por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Poussières D´Étoile - José do Vale Pinheiro Feitosa

O vídeo abaixo mostra um ensaio fotográfico de Ludovic Florent e chama-se Poussière d´étoile que pode ser traduzido como "Poeiras das Estrelas". 

Ludovic é um jovem fotógrafo, nascido em 1976 na histórica cidade francesa de Dunquerque. Ele trabalha muito com fotografia de estúdio, com técnicas de claro e escuro e objetando o corpo em estado puro, envolvendo emoção e uma sedução espontânea e natural. Eis o que já diz este jovem sobre o seu trabalho: "Em nossa sociedade em mudança, o meu trabalho fotográfico é guiado por um olhar humanista, trazendo para o primeiro plano a beleza natural do corpo, livre para expressar sua graça e personalidade. Atrás de cada envelope carnal se esconde uma alma que é sensível e evidente e é isso que tento capturar em cada uma das minhas fotos."

Uma das coisas mais intensas que existe em arte é quando duas manifestações artísticas se somam. Nesse caso a coreografia da dança e fotografia. É um resultado muito intenso. Sugiro que ampliem o tamanho da imagem na tela para que melhor aproveitem a fotografia. 

Mesmo reconhecendo que as fotos são de direito reservado, mas uma vez que lançadas na internet tive a ousadia de trazê-la aqui. Ela exclusivamente e maravilhosamente um trabalho de Ludovic Florent. Este belo ensaio. Liguem o botão assistam à adição de mais duas manifestações: a música e a palavra.



Jojó & Juju



J. Flávio Vieira

                               Jojó Fubuia  se tornara, a custa de muito desvelo e dedicação, o pau d´água mais famoso de Matozinho. E olhe que isso não era qualquer conquistazinha, não ! A concorrência não lhe dava trégua. O “Bar do Giba “ vivia atulhado  de pretensos  candidatos ao cargo , sem falar nos sítios da redondeza da cidade, onde o primeiro comércio a ser instalado  era sempre uma bodega, com sua cenografia típica : o balcão , os copos com fundo de lente de aumento, a bandeja de tira-gosto com siriguela ou caju e o garajau, logo atrás, apinhado com os litros de aguardente a granel.  No frontispício,  um pequeno quadro retangular avisando a sempre adiada venda a prazo :
                        --“Fiado só amanhã!”
                        Nem é preciso adiantar que este pequeno comércio se transformava  numa verdadeira academia formadora de concorrentes futuros do nosso Fubuia. Até porque, Jojó nunca fora pinguço com tempo integral e dedicação exclusiva. Era diarista sim, nas horas vagas, quando escapava, por fim, da barraquinha de venda de quebra-queixo e mariola que mantinha num dos lados da Praça da Matriz.
                                   A fama do nosso Fubuia não vinha apenas  da ingesta quase industrial das  canas fabricadas nos engenhos da região. Passara a fazer parte da paisagem normal de Matozinho. Virou figura ícone da cidade, principalmente por suas tiradas desconcertantes, suas irreverência e picardia. Mexer com nosso  cachaceiro,  quando do alumbramento etílico, comparava-se a cutucar marimbondo de chapéu ou inxu magro: meio caminho para a ferroada inevitável.  As histórias envolvendo o mesmo personagem contavam-se  às centenas nas cercanias da Serra da Jurumenha  e certamente foram elas que trouxeram fama  ao nosso Fubuia.
                                   Numa Missa de domingo o Padre Norzinger , vulgo Nó Cego, com a germânica rigidez que lhe era peculiar,  lançava  as suas ameaças terríveis para quem não seguisse ipsis literis o texto evangélico debulhado na homilia.  Com seu português engrolado , como se tivesse sofrido uma congestão, prometia as sempre temidas labaredas do inferno para os pecadores mais recalcitrantes. E quem, ali, não queria ir para o céu?  Quem? --Inquiria ele .
                        --Levante-se quem aqui quiser ir para o céu! -- Solicitou , teatralmente, Nó Cego, do alto do seu discurso tenebroso.
                        Todos os fiéis, imediatamente, se levantaram das cadeiras. A única exceção foi Jojó.  Com o barulho das chinelas, no levanta-levanta da platéia, acordou do cochilo,  no último banco da igreja.  Ainda andava anestesiado pela ressaca do porre do sábado.  Nó Cego divisou-o imediatamente, como única exceção à salvação proposta,  há poucos minutos e inquiriu-o , veementemente:
                        --- Tinha que serrr assim, nér seu Jojórr,  ! Sórr o Senhorr, alma perdida não querr a salvaçon ! Quando morrerr o senhorr não querr ir para o céu, non ?
                        Jojó, apesar da língua pastosa , não se enrolou:
                        --- Ah ! Quando morrer , eu quero ! É que o senhor perguntou, assim de repente,   quem queria ir para o céu e eu pensei que vossimicê  tava organizando a excursão era pra agorinha mesmo!
                        Tantas e tantas histórias engalonavam o book do nosso deodato que é sempre difícil, para um simples cronista de Matozinho, escolher as melhores  e mais palpitantes. Permitam-me, pois, exercer essa temível função, sujeitando-me às línguas mais ferinas da vila.  Pois aí vai o acontecido com D. Isaurina , uma das almas mais carolas e recatadas de Matozinho.
                         Isaurina sempre fora católica praticante, dessas de não perder missa sob qualquer pretexto. Não bastasse isso, envolvia-se ainda com a administração da paróquia, estando sempre à frente da Festa de Santa Genoveva, onde organizava os cordões vermelho e azul , os leilões, as quermesses. Além de tudo, enfrentava de punho serrado a Pastoral do Dízimo. Casara-se, há mais de vinte anos, com Juvenal dos Rosários , comerciante de produtos religiosos como velas, terços, santos e , claro, rosários. Os dois tornaram-se a sombra do Padre Arcelino. Pois a história se passa num fatídico domingo, quando, cedinho, Isaurina se dirigia à igreja para encetar os preparativos da missa das sete horas. Coroa meio passada, já tendo perdido as esperanças de um dia ser mãe, engravidara com mais de quarenta anos, o que considerava uma graça divina. O barrigão empinara e aí vinha ela, já remando, por volta do sétimo mês. Eis-que , nossa romeira, topa com Fubuia, capotado no meio da rua, usando o meio fio como travesseiro. Perto do templo, em pleno dia santo, nossa beata achou aquilo uma afronta e resolveu dar uma descascada no pinguço. Cutucou-o, com a ponta da sombria que levava na mão, por diversas vezes, até que Jojó, incomodado, abriu aqueles olhos de peixe morto para ela. Isaurina passou-lhe o carão:
                        --- Mas como é que pode, seu Jojó ! Tenha vergonha nessa cara! Capotado de frente à Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo ! Já sei,já sei !  Isso só pode ter sido é cana e muita !
                        Fubuia, com o mundo ainda ciclando seus movimentos de rotação e translação, tentou olhar, deitado , para a cara da sua interlocutora. A barriga de Isaurina quase que não lhe permitia observar  quem era a mandona, dona do mundo que ali estava a lhe dar aulas de boa conduta cristã. Quando , por fim, defrontou-se com a face quase que santificada de   Isaurina , sobressaindo-se com dificuldade da montanha da barriga prenhe, não resistiu :
                        --- E tu, santinha ! E esse buchão desse tamanho, não tem vergonha , não ? Já sei, viu ? Isso só pode ter sido é rrrrolaaa e muita !
                        Isaurina saiu que o rabo era um rei !
                        A mais clássica história do nosso cachaceiro --- e acho que aí, sim, há  unanimidade --- aconteceu no templo do nosso Jojó : O Bar do Giba.  Consta que Juventino lá entrou por mero hábito. Fora, por muitos e muitos anos, da turminha do quequéu. Tornara-se um dos grandes concorrentes do nosso Fubuia  nas artes garrafais. Claro que a concorrência não era tão fácil :  ora, nosso Jojó, era irmão de um outro grande copo : o Jeová da Palhoça. O mano de Fubuia tinha uma pequena palhoça, próximo ao Açude do Sabugo, onde vendia bebidas e as entornava com igual voracidade. Nos meses de inverno, a Palhoça  tornava-se o point mais badalado dos deodatos de Matozinho.
                        Pois bem, Juventino , acompanhado de tão má companhia, terminou  doente  e foi orientado por Janjão da Botica a abandonar o vício, pois   já estava aumentando a barriga e afinando os braços e as pernas: deve ser barriga d´água, vaticinou o boticário, meio caminho andado para a terra de pé-junto ! Juju , então, virou crente. Mesmo assim, não perdeu o costume de andar no Bar do Giba, afinal fora ali que fizera amigos e não agüentava Bíblia, oração e louvor, toda hora, não ! Naquele dia, quando Jojó o viu entrar, gritou imediatamente para  Giba:
                        --- Grande Juju ! Lasque aí uma lapada pra mim e outra para meu amigo , Giba ! Eu faço questão de pagar !
                        Enquanto Giba remexia os copos, Juventino, calmamente, explicou que não estava bebendo mais , parara de vez. Fubuia, com olhos esbugalhados, não compreendeu aquele aparente loucura :
                        --- Tá louco, Juju ? Você não tem mais idade para fazer uma besteira dessas , não ! Tantos anos bebendo e aprendendo e , de repente, parar  tudo ? Tu quer é lascar esse fígado, é , Juju ?
                        Juventino, então, disse que agora era evangélico, aceitara Jesus, tangera Satanás e não bebia mais nada. Só água ! E, enfático, fechou questão :
                        --- Agora, Jojó, eu sou crente, meu amigo. Sou Testemunha de Jeová !
                        Fubuia, então, rápido como Bill The Kid, apresentou sua inquestionável defesa das lindes etílicas:
                        --- Que besteira é essa, Juju ? Só Testemunha de Jeová ? Eu mesmo sou irmão de Jeová e bebo pra peste !  O próprio Jeová , pode ir conferir lá na Palhoça, bebe mais do que nós dois juntos ! E tu é apenas Testemunha dele ! E garanto que não foi nem intimado ainda prá audiência !  Nãoooo!

O IMPÉRIO E O PORTO DE MARIEL - por José Almino Pinheiro


Por volta do ano zero, afora centenas de reinos, principados e cidades estados, só existiam de fato. No mundo conhecido dos europeus, dois grandes impérios: o de Roma e a China. A última potência de peso a ser conquistada pelos romanos foi o Egito. O General Otaviano, futuro Imperador Augusto, teve a honra histórica de dar o golpe de misericórdia no grande reino dos faraós. Império que então completaria cerca de 3500 anos.  Não foi uma luta frontal. Para os egípcios com seu grande e inabalável império, capazes de repelir, até então, todos os agressores, os romanos eram apenas mais um dependente de sua organizada agricultura e de matérias primas em geral.

O Egito, protegido pelos desertos, que repelia invasões, controlava praticamente todo o comércio do mediterrâneo e do oriente médio. Mantinha entrepostos comerciais ao longo das costas do mediterrâneo. As grandes ilhas de Chipre e Creta eram suas colônias, algumas das bases de apoio para o intenso comércio marítimo.

Os romanos sabiam que, naquele momento, belicamente não podiam enfrentar os egípcios. Portanto, era preciso desenvolver uma política de conquista de longo prazo. E assim fizeram. Como potência militar, aos poucos foram conquistando, saqueando, destruindo ou anexando reinos vizinhos e no que sobrava, depois da limpeza política de regra, introduziram entre outras, a novidade de conceder cidadania romana aos novos conquistados, respeitando seus costumes e religiões. Muitos dos agora novos cidadãos obtinham todos os direitos e deveres romanos e podiam atingir altos cargos na administração. Com esse arranjo jurídico diminuíam as revoltas e movimentos de independência, já que todos eram cidadãos romanos. Organizada a administração, trataram de minar e conquistar as possessões egípcias mais fracas e distantes, que do ponto de vista dos faraós, não compensava enviar tropas para defendê-las, davam preferência a algum arranjo diplomático ou financeiro.
Por algum tempo os romanos respeitavam os acordos, mas logo, a despeito de qualquer pretexto, iniciavam novos avanços. Apesar de algumas passagens obscuras tais como os suicídios do General Marco Antônio e da própria Faraó Cleópatra VII, sabemos como terminou o grande império de 3500 anos.

Os romanos, com paciência e determinação, com a política de, como diz o matuto, “comer pelas beiradas” conquistaram o mais rico império da época. Muito semelhante com o que os chineses estão fazendo atualmente: como formiguinhas se instalando e influenciando economicamente onde for possível.

É preciso lembrar que, brevemente entrará em serviço a ampliação do canal do Panamá, possibilitando navegação de grande porte e consequente aumento de mercadorias. A China é hoje o maior parceiro econômico do Brasil. Será que o Porto de Mariel, em Cuba, não faz parte dessa estratégia?    

 

UM PONTO DE APOIO QUE MOVA O MUNDO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Vamos tocar um assunto diferente. Aquela história do “dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo.” Ou seja, dê-me uma fonte de energia limpa e interminável que moverei a sociedade humana. Quer dizer: o centro da discussão sobre o futuro é a geração de energia.

A questão é tão importante que não se pode usar a noção de investimento em moeda para se obter o retorno. Em energia a equação é: a energia gasta para gerar outra energia deve ser muito inferior à gerada. Por exemplo: partindo de uma energia limpa como a eólica ou termo solar a pergunta é quanto de energia se gasta para montar as usinas e as placas solares. O retorno é em energia.

Outra questão fundamental é a chamada ignição. Ou seja, criar um processo tal que a partir do momento em que ele é posto para funcionar esta função se sustente com a própria energia gerada no processo. Mesmo a eólica e termo solar precisa de ignições que nesse caso pode ser o sistema como um todo e a partir das fontes iniciais de energia os ventos ou a luz solar.

Aí retornamos ao início. Uma fonte de energia limpa e interminável. Já existe um horizonte teórico para tal. Chama-se fusão nuclear. Ao contrário da fissão que é a atual energia nuclear, perigosa e geradora de um lixo terrível, na fusão este processo é infinitamente mais limpo e o combustível mais variável e praticamente inesgotável.

Acontece que a revista Nature acaba de publicar os resultados de experimento de cientistas americanos no qual pela primeira vez a energia usada para gerar a fusão foi menor do que a energia liberada (acréscimo entre 41 e 55%). Mesmo assim ainda se necessita fazer um longo caminho: aproveitar mais energia no processo, pois no experimento apenas uma parcela ínfima da energia usada foi absorvida pelo combustível (aplicou-se 1,9 milhão de joules e a energia absorvida foi entre 9 mil e 12 mil joules).

Nesse estágio ainda não é possível fazer-se a esperada ignição. Ou seja, manter o processo regular de geração de energia. O processo não se sustenta. Mas os próprios cientistas sabem que iniciaram um caminho que parece ser alentador.

A consequência é uma sociedade inteiramente modificada a partir de um ponto central que é a energia. Com energia pode-se imaginar um salto qualitativo no avanço da ciência, na transformações de materiais, inovação tecnológica e manutenção de sistemas de vida mesmo em situações mais adversas.


Um energia com essa característica muda todas as forças produtivas, inclusive no sentido de processo menos agressivos à natureza e geradores de mais paz, solidariedade e igualdade entre as pessoas. Seria como o Alfaiate de Ulm (veja postagem de ontem) que imaginou o voo e não soube voar, mas antecipou o que ocorreria.