por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 18 de novembro de 2017

Princesa Isabel, Volte Aqui! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Por favor Princesa, venha logo! Estamos precisando urgentemente de uma nova libertação dos escravos! A "Terceirização da Mão de Obra", inclusive no Serviço Público, combinada com o desmantelamento da "Consolidação da Legislação do Trabalho", mais carinhosamente chamada de CLT, um conjunto de leis posto em prática no ano de 1941, há 76 anos portanto. Era a única rede de proteção ao trabalhador, a parte mais frágil das relações trabalhista.
    
Tão logo soube da noticia, Manduca Corró, prefeito do município de Aroeira Ferrada, esfregou as mãos de contentamento. Afinal, iria conseguir recursos suficientes para ampliação do açude da Fazenda Ribeirão dos Angicos, a jóia da fazenda do Manduca. Além de se manter indefinidamente no cargo, tão duramente conquistado, à custa de E este imediatamente agendou uma reunião com o Secretário de Viação e Obras Pública, Tadeu Cipriano.

Manduca e Tadeu contrataram a "Companhia Força Trabalhadora de Aroeira", mais conhecida por CFTA, a principal locadora de mão de obra da região. E de comum acordo foi montada uma tabela para os salários do quadro técnico da prefeitura: Antão Victor Machado, o engenheiro, que recebia um salário fixo de $R 2.000,00 (dois mil reis) iria custar ao erário municipal pela tabela da CFTA $R 8.000,00 (oito mil reis), Mara Régia Chachado, a secretária, cujo salário era de R$ 600,00 (seiscentos reis), em seu nome, teria renda anotada pela empresa contratadora do pessoal terceirizado $R 3.000,00 (três mil reis). E Edson Grilo Junqueira, o contador e administrador do pessoal, recebendo um salário de $R1.000,00 (mil reis) teria anotado nas contas da locadora $R 4.000,00 (quatro mil réis). Isto tudo somado, sobraria para o grupo político de sustentação do prefeito uma renda mensal de $R 11.400,00 (onze mil e quatrocentos réis). Aí está um grande passo para exploração do assalariado. Conforme constatou a O.S.D (Operação Suja Devagar), este pequeno ítem lembra como ocorrerá a escravidão do assalariado da cidade de Aroeira Ferrada e suas vizinhas.

Sabe Deus o que poderá esperar o trabalhador brasileiro com o desmantelamento da CLT, o fim da Carteira do Trabalho e a implantação de um maldito sistema de ajuste da Previdência Pública, cujo objetivo principal é forçar os trabalhadores brasileiros a pagarem o rombo previdenciário gerado desde o financiamento da construção de Brasília, passando por sucessivos governantes, alguns eleitos, outros golpistas. 

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

POBRES ANALFABETAS” - José Nilton Mariano Saraiva

Até certo tempo atrás, eram comuns “homenagens” aos ídolos do futebol, música e cinema, por parte de pais “torcedores fanáticos”, através da tributação, preferencialmente ao primogênito, do nome de algum deles. No entanto, um outro tipo de homenagem era muito comum entre genitores normalmente humildes e de parca cultura, e que merece ser lembrada: batizar o rebento com um nome estrangeiro, uma “sopinha de letras” de difícil pronúncia, capaz de “enrolar a língua” de qualquer um “metido a besta”. Não importava a origem do nome, quem o usava (se se tratava de algum marginal ou uma autoridade constituída). O que valia era a “boniteza” da grafia e, principalmente, a dificuldade que os “analfabetos” tinham de pronunciá-lo.

Pois foi estribado em tais “conceitos revolucionários” que o pai de um nosso colega de trabalho resolveu batizá-lo com o pomposo nome de Zwínglio (aos desavisados, a principal referência sobre, é o suíço Ulrich Zwínglio, teólogo e principal líder da reforma protestante naquele país; portanto, um nome de peso e com história, mas que o pai certamente não conhecia).

Fato é que, de tanta ouvir o pai se “gabar” com os amigos do nome estrambótico e difícil que tinha posto nele, nosso amigo assimilou “ipsis litteris” todo aquele arrazoado laudatório e, ele próprio, a partir de uma certa idade, passou a se vangloriar do nome e, tal qual o nosso rei Roberto Carlos, a se achar “o cara”. Ria às escancaras quando, ao fornecer informações para um cadastro qualquer nas lojas comerciais, observava a extrema dificuldades e a cara de espanto daquelas moçoilas/entrevistadoras que preenchem as fichas respectivas: “Por favor, senhor, “Zu...” o quê ???”, lhe inquiriam. E nessa oportunidade, como se fora um paciente professor catedrático, todo “cheio de razão”, fazia questão de citar, uma a uma, aquelas letras famosas, caprichando na dicção: Z – W – Í – N – G – L – I - O. E se punha a rir com a cara de espanto daquelas “pobres analfabetas”.

A adoração pelo próprio nome virou mais que mania, tornou-se uma verdadeira obsessão, tanto que, 200 anos antes de casar, ele já decidira que o primeiro filho receberia na pia batismal o mesmo nome do pai (afinal, era uma rara oportunidade de homenagear o avô (seu pai), que mesmo pouco letrado, tivera a ideia brilhante de arranjar-lhe um nome tão “porreta”).

Assim, constituiu-se uma tremenda surpresa o nascimento de uma robusta criança do sexo feminino e não um “homem”. E agora, o que fazer, se perguntava atarantado. Eis que, como num passe de mágica, absorveu o choque rapidamente através da adoção de uma solução simplérrima - “feminilizar” o próprio nome, trocando o “O” final pelo “A”, daí que a filha chamar-se-ia “ZWÍNGLIA”. Pronto, resolvida a questão, até mesmo porque... com ele ninguém podia. Era um gênio.

Anos após, evidentemente que quando começou a se entender por gente (ao adolescer), a filha criou verdadeira ojeriza, aversão azeda ao próprio nome, a ponto de ter vergonha de citá-lo em conversas particulares e, principalmente, em público. Quando absolutamente necessário pronunciava-o quase sussurrando. Virava uma “fera ferida” quando o pai, na ânsia de mostrar ao mundo o que era um nome bonito e charmoso, a chamava pelo nome exótico, em voz alta. Para ela, seu pai “tava doido varrido ou bêbado” quando decidiu batizá-la com aquela “praga de nome”. Pra encurtar a conversa e já que não tinha jeito, Zwínglia resolveu que a partir de então seria simplesmente “Zu”. E não admitia tergiversações. Se o pai não gostasse que fosse à PQP. Se possível, sem passagem de retorno.

Enquanto isso, na solidão da sua última morada, Ulrich Zwínglio ainda hoje deve estar se contorcendo e se questionando se merecia tal tipo de homenagem de um habitante da terra “brasilis”.


Post Scriptum:

Nos dias atuais, o pai certamente preferiria homenagear o jogador da seleção alemã BASTIAN SCHWEINSTEIGER (alguém aí sabe pronunciar ???).



segunda-feira, 6 de novembro de 2017

VENTO, VIOLONCELO, CASARÃO... (Dr, Demóstenes Ribeiro (*))


Ninguém ressuscita um morto... Perda de tempo, doutor!”

Voz calma e segura, a transformação de Joaquim, desde a morte do professor Maciel, era o assunto predileto da cidade. No velório, ele de terno e gravata, a cabeça repentinamente branca, foi a surpresa geral. O último a se despedir, beijou demoradamente o morto, soluçando, sem se importar que lhe ouvissem, meu filho, meu querido, meu irmão... Desde então, segundo a acompanhante, não dormia, não se alimentava e nada lhe interessava mais.

É um morto a quem o senhor está atendendo agora... Eu tive uma vida sem graça, mesmo quando a Celeste ficou viúva e fui trabalhar no cartório. Ela era sem filhos e bem mais velha do que eu. Logo nos casamos e vivíamos a paz doméstica entre aulas de violoncelo, escrituras e certidões.

A cidade mudava lentamente. Os velhos partiam, as crianças ficavam jovens e um adolescente de olhos claros e cabelos encaracolados lembrava o Davi, de Michelangelo, a obra prima que o senhor conhece. Como tantos outros, ele foi embora, pois precisava estudar e trabalhar.

Quando um infarto levou a Celeste, a minha vida sofreu uma irrupção. Eu tinha quase sessenta anos e fui conhecer o Rio de Janeiro. Na rodoviária, muito educado, ele estava à minha espera. Agora, homem feito, não mais adolescente, parecia Marlon Brando em Sindicato de Ladrões.

E foi à noite, em Copacabana, entre vários chopes, que ele me contou das suas dificuldades iniciais. Morou na Lapa, comeu no Calabouço e sobreviveu à turbulência de sessenta e oito graças a um diplomata espanhol. A amizade profunda rendeu-lhe um emprego no consulado. Aprendeu línguas e boas maneiras. Não era mais um rude, falava francês e inglês, sabia de artes e encenação.

Então, fomos a Petrópolis, sorvetes no Corcovado, emoção no Pão de Açúcar e bicicletas em Paquetá. Mas, o Rio era outro e ele se sentia ameaçado. Mas, se eu ficasse ao seu lado, ele voltaria. Criaria na cidade a “Escola de Línguas e Artes Plásticas Professor Maciel.” Poderíamos reformar o velho casarão do pai da Celeste e, assim, a cultura chegaria à região.

Um mês depois, ele se mudou para minha casa. Certo amanhecer, lhe despertei com acordes de “In My Life” e a canção de Lennon e McCartney, no meu violoncelo, lhe causou uma profunda comoção.

Outro dia, empolgado e para que todos vissem, afixou uma placa em frente ao prédio: “Futuras Instalações – Escola de Línguas e Artes Plásticas Professor Maciel. Depois foi ao banco tratar do empréstimo para a reforma. No fusca, ao se chocar com um ônibus, somente ele morreu, somente ele... Esqueça o ressuscitar dos mortos e não perca tempo, Doutor!”

Preocupado, solicitei exames, prescrevi um antidepressivo, lembrei de “Morte em Veneza” e agendei um retorno muito em breve. Mas, Joaquim desapareceu e, dias depois, num amanhecer, foi encontrado enforcado. O corpo pendia da grande árvore que existia em frente ao casarão. Embora psiquiatra, eu nunca mais aceitei um paciente como aquele.

Até hoje, o casarão continua abandonado. E o povo conta que em noites de chuva, quando sopra o vento, suas portas batem, surge um gato preto e escapa lá de dentro, num misto de violoncelo e voz humana, meio grito, meio gemido: meu filho, meu querido, meu irmão...


(*) Médico-cardiologista















sábado, 4 de novembro de 2017

Exposição Rastrovestigium será realizada na URCA

 

Os artistas Fred Sidou, Leonardo Ferreira, Kakaw Alves e Marsonilia Duarte realizarão no período de 7 a 30 de novembro, no Espaço Célia Bacurau, vinculado a Pró-reitoria de Extensão,  no Campus Pimenta da Universidade Regional do Cariri - URCA, a exposição Rastrovestigium. 

A exposição reúne fotografias, jóias, objetos do cotidiano e junções de materiais como é o caso de cordas, cobre, latão, alumínio, couro, madeira, etc.

A Exposição  surgiu no grupo de pesquisa  JJAIO (Jóia Jogo Invento Artesania) composto pelos artistas expositores que é  orientado pelo professor  Dr. Frederyck Sidou,  da Universidade Regional do Cariri.  Os  matérias usados na exposição  foram coletados nas  praias  Redonda e Ponta Grossa,  em Icapuí. 

A exposição  reflete e demonstra o corpo desmoronando sobre pedras e  fragmentos, produzido numa bancada de ourivesária como a construção de anéis feitos de corais, cobre, prata e outros materiais.
...NÓS É QUE ESTARÍAMOS PRESOS”- José Nílton Mariano Saraiva


Metade do mundo e a outra banda sabem que a tal Operação Lava Jato, na perspectiva do seu arquiteto e executor, o deslumbrado juiz de primeira instância, Sérgio Moro, pretendia assemelhar-se e ser uma cópia fiel da Operação Mani Pulite (Mãos Limpas), levada a efeito na Itália em meados da década 90 e que, no entendimento do dito cujo, fora a redenção daquele país (na verdade, Mani Pulite quase destruiu a Itália).


Procuramos mostrar isso na postagem “O Catecismo do Moro”, de nossa lavra (quase dois anos atrás), onde destrinchamos, item por item, o trabalho de autoria do respectivo (“Considerações a respeito da Operação Mani Pulite”), onde Moro delineia, pari passu, o que pretendia executar depois do retumbante fracasso que houvera experimentado anos atrás quando da operação “Contas CC5” do Banestado, no Paraná (coincidentemente envolvendo o mesmo doleiro-bandido Alberto Yousseff, à época vergonhosamente absolvido por Sua Excelência).


Basicamente, a ideia era se valer de um tema de imenso apoio popular (no caso, o pretenso combate à “corrupção”) para, a partir daí, desencadear uma demolidora ofensiva contra partidos políticos e seus principais líderes, exterminando-os (só que, no caso, um só partido político (o PT) foi alvo, com o objetivo de impedir, por cima de pau e pedra, que o seu principal líder, Lula da Silva, retornasse ao poder, nos braços do povo).


Para tanto, pelo roteiro elaborado por Moro, a principal providência seria obter o necessário apoio das principais corporações midiáticas (claramente refratárias ao PT/Lula) como forma de convencer a população da necessidade de “passar por cima” da própria Carta Maior (Constituição Federal), a fim de atingir o objetivo colimado.


E aí, tivemos um verdadeiro “festival de abusos” de Moro e sua equipe, que, contando com o beneplácito e a inexplicável conivência dos frouxos e prolixos integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), desandaram a exorbitar das suas funções: prisões preventivas alongadas e sem necessidade de provas (objetivando forçar o detido a “dedurar” os demais), conduções coercitivas sem a antecipada notificação judicial, interceptações telefônicas ilegais (e a posterior criminosa divulgação do seu conteúdo para a grande mídia), censura dos processos aos defensores do acusado (impedindo-os de “advogarem”), e por aí vai.


A destacar, o encarceramento abusivo de "supostos" suspeitos e a posterior obtenção, a fórceps, das tais “delações premiadas” (que, por lei, deveriam ser voluntárias) principalmente envolvendo “portentos” da construção civil e outros “empresários bandidos” que se locupletavam com o dinheiro público, num ilusório aviso de que “dessa vez a coisa vai”. Só que “esqueceram” do efeito colateral daí resultante: que sem um prévio acordo de leniência, as grandes empresas nacionais envolvidas tenderiam a rapidamente “ir pra onde a vaca vai" (pro brejo). Por conta disso, desde então o desemprego campeia nas áreas atingidas, e está aí pra todos verem.


Fato é que, guindado à condição de pop-stars e de figurinhas-carimbadas das principais revistas, jornais e TVs, Sérgio Moro e seus procuradores, ao contrário do que recomendam os manuais, abandonaram de vez a discrição, recato e prudência necessárias e exigidas de um magistrado e passaram a pulular em eventos de qualquer natureza: sociais, políticos, midiáticos e por aí vai (holofotes e bajulação, não lhes faltam).


No mais recente (internacional), com Sérgio Moro e seus procuradores agora na plateia, eis que o inusitado se fez presente: o principal convidado, o italiano Gherardo Colombo, um dos magistrados que participaram da Operação Mani Pulite (Mãos Limpas) na Itália, inquirido a traçar um paralelismo das duas operações, contundentemente vociferou: “SE TIVÉSSEMOS FEITO O MESMO QUE A LAVA JATO, NÓS É QUE ESTARÍAMOS PRESOS” e, ainda, asseverando que “olhando retrospectivamente hoje, podemos entender que a corrupção na Itália não diminuiu, absolutamente”. Portanto, desmoralização pública e explícita do modus operandi adotado por Moro e cupinchas.


Assim, talvez a única certeza nisso tudo é que, se na Itália, por conta da Operação Mani Pulite, emergiu no cenário político o mafioso Sílvio Berlusconi, que acabou de destroçar com o país, no Brasil temos a temporária e perigosa ascensão do comprovadamente despreparado ultraconservador Jair Bolsonaro, que, na perspectiva da inviabilização da candidatura Lula da Silva (“objeto de desejo” de Sérgio Moro e seus procuradores), pode, sim, atingir o poder, conforme mostram as pesquisas.


E aí, que Lúcifer tenha pena do nosso Brasil.