por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 15 de julho de 2014

A "presença da ausência" - José Nilton Mariano Saraiva

Claro que, em razão da Copa do Mundo de realizar “NO” Brasil, tinha que ser “DO” Brasil, principalmente em razão do nosso “pedigree” na matéria; claro que, mesmo e apesar das limitações do nosso time, num jogo normal e incentivados por uma torcida numerosa e vibrante, tínhamos, sim, absoluta e plena condição de bater a seleção da Alemanha e seguir em frente; claro que tal não aconteceu em razão da escolha de uma opção tática pra lá de equivocada da nossa experimentada comissão técnica (que, sabe-se agora, lamentavelmente não envelheceu só biologicamente) e pisou feio na bola (e isso em plena semifinal de uma Copa do Mundo) já que oferecendo “de bandeja” o meio campo aos alemães, onde eles sempre são mais fortes e trafegam com extrema facilidade; claro que, ao contrário dos alemães (como era previsível) quem tremeu foram alguns dos nossos (Fernandinho e Bernard, por exemplo) e isso comprometeu o desempenho do time como um todo; claro que um placar desmoralizante e imoral desses (7 x 1) é algo improvável e atípico em um jogo de duas seleções poderosas, principalmente em uma disputa de Copa do Mundo e dificilmente (ou jamais) repetir-se-á (mas será lembrado, ad eternum, exatamente pela atipicidade);  enfim, foi uma partida desastrada, surreal mesmo, tanto que os próprios alemães (demonstrando um “respeitoso constrangimento”), se abstiveram de comemorar como mereciam (e trataram de enfatizar isso, pós-jogo), porquanto claramente diminuíram o ritmo durante o segundo tempo (poderiam, sim, ter feito 10 ou mais gols, se continuassem com o mesmo vigor, tal a pasmaceira que tomou de conta dos nossos jogadores e seu comando-caduco).

No mais (e nisso parece ser proibido falar), tivemos também a derrota da mídia brasileira. É que, antes de se preocupar com os adversários do Brasil propriamente, a atenção maior foi, antes e durante a Copa (e até agora, após) tentar incutir da mente dos torcedores que a seleção tinha um novo “líder” capaz de guiá-la ao “olímpo”, levá-la aos píncaros da glória, guindá-la ao panteão dos heróis imortais: o tal Neimar (cai, cai) que, no nosso entendimento, é apenas um bom jogador e não esse fenômeno que propagam.

Ora, amigos, “liderança” não se encontra disponível nas prateleiras das bodegas do interior, ou nas gôndolas dos grandes supermercados das capitais ou nas bancas das feiras-livres da periferia; “liderança” não se compra, não se impõe, não se transfere e nem se atribui via decreto, bilhete, norma, portaria ou coisa que o valha. “Liderança” é algo de berço, natural, carismática, única, personalíssima. E disso o tal Neimar é desprovido, do dedão do pé à cabeleira moicana-tingida.

Assim, nada mais hipócrita que a recorrente imagem da TV mostrando no túnel de acesso ao gramado o tal Neimar abraçando um a um os colegas, antes de cada partida, ao tempo em que o narrador global destacava sua forte “liderança” ante os demais; nada mais cafona do que a imagem dos jogadores entrando em campo para uma semifinal de Copa do Mundo usando “bonés” personalizados, saudando o tal Neimar (fora do jogo, por contusão); nada mais ridículo que exibir, durante o canto do Hino Nacional, a camisa do tal Neimar, como se fora ele um “herói” já falecido, a quem todos devêssemos reverência (passa longe disso).

E talvez por isso mesmo, por se preocuparem demasiadamente com um “ausente”, foi que os jogadores da seleção brasileira literalmente não se fizeram “presente” no jogo decisivo. Burra e irrestrita solidariedade ???

Ainda por cima, nada mais inapropriado e extemporâneo que trazê-lo de volta da boa vida que desfrutava na praia (para a concentração), depois de tê-lo dispensado (já que contundido), objetivando “liderar” os colegas na batalha pelo terceiro lugar do torneio (aí, a emenda saiu pior que o soneto, porquanto o “distinto” se sentiu à vontade para, do banco, desrespeitosamente “assumir” o lugar do Felipão, no tocante à orientação dos que estavam em campo (e você já parou pra pensar num time “orientado” pelo tal Neimar ???). Deu no que deu.

Vida que segue.

A lamentar, que a menininha que “...não tava nem na barriga da minha mãe quando o Brasil foi campeão”, vá ter que esperar por um pouco mais de tempo pra ver isso (ou, quem sabe, seja a sua futura filha que terá o privilégio).


O Sensacionalismo da Imprensa - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Os nossos meios de comunicação, além de defenderem os interesses de seus donos, vivem de notícias. E quanto mais catastróficas e violentas elas são, maior é a sensação que seus repórteres experimentam ao darem a noticia. Eis um belo exemplo:

Em um domingo à noite de maio de 1971, eu voltava de uma sessão de cinema, quando a um quarteirão do prédio onde morava, uma chuva inesperada irrompeu com toda impetuosidade sobre a cidade de Salvador. E choveu sem parar durante três noites e três dias, como eu nunca havia visto antes. A chuva finalmente parou ao final da tarde da quarta-feira. Foram 850mm de chuva em menos de 72 horas, um dilúvio para o qual nenhuma cidade brasileira está preparada. As conseqüências, como se era de esperar foram deslizamentos das encostas desprotegidas, desabamento de residências, vidas humanas ceifadas, crateras abertas nas ruas por onde antes havia rede pluvial de esgotos. E a adutora para abastecimento d'água da cidade foi deslocada de seu curso, interrompendo o fornecimento por alguns dias.

Por uma singular coincidência, nosso professor da disciplina de hidrologia era um diretor da companhia de abastecimento d'água. Ao ser entrevistado por repórteres dos jornais, rádios e televisão ele explicou que uma chuva daquelas somente ocorreria de cem em cem anos, conforme a lei de recorrência das estatísticas hidrológicas. Para nossa surpresa, eis as manchetes dos jornais no dia seguinte ao da entrevista:
"Engenheiro confirma: choveu por cem anos em Salvador!"

Por Carlos Eduardo Esmeraldo