ferida aberta das saudades.
Mas Salvador era minha senhora. Devia-lhe os luares, o mar, as comidinhas apimentadas, o astral do carnaval, e a poesia ambulante dos baianos. Nunca esqueci aquela cidade... Cheguei em Friburgo cantando : "Eu vim da Bahia/ mas eu volto pra lá..."
João Gilberto tinha sido , de certa forma, uma presença real !

Vida itinerante de uma bancária : Acopiara !



Abril de 1981

A cidade de Acopiara me acolhe. Consegui uma casinha pequena, mas logo em seguida, mudei-me para uma casa ótima , propriedade dos Rufinos. A crise do algodão é fato. As usinas estão sendo desativadas, e a economia sofre pela busca de novas alternativas.. O clima é seco, a agricultura depende das chuvas , e a renda do povo é baixa.
Assumi como Aux. de Supervisão, e substituo o Supervisor , nas suas ausências.
Meu gerente é Carlos Alberto. Um cara legal, que reconhece os nossos predicados.
Frequentamos todos, a sede da AABB, para a descontração diária.
Casei-me pela segunda vez com um mineiro, que venceu-me pelo cansaço. Tentei acertar , mas foi complicado !
Afeiçoei-me aos seus pais, e tento ser o anjo da sua vida, como a sua mãe me intitula.. Arrendamos a churrascaria da cidade, e eu tento ajudá-lo , nos meus intervalos de trabalho. Não gosto de trabalhar com bebidas... Não suporto !
Estudamos desde o princípio , uma possível transferência para uma cidade mineira, mas tenho que esperar o tempo mínimo ( um ano) para não devolver as vantagens da comissão.
Estou coordenando a bateria de caixas, sem nunca ter sido caixa. Mas a turma é bem legal , e aprendo com a competência geral.Trabalho com Gideone, um moço amigo, que depois reencontrei no Crato, como um dos primeiros proprietários da Choupana.
Acopiara deixou boas recordações. Carnaval animado, férias com meus filhos, passeios em Orós com meus pais e amigos. Mas o tempo de andar, chegou ! Eis-me a caminho de Uberlândia-MG, no Posto Efetivo.
Serei lotado no Cesec, um trabalho interno, sem contato direto com o cliente. Mas isso é papo para o próximo capítulo !

Vida itinerante d euma bancária: Friburgo!



Maio de 1992

Olhei meu apartamento pela última vez, e deixe-o vazio para ser alugado por uma imobiliária. O caminhão seguiu por terra com a minha mudança, e eu me adiantei pelos ares, em companhia de André, meu filho caçula, vestibulando.
Chegamos no Rio, e fomos direto pra rodoviária. Menos de 3 horas de viagem. A cidade estava gelada , naquele mês de maio. Pedimos ao taxista que nos levasse a um hotelzinho bom e barato.Estávamos no Centro da cidade, perto do Banco do Brasil, no hotel e restaurante de Dona Mariquinha. No dia seguinte fiquei sabendo que lá era servida , a melhor comida caseira da cidade. Inesquecível. Os garçons passavam a bandeja, a toda hora , com pratos diferentes , e a gente podia se servir do que quisesse, à vontade. Adorava principalmente, os pastéis de entrada.Depois vinham as saladas, o feijão preto, a carne assada, a farofinha com bacon, os ovos estrelados, o arroz soltinho . Tudo fumegando, tudo no ponto, tudo deliciosamente servido. A sobremesa era morango com uma cascata de chantily , feitta com creme de leite fresco. Um sabor nada comparável ao creme de leite das latas.
A Agência era moderna e linda. A cidade , que eu já conhecia, quando morei em Macaé, me parecia um recanto europeu. Floriculturas , cafés, docerias, lojas que vendiam queijos finos, licores e amanteigados.
Enquanto procurava casa para alugar ia descobrindo os segredos da cidade. Ela tinha qualquer coisa de mística, de búdica. O Pico da Caledônia, se mostrava, exuberante ! Disseram-me que lá existia um mosteiro budista, pouco frequentado, mas interessante pra gente experienciar a meditação em silêncio.
E, na sequência, tudo que era alternativo foi se apresentando: centro de danças sagradas, acupuntura, I Ching, Curso de Astrologia e Taro, cozinha macrobiótica, grupo de ufologia, medicina natural, etc e tal.
Parece que Deus sabia que eu precisava de toda serenidade do mundo para encarar o clima competitivo do Banco.Minha função de Gerex havia sido concorrida por milhares de pessoas.A interrogação era grande : "como conseguiu ser nomeada para cá?"
A resposta estava na boca da Direção Geral. Era a minha compensação por uma possível injustiça , no passado recente, na Bahia.
Lotaram-me no atendimento. Mesa redonda e cadeiras para negociações com os clientes. Nos primeiros dias, senti que a minha bodega estava vazia. Precisava fazer algo, produzir, mexer com as estruturas de base. O atendimento aos aposentados era um tanto marginalizado. As filas eram imensas, e o povo da terceira idade, sofrido. Propus comandar aquele setor, que não era ansiado pelos outros gerentes. Transformei o andar , noutro Banco. Humanizei-o com o maior dos meus carinhos. Servia , nos dias de pagamento, café, chá, chocolate quente; biscoitos, e distribuía chocolates, nas datas especiais. Acho que acabei incomodando, bastante. Foi a minha experiência funcional mais árdua, e ao mesmo tempo , a mais gratificante. Culminei-a, pedindo destituição da comissão, por livre e espontânea vontade, desejando reunir-me aos filhos, na cidade de Campina Grande-Pb. Claro ,que fui considerada uma louca.!A coragem de perder uma situação de prestígio não é fácil para qualquer um. Eu já havia compreendido, claramente, que o bom da vida é SER ... ESTAR é passageiro demais, para que a gente possa nele se fiar.

Mas até completar meus dois anos, vivi muita coisa boa !
A natureza em Friburgo é prodigiosa. Só comparável ao nosso pé de serra.
Muitos shows, muita gente de fora com figurinhas para trocar, e a gastronomia especialíssima !
Os bosques de orquídeas eram nativos. Águas correntes , clima ameno, recantos paradisíacos !
Meu companheiro que tocava violão chegou pouco depois. Não sentindo clima de boemia , despediu-se em seguida. Eu aproveitei para um tempo de serenar o coração e a alma. Mas, vez por outra, dava uma passada no bar "Edoardo", onde as pessoas curtiam um Happy Hour. Aí era papo , que não acabava. Gente escolarizada, sensível... Nada a ver com o grupo bancário, onde também existiam pessoas afáveis.
Um dia, o Apto em que morávamos teve, literalmente, o teto desmoronado.André conseguiu alugar por amizade uma casa belíssima, onde ficamos até o nosso último dia em Friburgo. Foi massa !

Afora o diferente , ainda lembro com saudades das Escolas de Samba, na época do Carnaval. Sem os deslumbres do Rio, claro, mas com a essência no pé, e na alma. Cheguei a participar de uma delas , com grande entusiasmo. Na realidade eu vivia meu lado profano e sagrado, em perfeita harmonia... Se isso é possível !

Fomos visitados por todos amigos e familiares. Friburgo, encantava !
Passei inúmeros finais de semana no Rio, em Lumiar, e em São Pedro da Serra, sem contar com outros lugares, nas proximidades.
Foi sem dúvidas uma experiência rica , e no fundo feliz, morar em Friburgo.
Mas, com notas da responsabilidade materna, Campina Grande me esperava... E fui !

Era Agosto de 1994

Agosto



Agosto é o mês dos meus gostos ...
Nem todos !

Os desencontros acontecem,
mas se alternam,
com sonhos de encontros.
Rezo pra Santo Agostinho,
e assisto Hitchcock,

para aprender a desvendar ,
alguns dos teus mistérios.

Um exercício complexo...
O revelar-se
O aprender com retoques,
na miragem da calma .

pancada da brisa



Foco num beijo.
Vento carrega os meus , e sai por aí, beijando folhas,
que a sua força ,forte ou suave , deixou cair.
Beijo e suspiro combinam com a surpresa do carinho expresso...
É como um café, que a gente beberica,
e deixa na boca um gostinho de céu.
Beijo é remédio leve , sem tarja preta.
Ansiolítico do corpo e da alma.
Beijo está na pele
de quem levou uma pancada da brisa.

Vida itinerante d euma bancária- Lábrea !



Fevereiro de 1979

No Banco do Brasil, quando um funcionário desejava acertar as suas contas ou queria mudar sua rotina, pleiteava uma adição. Num tempo limitado, a partir de três meses, ganhávamos diárias, que representava a duplicação do salário.
Foi divulgado que por ocasião da inauguração da Ag. De Lábrea,(AM) existiriam vagas para adição. Fortaleza enviaria três funcionários. A lista de concorrentes era expressiva.
Numa noite de pleno Carnaval, na AABB, cruzei com o Gerente Maia, e confessei-lhe: “olha, eu estou precisando desta oportunidade!”.
Quarta-feira de cinzas, meu nome constava na lista dos indicados.
Dois dias depois estava voando para Manaus, em seguida para Porto Velho (Ro), de onde finalizaríamos o percurso para Lábrea, num avião pequeno ,mono- motor. Encontramos-nos, os adidos, na expectativa daquela aventura. Éramos 12, incluindo a implantadora.
Quando nos acomodamos na aeronave, o silêncio era mortal. Sobrevoar a selva Amazônica, sem a segurança técnica, nos atemorizava.
Uns 40 minutos depois estávamos aterrissando, na terra prometida. Fim do mundo, civilização primitiva. A cidade construiu um hotelzinho para nos receber. Saímos à noite, em grupo, para o reconhecimento da cidade e pessoas. Cervejinha, com sal e limão, nas bordas da lata.Nunca gostei de cerveja, optei pelo guaraná Baré (deliciosos!). Auxiliadora, a implantadora, mineira, tocava um violão maneiro. Minervino, potiguar, gostava de cantar.
Rômulo Rolim, irmão do Jair, pertencia ao grupo de adidos.
O tempo não passava. Os dias me pareciam infinitamente longos.
Curtíamos e sofríamos: a chuva diária , o pôr-do-sol deslumbrante, as picadas de carapanã, as pescarias e banhos no Purus, a natureza exuberante, as viagens para Porto Velho, Humaitá, e Letícia , na Colômbia, aproveitando o tempo de estadia. Nas pequenas viagens, nos cotizávamos e pagávamos os fretes de avião.
As vezes tínhamos dinheiro no bolso, e nada para comprar. Salvavam-nos as castanhas do Pará, o leite condensado, e a polpa de cupuaçu. A economia básica era borracha e madeira. Nada de agricultura e Pecuária.
O maior desafio meu, como bancária, foi elaborar a primeira folha de pagamento da Agência. Fiz os cálculos minuciosos, em cima da CIC, e trabalhei os “espelhos”, numa NCR.
A cidade era festiva. Dançávamos carimbó , quase todos os dias, no clube social.
Diziam do alto índice de lepra, na região, mas conseguimos não nos apavorar.
Quando cumprimos o tempo mínimo previsto, respirei aliviada pela não renovação.do contrato. A experiência tinha sido muito forte.Às vezes achava que havia morrido, e estava ora no céu, ora no inferno, ora no purgatório.
À volta, na parada em Manaus, enchemos as nossas malas de coisinhas importadas. Presentes pra todos os amigos e familiares!
Cortei meus cachos, pintei o cabelo de vermelho, e encarei Fortaleza com um novo visual... Quase ET!

Um ano depois, me despedia em definitivo de Fortaleza, transferida para o Cesec de Juazeiro do Norte, recém inaugurado. Era o ano de 1980!

Retrato da poesia



Existem riscos ,
que eu não petisco
A lua protege de luz
o beco escuro dos meus olhos
Ontem ela esteve soberba
grávida de todos os sonhos
ventre inflamado de encantos
Minha câmera invisível
encara o céu...
A janela dos meus hóspedes,
sempre aberta ,
É o porta-retrato da poesia

Ausência



Eu sei que você não veio
que você não chegou
que o vazio ficou...

Eu sei que não tivemos tempo
que foi tudo rápido,
como um sorvete na praça,
num domingo quente

Eu sei que podia ter sido diferente...
Não consegui felicidade plena
Senti todas as ausências
e abracei comovida todos os meus amigos
que a vida, naquela noite, reuniu !

Preciso agora de encontros próximos
no dia a dia...
Aqui ou alhures.
Com tempo para os silêncios , um cafézinho,
um papo, num banco da praça...
Estou carente de ficar mais tempo
com os meus amigos.
Que eles cheguem em versos, prosas,
e celebrem conosco as alegrias da vida .
Essa curta curva ,
que nos reserva vislumbres da eternidade
onde o que é verdadeiro, fica !

Vida itinerante d euma bancária : Fortaleza!



Agosto de 1977

Fortaleza do alto me pareceu pequena. Procurei sua personalidade física, e não identifiquei..Estava apaixonada por Recife!
Ag. Centro Fortaleza, na Pça do Carmo. Um novo tempo de vida, novos amigos!
O cearense é receptivo. Senti a alegria de voltar pra casa!
Praia de Iracema, e seus recantos boêmios: Bar de Tia Rosa, Nick Bar, ou ainda, onde Zivaldo Maia tocava. No Estoril, reunia-se uma tribo política, figuras estereotipadas, alguns da esquerda festiva, mas o papo era agradável..Tinha gente que fazia a diferença, e bebíamos consciência política, democratização, e cidadania.
Tempo em que passei finais de semana numa Canoa Quebrada à luz de lampiões, dormindo na casa dos pescadores, comendo peixe com farinha , e café com tapioca. Dançávamos na noite, ao som de uma vitrolinha, com um disco arranhado de forró. Mas os nativos sabiam dançar, e a gente pegava um embalo festivo.
Trabalhava no Câmbio ( setor considerado de elite), mas depois fui transferida para um setor de estiva. Meus filhos exigiam minha assistência, e eu não dispunha de tempo para prorrogação de expediente.
Frui alocada, no SEDIV (setor de serviços gerais), como provação ou castigo.
Enquanto expurgava documentos, ou fazia ordem no arquivo morto, cantava todas as canções que eu sabia. Trabalhava ludicamente, e as noites me esperavam com as suas rodas de viola.
Saudades do "Santiago Drinks" ! Saudades da voz de Otávio Santiago que, acompanhado de Zivaldo ,cantava “A mulher que ficou na taça”, " Dama de vermelho", "Foi Ela ..."
Um dia, acordei querendo uma mudança de vida. Já tinha completado minha faculdade de boemia. Cristiano Câmera, a quem visitava com freqüência, já tinha me contadas mil histórias sobre a música clássica, a música popular brasileira, e o cinema antigo. Foi um professor e tanto!
Antes de pedir nova transferência, vivi a experiência de uma adição no Amazonas. Depois, pedi remoção para o Cesec de Juazeiro do Norte, querendo ficar de novo perto da família, e melhor conduzir a vida dos meus filhos.
E, mais uma vez, com o coração machucado de saudades, segui a estrada do destino. Deixei o mar para trás.
Lábrea (AM) e Cesec Juazeiro do Norte, merecem capítulos à parte.

P.S. Dessa passagem por Fortaleza grandes amizades se firmaram :
Abraços em Maria de Jesus Andrade, Celeste, Dona Raimunda, Dorvina, Condé, Wilson Garcia, Luiz Ailton, Zivaldo e Maria do Carmo, Sérgio Rodrigues, Cecília, Luciano Lira, e tantas outras pessoas queridas

O doce e a traça



Enquanto falo da vida,
e vejo que tudo passa
também sinto o retornar
do muito que a vida traga
Traças não corroem
o véu da minha cara
Formigas não bicam
o doce da minha taça.

Vida itinerante d euma bancária - Uberlãndia!



Agosto de 1982

E um caminhão de mudança pegou a estrada de Minas.Uberlândia, no Triângulo Mineiro, meu próximo destino !

Assumi no Cesec, num horário especial : das 18 às 22 h. Tenho o dia pra cuidar da casa , e dos filhos, na idade escolar.
Trabalho na digitação, um trabalho manual, repetitivo, que nos permite intervalos de folga de meia, em meia hora. O lanche é bem legal, e dá pra papear com os colegas de sina. Nicodemos foi um deles. Nos conhecemos, justo nessa época ! Ele era um bancário querendo ser artista, músico ( sua verdadeira vocação).
Pegava carona no final do expediente, na garupa da sua moto. Frio imenso ! Parávamos num barzinho pra ouvir um violão, e bebericar um conhaque.
Uberlândia é uma cidade progressista, mercantilista, e por lá o dinheiro corre mais fácil do que no interior do Ceará. A festa de Exposição Pecuária é um evento anual de destaque !
Apesar da influência da música sertaneja, encontramos músicos que divulgam a MPB da mais fina origem, como o pessoal do Clube da Esquina. Lá aprendi a gostar dos meninos, mais ainda !
-Milton, Toninho Horta, Beto Guedes, Ivan Lins, L.Borges, etc.
Finais de semana passeando em Araxá, Patrocínio, Caldas Novas, Uberaba, e até Belo Horizonte e Sampa, mudavam a minha rotina.
As pessoas me ensinaram uma alimentação mais rica. De todo Brasil, Minas tem uma culinária especialíssima !
Mas não consegui me achar naquelas terras. Pedi remoção de volta para o Ceará, oito meses depois.
E ela chegou com desligamento imediato para a Ag. de Juazeiro do Norte, no Ceará.
O caminho de volta foi feito num chevette , cantando Chico e Francis Hime, e com um gostinho de pão de queijo na memória.. A chegada , fica para o próximo bloco.

Oracular



E Anita falou :
Deixe o passado para trás. Teu futuro é animado . Caminhos abertos, corpo fechado !
Vida longa precisa intercalar de festas, a solidão.
O amor , quando bate à porta , porque não o deixa entrar ?
Filha de Santa Clara por que desistiu de amar ?
Rasgue a fumaça com o olhar. Filha de Santa Clara não perde por esperar ...
Deixa a esperança voltar !
E Anita a chamou de birrenta, ciumenta, pavio curto, coração amoroso, apaixonado. ... E ela compreendeu que ser bom é esquecer o sofrido, e apostar na alegria.
Quem parte por qualquer motivo, tem o direito à liberdade de partir. Não podemos prender alguém com o pensamento... Liberar é poder ficar , sem abrir mão do bem estar !
E ela flutuou nas nuvens que achou no dia... O amor nunca a deixou , nem ficou preso em si.
Tem o mérito de poder voar, e pousar onde o seu coração deseja por escolha , por vontade...
A vida é longa , quando o amor é sagrado !

transcendência



dor de amor não mata
está no choro e no riso
(sem masoquismos).

Impossível amar
sem aperto no peito...

coração lato ,
seja abençoado !

depois de lamber a ferida
a gente transcende,
e ama de novo,
até doer na alma

Há um prazer místico e erótico
nesse processar divino,
tão humano...
um sentimento epidérmico,
que deixa cascas na alma.

Domingo



Acordei sem lembrar do que sonhei , mas lembrando um passado remoto , e uma das minhas inúmeras mortes.
A vida reflete o sonho Tenho parcos sonhos. Economizo distâncias , dinheiro, paixão , e até saúde. Sou tão injusta...! Só não economizo poesia.Por falta de sonhos ela chega de chinelos franciscanos, perambulando no frio fulgor das auroras.
Tenho tudo e deixo de querer o essencial. Estou presa às quatro paredes, e de janelas e portas abertas para o mundo virtual. Lá também não sonho , nem invento realidades. Não brinco de amar.
Não sou exatamente triste, nem exatamente romântica. Sou quase esquisita... Alegro-me com o brilho no olhar dos meus amigos. Absorvo e rejeito a tristeza. Choro-a em prantos, sem entender o meu luto contínuo.... Coisas perdidas , ganhos em caixas vazias. Quando a morte chegar , de nada me separará, a não ser das manhãs e madrugadas, e dos irrespiráveis ares que insisto em tragar.
Eu resumi a vida , e ela teimosa se estica. Comprimi todas as músicas, no repertório de Nana Caymmi ( nunca vou escrever sem dúvidas , o sobrenome Caymmi...). Não gosto de política, nem de Economia, nem de futebol ...Não gosto do risível , nem do aterrador. Vivo as madrugadas que nascem e morrem em mim, num cotidiano repetitivo, desequilibrado com algumas surpresas.
Um desconto ou troco poético , que me roubam do tédio.
O contato com as palavras é recreativo. Tomo café com vogais, e faço sopas com todas as letras.
Faço turismo nos contos de alguns, catando arrepios e extraindo gotas de emoção para molhar a secura do coração. Não sei os motivos da arte. Ela foge de mim , quando a procuro, e esconde-se nos meus porões.
Mas hoje é domingo. Ganhei o mundo , ainda cedinho.Deixei a porta de casa , a sombra e a água fresca , e me perdi nos caminhos.

Hoje é dia de combate ao fumo . Fiquem atentos !!!

Vida itinerante de uma bancária- Em transferência...



Abril de 1983

Um retornar ligeiro ao Cariri, motivada pela falta do aconchego familiar. O Crato é ponto de reunião , conciliação entre trabalho e família., mas, já tenho tempo suficiente de Banco para desejar prosseguir na carreira...Impasse !
Morando no Crato e trabalhando no Juazeiro , a vida correu por 6 meses. Aprendi a usar o telex , e complemento minha carga horária, no setor de telecomunicações. Célia me orienta. Gente fina !
Tempo em que frequentei a AABB de Juazeiro, em busca daquele clima boémio que sempre apreciei: voz e violão !
Moro com meus pais e filhos, enquanto meu marido se estabelece em Macaé-RJ. E é pra essa cidade, que peço remoção.
Fragmentada nas emoções, com a mala e a coragem , desço no Aeroporto de Belo Horizonte, onde o mineiro me aguarda. Estou de férias , e pretendemos percorrer, antes de chegar à Macaé, todas as cidades do Sul de Minas.Vinte dias excursionando : dois dias em cada lugar : de Barbacena a São João Del Rei.
Marcante ! Nem sei se fui feliz ...Nem relaxei , quando dei de cara com o novo, com a nova vida : Macaé !
-Cidade litorânea do Estado do Rio. Tema do próximo capítulo .


Um pó " Promesa" de Magali
Uma couve-flor do Babo
Uma rosca do Piauí da minha mãe
Uma serenata de Nicodemos
Um desenho do Caio

A companhia do Victor
Um dia de sol, na casa de João e Fátima
A poesia da Edilma
As flores de Claúdia ...

E todos eles já recebi. E é como se fosse hoje, porque a nossa lembrança tem o poder do tempo. De redeixar, em nossa porta, o carinho que não passa, num abraço imaginário, que é real !.
Impossível não lembrar que, no dia de hoje, na década de 60, falecia uma mulher, quando deu a luz a uma menina. Saindo da escola, e passando em frente a sua casa, ali perto do Palácio do Bispo, entrei e me misturei entre as pessoas , que participavam do velório.Eu estava completando 11 anos, e queria risos, ao invés de lágrimas.
Olhei o rosto de Ana Lúcia, uma pessoa do meu tempo, com quem nunca tive aproximação maior, e apiedei-me..Um dos meus maiores medos era perder meus pais, ganhar uma madrasta, sair reprovada, assistir ao fim do mundo, ou dormir , sem acordar.
A impressão de angústia permaneceu em mim, nesses 48 anos passados.
Deus cuidou da vida dos filhos que ficaram.
Percebo que as perdas, quando bem compreendidas , não desestruturam quem fica.
Felizmente não perdi meus pais em tenra idade. Felizmente ficou adiado , no meu calendário vida, estas perdas. Mas, mesmo assim , ainda me custa receber uma notícia de morte de uma matriarca.
Um mês atrás , ela estava tão bem, na festa do Cariricaturas !
De vestido rosa claro , bordado, e muito alinhado.
Participou do nosso almoço, e ainda a revi, duas semanas atrás, quando entrava na Sé, para assistir uma missa, em companhia de Fátima e Rosineide. . Fez questão de me cumprimentrar com toda simpatia... E é aquele sorriso, que eu vou guardar na lembrança. O sorriso de Dona Elsa Barreto de Melo, a mãe dos meus amigos !.

Vida itinerante de uma bancária - Macaé!



Outubro de 1983
Depois de percorrer o sul de Minas , atravessei os limites do estado do Rio de Janeiro, e fui me aproximando de Macaé.
Estava deveras curiosa. O Rio era um Estado que me encantava.
Como seriam as cidades do interior, praianas? Queria conhecer Rio das Ostras, Cabo Frio, Saquarema, Umuarama e Macaé !
Choquei-me com a exploração petrolífera, que diziam ter mudado a personalidade física da cidade, além de um custo de vida, altíssimo !
Optei em morar na pousada de um espanhol. Funcionários da Petrobrás, aviadores, também se hospedavam lá.
Senti falta dos coqueiros do Nordeste. As águas eram frias , e os pinheiros me reportavam a um recanto do Paraná, como bem dizia a música de Djavan.
Foi a primeira Agência que me deu uma oportunidade concreta ! O Gerente, mal cheguei ,designou-me para fazer curso de caixa , no Rio de Janeiro. Passei no Itajubá, Cinelândia, 30 inesquecíveis dias.
Com um intervalo , na casa da minha amiga Graça. E foi lá ,que aconteceu-me uma surpresa . Adivinhem quem veio para almoçar?
Salatiel e o seu violão !
Saíamos em grupo todos os dias depois do curso. Do Café Nice ao Maracanã.Voltei pronta para o atendimento ao público. Estava às voltas com a autenticação de papeis de caixa, pagamentos e recebimentos, e comecei a sofrer a tensão diária : será se o caixa vai bater ? Morria de medo de encarar as diferenças.
Fui lotada num posto de serviço da Petrobrás. A clientela era toda de funcionários daquela empresa. Um público exigente, mas interessante !
Na pousada jogava cartas com o pessoal, e , se ganhava uns trocados, perdia também apenas umas moedinhas. O apurado no jogo era gasto no supermercado. Com o produto das compras fazíamos um jantar coletivo. Era legal !
As meninas e meninos do Banco, jogavam voley de praia, e eu até arrisquei, mas decididamente não levava jeito.
Em contrapartida, vivi a experiência noturna, de pesca de camarão, numa noite de lua cheia. Inesquecível !
Macáe tinha uns barzinhos , tipo PUBs, e um estilo de vida meio americanizado, com a presença das offshores, que serviam de apoio à Petrobrás. Não entrei na intimidade dos nativos. Cheguei e voltei estrangeira. Mas guardo uma lembrança carinhosa da turma do Banco : Lina, Sônia ...
Viajava bastante nos finais de semana . Ora para ver um show no Rio, ora para curtir cidades como Friburgo, Teresópolis , Petrópolis, Búzios, e até Paraty e Angra.
Mal me adaptara, fui nomeada supervisora de Mauriti, no Ceará.
As vantagens somadas às economias , correspondiam a uma boa grana. Liguei pro meu pai, e questionei : compro um carro zero ou viajo por aí, até a grana acabar? Ele riu e disse: faça o que for melhor pra você ! E assim decidi: Pai, pegue um avião e chegue . O senhor será meu companheiro de aventura . Ele não pensou duas vezes. Chegou , e começamos a nossa excursão, que pretendo contar, no próximo capítulo ...!

Vida itinerante de uma bancária- Juazeiro do Norte!




Dezembro de 1980


Cesec Juazeiro do Norte- (Centro de processamento de dados do Banco do Brasil)

Estava de volta ao Cariri. Com a informatização das Agências e abertura dos Cesecs as vagas não eram disputadas, muito pelo contrário, havia necessidade de funcionários naqueles novos centros.
Morando no Crato com a família, e trabalhando na cidade vizinha de Juazeiro, a vida ficou equilibrada.
Voltamos para os tempos de digitação, do trabalho interno, do estreitamento das amizades.
Emanoel era o nosso chefe , e eu trabalhava sobre a guarda Felipe e Ronald Albuquerque . Tempos sem pressões !
Vivi agradavelmente essa época.
Toda quarta-feira havia seresta dançante na "Casa de Noca", que eu frequentava com o meu pai.
Finais de semana viajava para Fortaleza, onde o mar, o amor e um violão me esperavam.
Mas vida boa quer pressa. Senti que estava na hora de aspirar a um cargo comissionado, e entrei na concorrência. Fui nomeada Assistente de Supervisão em Acopiara -Ce. Novamente desmanchei a casa,
e parti para uma vida nova. Desta feita, não tão distante dos meus.Pela primeira vez, o Banco custearia a minha mudança, e o salário seria diferenciado. Topei !
Fica Acopiara para um próximo capítulo !

Viagem no silêncio




viajo no silêncio
extraindo sentimentos
quando sobra um pensamento
eu entrego pras estrelas
que sabem guardar segredos

sorvo a noite da varanda
embriagada dos cheiros
e vou dormir com meus risos
num labirinto de enredos

Num choro recém-nascido
esbarro em teu coração
e juntos nos deleitamos
do amor que nunca soube
encontrar a solução.

Vida itinerante de uma bancária- Recife!





Dezembro de 1975

Enquanto alugo um cantinho, e trago os meninos, Teresa Patrício me acolhe, na república de estudantes do Crato, situada na Rua Conde da Boa Vista. A proposta era ficar o mínimo de tempo possível.
Encontrei uma turma que estudava, e nos finais de semana frequentava os barzinhos do Espinheiro. Encantei-me com a música ao vivo, da melhor qualidade, coisa que no Crato, ainda não existia..
Manhã de segunda-feira, eu conheci a Ag. aonde eu trabalharia. Alonso Regis trabalhava no Funci e deu-me o primeiro atendimento. Depois correu a agência por todos os setores, apresentando-me ao pessoal. Fui lotada no setor de cobrança, e minha vizinha de mesa era Rejane Gonçalves. Os anjos divinos estavam do meu lado. Conhecer Rejane foi a melhor coisa que me aconteceu em Recife. Um pouco tímida, mas de olhar arguto e sábio, ela me observava... Estranhava, sobretudo as minhas meias finas. “Vixe Maria, essa mulher é dondoca demais!”. Por generosidade começou a me emprestar seus livros, passar dicas de filmes e discos...E, num momento preciso, até cedeu-me um lugar no Ap. que dividia com mais duas colegas e amigas: Lúcia e Graça. Pois não é que foi Rejane que me apresentou a Salatiel Alencar?

O tempo na Dantas Barreto foi restrito. A informatização convidou-nos a aprender a digitar, e eu comecei a trabalhar na Ag.Centro, nos serviços da congênere.
Lá vivi momentos especiais. passei no concurso interno para nível superior, fiz grandes amizades.
A hora do almoço enchia de idéias e bons papos, o nosso prato. Alonso falava em Ufologia, Rogério em MPB, Severino contava com bom humor, causos da vida.
Fui me sociabilizando, entrando na vida, me liberando!
Claro que recebi ajuda. Fiz terapia em grupo com Grace, que me valeu por todo o futuro “que vivi., e vivo”! .
Mas é difícil não ter coração bobo, antes dos 25 anos. Apaixonei-me, e voltei a sonhar com um amor para sempre.
Quem teria coragem de assumir uma mulher com três filhos pequenos? Difícil!
E, quando descobri que a chance de um amor perfeito inexistia, fiquei tão triste em Recife que, impetuosamente, pedi transferência para Fortaleza. Pensava: sou cearense do Crato...Lá fico mais próxima das minhas raízes. Ledo engano. O cratense é antes de tudo um pernambucano! Bebemos nas águas do Beberibe as nossas poesias, músicas, cultura.
A mudança para Fortaleza, que julguei necessária, rasgou meu coração. Deixava amigos com Seu Amaro e Dona Iranete, Zilda, Mary, Giovane, Rejane, Graça, Lúcia, Alonso, Juarez, Bosco Cardoso.E agora?
Meu desligamento estava marcado, e assim foi feito.
Naquele dia em que peguei o avião, almocei no “Buraco de Otília”, em companhia de um colega, que surpreendido com a minha decisão, me dizia: “louquinha, desista!”
Mas eu segui em frente. Acreditei que o destino traça o nosso rumo, e a gente pensa que decide, o que se quer no mundo...
55 minutos de voo, e aterrissei no Aeroporto Pinto Martins. Deixava as minhas pontes, o meu sorvete no Zecas, as rodas de samba no Cancela, o sonho de fazer uma nova faculdade, os amigos do coração, com a responsabilidade de ser feliz e criar três meninos.
Mas Fortaleza fica para um próximo capítulo!
A saudade de Recife, resiste !

Vida itinerante de uma bancária - Crato !





Dezembro de 1974.

Banco do Brasil em Crato, me espera. Rostos conhecidos me recebem: Iolanda, Ana Lúcia Brito, Rosário, Joanita, José Erlânio, Manoel Borges, Edgar da Matta, João Batista, Josimar Leonel, Ronald Albuquerque, Alonso Gomes, etc.
Seu Edgar foi meu primeiro chefe, no SETIN (serviços internos).
A gente ganhava 15 salários por ano, assistência de saúde das melhores, e tínhamos um padrão de vida razoável... Alguns consideravam o melhor emprego público do Brasil. Dava pra comprar a crédito todos os móveis da casa, viajar nas férias, e comprar roupas bonitas. Sabíamos que todo dia 20, o salário entraria na conta.
Foi um tempo sobrecarregdo, porque eu voltei a ensinar, no período da tarde, e no período noturno, além de cuidar da família.. Era uma correria só, do Banco para os diversos estabelecimentos de ensino. A maquiagem derretia, porque eu não tinha carro, nem existiam os moto-taxis.
Participei como diretora social da AABB, e promovemos algumas boas festas.
Por razões particulares, um ano depois, solicitei minha transferência para o Recife, e, de casamento findo, com três filhos pequenos, peguei o ônibus do destino.A dor da saudade, no coração... Mas a vida nova precisava ser iniciada, num novo cenário: sem Chapada do Araripe, sem amigos de infância, sem alunos, sem parentes... Cara e coragem, e uma vontade imensa de viver, e de existir por mim mesma.
E foi com essa disposição, que trabalhei, no meu primeiro dia, na Ag. Do Banco do Brasil da Dantas Barreto, em Recife.
Metropolitana Santo Antonio, registro, e deixo para um próximo capítulo.
Sofia, num esforçado alongamento,
para ganhar a porta do mundo.
Com menos de dois anos, ela já sabe que:
a casa é seu útero;
a mãe, seu refúgio;
a irmã, sua boneca maior;
o pai, seu porto seguro ,
e as avós , o sinal verde para fazer travessuras !

Vida itinerante de uma bancária - Iguatu!




16 de Setembro de 1974.
Estou a caminho da cidade Iguatu, para assumir minhas funções de bancária.
Enquanto o trem balança nos trilhos, meu pensamento voa, querendo adivinhar meu novo destino.
Deixei para trás minhas turmas de alunos, e isso me deixa pesarosa. A impressão que sinto é de que nasci para ensinar Matemática. Mas, todos me considerariam louca, se trocasse as vantagens de ser funcionária do Banco do Brasil, por um giz e um apagador. Mesmo assim, sinto que a minha vocação natural foi contrariada.
O trem é um meio de transporte lento... Passa estrada, passa casa, passam lembranças e sentimentos. André Caio e Victor ficaram na companhia da minha mãe, do meu pai, e do pai. Só irei revê-los, no final de semana... Uma dor estranha de irresponsabilidade materna, me oprime.
E lá cheguei. Estava em companhia de Aldenir Silvestre, Anderson Xenofonte, Rafael, cratenses, do meu concurso, que também assumiram na mesma Agência.
Atravessei a ponte do rio Salgado que margeia a cidade. Chegamos, na terra dos sapos.
Apresentei-me ao Sub-Gerente, e fui designada para trabalhar na retaguarda, somando papéis de caixa, e contabilizando partidas de extracaixa.
Importe, era a palavra inicial... Rasguei tanto as primeiras partidas, que pedi ao chefe que descontasse o material estragado, no meu primeiro salário. Até que desarnei, e fui pegando agilidade.
Desde o princípio, sonhei com uma transferência para a cidade do Crato.Um genro de Seu Pierre, que morava em Brasília, foi o intermediário.
A experiência de voltar a dormir num a cama de solteiro foi inesquecível. Comecei a gostar, embora sentisse muita falta da família. Uma mãe mocinha (21 anos) deixa o filho cochilar no peito, mas não consegue segurar o sono. E os meus foram praticamente desmamados naquela época. Voltaram às mamadeiras, salvos pelo carinho dobrado da avó: Dona Valda!
Parecia que o tempo não corria... Comecei a preencher as noites, ensinando Matemática, no quarto pedagógico do Colégio São José. Ensinar é um vício!
Durante o dia sofria o drama das diferenças contábeis. À noite brincava com os números, enquanto ensinava, e assim passaram-se 3 meses. Chegou minha transferência para o Crato.
E essa notícia tão alegremente recebida marcou minha vida.
Fica para o próximo capítulo, meu tempo de trabalho, na Ag. do Banco do Brasil, em Crato!

Vida itinerante de uma bancária - Campina Grande !




Agosto de 1994


Aluguei um apartamento, no Bairro do Catolé,(Campina Grande) , antes da chegada do caminhão de mudanças. Rede armada, filhos em casa (com exceção do Caio, já casado), e garrafinhas de água mineral por todos os cantos. Sinto-me em paz. Sensação de leveza e liberdade, como se eu pudesse até morrer, naquele instante.
Estou trabalhando na plataforma de atendimento às pessoas jurídicas. Vendendo seguros, e aprendendo, inclusive, como se faz uma vistoria num carro. Sou boa vendedora, acho! Estou sendo designada para fazer cursos, em João Pessoa, e multiplicar as informações, em nível de Agência. Tenho contribuído, no atingimento de metas. Minha avaliação funcional é indicativa de cargos, na alta administração, e tenho a autonomia de quem sabe mandar, e sabe ser mandado. Minha aprendizagem como bancária, fechou o circulo!
O terrorismo é evidente. A política funcional cogita claramente, a supressão do seu quadro, na ativa. E chega o programa de demissões voluntárias. Posso me aposentar dentro de dois anos, e posso esperar esse dia, fora do Banco. Provavelmente fui impulsiva, quando fiz a minha adesão. Mas, senti necessidade de sair do contexto, que me parecia torturante. Não por mim, mas por muitos dos meus colegas. Campina Grande foi um pouso... Apenas isso!
Victor concluiria seu curso de Medicina em Fortaleza, e eu o acompanharia. André cursava Administração de Empresas, e poderia também ser transferido. Encaramos os três, a nova estrada do destino. Deixamos para lá a cidade de clima feliz, dos doces abacaxis, do forró diário, das vaquejadas, e dos repentes e seus violeiros.
Flávio José cantava algo, quando nos despedíamos de lá, sem saudades! O coração estava habituado a partir, e a deixar partir!
Fiquei por 5 anos em Fortaleza, quando em 2000, resolvi fixar residência, no meu torrão natal: Crato !
Foi a volta definitiva.

Vida intinerante de uma bancária - em trânsito !



Agosto de 1982

E um caminhão de mudança pegou a estrada de Minas.Uberlândia, no Triângulo Mineiro, meu próximo destino !

Assumi no Cesec, num horário especial : das 18 às 22 h. Tenho o dia pra cuidar da casa , e dos filhos, na idade escolar.
Trabalho na digitação, um trabalho manual, repetitivo, que nos permite intervalos de folga de meia, em meia hora. O lanche é bem legal, e dá pra papear com os colegas de sina. Nicodemos foi um deles. Nos conhecemos, justo nessa época ! Ele era um bancário querendo ser artista, músico ( sua verdadeira vocação).
Pegava carona no final do expediente, na garupa da sua moto. Frio imenso ! Parávamos num barzinho pra ouvir um violão, e bebericar um conhaque.
Uberlândia é uma cidade progressista, mercantilista, e por lá o dinheiro corre mais fácil do que no interior do Ceará. A festa de Exposição Pecuária é um evento anual de destaque !
Apesar da influência da música sertaneja, encontramos músicos que divulgam a MPB da mais fina origem, como o pessoal do Clube da Esquina. Lá aprendi a gostar dos meninos, mais ainda !
-Milton, Toninho Horta, Beto Guedes, Ivan Lins, L.Borges, etc.
Finais de semana passeando em Araxá, Patrocínio, Caldas Novas, Uberaba, e até Belo Horizonte e Sampa, mudavam a minha rotina.
As pessoas me ensinaram uma alimentação mais rica. De todo Brasil, Minas tem uma culinária especialíssima !
Mas não consegui me achar naquelas terras. Pedi remoção de volta para o Ceará, oito meses depois.
E ela chegou com desligamento imediato para a Ag. de Juazeiro do Norte, no Ceará.
O caminho de volta foi feito num chevette , cantando Chico e Francis Hime, e com um gostinho de pão de queijo na memória.. A chegada , fica para o próximo bloco.

sem rumo e sem rimas...



Sou de lua
vida e serenata

branca noite
cadeiras na calçada

rabiscos na cara
arranhada e prateada

lua que banha o olhar
ensina a enfeitiçar.


Mãe ,
agora te entendo !

Sou cheia de saudades
apaziguadas pelo tempo
As pessoas entram minúsculas
e saem enormes
rasgando o coração
onde cresceram

Mas tudo se restaura, se renova
Outros afetos chegam
e a florata do amor recomeça
Coração suspira paz
ausência da dor
na suavidade das lembranças


Gosto de preencher as horas
de muitas formas
e o tempo na medida
entrega de bandeja
alternativas
Vivas !

Bendita solidão
que nos deixa perto de nós
e chama , e chama !
Chama que não se apaga
feito vela de um ara.

Daqui a pouco o dia
de novo acontece
Água fazendo zoada na pia
cheiro de café
e a canção da vida
nas buzinas
de quem apressa caminhos.

Desacelero o tempo
e paro num momento ...
momento que chega do futuro
"Olá, como vai"?

"Deus está no meio de nós..."
Creio ,sim !
Mas não gosto de rituais
nem de música gospel.
Sou filha da lua e do sol
Irmã de quem me ilumina !


Acabei de acordar
volto a dormir pra sonhar
e nesse exercício vida
espero a próxima visita
do pão com rima !

Diário



Meu horóscopo bem que avisou... Vénus lhe fará fazer compras por impulsividade.
Veramente não tenho compulsões de consumo. Desconsiderei !
Esta semana, na madrugada, pesquisando passagens aéreas, comprei ida e volta para o Rio, com acompanhante.
Ainda liguei para o meu velho hotel , na Cinelândia, reservando hospedagem. Uma alegria tomou conta de mim. Acabara de fazer uma arte !
Na manha daquele dia contei para o Victor a boa nova: vamos passar uma semana no Rio !
Ele respondeu gravemente :
Você não perguntou se eu desejo ir. Pois eu não vou !
Aquele entusiasmo, num passe de mágica, se escondeu, e deu lugar a um sensato desengano. E agora ? Ainda não negociei o cancelamento, nem pedi reembolso, mas com certeza cancelei meu sonho de consumo. Pensando bem, renuncio ,de bom grado, rever o Corcovado, e assistir a todas,ou algumas peças em cartaz; dar uma voltinha no shopping da Barra, comprar umas blusinhas, com preços em liquidação; tomar um chope no Amarelinho, provavelmente nem faria a minha cabeça... Mas, e um doce na confeitaria Colombo?
Uma visita rápida a Nova Friburgo, e ainda almoçaria no hotel da Dona Mariquinha. Traria um licor de souvenir, e compraria uma lingerie.
Tudo isso já foi feito. Refazer um programa pode ser interessante mas é dispensável.
A grana vai pra poupança, esperar uma emergência diária.
Ultimamente só conheço e reconheço o mundo, através do cinema. Paris, Itália, NY...Um medo esquisito de encarar muito tempo de voo até Lisboa. Visitar minha mana fica fora de pauta, pelo menos por enquanto.
Victor está de férias !
Prefere relaxar , diante da TV, e tomar seus sucos na praça da Sé, quando o dia entardece. Tá certo !
Eu estou morrendo de vontade de fazer algo diferente, e acabo entrando num mundo irreal, pra na volta analisar o que está por perto.
Deus, estou encomendando um jardim ! Pode ser um único canteiro...Mas quero um pé de jasmim !
A gente viaja pra encontrar os afins. Eles estão perto de mim.
Desejo a todos , um excelente último dia de setembro !
Hoje convidei minhas irmãs Zélia e Catarina para o almoço. Vou caprichar, no Camarão à Thermidor. Vinho branco para acompanhar... Lógico !

Notas sem sol



um pão
re-partido
nota de "carinho"
dó/compaixão
em si

Nem você ...



Além de tudo que eu quero
eu quero nada querer...
nem você !

A posse escorre
fica na estrada
nas queimadas...
as emoções se dissolvem
ficam registros
irregulares
misturados
nem sempre identificados

Mas meu coração dispara
fica em alvoroço
apesar do controle
diz impropérios
desabafa
esquece de declarar amor
embora tenha perdido a timidez
Com ela foi também a valentia
de amar cada vez mais
em cada dia.

Quem reencontrar
o que pensa que perdeu
deixe no quadro de aviso
Achei !

Pejo de ser feliz




Meus olhos marejam
Meu corpo treme
e a voz entrecortada
me faz engolir a palavra

Emoção não fala...
Sente !

Tudo que me emociona
altera meu momento
e complica e descomplica
a minha vida sem ti

Basta pouco
basta o latir de um cachorro
meu nome que você declama ...
confuso sentido

Você me emociona
quando chega
quando entra e sai sorrateiro
quando canta e me encanta
nos versos de uma canção ligeira

Você é fagulha de tudo que acho
e vejo...
Distante me faz pensar
perto me faz sentir
e nos sonhos me pega
diz baixinho
o que preciso

Emoção é o pejo
de ser feliz
ou infeliz !

O belo emociona
A dor do outro é tão minha
A vida que está por vir
encontros e reencontros
ou a lembrança sem fim

Canções




Visão de impacto
falta de ar
não responder
respirar!


Fico fora do ar
quando a rádio
dos meus sonhos
me acorda
com canção de amor


"saudade
torrente de paixão
emoção diferente..."


e eu respondo
pra você que sabe rimar
ligue o rádio
ela sempre está no ar
de cabeça ligada
e coração respirando
um "último blues"

Versos na mesa



Enquanto o passado diz
na prosa versificada,
Aloísio , meu amigo,
confesso que estou pasmada
Você já foi vendedor
de tudo que a gente paga ?

Eu também já fiz a lista
dos produtos bem vendidos
e também dos não comprados.

Vendi Avon pras meninas
Vendi roupas femininas
Ouro do Juazeiro
e Seguros em geral
Vendi até uns florais
pra curar umas mazelas
que a intuição adivinha.

Vendi sonhos pra mim mesma
fora e dentro da medida
mas o que faz vender de um tudo
é a prosa convincente
e o carisma de quem luta !

Não dispenso uma prosa
Até a prosa que cala
ensina que nesse mundo
os mal ouvidos
se arrasam
e não aprendem com os outros
a rota do bom caminho.

Brincando com fogo


Aloisio x Socorro


Água, fogo, terra e ar
foi Deus quem improvisou?
São elementos benfazejos
que equilibram a natureza
A depender do uso que fizermos
vigiando as intenções
E também nossos desejos


Atendendo a um pedido
que me fez um só amigo
Falo do elemento fogo
chama quente, fogo ardente
Fogo que destrói a mata
compromete os nossos ares
Mas depois vem o restauro
equilibrando o Planeta


Fogo que arde e consome
fascínio que me deleita
Fogo quer destrói a minha dor
e dissolve a tristeza
Fogo que limpa minh'alma
redenção dos meus pecados
E alimenta o meu amor

O fogo que purifica
promete o azul do céu
Muitas vezes nem contamos
Digamos sem preconceitos
Quando vem sem causar danos
Deixa tudo mais tudo perfeito

- . -


Quero ver quem é que traz
A palavra de improviso
Que já ficou lá atrás
Improviso são cochichos
de versos que se respeitam
Agora eu quero um RIO
nem que seja de Janeiro


afoba-me o imprevisto
menos a chegada do amor
susto feliz do IMPROVISO.

depois de algum reboliço
ele se acha na casa
se instala em todas as salas
e adormece no espaço
onde ficam as suas asas


parte e volta
deixa sementes nos cantos
que a dona sempre molha
com lágrimas de desencanto


a natureza do amor
é perfeita e divina
culpo a nossa ignorância
quando se adona de algo
que no imaterial se ilumina !


vou deixar o amor voar
vou deixar que ele floresça
em qualquer canto e lugar
e junto em qualquer celeiro
assim ,quando se espalhar
amor nunca faltará
na casa material
nem no mundo espiritual.

visto o dito
aposto no previsto
que se faça o registro
de um novo improviso
usando a palavra FOGO
nem que não seja benquisto !

Espelhos


Por que não arriscamos,
sequer um olhar,
na mágica Siqueira Campos ?

Eu era uma nuvem, e você um sol
Nublada, escapava do céu,
em pingos d'água!
Por que a poesia
nos escondeu em outros mundos,
e agora nos mostra , em caras desistidas ?

Fico assustada , quando caem pedrinhas,
no lago dos meus mistérios
Bico teus versos ...
Nado cantando ,
e escuto João Gilberto!


O pato nem sempre é cisne
O cisne é sempre gato!
Gato escaldado
De pêlo assanhado
Que vira madrugadas
No telhado.

Só no coração,
O sonho continua verde
O sol vermelho
E a lua prata

A mulher é sempre
Um ideal Cronos
Criança ou velha
Anjo é fera!



Olhos atentos te descobrem
E não adiantam todas as voltas
As meias, as teias...
Nem o decote, que decora
Lá fora a lua some,
Engolida por um dia.
Adormeço dos meus olhos,
E sinto que estou sozinha!