por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
sexta-feira, 1 de maio de 2015
Por Norma Hauer- A nossa escritora de "Pelas Ondas da Mayrink"
"FRENESI"
É hoje, é agora, é momento...
Ânsia, desejo, ardência
Tudo me angustiava
Naquela espera sem fim.
Ânsia, desejo, ardência
Tudo me angustiava
Naquela espera sem fim.
Penumbra, cochichos,aconchego.
Beijos, abraços, loucura...
Não!...é demais assim;
Deixe-me, não me deixe,
Não faça isso!
Chega, chega, é demais!...
Não, não pare, continue...
Continue...
É o instante supremo do Amor,
Calmo, saboreando,
Vivido em cada segundo
Até o momento final
.
Agora é fogo,é o máximo...
Não, não pode ser deste mundo...
Vai muito além, é celestial...
Beijos, abraços, loucura...
Não!...é demais assim;
Deixe-me, não me deixe,
Não faça isso!
Chega, chega, é demais!...
Não, não pare, continue...
Continue...
É o instante supremo do Amor,
Calmo, saboreando,
Vivido em cada segundo
Até o momento final
.
Agora é fogo,é o máximo...
Não, não pode ser deste mundo...
Vai muito além, é celestial...
Estou "voando", viajando...
Num frenesi doído, sofrido,
louco, desejado, ansiado...
Num frenesi doído, sofrido,
louco, desejado, ansiado...
Não dá mais! Chega, chega, CHEGA!...
Que alívio, ah, que alívio!...
Que alívio, ah, que alívio!...
É o ápice! É o clímax! É o paraíso!
Depois... depois...
É o descanso dos guerreiros
É o relax... é o final.
É o descanso dos guerreiros
É o relax... é o final.
(Autoria de Norma S. Hauer)
PRIMEIRO DE MAIO. QUAL SEU SIGNIFICADO? - José do Vale Pinheiro Feitosa
Foi um Judeu que deu outra interpretação ao trabalho. Na
matriz religiosa judaica o trabalho fora um castigo do Criador ao homem. Que já
nascera com todos os atributos e por isso “no
suor do teu rosto comerás o teu pão...”
Engels, tomando a teoria evolucionista de Darwin para
compreender a diferenciação do trabalho como a matriz do ser humano, teorizou
sobre o papel daquele no desenvolvimento físico e intelectual desse. O homem é
fruto do trabalho não é um exagero de se dizer a respeito desta visão.
Acontece que Engels, assim como Karl Marx viveram as
consequências da Revolução Francesa que definitivamente desmontou a velha ordem
ocidental. Quando o capitalismo se organiza, a industrialização avança, a
navegação cria o sistema mundial de comércio e definitivamente se estabelece a
equação capital e trabalho.
Agora o trabalho não apenas cria o homem como o liberta da
exploração social do mesmo. É que a distribuição humana em classes sociais, que
se diferenciam pelo poder de apropriação do produto do trabalho, gera uma
contradição no modelo de economia capitalista que aponta para a revolução
libertadora das classes.
O século onde toda a consciência de classe evoluiu nos
trabalhadores foi o XIX e princípio do XX. Se a Revolução Francesa foi da
classe burguesa sobre a velha ordem aristocrática, a Revolução Russa seria a
classe operária sobre a ordem burguesa do capitalismo.
O dia do trabalho na maioria do mundo é comemorado no 1º de
Maio rememorando a luta de operários americanos pela jornada de 8 horas de
trabalho. A repressão policial aos operários americanos naquele tempo, caracteriza
o primeiro de maio como a luta do operariado contra a ganância da classe
burguesa ávida por mais lucro.
Daí nasceu o princípio dos direitos universais dos
trabalhadores que resultaram nos direitos sociais e, claro, sobre a base dos
direitos humanos já conformados com a Revolução Francesa. Em outras palavras,
numa sociedade livre e democrática, o capital pode jogar sua liberdade até as
margens do direito do trabalho à dignidade e à liberdade.
Portanto, nada é mais temático para um primeiro de maio do
que a manifestação dos trabalhadores, por meio de seus sindicatos, contra a
terceirização de atividades fins como manobra patronal para reduzir direitos
trabalhistas. Este é o sentido das coisas.
Vivemos, como antes, a luta de classes e esta é uma dinâmica
contínua e acumulativa até o limite de uma sociedade em que as classes cessem.
Em que o progresso é contingente à natureza e aos efeitos causados pelo consumo
de seus recursos.
Grande escritora!
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Café amargo
Chegou-me a velhice pela porta entreaberta. Quando dei por mim, ela já estava ao meu lado na sala de estar. Apontei-lhe a poltrona mais confortável, vendo a bagagem que a acompanhava, disse que poderia acomodar-se no segundo quarto, o do meio do corredor, iria eu mesma mudar os lençóis; falei dos hábitos da casa e dos espaços que a ela estariam reservados; assim que tomarmos um café, eu mesma lhe mostrarei cômodo por cômodo, moro aqui há mais tempo, tenho minhas manias, meus recantos preferidos e indevassáveis, nós nos daremos bem, acredito, basta que observemos as regras, respeitemos os limites, nenhuma, concordamos, invadirá o espaço da outra. Deixei-a na sala, a olhar os quadros dispostos nas paredes, a investigar as fotografias em cima do console e fui fazer o café. Bebemos de cabeça baixa, de vez em quando nos avaliávamos pelos cantos dos olhos, fingindo-nos de vesgas; está ao seu gosto, o café? Ela limpou os lábios com o guardanapo que lhe ofereci, resmungou alguma coisa que eu, embora lhe tenha deixado os dois ouvidos à disposição, não consegui decifrar.
Chegou-me a velhice pela porta entreaberta. Quando dei por mim, ela já estava ao meu lado na sala de estar. Apontei-lhe a poltrona mais confortável, vendo a bagagem que a acompanhava, disse que poderia acomodar-se no segundo quarto, o do meio do corredor, iria eu mesma mudar os lençóis; falei dos hábitos da casa e dos espaços que a ela estariam reservados; assim que tomarmos um café, eu mesma lhe mostrarei cômodo por cômodo, moro aqui há mais tempo, tenho minhas manias, meus recantos preferidos e indevassáveis, nós nos daremos bem, acredito, basta que observemos as regras, respeitemos os limites, nenhuma, concordamos, invadirá o espaço da outra. Deixei-a na sala, a olhar os quadros dispostos nas paredes, a investigar as fotografias em cima do console e fui fazer o café. Bebemos de cabeça baixa, de vez em quando nos avaliávamos pelos cantos dos olhos, fingindo-nos de vesgas; está ao seu gosto, o café? Ela limpou os lábios com o guardanapo que lhe ofereci, resmungou alguma coisa que eu, embora lhe tenha deixado os dois ouvidos à disposição, não consegui decifrar.
Houve um tempo em que me esquecia de sua presença, era só um lodo, uma penugem que, embora ocupasse o mesmo espaço da água, não molestava, nem sequer me parecia (também aos outros) perceptível. Um dia, a água começou a turvar-se, como se aquele lodo, que até então se mantivera quieto e verde nas minhas profundezas, tivesse amadurecido, mudado de cor, consistência e forma, tivesse não apenas se transformado em lama, mas, num só contorcido impulso, emergido, sem avisar.
Encontrei-a sentada na minha cadeira de balanço, aborreceu-me, mas não reclamei, se acontecer outra vez, reclamo; noite dessas, ela estava a sono solto na minha cama, apiedei-me de quem dormia tão pesado e deixei-a ficar; semana passada sumiu meu livro de cabeceira, reapareceu desmarcado; há três dias não encontro um dos meus discos de vinil, que são dispostos rigorosamente em ordem alfabética; sei que se vestiu de mim, ainda ontem, para passear pelas redondezas. Amanhã converso com ela, vou dizer que não está certo, havíamos combinado, amanhã, eu digo, tomo coragem, amanhã. Hoje, para me proteger de suas emboscadas, dessas suas feições e costumes que mudam tão rapidamente, devo me mudar para o quartinho das tralhas, único espaço em que esta indesejada hóspede não assentou ainda as sobras do seu corpo imenso, elástico, metamorfoseado. Tenho medo quando ela se volta, me dá boa-noite e some na escuridão do quarto, levando consigo, feito máscara pregada em seu rosto, o rosto que me pertence, que já me havia roubado dias antes; eu vi, e tive vergonha por ela, não por mim, por ela que parece não se importar de cometer um roubo atrás do outro. Custava me pedir? Não é para ser desse jeito, tratei-a bem, fiz de conta que estava a acolher uma visita bem-vinda, disposta a se demorar; que mal lhe fiz? Amanhã, sem falta, pergunto. Ela é astuta e eu não sou uma pessoa de prontas respostas, preciso me preparar para uma contra argumentação, descobrir dentro de minha memória algo que eu tenha feito de tão ruim que desencadeou, nela, esse comportamento desalmado. Pedir desculpas com jeito, voltar ao convívio aceitável. Amanhã, prometo, eu peço. Cometi alguma descortesia, é muito provável, mas quando, onde? Uma vaga lembrança faz dias me persegue, uma quase certeza de que posso ter me esquecido de adoçar aquele primeiro café de fim de tarde que servi à Velhice, depois de acomodá-la na poltrona mais confortável da casa, logo que ela me chegou pela porta entreaberta. Amanhã eu me certifico. Amanhã.
(rejane gonçalves)
Janeiro/2015
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