por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 27 de julho de 2011

Os Anomenos - por Everardo Norões



Manoel Ricardo de Lima, poeta e crítico, oferece-nos um pequeno livro, os anomenos, editado pela editora de casa, com copyleft do autor e projeto gráfico de Fernanda do Canto. Uma escrita que faz pensar, por buscar na leitura crítica da vida cotidiana, repetitiva e vazia, os materiais para a construção de uma poética do banal.
Um pequeno exemplo:
Os humbertos

Manoel Ricardo de Lima

Estes seres do lado de lá do mundo, os
humbertos, têm certeza que carregam em
cada um deles, um a um, o nome de um
rei, e poderiam facilmente rechear a pança
com títulos nobiliárquicos como Humberto
primeiro, Humberto quinto, Humberto nono
etc. Mas não, ferozes e ao mesmo tempo
mansos em seu comportamento ambíguo,
entre a nobreza e a rua, os humbertos não
são nada impassíveis, ao contrário, com uma
passionalidade extremada, ousam a cada vez
que descobrem uma nova possibilidade de
vida escorregar as suas patas e os seus olhos
graúdos até seja lá o que se apresente como
desejo. Se dicotômicos, contraditórios; e se
contraditórios, não esquecem de cuidar de si
mesmos nem dos que gostam como seu mais
ardiloso triunfo.


por Everardo Norões

Danilo Gentil - CQC - Colaboração de Altina Siebra




Danilo Gentili (CQC) e sua resposta :
O humorista Danilo Gentili postou a seguinte piada no seu twitter:
"King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
A ONG Afrobras se posicionou contra: "Nos próximos dias devemos fazer uma carta de repúdio. Estamos avaliando ainda uma representação criminal", diz José Vicente, presidente da ONG. "Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade" , avalia Vicente.
Alguns minutos após escrever seu primeiro "twitter" sobre King Kong, Gentili se justificou no microblog: "Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?" (GENIAL) "Na piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito. "
Mas, calma! Essa não foi a tal resposta genial que está no título, e sim ESTA:
"Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?
Quem propagou a ideia que "negro" é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: "Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra".
Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, mas sim de burro.
Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de veado e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.
Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
- O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.
Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.
Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?
Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto" pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro"?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.
Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: "E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!". Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer "Desculpe meu querido, mas já que é um afro-descendente, é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!" Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra "preto" ou "macaco", que são palavras tão horríveis.
Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus "defendidos" .
Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, sou ítalo-descendente. Italianos não escravizaram africanos no Brasil. Vieram pra cá e, assim como os pretos, trabalharam na lavoura. A diferença é que Escrava Isaura fez mais sucesso que Terra Nostra.
Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer “raça” no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram “negros” como animais. Mas também os compraram de outros “negros”. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.
Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.
Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café-com-leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.
Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo "negro" ou "afro-descendente" , tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça - a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita "100% humano", pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão."

Assim como os passarinhos - Por Maria Teresa Barreto de Melo Peretti


Assim como os passarinhos, deixamos os nossos ninhos, os nossos aconchegos, em busca dos ideais, da liberdade, da formação, trilhando caminhos muitas vezes tortuosos para a consolidação de nossos projetos de vida. Cada um toma o seu rumo, o seu local para viver, sua profissão, sua vida familiar. O mundo de hoje já não representa as situações vivenciadas no passado, em nossa juventude, onde todos os momentos foram compartilhados com amizade, alegria e, porque não dizer, com inocência e simplicidade, naquela cidadizinha pequena, adocicada, onde todos contavam com a liberdade de perambular pelas ruas, festas, etc., como retrata Magali em seu texto. A vida é cheia de etapas. Agora, estamos em outros estágios, carregando, cada um, o seu passado com suas experiências, brincadeiras, amizades, inseguranças e tantas coisas bonitas. Apesar da separação, o próprio mundo virtual nos concede os reencontros. É nesse reencontro, que parabenizo a todos os participantes do livro Cariricaturas em Verso e Prosa, conhecidos e desconhecidos e, em especial, ao meu irmão Marcos Barreto, que muito bem nos remete aos caminhos do passado, às doces lembranças da infância e da juventude, embora presentes, também, alguns momentos de tristezas. Parabéns, também, aos criadores e aos que acompanham o blog Cariricaturas. A distância não é impedimento para que retornemos ao calor de nossos ninhos.

Maria Teresa Barreto de Melo Peretti – Recife - PE

Antonio Vivaldi



Antonio Lucio Vivaldi (Veneza, 4 de março de 1678 — Viena, 28 de julho de 1741) foi um compositor e músico italiano do estilo barroco tardio. Tinha a alcunha de il prete rosso ("o padre ruivo") por ser um sacerdote de cabelos ruivos.] Compôs 770 obras, entre as quais 477 concertos e 46 óperas. É sobretudo conhecido popularmente como autor da série de concertos para violino e orquestra Le quattro stagioni ("As Quatro Estações .

wikipédia]

Por José Carlos Brandão


MOTIVO

Escrevo poesia
porque vou morrer.


A Arte da caligrafia.


 
Vejo na beleza e capricho desta caligrafia, um elevado senso de beleza e zelo aliado a uma grande capacidade criadora. Retrato perfeito de Josenir Lacerda.                                        fotos: joão nicodemos

SINAIS

Uma nesga de verso
Em cada gesto
Um passado presente
Que se aninha
Nas dobras cansadas
Dos abraços
Nas résteas sutis
Da camarinha.
Pelas frestas da porta
Entreaberta
Nos recantos sombrios
Fim de tarde...
Nas emendas coloridas
Da coberta
Um suspiro se esconde
Sem alarde.
Tantas, tímidas
Exaustas tentativas
De tão vãs
São inúteis, distraidas
Alinhavos de fios
Finos, fracos
Como as frágeis ilusões
De cada vida.

Josenir Lacerda
Este poema seria lido na solenidade de
lançamento do "AZUL SONHADO"
por sua autora, Josenir Lacerda, que o
compôs especialmente para a ocasião.
Publicamos agora em sinal de nossa gratidão,
por sua simpatia e amizade.

Descaso preocupante - José Nilton Mariano Saraiva

Definitivamente, após o hercúleo esforço para se habilitarem à academia, os alunos da Universidade Estadual do Ceará (UECE) estão com o futuro profissional seriamente comprometido, em razão da falta de empenho do Governo do Estado para com um setor fundamental no desenvolvimento de qualquer nação, como o é o educacional (e isso causa constrangimento e aflição não só aos alunos, mas, também, aos pais e familiares).
Pelo menos é o que se pode depreender das atuais responsáveis manifestações de professores e alunos daquela Universidade (veiculadas na televisão), quando denunciam a falta de nada menos que 312 mestres naquela instituição de nível superior (posição do ano passado), abrangendo quase todos os cursos.
E o mais impressionante: se de um lado temos o contundente depoimento de um dos pro-reitores da UECE asseverando que já há bastante tempo “estudo-denúncia” nesse sentido foi entregue no próprio gabinete do Governador, de outro, os líderes estudantis atestam que esse mesmo governo afirma desconhecer o problema e se nega a tomar uma posição sobre tão sério e grave entrave. Assim, graduações vão sendo postergadas, cursos que durariam quatro ou cinco anos são “esticados” ninguém sabe até quando, e, perigosamente, o desestímulo e desesperança tomam de conta dos “quase-futuro-doutores”.
Enquanto isso, numa absurda inversão de valores, o tesouro do Estado do Ceará já reservou e se prepara pra despejar uma montanha de dinheiro na construção de um tal “aquário” (“brinquedinho” pra turista ver, de utilidade pra lá de duvidosa e manutenção exorbitante), enquanto o chefe do Executivo e enorme comitiva vive cruzando o mundo em viagens transcontinentais, certamente que onerosas e sem resultados práticos (pelo menos que se saiba), em termos de alocação de recursos para aplicação em coisas mais sérias.
Pelo andar da carruagem - e a duração da crise da UECE está aí pra comprovar – da parte do “manda-chuva” do Estado a Educação parece ser um item de somenos importância e, como tal, descartável, desprezível ou desnecessário (tanto que não existe nenhuma perspectiva de concurso para recomposição do quadro de docentes da instituição, conforme asseverou um dos principais assessores de Sua Excelência).
A pergunta é: a quem apelar, se aquele que deveria não só cuidar, mas priorizar a “academia”, há se revelado um insensível para com a Educação” ???

Blog Poem - por Lupeu Lacerda




a saída nunca é o jardim das oliveiras
o ônibus sempre passa
antes ou depois do esperado
a janela só emperra nos dias de calor
a dor será sempre
insuportavelmente
suportável


Lupeu Lacerda ( in "Entre o alho e o sal")

Foi show!

Noite do dia 26 de julho de 2011.
Palco  aberto , no SESC: 
Salatiel, Abidoral, Amélia , João do Crato,Ibertson, Ermano,  João Neto, Luciano Braune...

Tudo lindo...Tudo arte!

Crato ainda ... Sempre pulsante!


"De repentenum repente
Feito chave e fechadura
Do achado popular
Pode ser que o doce- lar
Do teu coração-bainha
Sendo da mesma farinha
Dos sacos de mêi-de-feira
Se abra à faca-peixeira
E certeira do meu cantar!

(Ermano Morais)

Sofia



Pedacinho de gente crescendo
Mela o meu olhar!


Para Bianca- socorro moreira



Bianca  p/Socorro


Quase doze vezes tenho a sua idade
Já começou a chorar pelos bens quebrados
A quebra dos elos
A vida em pedaços
Seus retalhos infantis
Fazem roupas de boneca
Amanhã farão cortinas
Pra suavisar a luz direta
Das suas verdades.

Sonha, criança
Chora pelos teus quereres
Luta por eles !

-Vó, me ensina a fazer uma carta ?
Quero escrever pro meu pai.
-Ensino. Ensino a expressar o simples :
Pai, eu te amo !

E por ela, acrescento :

A linha que nos une
costura uma história interminável
E esse fato aleatório
é uma linha sinuosa,
nos panos dos meus bordados.

Filhos é para sempre
Amor a gente agarra, conquista, desprende...
Mas o melhor do amor é conservá-lo !

TRILHA ECOLÓGICA PROFESSOR JOSÉ DO VALE ARRAES FEITOSA.




O Colégio Agrícola do Crato inaugurou em 15 de outubro de 2007, a TRILHA ECOLÓGICA PROFESSOR JOSÉ DO VALE ARRAES FEITOSA. O que foi inaugurado pelo diretor do Colégio Professor Joaquim Rufino é muito mais que um trajeto na mata da chapada do Araripe. O nome completo – trilha ecológica professor José do Vale Arraes Feitosa – guarda muito mais que a soma de vários conceitos. Trilha, ecologia, professor e o nome próprio do homenageado. Na verdade estas partes se fundem numa unidade completa. Um tipo de unidade que fala ao coração das pessoas que vivem na Bacia Sedimentar do Araripe.

Começa pelo nome próprio, José do Vale Arraes Feitosa, de quem um aluno da Universidade Regional do Cariri fez uma monografia e dela extrai uma homenagem lida no dia da inauguração.. Para localizar o personagem, passo à palavra a um ex-aluno. Há duas semanas, numa praça do Bairro do Flamengo, próxima ao Largo do Machado, no Rio de Janeiro, passou-me à frente um casal: um homem de aproximadamente 60 anos e uma mulher mais jovem. Enquanto descia do carro estacionado, ele voltou do meio da rua em que ia e se aproximou abordando-me. Estabeleceu-se um diálogo de identidade, ele nascera em Crato, de uma tradicional família da cidade e fora aluno do Professor José do Vale. Pretendi localizar-me no tempo e espaço em relação a ele, mas não era de mim que ele queria saber. Queria falar do seu professor. E falou, olhando para o filho do professor, para a nora dele, para dois netos e até anteviu a bisneta na barriga grávida de sua nora neta. A síntese do aluno: José do Vale estimulava o aluno, nós sentíamos a presença dele na sala de aula antes mesmo dele nela chegar. José do Vale tinha uma energia que seguia à frente dele e a doava para seus alunos.


Então, o professor José do Vale é síntese de trilha: aquele que pode ou deve ser imitado, caminho a seguir, exemplo, modelo. É quando o conceito de trilha e professor se confundem, quando a educação não é mero instrumento de ganhar a vida e sim um sentido teleológico para a civilização. A síntese do professor e da trilha, traduzindo as palavras do seu ex-aluno é o que chamamos carisma. Não o carisma no sentido sobrenatural, que arrasta multidões, mas o carisma no sentido da perfeita consonância entre o professor e o aluno em torno do dever e transcendência do aprendizado. A trilha e o professor se fundem como tradução de filosofia, ideologia, doutrina, religião. E isso José do Vale Arraes Feitosa foi.


Outra síntese da nomeação já inaugurada no íntimo do Araripe é aquela que junta professor, trilha e ecologia. Nos sustos que hoje passamos, com o aquecimento global, com o degelo das calotas polares, com os vendavais que tudo destroem, com as secas que levam a fome, a poluição dos mares, dos lagos, do ar, de toda a vida. Mais do que nunca a humanidade inteira precisa de um conceito que seja ao mesmo tempo um aprendizado, uma trilha e que proteja o seu próprio ambiente natural.


Por isso existe, dos bisnetos aos filhos do professor, de sua mulher Maria do Carmo Arraes Feitosa e da filha Diana Maria Arraes Feitosa, neste dia de homenagem, o sentido que aquele professor foi do mundo. Mas foi de um mundo nominado. Um mundo ao mesmo tempo universal e local. Um mundo que se chamava sua amada Crato, sua imensa e geográfica Chapada do Araripe, seu Cariri inteiro. Quando todos os filhos se foram, se tornaram anúncio de visita ou a trilha de um avião a jato sobrevoando a bacia verde do vale do Cariri, o professor aqui ficou para sempre.


por José do Vale Pinheiro Feitosa

2007

O JARDIM DE NOSSAS VIDAS- Manoel Severo



Que memória prodigiosa essa nossa!


São tantas lembranças... Dentre muitas e poucas, fortes e fracas, algumas, me parece, acabam povoando a cabeça de todos nós. Imagens e sensações realmente parecem nos marcar para sempre. Talvez todos tenhamos no baú do coração um lugarzinho especial para a nossa primeira escola, a nossa querida escolinha... lá longe, nas primeiras horas, nos primeiros dias, aprendendo as cores, os números, as letras, o “b a bá”... no maternalzinho, no “Jardim da Infância”. Aliás, não poderia haver denominação mais adequada: Jardim da Infância, quem dera pudéssemos continuar sempre com o Jardim da Alfabetização, Jardim do Colegial, Jardim do Científico, Jardim da Universidade, Jardim de todos os ensinos, Jardim da Vida.


Hoje, olhando esta grande caminhada que é a nossa vida, cheia de altos e baixos, desafios, caminhos e descaminhos, começamos a perceber que talvez ao nosso jardim tenha faltado cuidado, o abnegado semeador, sensível e sempre presente: faltou amor.


O Grande Nazareno sempre nos provocou, em seu maravilhoso Ensinamento Divino, que para entrarmos no Reino de Deus deveríamos ser como criancinhas. Crianças cuidam, cuidam porque amam, apenas amam, amam incondicionalmente, sem pedir nada em troca, e isso lhes basta. Se todas as roseiras da vida fossem cuidadas eternamente por crianças, com o sentimento verdadeiro e puro de crianças, teríamos um belo e eterno jardim.


Onde foi que perdemos o nosso regador? Onde foi que deixamos as principais sementes? Como conseguimos deixar os galhos secarem sem um único olhar? Como deixamos que tudo acontecesse, sem fazer nada? Será que foi naquele mesmo instante em que desaprendemos a sorrir?

NO INÍCIO ERA O VERBO- Manoel Severo




"No início o Universo era pleno de Harmonia, Saúde e Prosperidade.” Com certeza, nem todos conseguem entender o profundo significado de tão simples e bela revelação. Na verdade, nem os mais avançados recursos tecnológicos e científicos, fórmulas, telescópios e mentes brilhantes, apinhadas nas mais renomadas estações de pesquisas científicas e espaciais, conseguem nos mostrar em sua essência o mistério que envolve os mais maravilhosos sete dias da história, aliás, seis! No sétimo, Ele descansou!
Como decifrar a ciência magnânima que mantém esta bola de Terra viva? Viva e tão cheia de vida? Como explicar o maravilhoso mecanismo da mais incrível dança de roda do Universo, onde brincam de mãos dadas, espalhafatosamente, o grande Sol, a romântica Lua e a incrível Terra, cada um desempenhando sua coreografia, como que reverenciando seu Criador? Ah... Belo Universo, como és cheio de mistério!

Qual o botão ou tecla que precisamos apertar para que tudo comece a funcionar? Será que o astro-rei hoje vai se atrasar? Será que o ar que respiramos resolverá não aparecer? Dormimos e acordamos sem nos preocupar com esses detalhes... Detalhes tão pequenos de nós dois... Tão incrivelmente simples e maravilhosos, oriundos desse mecanismo criador, a Ciência Divina.

“No início era o Verbo...” E depois criamos tantos verbos para tentar encontrar a harmonia perdida ao longo de tantos e tantos bilhões de anos... Bilhões de anos? Sim, aqueles seis ou sete misteriosos dias se tornaram milhões, bilhões, e daí a bola de Terra ganhou sementes, plantas, grandes árvores, oceanos, rios, montanhas, insetos minúsculos e maiúsculos, feras selvagens e mansas, e aí a bola de Terra ganhou o homem, e a bola de Terra ganhou a mulher, e todos ganhamos...

Só mais uma coisa... Ele não descansa, Ele nunca descansou, nem no sétimo dia, nem nunca!

BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS A CUMBUCA DE OURO E OS MARIMBONDOS



Era uma vez dois compadres: um rico e outro pobre, que se davam muito bem, embora vivessem pregando peças um no outro.
Um dia vai o compadre pobre à casa do rico pedir-lhe um pedaço de terra para cultivar. Pensando em pregar uma peça no compadre pobre, o rico lhe mandou fazer a lavoura num pedaço de terra improdutiva, perdida no meio das matas. O pobre chamou a mulher e foram procurar o terreno na mata distante. Chegando lá, avistaram uma cumbuca de ouro. Voltaram na mesma pisada, pois o compadre pobre considerou que aquela riqueza estava na terra do seu compadre rico, e, portanto, era dele por direito. O compadre rico ficou na maior agitação, dispensou o pobre, não queria mais que ele fizesse lavoura na sua terra e foi chamar a mulher para ir buscar a cumbuca de ouro. Providenciou até uma grande mochila para transportar a riqueza que estava lá no meio do mato, esperando por ele.
No entanto, no lugar da cumbuca de ouro, eles encontraram uma grande casa de marimbondos, mas o compadre rico nem se aborreceu e pensou logo em armar uma peça pra cima do seu compadre. Com muito cuidado colocou a casa de marimbondos dentro da mochila e se encaminhou para a casa do compadre pobre. Chegando ao terreiro da casa já foi gritando:
- Ô compadre, feche as portas e janelas, deixe só uma banda de janela aberta.
O pobre nem pestanejou, fechou as portas e janelas da casa, deixando só um lado da janela da sala aberta, que foi por onde o compadre rico jogou a casa de marimbondos, gritando em seguida:
- Agora fecha a janela toda, compadre.
Mas, para alegria do pobre, os marimbondos quando batiam no chão tilintavam, pois iam se transformando em moedas de ouro, que a família logo tratou de juntar.
Do lado de fora, o rico gritava:
- Ô compadre, abra a porta!
E o compadre pobre, agora rico, respondia:
- Posso não, compadre, os marimbondos estão me matando.
Foi assim que o compadre pobre virou também compadre rico, e o compadre rico caiu no ridículo.
E entrou por uma perna de pato e saiu por uma de pinto, quem quiser que conte cinco.

Stela Siebra

Por Aldenir Silvestre !




E FOI FEITO NO CARIRI, BEM NO SUL DO CEARÁ

Ontem mandei um presente
Para o meu primo Edmar
Doce de manga gostoso
Para ele se deliciar
E foi feito no Cariri
Bem no sul do Ceará

Foi feito de manga boa
Da manga Itamaracá
De polpa tenra e macia
Pra doce melhor não há
E foi feito no Cariri
Bem no sul do Ceará

Esse doce é gostoso
Mas muito trabalho dá
Pra você ter uma idéia
A casca tem que tirar
E foi feito no Cariri
Bem no sul do Ceará

Depois de tirada a casca
A polpa tem que raspar
É muita manga meu primo
A gente tem que suar
E foi feito no Cariri
Bem no sul do Ceará

Após tirar toda a polpa
Tem que liquidificar
Depois com muito cuidado
Na peneira tem que passar
E foi feito no Cariri
Bem no sul do Ceará

Mas faço com alegria
Pois sei que ele dará
Satisfação a meu primo
E a quem dele provar
E foi feito no Cariri
Bem no sul do Ceará

Tenho seis sobrinhos netos
E agora eu vou contar
Uma mora na Paraíba
Dois moram na capitá
As três loiras moram longe
No leste do Canadá
E foram feitos no Cariri
Bem no sul do Ceará

A ARTE DE SER AVÓS- Rachel de Queiroz



A ARTE DE SER AVÓS


"Netos são como heranças:

Você os ganha sem merecer.

Sem ter feito nada para isso, de repente

lhe caem do céu...É como dizem os Ingleses,

um "Ato de Deus". Sem se passarem as

penas do amor, sem os compromissos do

matrimônio, sem as dores da maternidade.

E não se trata de um filho apenas suposto.

O neto é realmente, o sangue do seu sangue,

filho do filho, mais filho que filho mesmo...



E então um belo dia, sem que lhe fosse

imposta nenhuma das agonias da festação

ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um

bebê. Completamente grátis - nisso é que está

a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela

criancinha da qual você morria de saudades,

símbolos ou penhor daquela mocidade perdida.

Pois aquela criancinha, longe de ser um

estranho, é um filho seu que lhe é devolvido.



E o espanto é que todos lhe reconhecem o

seu direito de amar com extravagância. Ao

contrário, causaria espanto, decepção se você

não o acolhesse imediatamente com todo aquele

amor recalcado que há anos se acumulava,

desdenhando, no seu coração.



São amores novos, profundos e felizes, que

vem ocupar aquele lugar vazio, nostálgico,

deixado pelos arroubos juvenis.