por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 5 de novembro de 2014

POIS É , PRA QUÊ? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Pois é, pra quê? Sidney Muller

Ação. Luzes. Ação.

A embriaguez da ação. Mesmo sem saber a causa, o propósito, o resultado. Ação. Sem ela um tédio mortal. A grande e irremovível depressão.

A necessidade da ação como um adware, spyware, sempre tentando abrir uma nova guia no navegador. E para que a mente, a memória e o corpo abram a ação busca-se o combustível.

Aquele que estabeleceu outra mente. A mente tangível. Como a contundência de comprimidos de êxtases, o hálito azedo de café, goles de álcool, encher de fumaça os alvéolos, cafungadas de romper as cartilagens nasais. A mente alterada, motora da ação.   

O mérito da ação. O sucesso, conquista, empreendedorismo, o orgulho de si mesmo pelo qual mereça reconhecimento. Que necessita do “marketing”, que depende de intermediários, que tilinta a sonância de moedas passando de mãos.

E tome ação. Até mesmo a contemplação, a meditação, a oração, são territórios da ação. Não se constituem em mais nada do que propriedade de valor nas transações monetárias lastreadas no lucro e no plano de negócio.

Quem há de contar estrelas mesmo sob ameaça de verrugas nascerem em sua pele? Quem há de expirar e inspirar os segundos como um curso quase inativo do acontecer? Quem há de extrair conteúdo em horas vazias de débitos e créditos?

Espiga a espiga no milharal. Palha a palha na espiga. Milho a milho debulhado. Esta fábula agrícola que ainda se escoa lentamente no modo de estar no mundo.

Um continuo viver.

Uma mandala do desfecho.

Esta enfiada de contas para qual não traduz valor.


Tudo ação pouco acelerada onde se tem oportunidade de prestar atenção para além das margens deste acontecer. 

Um artista cratense- nosso orgulho- Tiago Araripe!



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    Ontem às 02:23 ·
    "Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo: e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste de que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente - minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa. [...] Sem alegria nem cui...dado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. [...] Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou - "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" [...] Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. [...] Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água, que não para, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro - o rio"
    Trechos do conto "A TERCEIRA MARGEM DO RIO" (um dos mais belos contos que já li) de JOÃO GUIMARÃES ROSA. (antes de entrar na sua canoinha, leia essa maravilha, o rio vai agradecer)