por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O "recomeço" - José Nilton Maiano Saraiva

Pintor famoso, sessentão, aposentado, família constituída, estabilizado na vida, eis que, de repente, se vê tomado por um profundo desejo de “sumir do mapa”, dar um basta naquele vazio imenso e doído que, sem mais nem menos, dele se apoderou. “Depressão” e depressão da braba, que o leva até a adquirir uma arma visando acabar logo com aquilo – para, quem sabe ? - encontrar um pouco de sossego, paz. Na hora de apertar o gatilho, no entanto, reflui, não tem coragem de fazê-lo; e aí, resolve sair pelo mundo no rumo que a “venta” (nariz) apontar. Logo se põe na estrada, sem qualquer compromisso com horário ou destino, dia ou noite.

Numa parada momentânea, em meio a uma chuva torrencial, batidas no vidro do carro lhe revelam o rosto apreensivo de uma jovem, encharcada pela tempestade. Mesmo a contragosto, aceita dar-lhe carona, “pra qualquer lugar”, conforme lhe determina a nova companhia.

De pronto, à sisudez do sessentão deprimido, contrapõe-se o comportamento irrequieto e questionador daquela adolescente que poderia ser sua filha e que, aos poucos, paulatinamente, consegue fazê-lo “se abrir”. Contribui para tanto, o fato de também ela ter saído de casa, expulsa pela mãe e padrasto, e não saber (ou não ter) pra onde ir.

Ao contrário do que normalmente acontece em dramas análogos, aqui o “velho” não tenta aproveitar-se da “jovem” de 17 anos, belíssima e desamparada. Pelo contrário, aos poucos cria uma afeição paternal tão grande por ela, de tal forma que chega a enfrentar alguns marginais (de rifle em punho) que tentavam abusá-la.

No dia a dia, Marylou (esse o nome da jovem) inocentemente se sente à vontade para chamá-lo de “velho”, reclamar da “cafonice” das suas roupas e por aí vai. E ele, que ultimamente não suportava nem ouvir a voz da própria esposa, passivamente aceita tudo, no maior bom humor. Chega, até, a sorrir das trapalhadas em que ela se envolve (principalmente no quesito comida).

O divisor de água, no entanto, se dá quando ela (que pensava ser ele um “pintor de paredes”) vê alguns de seus trabalhos e, de tão impressionada, o estimula a “fazer mais”. Ela mesma, na praia, serve de modelo (bem comportada). E aí ele redescobre, na pintura, o prazer pela vida, sente que “está vivo”.

De repente, a notícia estampada no jornal, de que a mãe se encontra à beira da morte em razão das agressões do padrasto, leva a “jovem” a fazer o caminho de volta, na companhia, é claro, do “velho”. Que aproveita para reatar com a esposa.

Durante a longa permanência da mãe na UTI, pra não deixar Marylou desamparada, de comum acordo com a “revigorada” esposa, ele consegue na Justiça a “guarda” daquela menina que praticamente lhe trouxe de volta à vida.

No final, com a mãe restabelecida e o padrasto preso, os dois retornam às origens: numa despedida pra lá de dolorosa para os dois, tão grande a afeição nascida, Marylou volta pra casa da mãe; o “velho” (Taillandier é o seu nome) pra sua casa, sua família. Renascido, por uma menina que lhe trouxe de volta à vida e que, a partir de então, considerará sua filha.


Sem dúvida, “SEJAM MUITO BEM-VINDOS” é um cativante filme e digno de se ver.