por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 11 de abril de 2011

Quem gosta de seresta ? - Por Socorro Moreira


Fico procurando um cantinho para ouvir música ao vivo, na região do Cariri.
A gente acaba desistindo... Foram-se os nossos seresteiros !
Mas , um grupo ainda resiste, num espaço criado pela necessidade de tocar e cantar, um repertório de todos os tempos.Aquele que já não toca, nem nas nossas rádios.Aquele que os jovens não conhecem, e já não sabem cantar.Todo domingo eu me prometo dar uma voltinha por lá... Acabo envolvida com outros compromissos, mas isso só fortalece a minha vontade. Prometo-me !
Ulisses noticia com entusiasmo, eu escuto comovida : deve ser demais! Devo conhecer a maioria. Sou da roda com prazer e orgulho.
Queria tanto que estes valores fossem mais respeitados...!
Nasci e me criei na casa de um boêmio: meu pai!

Chorinho na garagem

Nas praças, bares ,calçadas
Era fácil encontra-los
Um regional cratense
Faz parte da nossa  história.

Música não tem idade
Se for boa a gente gosta
E na roda aprendi
Lindas canções de outrora.

Agora fiquei sabendo
Que os músicos continuam...
Revivem todas os sambas,
Tocam choro, cantam valsas

Esse Crato que se esconde
Precisa ser devolvido
- Meu coração sabe disso
-A música sempre me encanta!


Música de seresta !


Crato – CE – Oficina reúne seresteiros


Por Crato Notícias


Antônio Vicelmo

Dizem que ser cratense é, sobretudo, um estado de espírito. O Crato consegue ser culta, debochada, carrancuda, moderna e boêmia. Esta mistura de hábitos e costumes faz da “Princesa do Cariri” uma cidade diferente, com comerciantes que ainda fecham seus estabelecimentos para o almoço, seguido de uma sesta. Existe até um ditado que diz: “Só no Crato”! Em uma alusão às coisas inusitadas que acontecem nesta cidade, fundada pelo frade italiano Carlos Maria de Ferrari.

A Rua Pedro II, que muitos teimam em manter o antigo nome de “rua da Pedra Lavrada”, é um exemplo desse comportamento fora do comum dos seus moradores. Ali, todo final de semana, uma oficina mecânica se transforma num ponto de encontro de seresteiros, notívagos, trovadores do amor que se reúnem para lembrar os velhos tempos, quando a seresta era feita no meio da rua.

A luz elétrica, a violência e a necessidade de acordar cedo para o trabalho expulsaram os seresteiros da noite. Mas o romantismo não chegou ao fim. “Enquanto houver um violão e um boêmio apaixonado, a seresta sobreviverá a esta avalanche de progresso que invade as cidades do interior”, garante o violonista Eliezer Pinheiro, um dos integrantes deste grupo de remanescentes que, todo final de semana, enche a velha oficina de melodias.

Ponto de Encontro

De repetente, o barulho das máquinas é substituído pelo som plangente de violões, pandeiros e cavaquinho. A voz possante dos seresteiros ecoa na rua Pedro II, mostrando o jeito apaixonado e poético, de sentir, e viver a vida do cratense. O proprietário da oficina, Francisco Geraldo Barreto, conhecido por “Pixa”, justifica que, além da magia da música, a seresta tem também o objetivo de reunir velhos amigos.

A voz romântica de Francisco Peixoto, que marcou as gerações dos anos 60, emociona os corações apaixonados que viveram aquela época. O violão de Flaviano Callou desperta emoções e sentimentos que estavam reprimidos ou sufocados por esta enxurrada de músicas modernas que, segundo os seresteiros, não tem história. A sinfonia cratense é complementada pelo som do cavaquinho de Vicente Lobão, um deficiente visual, que faz da música uma forma de enxergar o mundo.

Outro ponto de encontro dos seresteiros é a oficina mecânica de José Francisco Mauricio, conhecido por “Prego”, localizada à Rua Cursino Belém. A velha oficina, ocupada por tornos mecânicos, se transforma no relicário de músicas antigas na voz do ex-goleiro da seleção cratense de futebol “Luiz Pé-de-pato”, um dos mais requisitados seresteiros da cidade.

Em cada canção, uma saudade, uma história de amor que marcou a vida de uma geração que cresceu ouvindo Vicente Celestino, Orlando Silva, Augusto Calheiros, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves, dentre outros que enterneceram a alma lírica dos poetas que, através de retrovisor do tempo, iluminam a estrada do passado.

A música, segundo o seresteiro Gilberto Teles, não é só associação de sons e palavras, mas um rico instrumento que pode fazer a diferença, pois desperta o indivíduo para um mundo prazeroso e satisfatório para a mente e para o corpo que facilita a aprendizagem e também a socialização. Gilberto Teles, lembra que a música é uma das mais antigas e valiosas formas de expressão da humanidade e está sempre presente na vida das pessoas, em todas as idades.

Fonte: Diário do Nordeste

Feliz Aniversário, João do Crato!

Nosso abraço, grande figura !

João do Crato é de fato
Um ser mais que autenticado
Na cidade ou no mato
Ele deixa o seu recado
Espontâneo como a brisa
De um soar que improvisa
Na voz de um João amado!

Ulisses Germano

CHORINHO NA GARAGEM - visão de Ulisses Germano



Chorinho na Garagem

Aos domingos tem chorinho
Na cidade lá do Crato
O ensaio é na garagem
Samba de roda no prato
O pandeiro e o cavaquinho
Bate a porta do vizinho
Pra mostrar todo o aparato

Que de fato só tem bamba
Da velha guarda sofrida
Junta gente pra caramba
Tem voz pura e aguerrida
Waldir Azevedo e Canhoto
Formam um som mais que maroto
Deixando exposta a ferida

E a querida dos solistas
Lança olhares de soslaios
Desprezando os sambistas
Vai soltando os seus raios
E zombando da mentira
Sai rompendo nossa  lira
Rebolando os balaios

E a garagem toda em festa
Junta a porca e o parafuso
Que apertandinho atesta
O acorde puro e difuso
Do violão ponteado
Na baixaria marcado
Pela voz de um tal Caruso

Não abuso do elogio
A seresta mora lá!
Todos falam da orgia
Que já foi e ainda está
No presente que alimenta
A saudade que sustenta
Uma lembrança invulgar

Ulisses Germano
Crato, 11/04/2011



P.S. Todos os domingos na Rua Pedro II no Crato um grupo de chorões da mais alta qualidade se juntam numa garagem ampla para tocar por puro prazer. Eles são pérolas de autenticidade, músicos do mais alto quilate! Escrevi estes versos como demonstração de carinho e gratidão, dos momentos de contentamento que eles me proporcionam fazendo sumir dos domingos sombrios as vozes nauseabundas de um Faustão ou de um Baú cheio de tediosidades.  Ulicis


WALDEREDO GONÇALVES


WALDEREDO GONÇALVES ilustrou inúmeros cordéis, revistas e jornais. Durante muito tempo, foi o único xilógrafo da região (Foto Antônio Vicelmo).

Crato (Sucursal) — O Festival Folclórico do Cariri foi aberto ontem com uma notícia triste. Morreu o Mestre da Cultura Popular, Walderedo Gonçalves, 85 anos de idade. Na abertura do Festival, os coordenadores prestaram uma homenagem a Walderedo, apontado como um dos maiores nomes da xilogravura nacional, que já fez inclusive exposições internacionais. O enterro de Walderedo será realizado hoje com a presença dos grupos folclóricos que ele retratou em xilogravuras.

Menino pobre, mas de tradicional família do Crato, parente do ex-senador e ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Wilson Gonçalves, Walderedo Gonçalves foi um autodidata que se tornou conhecido em todo o Brasil e no exterior graças a sua arte e inteligência. Filho de um carpinteiro e uma artesã, Walderedo dizia que nunca teve infância. Trabalhou desde menino, ajudando o pai e a mãe. Na escola, foi discriminado e expulso porque desenhou uma mulher nua. Saiu da escola para vender jogo do bicho, uma atividade clandestina. Mesmo assim, não perdeu o gosto pelos estudos. Revoltado com a expulsão, Walderedo estudou sem ajuda de professores. Leu os clássicos da literatura portuguesa. Seu sonho era ser inventor. Mas faltaram recursos, conforme lamentava.

Trabalhou como “guarda da peste”, quando teve oportunidade de percorrer “meio mundo” nos Estados do Ceará e Piauí. Walderedo lembra que, enquanto trabalhava, lia romances e cordéis. Tinha uma coleção de cordéis que ele costumava ler para os “matutos de Interior” que, segundo afirmava, gostavam muito desse tipo de literatura. Com isso, ele conseguiu hospedagem grátis.

O casamento com 20 anos de idade o obrigou a trabalhar numa tipografia. Uma de suas especialidades era fazer xilogravura em madeira para os jornais, em substituição aos clichês de zinco. Durante muito tempo foi o único xilógrafo da região. Ilustrou inúmeros cordéis, revistas e jornais . A arte, entretanto, o levou a prisão, sob suspeita de ter colaborado, com sua habilidade, para uma ação ilícita. Em entrevista ao professor Jurandy Timóteo Walderedo disse, com mágoa, que foi seqüestrado pela Polícia Federal.

“Foi uma vida marcada por sofrimento e alegrias”, disse Walderedo, acrescentando que o seu valor artística só foi reconhecido depois de velho, quando o governo do Estado, através da Secretaria de Cultura, o indicou como Mestre da Cultura Popular. O jornalista Huberto Cabral lembra que Walderedo não aceitou um convite feito pelo ex-reitor Antônio Martins Filho para participação de uma exposição de xilogravuras na França.

Irreverente, boêmio mas, sobretudo, inteligente, ele era também um abridor de cofres de segurança. Certa vez, foi convidado para abrir um cofre de um rico comerciante de Juazeiro. Abriu o cofre em menos de um minuto. Ao cobrar uma determinada quantia, o comerciante achou que era uma exploração para um trabalho tão rápido. Walderedo não mediu conversa, fechou o cofre e voltou para o Crato, sem ensinar o segredo. O proprietário teve que arrombar o cofre.

Na entrevista a Jurandy Timóteo, Walderedo confessou que sua história de vida é de um homem comum. “Eu vivo por viver. Pra mim, tanto faz viver como morrer, tudo é a mesma coisa. Já vivi muito e já fiz de tudo”, disse resignado.

"Diário do Nordeste", 17-8-2005 - http://diariodonordeste.globo.com/

*Figura da nossa cultura, lembrada pelo escritor Everardo Norões.

Rocambole de Batata




ingredientes
Massa

* 1/2 kg de batata
* 1 xícara de leite
* 3 ovos
* 4 colheres de farinha de trigo
* 1 colher de manteiga


Recheio

* O de sua preferência: frango, palmito, carne moída, presunto e queijo, camarão ou verduras refogadas.


modo de preparo

Descaque as batatas e depois de cozinhar em água e sal, esmague e passe pela peneira. Junte a manteiga, o leite morno, a farinha aos pouquinhos e misturando bem. Depois acresecente os ovos. Bata muito bem até conseguir uma massa lisa e uniforme.

Despeje numa assadeira untada com manteiga e polvilhada com farinha de trigo.

Alise, polvilhe com um pouquinho de farinha de rosca e leve ao forno cerca de 15 minutos. Deixe esfriar um pouco e quando ainda quente vire a massa sobre um guardanapo polvilhado com farinha de rosca.

Espalhe o recheio e enrole com cuidado, aperte com o guardanapo e depois de alguns minutos desembrulhe. Salpique com pedacinhos de manteiga e passe outra vez pelo forno por cerca de 5 minutos.

Rocambole de chocolate




Foto: Ormuzd Alves
Preparo: Médio (de 30 a 45 minutos)
Rendimento: 12 porções
Dificuldade: Médio
Categoria: Bolo
Calorias: 337 por porção
Ingredientes


Massa:
. 4 ovos
. 120g de açúcar
. 120g de farinha de trigo
. Açúcar de confeiteiro.

Recheio:
. 500g de chocolate ao leite picado
. 1/2 lata de creme de leite sem soro
Modo de preparo

1. Separe a clara da gema. Bata as claras em neve e reserve.

2. Bata as gemas com o açúcar até forma um creme claro e espumante.

3. Junte a farinha e incorpore um terço das claras em neve misturando bem.

4. Junte o restante das claras e misture delicadamente com movimentos de baixo para cima.

5. Coloque em uma fôrma de 20 cm X 30 cm, forrada com papel manteiga. Asse no forno pré-aquecido a 180ºC por 15 minutos.

6. Desenforme ainda quente sobre um pano de prato polvilhado com açúcar de confeiteiro. Enrole como um rocambole e deixe alguns minutos antes de desenrolar.

7. Prepare o recheio: derreta o chocolate em banho-maria e misture o creme de leite. Coloque na geladeira e quando começar a endurecer, bata na batedeira até ficar cremoso.

8. Abra o rocambole, recheie com a metade do creme e enrole novamente. Cubra com o restante do creme.

MDEMULHER

O Livro : No Azul Sonhado

Coletânea em prosa e verso de diversos autores.
Convidamos todos. Infelizmente, o prazo para entrega do material, mesmo elastecido , expirou.

Concluímos primeira, segunda e terceira revisão.
Diagramação e capa, em vias de conclusão( até final de abril)
Edição
Revisão gráfica;
Impressão;
Lançamento.-17.07.2011




Relação de autores:
1.Aloísio Paulo dos Santos
2.Francisco de Assis Lima
3.Bernardo Melgaço
4.Carlos Eduardo  Esmeraldo
5.José Wilton Soares da Silva (Wilton Dedê)
6.Domingos Barroso
7.Edmar Cordeiro Lima
8.Francisco das Chagas
9.Geraldo Ananias Pinheiro
10.Geraldo Urano
11.Isabela Pinheiro
12.José Flávio Vieira
13.João Marni Figueiredo
14.João Nicodemos de Araújo Neto
15.Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes
16.Emerson Monteiro Lacerda
17.José Carlos  Mendes Brandão
18.José Nilton Mariano Saraiva
19.Lana Mara Thiers
20.Liduína Belchior Vilar
21.Luís Eduardo da Silva
22.José do Vale Pinheiro Feitosa
23.Lupeu Lacerda
24.Magali de Figueiredo Esmeraldo
25.Manoel Severo Gurgel Barbosa
26.Marcos Barreto de Melo
27.Marcos Vinícius Leonel
28.Maria Tereza Barreto Peretti (Tetê Barreto)
29.Nilo Sérgio  Duarte Monteiro
30.Pachelly Jamacaru
31.Abidoral Jamacaru
32.Roberto Jamacaru
33.Pedro Pinheiro Esmeraldo
34.Rejane Gonçalves
35.Rosa Maria  Guerrera Pimentel
36.Luiz Pereira
37.Stela Siebra Brito
38.Tiago Araripe
39.Ulisses Germano Leite Rolim
40.Vera Barbosa
41.Maria da Conceição  Rusciolelli Paiva (Corujinha Baiana)
42.Everardo Norões
43.Cristina Diogo
44.Telma de Figueiredo  Brilhante
45.Socorro Moreira


Diagramação: Luiz Pereira
Prefácio: José Flávio Vieira
Orelha: José do Vale Feitosa
Dedicatória: por Tiago Araripe ( homenageados: J. de Figueiredo Filho e Patativa do Assaré)
Foto da capa: Pachelly Jamacaru
Revisores: Stela Siebra e Luís Eduardo
Edição: catadoradeversos.blogspot.com – “No Azul Sonhado”


Tiragem: 500 exemplares


225- (cinco p/autor)
25- P/divulgação
250- será colocado à disposição dos autores (quota extra) pelo preço mínimo de 12,00.
O livro será vendido a 20,00( vendas não antecipadas)


*Alguns autores já fizeram suas reservas.Ainda dispomos de 200 livros.
E-mail: sauska_8@hotmail.com




O velho tema : SAUDADE ! - por Rosa Guerrera




"As vezes a saudade é tão grande que a gente não sente mais. A gente é saudade.”


Li essa frase não lembro onde , e lamento não saber também o autor , mas na verdade é de tamanha profundidade que tentar analisa-la me parece difícil.
Quando a gente se transforma , se reveste na própria saudade , como sermos julgados ?
Incapacitados de fugirmos ao passado ? Conhecedores realmente da verdadeira felicidade ? masoquistas ? ou eternos sentimentais deitados na esperança ?
A impressão que eu tenho é de que por mais que tentemos nos esforçar , vivemos sempre acompanhados desse sentimento. Temos saudades da nossa infância , das cantigas de roda, da escola onde aprendemos o ABC, da pureza do nosso primeiro beijo, de músicas que marcaram momentos alegres, de palavras que ficaram nos nossos ouvidos , de preococes despedidas, enfim : de todas as folhas caídas da árvore da nossa existência .
Muitas vezes sentimos até saudades de coisas que nunca fizemos !
Lembro agora uma velha marchinha de carnaval que diz : “ Saudade , palavra imensa/tristeza intensa /que me faz penar / Saudade só tu bem sabes /o bem que fazes ao meu penar .....’ E deve ser exatamente nesses momentos que a gente não consegue ver a saudade como aquela faca cujo gume estraçalha o nosso coração , mas como algo que foi participante do nosso encontro com a felicidade , e é exatamente como escreveu um dia o grande Fernando Pessoa : "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem”.
E se hoje , já não possuímos nem podemos mais apalpar o que foi vivido , que fiquem as lembranças, mas sobremodo que fique dentro de nós a certeza de que conhecemos um dia bem de pertinho a felicidade., mesmo que por momentos a gente sinta mesmo que está totalmente vestida em forma de saudade.
 por rosa guerrera

Poster - Idade- Por Socorro Moreira




Estou ficando desabitada
Meu coração é um Planeta
Sinalizado de lembranças...
Encraterado de lua
Que se esconde

Invisibilizada
Corro em mundos paralelos
Eu e o meu "alter ego" !

Chego na beira da insignificância
E provo uma verdade
Que parece quente
- A ilusão  friamente
Escapa dos meus sonhos...
Fica em tela
Num pisca-pisca constante.


Não espero o que chega.
Comemoro o vazio
Que se alastra ...
Depois , o pleno !


Enrolada em pensamentos
Busco a luz  nas entrelinhas
Encontro a trilha dos teus passos...

Em sonho  ou em qualquer plano
Um puro encontro 
Mas é displicente
O tempo que não marca !

RODA DE HISTÓRIAS COM BISAFLOR

Hoje vou contar a história “Corpo sem Alma” do livro ”Fábulas Italianas”, coletadas e publicadas por Italo Calvino.


CORPO SEM ALMA

Era uma vez um menino, chamado Joanorzim, que queria correr mundo para fazer fortuna. Sua mãe lhe disse que só daria permissão quando ele fosse suficientemente capaz:
- Você ainda é muito novo, precisa crescer e ficar forte; tão forte que possa derrubar o pinheiro do quintal.
Todo dia a primeira coisa que Joanorzim fazia era marcar carreira e chutar os pés juntos contra o tronco do pinheiro. Nas primeiras vezes que fez isso se estatelava para trás e não conseguia mover nem uma folha sequer da árvore. Mas persistiu no seu intento.
Passa dia, passa mês, passa estação, passa ano, até que, numa certa manhã, Joanorzim conseguiu derrubar o pinheiro. Tinha se tornado um rapaz saudável, forte e belo.
Sua mãe o abençoou e ele partiu pelo mundo afora.
Depois de muitas andanças chegou a uma cidade, em que o assunto principal era o cavalo do rei. O que se dizia é que não havia homem que o cavalo não derrubasse; muitos cavaleiros já tentaram domar o cavalo Rondó, mas, logo eram derrubados.
Joanorzim ficou olhando a movimentação dos cavaleiros com Rondó e descobriu que o cavalo se espantava com a própria sombra. Quando todos tinham desistido de domar o cavalo ele entrou na estrebaria, aproximou-se de Rondó, chamou-o, alisou seu dorso, e, num repente saltou na sela e levou-o para fora, tendo o cuidado de manter o focinho do animal contra o sol. Rondó, não vendo a projeção da própria sombra, deixou-se levar pelo rapaz, que o esporeou e saiu a galope, conseguindo domá-lo em pouco tempo.
O cavalo estava domado, mas só obedecia e se deixava montar por Joanorzim, que com esse feito angariou a simpatia do rei e passou a trabalhar no palácio.
A amizade do rei pelo novo empregado despertou inveja nos outros serviçais, que logo armaram uma história para afastá-lo da vida palaciana.
Os empregados lembraram da filha do rei que havia sido roubada por um mago e, que, desde então, não se tinha notícias dela. Foram até o rei e disseram que Joanorzim vivia se gabando de que era capaz de libertar a princesa, estivesse ela sob o poder de quem fosse.
O rei encheu-se de esperança e mandou chamar o rapaz, que negou, disse que nunca falou tal asneira, mal sabia desse sucedido com a princesa.
Mas Sua Majestade Real, achando que o rapaz havia brincado com um assunto que tanto o machucava, impôs autoridade, ordenou que ele partisse e só voltasse trazendo a princesa, caso contrário mandaria cortar sua cabeça.
Não tendo outra alternativa, a não ser obedecer, Joanorzim pediu uma espada e partiu montado no cavalo Rondó. No outro dia, quando atravessava uma floresta, se deparou com um leão, que o convidou a desmontar e escutar o seu pedido:
- Aqui estamos em quatro: eu, a formiga, o cão e a águia. Temos esse burro morto para ser dividido. Use sua espada e faça a divisão entre nós.
Joanorzim sabia que o melhor a fazer era atender ao pedido do leão, e repartir o animal morto da forma mais justa possível. Então, cortou a cabeça do burro e deu para a formiga:
- Tome, é uma casa para você e cheia de comida.
Deu as patas para o cachorro e disse-lhe que ali havia muito osso para ele morder, até enjoar. A águia ganhou as tripas: - “pode até levar para o alto de uma árvore”-, sugeriu Joanorzim.
O leão ficou com o resto do corpo, pois era o maior de todos eles.
Concluída a divisão, Joanorzim montou em seu cavalo, já ia partindo quando foi chamado mais uma vez. “Agora não tem escapatória, ai, ai, ai” pensou. “Será que fui injusto na divisão?”
Contudo, o leão falou:
- Você fez uma divisão justa, está tudo muito bem distribuído, queremos lhe agradecer. Tome uma das minhas garras, se você usá-la se tornará o leão mais feroz do mundo.
O cachorro deu-lhe um dos seus bigodes e disse que quando o colocasse sob o nariz, se tornaria o cão mais veloz do mundo.
A águia o presenteou também:
- Aqui está uma pena das minhas asas, quando precisar use-a e se tornará a mais forte e maior das águias.
Por último a formiga lhe deu uma das suas patinhas e assegurou-lhe que quando a usasse se tornaria uma formiguinha tão miudinha, que nem lentes de aumento revelariam sua existência.
Joanorzim agradeceu os presentes e partiu, mas, tão logo se distanciou dos animais quis testar a eficiência das oferendas. “Será que estão zombando de mim?” – pensava o rapaz -, “melhor verificar”.
Começou com a garra do leão – e tornou-se leão; depois usou a pena da águia – tornou-se águia; a patinha da formiga o fez formiga e o bigode do cão o fez cão. Testou os objetos algumas vezes mais, e, convencido da validade dos presentes, retomou seu caminho, atravessando um bosque até chegar à beira de um lago. Em cima do lago havia um castelo – o castelo do mago Corpo-Sem-Alma.
“Está na hora de usar o presente da águia” -, decidiu o rapaz e transformou-se numa águia que voou até o peitoril de uma janela fechada.
“A formiga entrará fácil por uma fresta” -, e logo, logo havia uma formiga deslizando na face da bela princesa, que dormia no aposento. Joanorzim tentava fazer-lhe cócegas na bochecha para acordá-la. Quando a princesa despertou viu Joanorzim, que havia voltado à forma humana e fazia-lhe sinal de silêncio, que tivesse calma.
- Não temas, princesa. Estou aqui para te libertar, mas é necessário que descubras o que se deve fazer para acabar com o mago que te mantém prisioneira.
À noite quando o mago chegou, Joanorzim se transformou novamente em formiga e a princesa tratou Corpo-Sem-Alma com grande carinho, afagando-lhe a cabeça, enchendo-o de dengos:
- Ah, meu caro mago, eu fico tanto tempo aqui sozinha pensando, aguardando sua presença, que me faz tanto bem... Mas, tenho medo de perdê-lo, apesar de saber que você é um corpo sem alma, que não morre nunca, temo que descubram onde você guarda a alma e que o matem.
- Ora, minha querida princesa, isto é coisa impossível. Vou contar a você, que está presa aqui e não pode me trair, o caminho que seria preciso trilhar para me atingir. Primeiro teriam que enfrentar o leão negro do bosque e matá-lo, tirar de suas entranhas o cão negro, que é veloz, nenhum outro o alcançaria e mataria; mas se isso acontecesse seria preciso derrotar a águia negra que está na sua barriga. Não sei se qualquer outra águia ousaria desafiá-la, mas se a águia negra fosse também morta, seria necessário retirar do seu ventre um ovo negro e quebrá-lo na minha testa para que eu morresse. Vê como é um caminho difícil de ser feito? Deveria eu ficar preocupado? Que nada!
Joanorzim, a formiga invisível, ouviu tudo. Passou por uma fresta e chegando ao peitoril da janela voou como águia para o bosque. Transformou-se em leão – o mais forte da terra – e saiu caçando o leão negro até encontrá-lo. Enfrentaram-se. Joanorzim destroçou o leão negro.
Neste exato momento, lá no castelo, o mago sentiu a cabeça girar.
No bosque Joanorzim abriu a barriga do leão e saltou fora um cão negro, velocíssimo, porém o rapaz transformou-se no cão mais rápido do mundo, que logo o alcançou. Travaram uma grande luta e no final o cão negro tombou morto.
O mago, não suportando a tontura e as dores de cabeça, acamou-se.
Enquanto isso, no bosque, aberto o ventre do cão, voou a águia negra, que passou a lutar com Joanorzim, transformado na maior águia do mundo: grandes bicadas, ataques com garras, bica daqui, bica dali, luta que luta, até que dos ares cai morta a águia negra.
No castelo, o mago tem tremores, calafrios, febre altíssima, delírios.
Joanorzim retirou o ovo negro do ventre da águia negra e levou-o para a princesa, que exultante, perguntava ao rapaz o que tinha feito para consegui-lo.
- Foi simples. Agora é sua vez de agir, mas lembre-se que é preciso quebrar o ovo na testa do mago.
A princesa levou um caldo para o mago, demonstrando cuidado e preocupação com seu estado:
- Caríssimo, como está?
- Ai, ui. Estou muito mal, fui traído.
- Trouxe-lhe uma sopa quentinha. Tome.
Quando o mago sentou-se na cama e ia colocando a primeira colherada de sopa na boca, a princesa o interrompeu:
- Para ficar mais substanciosa, vou acrescentar um ovo. Aguarde um pouquinho que vou providenciar.
Falando assim, a princesa quebrou o ovo negro na testa do mago Corpo-Sem-Alma, que morreu num segundo.
Agora a princesa estava livre para voltar para as terras do seu pai. Joanorzim levou-a ao rei, e pediu-a em casamento e foram todos felizes para sempre.

Pé de pinto, pé de pato,
Peço agora que me conte quatro.

Por tua linda cabeleira - José do Vale Pinheiro Feitosa


Os cabelos se tornaram objeto de desejo da indústria cosmética. Não por acaso. Isso vem de muito tempo. Em todos os povos, todas as culturas e civilizações os cabelos foram objeto de adoração e mitificação. Parte da transcendência do corpo como símbolo ocorre com os penteados, com os cortes a darem outra mensagem. Distinta a que uma determinada cultura se acostumara e agora pode se encontrar diante do inusitado só de um corte diferente do que esperava.

As Copas do Mundo se tornaram um centro destas diferenças. Desde Ronaldo com aquele corte a Príncipe Danilo na copa de 2002, até as inúmeras e coloridas desta atual copa africana. O que não se dizer dos desfiles fashion, das propagandas de shampoo, especialmente quando o objeto do desejo é sexual e ocorre nas volumosas cabeleiras femininas.

Não existe nada mais sedutor, mais universal no símbolo do desejo pela mulher do que seus cabelos e isso não é uma tara pessoal. Os Muçulmanos inteiros pensam assim, têm de cobrir as madeixas mundanas destes seres que desviam as almas maometanas da concentração em Deus.

Em Pernambuco, nos arredores de Recife, diz Câmara Cascudo, havia um “assassino, chefe de malta, ladrão, tornado famoso pela sua coragem e destemor. Forte, bonito, com uma extensa cabeleira que lhe deu o apelido, José Gomes, filho de Joaquim Gomes, com o pai e em companhia do mameluco Teodósio, espalhou o terror durante anos e anos, despovoando zonas inteiras e constituindo um pavor coletivo. Cantava-se, como ainda hoje, duzentos anos depois: “Fecha a porta, gente./ Cabeleira vem ai!/ Matando mulheres,/ Meninos também...”. E, para contrariar a assertiva do parágrafo anterior, se tratando de espécime masculino. Franklin Távora fez da vida deste homem um romance: O Cabeleira.

Quem não lembra daqueles cachinhos encastelados em metal, normalmente ouro, a servir de berloques para os pais daquela criança que um dia os perdera no primeiro corte. E as forças dos cabelos de Sansão a explicar a traição e a sedução? A clássica história de George Sand decepando sua linda cabeleira e a enviando a Musset como oferta de sua devoção sexual?

Nada mais trágico do que aparar rente uma linda cabeleira. Quem se esqueceu da atriz argentina, Irma Alvarez, nas páginas da Revista o Cruzeiro, em 1961, rapando a cabeça para estrelar no filme inacabado de Ruy Guerra: O Cavalo de Oxumaré? Do meu coração sangrando, eu lembro, quando Socorro, uma linda menina da Batateira, deixou rentes os cabelos que era uma majestosa e dourada cabeleira a balançar minhas fantasias universais.

Os cabelos são tão fundamentais que se tornam pagas de promessas aos santos. Na bruxaria, voltem no tempo muito mais do que estava, os cabelos eram peças chaves: segundo Câmara Cascudo pela lei da contigüidade simpática. (contigüidade simpática – bem resumido – se refere à similaridade entre a pessoa e os seus cabelos, pois em magia a contigüidade ocorre por similaridade entre as partes e o todo e esta só se transmite por simpatia através de infusões, toques etc. Segundo Claude Levy Strauss: Nos ritos de enfeitiçamento praticados sobre um fio de cabelo, este é o traço de união entre a destruição figurada e a vítima da destruição.). Em bruxaria, mais uma vez Câmara Cascudo, “os da cabeça enlouquecem ou matam. Os da partes pudendas anulam a virilidade.”

Sabem aquela trunfa do Elvis Presley que tanto “modernizou” a vida do pós-guerra? Era a velha expressão simbólica do arrojo pessoal e do destemor, assim como os longos e cacheados cabelos dos nossos lampiões do árido sertão. E, recordem, a filmografia mostrou isso à exaustão, uma referência o filme Cinco Mulheres Marcadas, de 1960, com Silvana Mangano, Jeanne Moreau, Vera Miles, entre outras atrizes, com as cabeças rapadas por terem sido amantes de militares alemães durante a ocupação da França na segunda guerra mundial. Isso era uma prática na península ibérica, rapar a cabeleira das mulheres como pena e pertencia ao Código Visigótico (portanto antes da dominação árabe).

Isso se aplicava aos homens rebeldes, quando os vassalos se insurgiam contra os senhores feudais, ou por falsidade ou covardia. Então, no feudalismo, os homens também eram descalvados e expulsos em grande humilhação. Até que os cabelos cresciam novamente e quem tivesse juízo aprendia um novo método de contrariar a ordem emanada pelos senhores ou perdiam o juízo e se sujeitavam com a cabeleira cheia de piolhos.

E existiam, como outra modalidade de pena, tendo os cabelos como fonte, a tosquia. O cabelo aparado dos recrutas não tem outro sentido do que a sujeição à cadeia de comando que lhes chega aos ouvidos com as diatribes de cabos e sargentos. Em religião, assim como os militares, a prática da tosquia e rapinagem é ampla e mundial, inclusive nas religiões orientais como no budismo.

Os cabelos de Socorro, soltos no panorama do canavial da Batateira era o que ocorria com as jovens, já o da minha avó, viúva, eram longos, mas rigorosamente presos em coque. E quando as minhas duas avós se deslocavam até a Missa, iam, igualmente, com as cabeleiras cobertas e com vestidos de tons escuros.

E, finalmente, à beira do rio Batateira, sereno e de águas translúcidas, a correr como meu sangue de adolescente fervente, via as mulheres lavando roupas e seduzindo minha alma enquanto ensaboavam as longas madeixas. E quando todos imaginam que eram fantasias apenas minha, elas diziam que os fios soltos que desciam com as águas se transformavam em cobras. Eu bem sei o que sentia.

 por José do Vale Pinheiro Feitosa

Waldir Calmon








Waldir Calmon Gomes (Rio Novo, 30 de janeiro de 1919 — Rio de Janeiro, 11 de abril de 1982) foi um pianista e compositor brasileiro de grande sucesso nos anos 50.
Gravou dezenas de discos - entre eles, a famosa série Feito Para Dançar e a música tema do extinto Canal 100, Na Cadência do Samba (Que Bonito É). Também gravou com Ângela Maria o disco "Quando os Astros se Encontram", em 1958.
Neste LP, encontramos o maior sucesso da sapoti: Babalu.
Criou um estilo imitado por muitos pianistas que o sucederam.
No ano de 1941 já como Waldir Calmon fez sua primeira gravação acompanhando Ataulfo Alves em “Leva Meu Samba”.
Depois de formar o grupo Gentleman da Melodia e circulou por teatros e cassinos do Rio e São Paulo
Foi nessa época que começou a tocar o primeiro solovox (pequeno teclado incorporado ao piano, precursor dos sintetizadores) trazido para o Brasil, popularizando o instrumento.
Na década de 50 gravou varios discos "Ritmos Melódicos" (no selo Discos Rádio), "Para Ouvir Amando", "Chá Dançante" e "Feito para Dançar" (Copacabana).
Foi o pioneiro a gravar sucessos dançantes em faixas únicas, ininterruptas, adequados a animar festas, eternizando nos acetatos o som que produzia nas boates de então.
Em 1955 abriu sua própria casa noturna, a popular Arpège, no Leme (RJ), que funcionaria até 1967 - onde atuaram João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, além de Chico Buarque, que fez um de seus primeiros shows, em 1966, ao lado de Odete Lara e MPB-4.
Seu conjunto era formado nessa época por Paulo Nunes (guitarra), Milton Banana (bateria), Eddie Mandarino e Rubens Bassini (percussão), Gagliardi (contrabaixo) e o próprio Calmon, ao piano e solovox.
Entre 70 e o começo de 77, atuou com sua orquestra de baile no Canecão (RJ), antes e depois do show principal.
Nos últimos anos de carreira, passou a tocar também sintetizadores. Morreu em abril de 1982 de infarto do miocárdio.

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