por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 10 de setembro de 2011

A HENRI MATISSE






















A HENRI MATISSE

Do interior com berinjelas
de um vaso
de uma lareira

A flor ocre
a tela e a terra
o espelho e a paisagem na janela

Porque as coisas são cores
a dança dos corpos nus
no azul da tela imóvel

A música e o retrato no estúdio vermelho
o incêndio no relógio sem ponteiros

A paisagem pintada na janela
a cadeira diante do espelho negro

As manchas e a luz
o sol
o mar
e as palmeiras

Um corpo nu
quatro laranjas na tigela verde
e a face pintada da mulher com chapéu

A mão livre
as formas no mural
a água e o sol
e a luz

As ondas brancas no mar azul
os anjos e as nuvens dançando no céu

Círculos
linhas
e as últimas pipas
e a nudez flutua na solidão dançarina

As palmeiras
as flores
e as gaivotas
suspensas na brisa marinha

Um cão
as ondas
as árvores
e os muros brancos contra o céu azul

O livro e as frutas na mesa
os pássaros engaiolados entre as nuvens

O vôo de Ícaro
o funeral de Pierrô
entre os oceanos e os vulcões

Meu reino pela cor da borboleta azul 
meu reino pela forma das asas no ar.

 
 
 

Ponto Cego - Por Socorro Moreira



Estrada reta

sem atalhos, labirintos

Seremos agulha e linha,

amarrados,

num ponto cego do espaço.


Sou fumaça que o vidro embaça

nuvem que largou a lágrima e

de tanto ser ...Findou !


Palavras são como flechas ou bombas

quando atiradas provocam danos.


Estou na lista de espera

Estou sempre na janela

de asas cortadas.


Luas virão

estrelas piscarão

Basta ficar de olho no céu !

Desconstruindo a Construção - Rejane Gonçalves


No último andar, o casal de noivos equilibra-se, abandonado à própria solidão. O último andar é o menor. É possível que, de tão pequeno, não abrigue de maneira satisfatória o homem vestido em seu elegante fraque de risca de giz e a mulher em seu vaporoso vestido branco, caso os dois, por não suportarem o cansaço, desistam de proteger o engomado das roupas e achem melhor se deitar. Os pés do noivo, sem o devido apoio, sobrariam e o verniz dos sapatos pretos emitiria desnecessárias cintilações. O véu da noiva de tão comprido cairia pelas paredes, da derradeira à primeira esfera, destruindo, na queda, em determinados trechos, o contorno de cada círculo. Sim, de cada círculo; esqueci de dizer que, nesta construção, todos os andares são redondos, circulares; também esqueci de falar que as formas perfeitas são as esféricas. Redonda é a terra em que vives, jamais te esqueças. Redonda é a linha que te leva do nascimento à morte. Circular é o movimento do teu sangue a ir e vir nas veias. Respeita o uróboro, lembra do eterno retorno e, se queres mesmo continuar esta leitura, não te esqueças de que terás de entrar na roda. Girar.
Vem, começou um ajuntamento ao redor do casal. Acompanha o olhar das pessoas. Para a tua compreensão aviso que, estranhamente, o olhar dá voltas. O que via só os noivos, agora, vê a beleza distribuída com sabedoria do último ao primeiro andar. Seria proveitoso que observasses o acetinado da cor que perpassa por todos eles. Redondos, dizem, versões aprimoradas, em tamanhos diversos, em cor branca, deste nosso planeta azul. Imagina a Terra aplainada nos pólos e depois fatiada em cinco circunferências semelhantes. Eu não disse iguais. No térreo, fica a maior dessas partes. Nela, tudo começa e termina. É ali que está plantada a primeira série de pilotis, aquela que sustentará o peso de todos os andares, embora não esteja nessa história, sozinha. Entre um andar e outro a série de pilotis é repetida. Sobre essas colunas, já te preveni que todas têm baixa estatura, compleição que despreza a força em favor da beleza e que a ninguém importa se elas são capazes de sustentar a integridade da construção.

Ainda que incomodadas, ainda que tontas, as pessoas rodam e, se apesar dos percalços, perseveraste, devo concluir que estejas de acordo em acompanhá-las; vai, quero que observes o movimento das ramagens enroscadas nos pilotis. Não é a toa que todos andam em círculo, desenhando voltas e mais voltas em torno deles. Ouve, é preciso que ouças o que sussurram, nos ouvidos uns dos outros, homens e mulheres que acompanham o rastro circular da serpente: se pudéssemos tocar nesses galhos floridos, passar a pele na delicadeza dessa pétala, dessa outra, dessa outra mais; se o sopro se tornasse possível e o que nos saísse da boca parecesse tão leve, que se assemelhasse ao volteio incessante das folhas que se abrem e se dobram, obedecendo a um interessante desacerto no ritmo; ah, se o acesso nos fosse dado ao impossível. Seria bom não te esqueceres da sinuosidade daqueles ramos, de admirar a dança, o traço oblongo, a curva que prepara o vôo. Não percas tempo com o artista, embora eu desconfie que, por uma questão de vida ou morte, seria proveitoso saber onde se esconde quem tem mãos assim, tão terrivelmente hábeis. Anjo ou demônio?

Num giro devagar, aos poucos, as pessoas notam que construções daquele tipo já não são comuns, tu também percebeste. Elas fizeram estilo, foram donas absolutas, em uma determinada época, o que não impede que repitam a hegemonia em outra época qualquer, basta que o aro, onde permanecem suspensas, gire e volte. Hoje, precisas saber que, quadrados, redondos ou hexagonais, os andares são construídos diretamente uns sobre os outros, cada um, deixando ao que lhe ficou embaixo uma margem livre; por isso a construção vai se afunilando, daí o último andar, num caso e no outro, ser o menor. Com ou sem colunas é mantido o direito ao espaço livre do andar que sustenta o próximo, pelo menos neste tipo peculiar de construção.

Para ver os noivos mais de perto, as pessoas se achegam e cingem a primeira forma esférica. Cada uma quer um lugar privilegiado que lhe permita o domínio sobre o casal, a superação que lhe garanta a esperteza frente à pessoa vizinha. Tu não és diferente. Conseguiste um ótimo lugar, um fotógrafo, ainda que mediano, concordaria comigo, ao assegurar que aí, onde te encontras, deténs o ângulo perfeito. Diz-me, por favor, o que vês?

Aproximam-se os noivos, chegam ao pé dos brancos andares, tomam um gole entrelaçado de champanhe, armam-se com uma espátula de prata e as duas mãos, uma da mulher, a outra do homem, pressionam a lâmina sobre o corpo redondo do primeiro andar, o térreo, a base. O vértice da espátula afunda a uma distância considerável do eixo, enquanto a sobra da lâmina mergulha lenta e precisa em direção às bordas. O grande corte deixa à mostra uma carne escura, espécie de massa marrom cheia de pontos mais ou menos uniformes, de consistência ímpar, difícil de ser apreendida de imediato, ora gelatinosa, ora feito pedras de um colorido difuso, meio transparente; lembram-me frutas cristalizadas. A espessa camada de tinta que recobria as paredes, descasca e solta na bandeja torrões de açúcar. Os noivos se presenteiam, com o primeiro pedaço. Intromete-se um garçom e, numa destreza impressionante, transforma em fatias todos os andares bordados de branco, para distribuí-los às pessoas que os circundam e às outras, sentadas em volta de pequenas mesas paramentadas e redondas. Recebo um, e antes da primeira garfada, noto que o garçom preservou o último andar. Este, escuto, será sepultado em uma embalagem especial e guardado no freezer por um ano. Ao fim desse prazo, os noivos poderão comê-lo, como reza o atual costume.

Acabas de perder o teu lugar e por isto não podes ver que alguém – decerto penalizado com a solidão dos pequeninos noivos feitos de porcelana, cópias mais bem acabadas que os originais confeccionados de carne e osso – retira-os do topo da construção, coloca o homem de fraque de risca de giz e a mulher de vestido vaporoso na bolsa de pérolas falsas e abandona a festa com eles. Ninguém percebe o sumiço do casal. Tu não és diferente. Quando completas a terceira volta, preocupo-me ao ver que paraste, com a expressão envergonhada daqueles que esbarram numa parede de vidro e se acham estúpidos; como é possível que logo eu não tenha notado a transparência?

─ O bolo, vejam só, o bolo, ele mesmo, com seus andares despedaçados, lembra um edifício vítima de um bombardeio, onde, por um estranho capricho, a torre se mantém intacta.

─ O senhor está bêbado?

─ Não. Claro que não. Basta olhar de todos os ângulos. Completar o círculo. Girar.


Rejane Gonçalves

Homem sonhando o mundo - Por Ronaldo Correia de Brito



Quando tio Gustavo retornou do Sul, era madrugada. Ouvi os latidos dos cachorros, as batidas na porta da nossa casa e o nome do meu pai gritado alto. Depois escutei minha mãe chorando, transtornada com a magreza do tio, seu semblante envelhecido. Tudo se passando junto de mim, em torno da rede em que eu fingia dormir para escutar as histórias que nunca me contavam.

- Menino não precisa saber certas coisas - era o que diziam me enxotando para longe da roda dos mais velhos.

Ofereceram ao tio o pouco que havia em casa: rapadura, queijo, coalhada fresca. Antes, o tio não comia esses alimentos rudes. A fome e o sofrimento na terra distante acabaram seus orgulhos de homem.

- O Sul não existe - falou enquanto mastigava. É pura invenção de violeiro repentista. Eles enchem a cabeça da gente de promessas mentirosas. Viajar é o mesmo que correr atrás de fumaça.

Mamãe olhava o irmão, em seguida olhava meu pai, arrumava a roupa vestida às pressas, sem a ajuda de um espelho. Era a mais inquieta de todos nós, a que menos compreendia o mundo nebuloso de onde tio Gustavo retornava. Para ela, além do Sertão só existiam a Amazônia e o Sul.

- O que é o Sul? Se não perguntam, eu sei. Se me perguntam, desconheço. Meu pai me dava instrução para o dia em que eu tivesse de migrar. Aprendera a ler sozinho e me ensinava tudo o que sabia. Nossos livros estavam gastos, de tanto passar de mãos. Não eram muitos: A História Sagrada, As Mil e uma Noites, o Romance de Carlos Magno e os Doze Pares de França, A Ilíada. Para que precisávamos de mais livros? Toda sabedoria do mundo estava ali. Sem transpor os cercados da fazenda, conhecia as cidades da Terra: as de antigamente e as de agora.

- Você foi ao Mato Grosso? - perguntou meu pai.

- Fui, comecei a viagem por lá. Trabalhava numa fazenda de café. Os grileiros me fizeram de escravo. Nunca via cor do dinheiro, pois estava sempre devendo ao barracão. Tomaram minhas roupas e até o fumo do cigarro eles controlavam. Tive malária e pensei que fosse morrer. Ninguém daqui sabe o que uma febre. Ela chegava sempre na hora certa. Era a única certeza naquelas paragens. Quando senti que ia morrer, fugi por dentro da mata. Nem sabia para que lado ficava o norte. Desaprendi a olhar o céu e a me guiar pelas estrelas. Só enxergava a copa das árvores.

O tio enrolou um cigarro na palha de milho e de onde eu estava senti o cheiro conhecido do fumo. Quando crescesse eu também fumaria como todos os homens.

- Atravessei muitos rios até chegar à cidade; quase morro. Mas estou de volta e é como se nunca tivesse saído pra lugar nenhum.

- Você viu a cidade? - perguntou meu pai, com sua calma habitual.

Sem mexer-me na rede, para não descobrirem que eu escutava a história e via o alvoroço da família, busquei imagens dos meus livros para ilustrar a conversa misteriosa dos adultos.

- Fale da cidade - pediu minha mãe.

- A cidade é tão conhecida, que nem é preciso visitar. A gente tem na memória.

Contou sobre o que eu mais esperava ouvir. O viaduto elevado como os jardins suspensos da Babilônia, maravilha do mundo por onde passavam pessoas e carros. Embaixo, plantações de flores trazidas do levante e do poente. A torre de uma catedral gótica, parecendo o minarete de uma mesquita de Bagdá. Cheguei a ver o califa Harum al Raschid, suas duas mil concubinas e o muezim anunciando a oração para os fiéis. Lembrava um aboio de vaqueiro tangendo o gado no fim de tarde. Embalado pela voz do tio, avistei um primo no exílio da Babel, erguendo as paredes de um edifício alto. O elmo rolava da cabeça, ele tombava anônimo das muralhas do castelo franco e ficava caído no chão de asfalto da cidade. Ninguém chorava por ele.

O resto se confundiu nos sonhos, como a noite no dia que principiava.


Ronaldo Correia de Brito é médico e escritor. Escreveu Faca, Livro dos Homens e Galiléia.

Lua de setembro- socorro moreira


E eu fiquei espreitando a noite, na tarde , querendo antecipar a magia de uma noite de lua.
Mas a lua nasce também dentro da gente.Principalmente no colo feminino, que condensa o seu mistério.
Quando a gente olha pro céu , seja lá qual for a idade do olhar, procuramos por ela. Os homens , por ela se encantam; os mais sensíveis até com ela conversam.
Essa é a mulher que nunca sai do porta-retrato do amante.Poetas, músicos, andarilhos, gente de todos os signos , banham-se nas suas réstias. A lua quase me enlouquece ; o amor quase me entontece; a saudade quase me entristece; a espera por ela, lua cheia , em seu esplendor , quase me deixa esquecida de todos os meus elos... Eu quase adormeço, esperando por ela... E ela vem, some, retorna, em todos os meus anos de paciente espera... Toque leve, nos meus pequenos mistérios , que riem de mim , quando o decifro chega , no dorso do verso.

socorro moreira

Sem Sexo até 2010- Luis Fernando Veríssimo - Colaboração de Ismênia Maia


Eu nunca havia entendido porque as necessidades sexuais dos homens e das mulheres são tão diferentes. Nunca tinha entendido isso de 'Marte e Vênus'. E nunca tinha entendido porque os homens pensam com a cabeça e as mulheres com o coração.

Uma noite, na semana passada, minha mulher e eu estávamos indo para a cama. Bem, começamos a ficar a vontade, fazer carinhos, provocações, o maior 'T' e, nesse momento, ela parou e me disse:
- Acho que agora não quero, só quero que você me abrace...

Eu falei: - O QUEEE???

Ela falou: - Você não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher.

Comecei a pensar no que podia ter falhado. No final, assumi que aquela noite não ia rolar nada, virei e dormi. No dia seguinte, fomos ao shopping. Entramos em uma grande loja de departamentos. Fui dar uma volta enquanto ela
experimentava três modelitos caríssimos. Como estava difícil escolher entre um ou outro, falei para comprar os três. Então, ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem a R$ 200,00 cada par. Respondi que tudo bem.
Depois fomos a seção de joalheria, onde gostou de uns brincos de diamantes e eu concordei que comprasse. Estava tão emocionada!!! Deveria estar pensando que fiquei louco. Acho até que estava me testando quando pediu uma raquete
de tênis, porque nem tênis ela joga. Acredito que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim. Ela estava quase excitada sexualmente depois de tudo isso. Vocês tinham que ver a carinha dela, toda feliz!

Quando ela falou: - Vamos passar no caixa para pagar, amor?

Daí eu disse: - Acho que agora não quero mais comprar tudo isso, meu bem...Só quero que você me abrace. Ela ficou pálida. No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei: - Você não sabe se conectar com as
minhas necessidades financeiras de homem.

Vinguei-me! Mas acredito que o sexo acabou pra mim até o Natal de 2010.......................

Luis Fernando Veríssimo

Chico Buarque sobre a solidão - Colaboração de Ismênia Maia



Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida. .. Isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto.
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma....

Francisco Buarque de Holanda

Sady Cabral - por Norma Hauer


Ele nasceu no dia 10 de setembro de 1906, em Maceió, vindo, ainda criança, para o Rio de Janeiro, onde, em 1923 ingressou na Escola Dramática Musical, estudando teatro e música.
Como teatrólogo, iniciou sua carreira na Companhia Teatral de Lucília Perez, trabalhando também com Leopoldo Fróes, diretor de teatro famoso nos anos 20

No início dos 30, foi convidado por Ademar Casé para atuar em seu programa, na época levado ao ar pela Rádio Mayrink Veiga. Ali Sady trabalhou no Teatro SherlocK, no qual Alziro Zarur fazia o papel principal, continuando em "Defensoress da Lei", título que substituiu o Teatro Sherlock", quando Zarur passou para a Rádio Guanabara.

Nessa mesma época conheceu Custódio Mesquita e com ele escreveu uma opereta de nome "A Bandeirante". Foi então que compuseram "Velho Realejo","Mulher"e "O Pião" e deram para Sílvio Caldas gravá-las.
O sucesso foi imediato!

Em 1941, ainda com Custódio Mesquita, compôs a bonita valsa "Bonequinha". Quem a gravou? Carlos Galhardo.

Mais tarde, com Davi Rambey, escreveu os choros "Sapoti" e "Cachorro Vagabundo",. além do samba "Ciúme".

Não mais compôs, mas continuou sua vitoriosa carreira, personificando vários personagens na TV, sendo o mais marcante o de "Seu Pepê", em novela da Rede Globo.

Nos "anos de chumbo" teve uma desagradável experiência no Teatro Municipal de São Paulo: encenando a peça de Sheakespeare "Júlio César", produção de Ruth Escobar e direção de Antunes Filho.

Em certo momento houve um pequeno acidente e Sady caiu no palco; tentou agarrar-se a uma parte lateral da cortina, mas não se sustentou, despencando de grande altura. A platéia achou graça e os artistas, terminada a peça, não voltaram ao palco para os cumprimentos.

Também, foram apresentar uma peça traduzida por Carlos Lacerda!...

Esse é um pequeno episódio da vida do sempre aplaudido Sady Cabral.
Aos 80 anos, a 23 de novembro de 1986, ainda em São Paulo, Sady partiu para a viagem sem volta, deixando aqui seu grande talento.
Norma



Um Caso Perdido
Paulinho da Viola
Composição: Paulinho da Viola

Dizem que ela é um caso perdido
Dizem que ela tem amores demais
Mas quando passa e sorri parece tão sozinha
Que eu chego até a pensar
Que ela possa querer meu carinho

Sei que as histórias que contam
Não passam de intrigas
De quem não aceita
Seu jeito de ser e viver a vida

Quando ela some me desespero
Grito seu nome, faço canções
Mas não tenho o poder de mudar seu destino
E nem quero

Para Breatriz ( mãe do poeta Domingos Barroso- socorro moreira


Recebi perfume e riso.
As palavras foram ficando fáceis,
compreensivas, cálidas.
Parecia ter pressa de dizer
paracia ter pressa de sair...
E eu fui ficando com vontade de retê-la,
cuidar do caminho,
que a traria de volta.
Alma conhecida
Ventre que guardou
meu amigo
(éter que se fez verso,
e me encanta !)


São incríveis as surpresas dessa vida.
E o perigo nem existe,
quando a casa tem a porta fechada,
e as janelas abertas...
Quando a dona tem
portas e janelas escancaradas
pra receber alegrias,
que chegam ,
de onde não se espera.


Seja benvinda, Beatriz !
Leve meu abraço beijoso,
ao filho que te espera!

Ferreira Gullar


Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (São Luís, 10 de setembro de 1930) é um poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro e um dos fundadores do neoconcretismo.



POEMA

Se morro
universo se apaga como se apagam
as coisas deste quarto
se apago a lâmpada:
os sapatos - da - ásia, as camisas
e guerras na cadeira, o paletó -
dos - andes,
bilhões de quatrilhões de seres
e de sóis
morrem comigo.

Ou não:
o sol voltará a marcar
este mesmo ponto do assoalho
onde esteve meu pé;
deste quarto
ouvirás o barulho dos ônibus na rua;
uma nova cidade
surgirá de dentro desta
como a árvore da árvore.

Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens
a mesma história que eu leio, comovido.

O povo está nas ruas - Por José de Arimatéa dos Santos

Neste último 7 de setembro vimos um fenômeno que a cada dia se agiganta que são os protestos via redes sociais. E o melhor que o povo começa ir para as ruas de todo Brasil para exigir mais transparência e dar um basta nessa bandalheira de tanta corrupção. E o sinal mais característico desses protestos se deu em Brasília. Enquanto as autoridades presenciavam o desfile militar logo ao lado milhares de pessoas protestavam contra a corrupção que a mídia anuncia diariamente. Segundo o que vi na televisão mais de vinte mil pessoas estiveram nas ruas da capital federal.
Os partidos políticos não participaram ativamente desses protestos. E muito político a criticar esses protestos por que eles não participaram e a defender que é necessário os partidos políticos participarem desses movimentos e que é preciso ter um líder. Sabemos que o ponto de encontro é a internet e do nada a organização consegue mobilizar milhares de cidadãos que não aguentam mais essa situação. Parece que a internet é o meio que faltava para o sentido mais democrático da convivência humana.
Os políticos de plantão que coloquem suas barbas de molho. Sei que bem antes da internet com o "Grito dos excluídos" o povo já fazia e ainda faz seus protestos ano a ano no dia da independência exigindo melhores condições econômicas e sociais e agora com o advento das redes sociais as mobilizações ganharam um caráter mais forte e com mais visibilidade. É tanto que já incomoda. E isso é muito bom, pois sabemos que as demandas da população só são resolvidas através da pressão.
A sociedade brasileira já não suporta tanta "traquinagem" de alguns representantes políticos e todos nós devemos exigir que a justiça se pronuncie e comece a agir. Punindo quem deve ser punido e exemplarmente. Nada de subterfúgio e "jeitinho brasileiro". E que o executivo escolha auxiliares éticos e verdadeiramente honestos. E quanto a nós simples mortais e pagadores de impostos escolher políticos que tenham o hábito saudável da transparência e vergonha na cara.

Estamos de luto!

Registramos com pesar o falecimento do cidadão cratense e nosso grande amigo, Maurílio Peixoto.
Um  abraço solidário a todos que estão sofrendo com esta grande perda.

Aos "biriteiros" de plantão - José Nilton Mariano Saraiva

Mais um fim de semana. Descontração total e absoluta, fuga de assuntos “indigestos e pesados”, leveza completa, satisfação redobrada e inadiável em levar a patroa no cabeleireiro para dá um trato no “pixaim”, com a conseqüente oportunidade de reunir os amigos e jogar conversa fora na mesa do bar da esquina, preferencialmente curtindo um som maneiro e, evidentemente, acompanhado daquela fêmea que, em sã consciência, nenhum “homem que é homem”, teria peito de rejeitar algum dia e da qual, paradoxalmente, “mulher que é mulher” sente o maior ciúme: a disputadíssima e sempre bem-vinda “loura suada”. Isto posto, apresentamos-lhes regrinhas básicas que, seria de bom alvitre, fossem seguidas por aqueles que se julgam bons bebedores, a saber:

MANUAL PRÁTICO DO “ADEPTO A BEBER SOCIALMENTE”

a) Coisas que são DIFÍCEIS de dizer quando você está bêbado: indubitavelmente, preliminarmente, proliferação, inconstitucional;
b) Coisas que são EXTREMAMENTE DIFÍCEIS de dizer quando você esta bêbado: especificidade, transubstanciado, verossimilhança, três tigres;
c) Coisas que são TOTALMENTE IMPOSSÍVEIS de dizer quando você está bêbado: puta merda, que mulher feia!!!! chega, já bebi demais !!! sai fora, você não é o meu tipo !!!

MANUAL PRÁTICO DO “NÃO ADEPTO A BEBER SOCIALMENTE”

01) Sintoma: Pés frios e úmidos. Causa: Você está segurando o copo pelo lado errado. Solução: Gire o copo até que a parte aberta esteja virada para cima;
02) Sintoma: Pés quentes e úmidos. Causa: Você fez xixi. Solução: Vá se secar no banheiro mais próximo, seu idiota;
03) Sintoma: A parede à sua frente está cheia de luzes. Causa: Você caiu de costas no chão. Solução: Coloque seu corpo a 90 graus do solo;
04) Sintoma: O chão está embaçado. Causa: Você está olhando para o chão através do fundo do seu copo vazio. Solução: Compre outra cerveja ou similar;
05) Sintoma: O chão está se movendo. Causa: Você está sendo carregado ou arrastado. Solução: Pergunte se estão te levando para outro bar;
06) Sintoma: O local ficou completamente escuro. Causa: O bar fechou. Solução: Pergunte ao garçom o endereço de sua casa;
07) Sintoma: O motorista do táxi é um “elefante rosa”. Causa: Você bebeu
“muitíssimo”. Solução: Peça ao “elefante rosa” que o leve para o hospital mais próximo; 08) Sintoma: Você está olhando um espelho que se move como água. Causa: Você está para vomitar em um vaso sanitário. Solução: Enfie o dedo na garganta;
09) Sintoma: As pessoas falam produzindo um misterioso eco. Causa: Você está com a garrafa de cerveja na orelha. Solução: Deixe de ser palhaço, seu fuleiragem;
10) Sintoma: A danceteria se move muito e a música é muito chata e repetitiva. Causa: Você está “em trânsito”, dentro de uma ambulância. Solução: Não se mova; possível coma alcoólico;
11) Sintoma: A fortíssima luz da danceteria está cegando seus olhos. Causa: Você está no meio da rua e já é meio-dia. Solução: Tente encontrar o caminho de volta para casa;
12) Sintoma: Seu amigo “azulzinho” não liga para o que você fala. Causa: Você está falando com uma caixa de correios. Solução: Procure alguém que te leve para casa; 13) Sintoma: Seu amigo não pára de falar repetidamente as mesmas palavras. Causa: Você está falando com o cachorro do vizinho. Solução: Peça pra ele dizer onde você mora.

Aproveitem e lembrem-se: se for dirigir, não beba; se beber… reserve uns trocados para o táxi.

as zombeteiras

A verdade é que não penso na morte.
A morte é um caso esquecido.
Já teve seus dias de fama.

As marcas rosadas da faca de cortar pão
no meu pulso é um retrato claro
do tempo em que ela
dava as cartas.

Agora só tenho duas covinhas nas bochechas.
E mesmo que eu pouco sorria são visíveis.

Essa estória de covinhas
foram certas andorinhas
que me iludiram.

Uma dizia pra outra,
"olha, coisa linda
quando o poeta sorri"

A outra completava,
"meu deus, que covinhas
delicadas e sensuais"

Para um cara solitário feito eu
que não acredita em alma gêmea

nem em metade de laranja predestinada
nem em formiga gigante de três olhos

ter diante de si
duas espetaculares
e maravilhosas andorinhas

sussurrando aos ouvidos
que tenho duas covinhas

evidente,
acabei acreditando.

E de fato tenho
duas covinhas.

Mas só quando levanto os braços
e vejo uma covinha em cada axila.

S'eu fosse uma mulher vaidosa faria cirurgia plástica.
Extraía essas covinhas das axilas e pregava no rosto.

As minhas andorinhas são umas sacanas.
Mentem pra burro e ainda se irritam
quando retruco, "são seus olhinhos
de mr. magoo".

Levantam-se da cama
e deixam o cigarro aceso .