por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011



Saudade infantil
Manhã cor-de-rosa ,doce aurora ! Da janela o mundo parece foto - inanimado ! Se não fosse o latido dos cães , chilro dos pássaros , eu só teria o som do teclado .
O rádio na madrugada revive um samba antigo , e na minha memória, uma velha vitrola, soluça "Anaih".
Tempo do leiteiro à cavalo; do padeiro na carroça; do pirulito na tábua; das verduras no balaio.
Mingau na mamadeira, papa no dedo,chupeta no beiço, passeio nas calçadas com pijama flanelado. Casa varrida e aguada;cheiro de café torrado ; chão de tijolos, casa com chaminé; pinico nos quartos, banho de cuia , tina no quintal. Gritos de empregada e patroa : o que fazer pro almoço, carne cosida ou torrada ? E o pilão comendo frouxo. O abano cansando a mão; a boca soprando brasas.
Infância danada !
- Soltar barcos de papel , na rua alagada da chuva;chorar a morte do soldadinho de chumbo, derretido no fogão de lenha; Branca de Neve envenenada porque mordeu a maça; Bela adormecida, no sono do fuso encantado e eu, patinho feio, querendo presentear o meu gato com uma bota de mil quilômetros.
Estou no Crato, e em todos os lugares que vivi. Estou em Copacabana , onde um dia te vi. Estou no largo de uma saudade que não machuca , e me faz feliz !
Postado por Socorro Moreira às 06:22 7 comentários
Petit Gâteau - o bolo de coração mole



Existe sempre num quadro-negro

uma estudante que nunca cresceu

Ainda adormece nos livros

e carrega cadernos

nos braços dos sonhos

De farda azul

ainda sonha,

quando apaga a luz...

Fazendo castelos

ou fiando cachos!




Farda para mim tinha cheiro de prisão( a verde, principalmente ).

A farda colegial dava-nos o gosto do anonimato com responsabilidade.

Vesti poucas. Fiquei muitos anos , naquela de saia azul , blusa branca, com botões na gola- Igualzinha a esta que Edilma Rocha um dia também usou.

Não tínhamos contas para pagar, mas éramos preocupados com elas ; não tínhamos filhos para criar, mas éramos criados por pais e mestres.

Só fazíamos estudar , brincar e sonhar, mesmo que fosse à luz de velas.

-Claro que sou do tempo de queimar pestanas e cabelos, quando não existia no Crato , a luz de Paulo Afonso...

Depois de concluir o curso colegial nunca mais senti-me estudante. Tornei-me uma adulta cheia de lembranças.Sofro o remorso do parco aproveitamento, quando as oportunidades foram tantas !

Hoje aposentada , volto ao banco da aprendizagem com novos e amigos mestres : vocês !.


Abraço especial aos meus colegas, mestres e contemporâneos do Colégio São João Bosco ,Externato 5 de Julho, Instituto São Vicente Férrer , Colégio Diocesano e Colégio Estadual do Crato.



Perambulando nas ruas do Crato
Andei nas ruas do Crato pra lá e pra cá, entrando e saindo de filas , pagando as contas do mês.Sol pegando fogo.Senti vontade de usar sombrinha, como o povo de antigamente.
De repente comecei a dar defeito. .. Cadê nossa gente ?
Joaquim Patrício, Bantim; a roda dos literários , na porta da Livraria Católica ; Seu Ramiro Maia; o menino que eu flertava; meu pai...cadê meu pai ? Seus registros na porta do Cassino, anunciando o filme em cartaz. Minha avó com sua mantilha de viúva , caminhado apertadinho, rumo à casa de Tia Ivone. Tá lá a casa, na Rua Santos Dumont. Olhei para o interior, e escutei o pedalar da sua máquina de costura .Meu vestido da festa de Setembro, e das noites de novena , no final dos dias de Agosto.
Fico danada da vida, quando me deixo viajar nas lembranças boas, e acabo chorando.
Entrei em Hamilton, comprei mais um CD do Dihelson, e fiz um lanchinho na padaria : um sonho !
Arrastei as sandálias até em casa . Deparei-me com o sorriso do Victor : "Onde você foi ?"
-Eu fui em tantos anos , a procura de mim mesma e, perdendo a viagem, voltei pro nosso endereço.
Telefonei pra minha mãe, e aconcheguei-me na sua voz amorosa. Não falei do meu pai. Ela pareceu-me tão bem !
Liguei o computador , e vivi as alegrias desse ponto de encontro. Aqui é sede do passado e do presente.

Que o futuro nunca chegue - essa é a nossa esperança !



Renascimento chega com um amor maior,
que pode ser pior...
Amor é preto no branco.
A ficha contábil só pode ser imprimida,
depois que o amor levanta voo,
e deixa a conta por conta
das saudades que sentimos.



Paixão é uma loucura
que o amor cura.


"Os verdes campos da minha terra..."
1967 , 1968 ... E os estudantes do meu tempo começaram a seguir rumos diversos.
Foi o tempo de ficar ou partir. Eu fiquei, depois parti, e um dia voltei.
Os reencontros agora se concretizam ...Tempos felizes voltando com as pessoas , que de novo cantam !
1967, no Colégio Estadual Wilson Gonçalves. Segundo ano científico com Vieirinha, na Língua Portuguesa; Alderico ensinando História; João de Borba, Desenho; Laerti , Física ...E os Grêmios, os Grupos Teatrais: Zé do Vale, Leni Coriolano, Josimar Leonel, Nildo Ferreira Cassundé, Aline Luna...: "O Auto da Compadecida "!
Agnaldo Temóteo fazendo sucesso. Nildo , e o repertório de Agnaldo.Nildo , meu vizinho , cantando na Escola e no banheiro de casa: "Meu Grito".
Hoje é o aniversário do Agnaldo.E eu já voltei pros verdes campos da minha terra natal.Não tinha trem, cheguei pelos ares; malota sem cadeado; não corro como em criança, mas ando por aí, despreocupada, resgatando com o olhar o que ainda existe, e com a imaginação o que sumiu, deixou de existir.
2009- Todos retornando a um ponto dos sentimentos. Herança maior , na passagem do tempo.


Reencontro

Paixão

Um olhar profundo,

descolado da multidão,

aporta no mesmo plano .

Alice morava ali

Naquela varanda vazia...


Entrei no cheiro do cigarro

e na cor do campari

Gelo derretido , tremido ...

Sou onda !

Salgo a minha alma

Salvo o meu amor


Num álbum guardado

eu rasgo o teu olhar,

e me apaixono !



Desencanto - idas e vindas
Existem idas sem voltas
Momentos saem da órbita
Desistem do seu destino
Existem voltas sem malas
extraviam o amor
que brinca do outro lado
.
Existe o ausente
que não cabe no presente...

O riso palhaço
O olhar desconfiado
A palavra maldita
que sufoca cruelmente
o respirar de uma flor.


Desencanto apaga o riso por encanto

Pôe a lágrima no canto

Embarga a voz na garganta

Não canta

Não discute, leva a mala

Deixa a chave da casa ,

deixa perfume no ar

Irrita quem fica

Faz lembrar


O homem é a caneta


a natureza é a tinta


o papel é o guarda - poesia


As vezes ele solta um verso


As vezes prende o soluço,


ou se borra em lágrimas.


Quem não tem papel


cola na tela


Já não se faz papel almaço,


como antigamente


Ele acatava conceitos


aprovava e nos reprovava


Pachelly é nota dez


Olhar , e o resto dos sentidos


Só desconheço , o seu prato preferido


Mas a Socorro pode segredar ...


Aqui nesse Crato quente


de refrescante nascentes


-Um sorvete de cajá


para te agradar !


O filme “Os Dez Mandamentos de Cecil B. De Mille (1956) só foi exibido no início dos anos 60, no Cine Moderno do Crato.
A meninada (incluindo-me) marcou presença na sessão das 10h00min. Como era de longa metragem , 3 h de duração , foi dividido em duas partes , com um intervalo de 15 minutos. Perdemos os assentos, mas não prescindimos do lanchinho que trouxéramos de casa. Foi um verdadeiro piquenique, na área externa: frutas e biscoitos!
Naquele dia Cecil B. De Mille, Charlton Heston, se imortalizavam para nós. A história bíblica também passou a ser mais bem conhecida, e os “Mandamentos”, talvez tenham sido internalizados.
Parece que foi ontem, e ainda restam balas pepper, zorro, torrone, e chicletes Adams, nos bolsos do meu vestido de criança.


Ninguém é substituível !
Acabei de chegar de uma visita, e o meu coração me dizia , no caminho : ninguém substitui ninguém...Quando abri o e-mail enviado pela minha amiga Ismênia, justo num momento de tristeza e consternação para o Crato em peso. Elsa ( minha colega de Faculdade, colega de Banco) e Walter perderam hoje uma filha de 20 anos.Nem vou tentar explicar uma dor...Ela hoje não teria consolo.Apertei as mãos da minha amiga e ela perguntou-me : "Já passou por isso , Socorro ?" Eu respondi-lhe : já vivi muitas perdas , e não preciso perder um filho pra sentir a tua dor. Basta ser mãe, e pronto !

Não achei a palavra mágica do conforto , mas ela me confortou : " vou fazer de conta que a minha filha foi fazer uma viagem muito longa , sem data pra voltar , e um dia, a gente se encontrará.

Não adianta ter dez filhos...Cada um é insubstituível; cem amigos... Todos são insubstituíveis !

O que a gente pode é ser contente e harmonioso com todos os próximos.Os distantes nos farão falta ou no mínimo , deles nos lembraremos com saudades. Que perdurem as lembranças felizes. Vamos aproveitar cada minuto de todos os encontros que a vida nos predestina. Haverá o momento crucial da despedida, que pode ser suave , quando bem entendido.

Melgaço falou da Morte , como perspectiva de vida... Parecia adivinhar o momento nosso, seguinte.

Hoje eu preciso do meu próprio silêncio, na véspera da festa da Penha. Que ela sopre a dor do coração de Elsa , e receba no seu colo a sua filha .

"NAS CARTAS DO TARÔ


No mundo das cartas, o reino da mente.
Trajetória antes mesmo de virar semente
que germina inconsequente gesto Louco
sem medo ou ânsia tresloucado e mouco.

Com dedos joga os dados aleatóriamente
sente-se o Mago de tão desejo ardente,
sem reino de Imperador ou Papa.Em ouro
faz do Carro as rédeas por um tesouro.

Mas Enamora-se. Qual o caminho seguir?
Qual estrada se a Roda não pára um pouco
e a Estrela oculta-se na Lua e no Sol do dia?

E agora? Será que achou o caminho de ir?
Sem Julgamento o Mundo se torna Louco
recomeçando um novo ciclo que se inicia. "


Por : Solsempresoll

P.S. Solsempresoll é o apelido de Maia José , uma bruxinha amiga , poeta muito querida, que já consta como nossa seguidora.
Conhecemos-nos numa bela tarde de domingo. Uma daquelas tardes calmas e ensolaradas.
E o programa de quem não quis ver o mar foi caminhar nas ruas do bairro pra esticar os olhos , no silêncio vazio.
Um sorvete , pensei... Um sorvete com bastante calda !
Parei num lugarzinho aconchegante , e fiz o pedido. Por conta do horário estava sem a clientela, e a proprietária era justo a Masé.
Abrira um Tarô belíssimo , e estava lá a matutar ou intuir os prognósticos.
Fui vencida pela curiosidade :
- Você sabe jogar Tarô ?
-Sou apenas uma curiosa ...

Em poucos instantes , já estávamos trocando figurinhas como meninas de escola.
Eu também tinha o meu Tarô, em estudo. Estudo por sinal complicado , tal a iqueza e complexidade da simbologia.
Nos meus tempos de adolescência, fascinavam-me as cartomantes, mas em nada acrescentavam , quando me dispunha , com elas, a ler a sorte. Percebia a enrolação, e resolvi curar-me daquela compulsão, comprando um Tarô ,e estudando. Parecia uma cartilha em grego. Precisei de noções de Astrologia, Mitologia, e formar uma pequena literatura caseira sobre assuntos esotéricos. Cheguei até a fazer um curso relâmpago de Tarô, quando morei em Salvador.
Bom, finalmente consegui deitar as cartas , e usando a intuição , traduzir os recados que o Tarô
, pressupostamente , sugeria.
Durante muito tempo usei-o como instrumento para o auto-conhecimento. Recusei-me a assimilar a intenção adivinhatória. No mais era tudo uma viagem interessante.
De vez em quando e, ainda agora , pego as velhas lâminas, guardadas num saquinho de cetim, e tento interpretar as tensões do momento.
O exercício tanto repetiu-se, que eu converso com o Tarô , até virtualmnte.
Ele, na gaveta fechada;eu ,no meu pensamento.
No mental , acho que estabeleço a conecção entre o meu eu inferior e o meu eu divino, e as respostas começam a saltar , desengavetadas de algum lugar.
Engraçado como o ser humano é adepto de muitas crenças. O Tarô é apenas um pretexto pra gente se esclarecer, quando o terço saiu fora dos dedos.
Mas , confesso com ou sem aprovação, que o Tarô é uma entidade de respeito.

Voltando à minha amiga Mazé... Muitas outras afinidades foram despontando. Ela apresentou-me à Linda Godman (Signos Estelares), e presenteou-me com " Alice no País dos Espelhos!"
- Mulher amiga, sensível e sábia - com ela aprendi vários versos.

Mistura de passado e sonho




Mulher, vai se arrumar! Tertúlia no Tênis Clube , sonhei que irá rolar.
Tire os cabelos dos bobs mas use pouco laquê; o vento nunca consegue desmanchar a formusura.
E o vestido, já foi buscar na modista ? O tubinho de renda... Forrado de rosa ou azul? Caso não esteja pronto, deixe pra missa do domingo,e use sua saia banlon com uma blusinha "volta ao mundo", ou um outro figurino.
Não consigo é trocar Helena pela Max Factor : cilion, rímel, pó compacto, rouge e baton .Helena Rubistein maqulia as nossas misses, e as moças que não desfilam...Por timidez, claro !
Agora só falta o sapato de salto brotinho. Cuidado com a costura das meias, pra que não fique torta.
Roube o perfume da penteadeira de Dona Janine : será Cabochard , Madame Rochas ou Fleur de Rocaille ?
O seu ? Aposto que é igual ao meu : White Magnólia !
Capriche nos retoques: brinco e anel de pérolas, cordão de ouro e medalhinha, e uma pulseira de chapa, gravada com muita arte.

Seja discreta no mambo. Fica feio rebolar tanto. Dance um bolero pra começar, e evite o alto amasso. Melhor dançar com alguém mais baixo.

Eu fico de pescoço doído pra evitar rosto colado. Mas um dia eu vou dançar do jeito que o amor mandar . ..!
Vontade de ir no futuro, sem deixar de brincar no passado, só pra colar uma música , que a Rita canta bonito:

Só de Você
Composição: R. de Carvalho / R. Lee

.
Será que a gente ainda será
A velha estória de amor que sempre acaba bem, meu bem
Meio demodée para hoje em dia
Antigamente, tudo era bem mais chique

Porque a gente nem sabe porque
Mas acontece que eu nasci pra ser só de você
É claro que a sorte também ajudou
Ultimamente, um romance dura pouco

Cola, seu rosto no meu rosto
Enrola, seu corpo no meu corpo
Agora, está na hora de dançar...

As mãos estão suando, e o coração descompassado ? Sorria, menina, tem gente chegando...Justo o seu par preferido. Mas, e a fila ? Tem gente esperando a segunda dança... E eu num canto fotografando e fazendo renda, brigada com meu primeiro encanto, que dança com outra menina.

Mas, fazer o que ? Um dia é da caça, o outro de um novo amor. É muito fácil trocar de par, quando se tem 15 anos !

Minha amiga Odete Righi



Em 1992, trabalhei no Banco do Brasil de Nova Friburgo (RJ), como Gerente de Expediente.
Dentre todos os clientes, na minha plataforma, Odete Lara era especial.
Linda, beleza frágil e marcante, elegante sempre, usava um chapeuzinho de palha, feminino e leve, que a protegia do sol serrano. Quando ela chegava, parava todos os meus trâmites: papel para assinar, telefone para atender... Depois de colocar as suas contas em dias, conversávamos sobre o trivial. Não falava de si, nem do passado. Era outra pessoa... Mística e iluminada!Impressionava-me em serenidade e sabedoria. Depois de algum tempo nos tornamos grandes amigas. Finais de semana ela ligava e perguntava-me: "Tem bacalhoada? Você alugou os nossos filmes? Vou dormir aí".
Trazia seu saco de dormir, e frutas do seu pomar e horta. Assistíamos em silêncio os clássicos do cinema, e alguns lançamentos. Era apaixonada por cinema, e uma excelente companhia.
Quando vim embora de Friburgo, ainda trocamos telefonemas vários. Depois perdi o endereço e contato, mas a amizade ficou guardada num canto especial da minha alma.
Às vezes , quando estou fazendo palavras cruzadas, ou assistindo um filme na madrugada, escrevo o seu nome, vejo a sua imagem, mas não é do mito que eu sinto saudades!

Socorro Moreira





Minha mãe nasceu no Distrito de Itainópolis, que pertencia a Picos (PI). Meu avô, logo deixou de ser coletor, e foi cuidar das suas terras carnaubeiras, na Fazenda STA RITA, município de Valência (PI).
-Aos seis anos deixou pai e mãe, e foi estudar na cidade. Talvez ainda mijasse na rede, tomasse mingau, chupasse o dedo, mas precisava ser alfabetizada. Não tinha outra escolha!
Chegou o dia da viagem. Andou uns pedaços a cavalo para pegar o Caminhão, que passava na estrada principal. E lá se vinha aquele monstro. A poeira medonha, o denunciara. Pela primeira vez, via aquela máquina. Olhou as rodas girando, o povo na carroceria, rodando, tal como as rodas giravam, e pensou: não vou conseguir me segurar, em cima desse bicho. Vou cair, vou ficar tonta... Quero ficar... Por que tenho que ir?
Pra percorrer cinco léguas, a viagem durava um dia. A 20 km p/hora, aquele transporte andava, mas chegava!
Era quase de noitinha. Calada e desconfiada, cumprimentou os padrinhos, e sorriu sem jeito, para as meninas da casa. Elas se aproveitaram daquela inocente criança, que acabara de nascer para o mundo das províncias.
- Valda, daqui a pouco, o homem vem acender as luzes. Você fique pastorando, e nos chame, quando avistá-lo. É seu primeiro trabalho!
E as luzes magicamente, acenderam-se. Minha mãe ficou pasma, e apavorada. Nunca tinha visto uma lâmpada elétrica, nem vira o homem que esperava. Foi cobrada, foi gozada... E a primeira lição, aprendeu!
Depois, enfrentou a escola. Por razões políticas, matricularam-na, num educandário particular. A Família era opositora política dos chefes do poder. E o tempo era da palmatória. Cada erro na tabuada valia um bolo em cada mão, e uma lágrima em cada olho. Mas era a regra do jogo. Quem não aprendia, recebia castigo, feito bicho de circo. Assim, se concretizava a o ensino.
Mais para frente, perto do Natal, começou a escrever as cartinhas para o Papai Noel. Meninas bem comportadas seriam atendidas... Essa era a promessa da vida. Todas pediam, postavam nos Correios, e os pais as resgatavam, liam, e atendiam! Ela pediu um bebê de porcelana pretinho, que vinha namorando numa loja há muitos dias. Todas ganharam o que pediram, inclusive o seu bebê, que foi parar nas mãos de uma amiga. Impressionada com os critérios de Papai Noel, questionou-se: sou assim tão pecadora? Tudo lhe parecia ininteligível!
Depois que achou explicação, pensou: meus futuros filhos não acreditarão em Papai Noel. Eu juro!
Começou a estudar canto e bandolim, aos oito anos. Férias na fazenda, depois de dois anos de ausência, com direito a todas as mordomias de filha pródiga carente de colo; de banhos de rio; catar borboletas; bater palha de carnaúba; brincar com as bruxas de pano, que a sua mãe fazia. Nos aniversários ou Natal, vovó colhia flores do campo, fazia ramalhetes, e colocava nos chinelos dos filhos, debaixo das suas redes. Era de tão bela intenção, que tocava o coração, como uma valsa, no violão.
Aos 14 anos, morando no Crato, na casa dos avôs maternos, conheceu meu pai. Um boêmio, cantor, elegante, pintor... Até eu, por ele, teria me apaixonado. Bicava suas cachaças, fazia serenatas, acompanhado pelo violão de Vicente Padeiro.
Todo o dia presenteava minha mãe com uma margarida, uma fita para o cabelo, e um rabisco artístico, ora sol, ora lua, ora um céu estrelado, casa, flores e pássaros. Projeto de sonhos com todas as cores do amor!
Casaram-se oito anos depois, a filha de Maria e o Artista. Dessa argamassa poética e mística, eu nasci.
E foram felizes, dramáticos, cúmplices, amorosos, até que a morte os separou. Elos verdadeiros são inquebrantáveis!
Geraram dez filhos. Vingaram seis. Todos vivos, graças a Deus! A Prole foi aumentando, aumentando, e agora já são tantos, que a panela da cabidela não tem tamanho !
Se desgostos os filhos lhe afetaram, já dizia Joaquim Patrício, amigo da minha mãe : " uma árvore sadia não gera frutos estragados !"
A vida impoe provações , ensina, e acaba levando pro céu, quem dela prima!
Diz Dona Valda que o passaporte é caríssimo... Ela reza todo dia, pra ganhar sua passagem, e o bônus de todo mundo!


* Foto de Maria Valdenôra Nunes Moreira , aos 15 anos de idade, quando conheceu o meu pai Moreirinha.
Meu pai e a Gastronomia
Moreirinha

Quando o meu pai era vivo, queria comer peru todos os domingos. Tinha uma freguesia certa, que lhe vendia o peru da roça. Não gostava de muitas misturas. Bastava que fosse ao molho, e acompanhado de um arroz soltinho, e farofa de cuscuz com feijão verde. Na falta desse prato, podia ser substituído pela galinha caipira ou carneiro.
Minha mãe, cozinheira de mão cheia, temperava tudo de véspera, para pegar bem o gosto.
-Fazemos isso até hoje.
Dizia-nos: Para uma galinha caipira, coloquem uma cabeça de alho, uns dez grãos de pimenta do reino, suco de um limão, sal, uma cebola roxa picada, pimentão, tomate, pimenta de cheiro e cheiro verde (coentro e cebolinha).
Depois de partidas, as porções tinham que ser escaldadas e escorridas.
Pilava a pimenta, depois acrescentava os dentes de alho (macerava), e acrescentava o suco do limão, sal e colorau.
Antes a gordura usada era o toucinho. Depois substituído pelo óleo vegetal (canola é o melhor). Refogava os temperos secos ,na gordura quente com os pedaços de carne. Acrescentava os temperos verdes, deixava esfriar e colocava na geladeira coberto com papel alumínio até o dia seguinte.
A carne era cosida em fogo brando, colocando água aos pouquinhos (o mínimo) até ficar tenra e no ponto.
Os acompanhamentos ideais:
Farofa de cuscuz c/feijão verde;
Macarrão (talharim) com nata, manteiga, cebola, tomate e queijo ralado.
Angu de milho (polenta), com molho da carne e queijo ralado.
Uma saladinha básica de alface e tomate, e pronto!
No decorrer dos tempos, substitui o colorau pelo açafrão, e acrescento umas pitadas de alecrim, quando a carne é de criação (carneiro).
A nossa sobremesa geralmente era pudim de leite condensado, que ela fazia com duas latas de leite moça, uma de leite de gado e cinco ovos.
A calda de açúcar , quando a gente errava, usava mel Karo. O pudim, impreterivelmente era acompanhado de doce de ameixa, em calda bem consistente.
Depois da refeição ele pegava no sono, deitado na sua rede – sempre armada. Ventilador e som ligados. E tome Uno, Jalousie, Adeus Pampa Minha, Delicado, e os sucessos de Orlando e Nelson Gonçalves.

Coração brumado


Meu coração às vezes amanhece brumado,.

E como as brumas da manhã ,meu coração se desanuvia e volta à sua cor normal. Vermelho ou rosa ,dependo do choque.

Mas Agosto chegou, e as brumas dissiparam-se. As tristezas agora se desnudam , num azul
solar alastrante. Pelejam pra ficar na sintonia da nostalgia, mas os encontros amigos não deixam. A cada postagem, um susto de alegria !


Metades:
Uma parte sabe que é ele
Outra parte sabe que é dele
.
Aprendo sobre mim
Não é em ti que eu me escondo
.
Gotas nos olhos da cara
salpicam em folhas
de papel e flores
.

Vento não apaga
a tinta borrada
.
Folha se gasta
e a lagarta pinta !

Mestres



Eles se alternavam,

numa doce e sábia cumplicidade:

Portiguês, Matemática,

Civilidade ...

Víamos, escutávamos,

aprendíamos !



O tempo passou.

Tento resgatar os sinais ,

os seus avisos...

Abro a página do meu livro

Leitura silenciosa

Escuto a voz das entrelinhas

Suas vozes vão sumindo...

Agora sou eu,

e o livro !

O que é uma balzaquiana? O que é ficar pra titia? O que é ficar no caritó? O que é ficar solteirona ? O que é ser sozinha? O que é assumir a solteirice?

"A expressão foi cunhada após a publicação de um livro do francês Honoré de Balzac. Em As Mulheres de 30 Anos, o escritor realiza uma análise do destino das jovens na primeira metade do século XIX, em particular dentro do casamento. E faz uma apologia às mulheres de mais idade, que, amadurecidas, podem viver o amor com maior plenitude. É o que acontece à heroína da narrativa, Júlia. Ela se casa com um oficial do exército, mas depois descobre que a relação está longe de ser o que imaginava. Vê-se, então, presa a um matrimônio infeliz. Quando se torna uma trintona, porém, a moça consegue encontrar o amor nos braços de Carlos Vandenesse. "
A minha geração, depois dos 15 anos, inconscientemente ficava um tanto aflito com a possível possibilidade de ficar balzaquiana, antes do casamento. Sonhávamos com príncipe encantado, casamento com véu e grinalda, e lua de mel, longe das vistas de todos os conhecidos. Quando os noivos retornavam, a curiosidade era grande. A gente queria saber em detalhes como tudo acontecera.
Só entendi o sentido real da lua de mel, depois de encará-la mais de uma vez. Viver em lua de mel é conseguir construir um sentimento amigo, no dia a dia. Minha mãe é quem diz: vida de casada tem encontro, no decorrer, com várias formas de amor. A cada fase de vida, um tipo de amor diferente é experimentado para compensar a exaustão de outro. O amor maior é o amor zelo. E o zelo pode acompanhar a relação desde o começo. Acho que, a gente precisa mesmo é ter vocação para o casamento. E olha que, muitas vezes passamos anos, nos enganando, e achando que casar é o principal ideal de vida.
Eu tenho vocação verdadeira para o celibato. Conclui depois que defini minha solteirice como irrevogável. Mas as trocas, problemas nos relacionamentos continuam a existir. A consorte mais exigente que exige, somos nós mesmas. Difícil ser inteira, sem uma diferença complementar.
O primeiro casamento condensa todas as possibilidades. Quem não quiser casar outras vezes, por tentativa e erro; quem não quiser encarar o preço da solidão, a opção facilitadora é permanecer na primeira união. Admiro os casamentos que não terminam, e que não vivem de aparências. Feliz é quem vive o amor calmamente!
Mas existe certa felicidade, na solteirice. Aliás, só achei a verdadeira serenidade do coração, quando em mim , esta situação foi definida. Não sou contra nem a favor... Só desejo que todo mundo se encontre, e viva feliz com a sua realidade solitária ou não.


Socorro Moreira

* Ficar pra titia : é ser mãe dos sobrinhos.
* Ficar no caritó é nunca arranjar um casamento.
* Ficar solteirona é escolher demais , e acabar sozinha.
* Ser sozinha é uma viuvez aleatória ou não.
*Assumir a solteirice é ficar sozinha por opção !
Em qualquer dos casos é possível ser feliz sozinha , contrariando a canção do Tom..." o resto é mar !"



Madrugada e neblina
Esperam o nascimento do dia.

Enquanto todos dormem,
Preparo um sonho,
Mas ele brinca de esconde - esconde.
Foge do meu colo, dos meus beijos.

Ontem eu viajei no destino
Desenhei com cipó
A trilha do caminho
Chamei-te em pensamento
Você e os meus segredos

Encontrei o colo de Gaya
Senti as dores do parto
O pedido de clemência,
E a clemente oferta do amor.

Teu vento faz dançar as minhas folhas
Balança os sinos do meu corpo
Cria um mantra de nós dois.
.
Fios que nos unem não teiam
Não fiam a confusão de tantas vidas
Fios que nos unem se enrolam,
No decifro dos nossos enigmas!
.
Baby,
Eu quase me declaro em todas as notas

Virtual


O virtual é um laboratório, onde nossa essência também estagia e depura-se, através das boas trocas, interagindo energias. Nele o caminho é livre.Não precisamos marcá-lo com miolos de pão como fez João e Maria.Marcamos nossa presença na leveza das instenções, expressas com ternura Sou mesmo uma borboleta virtual.Quando chove por aqui , quero ser nuvem.

Outro dia ( já faz tempo) entrei numa sala de chat , e começei a teclar com uma velha amiga. Gostamos muito de música , e começamos a aproveitar pedaços de versos , entabulando um diálogo musical. A brincadeira foi salva . Ei-la :
" -Se o oceano incendiar, arrasa o meu projeto de vida, pois a rima que a rosa sabe dar,só encontro no mar da tua vida.
- Só mesmo o tempo pode revelar o lado oculto das paixões.Eu solto a voz na estrada, e já não quero parar.

- Esqueci de tentar te esquecer, já não dou risadas pro grande amor, já não sorrio quando a dor me tortura...Tristeza tem fim ! Existe vento soprando a felicidade sem cessar, e essa ternura tão antiga, enfeita a noite do meu bem.

- Lua meio marota, se flutua, é gota: caia na minha boca. Uva, lua, recheio, um bombom pelo meio: caia na minha boca. Se cair, feito um doce, vai adoçar o meu coração ruim. Mas, se cair feito estrela, vai rabiscar o seu nome em mim." (Meio marota - Saul Barbosa/Orlando Sant'Helena).



- Eu quero a rosa mais linda que houver, quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida. Como o nosso, que eu não esqueço e que teve seu começo numa festa de São João, com balões e fogos de artifício colorindo o céu. Um amor puro, que olhava a lua, doce colombina nua. Mas, hoje, eu tenho apenas uma pedra no meu peito...

- O coração tem razões que a própria razão desconhece... Eu sei que vocês vão dizer que é tudo mentira, mas, quem disse que eu te esqueço ?

- Mas a vida é mesmo assim, dia e noite, não e sim. Talvez eu seja o último romântico, mas vou vivendo e aprendendo a jogar. Afinal, as águas de março já fecharam o verão. Então, eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim, como se fosse o sol desvirginando a madrugada... E canto, porque é preciso cantar e alegrar a cidade!

- Mas se não for amor, não diga nada por favor.Um dia a gente se encontra seja aonde for.Eu, você , nós dois, num terraço à beira mar com todas as canções, e inclinações musicais. Se a vida é um moinho, no vento que balança a natureza, quero me deixar levar, e um tempo de estio e elegia, verei em seu olhar.

- De todas as maneiras que há de amar, nós já nos amamos. Tomamos emprestadas todas as canções, já que certas delas cabem tão dentro de nós e perguntar carece: como não fui eu que fiz? Já te levei ao Corcovado e fotografei você com minha Roller Flex. Tivemos um sábado em Copacabana, navegamos no barquinho e tivemos brinquedos de papel machê. Comemos no tabuleiro da baiana, flertamos na Baixa do Sapateiro , pegamos conchinhas em Itapuã. Sem falar nas noites de luar lá do sertão, com rede na varanda do nosso rancho fundo... Ah! Que saudade eu tenho da Bahia!

- A poesia tem cadeira cativa.Ela canta o amor.Quando os versos se quebram, ela chora de dor.



- Ah! Se eu pudesse entender o que dizem seus olhos- poesia oblíqua, difusa, que me confunde!


-Se alguem perguntar por mim, diz que eu fui por aí...Que a morena boca de ouro era uma falsa baiana, viciada em chicletes com banana.A todos ela intimida.Faz coisas que até Deus duvida.Não sei se vou aturar esses seus abusos. Tantas ela fez, que eu até fiquei , curtindo uma doce amargura.

- Mas não faz mal, está tudo bem, pois alguma coisa acontece no meu coração. E eu rondo a cidade a te procurar, hei de encontrar! Na Paulista, os faróis já vão abrir e um milhão de estrelas prontas pra invadir... Você é isso, uma beleza imensa, estrela matutina, luz que descortina um mundo encantador. Se você quiser, eu vou te dar um amor desses de cinema! Case-se comigo antes que amanheça !

- A linguagem do olhar é truncada, e ao mesmo tempo tão clara, que os mistérios de Clarissa, ela pode desvendar.


- Fecho os lhos de saudade e caminho entre os canteiros que me fazem lembrar você. E, por mais que eu durma, eu não descanso. Por mais que eu corra, eu não te alcanço!


- Amar, dar tudo, não ter medo. Tocar o mundo, pôr o dedo no lá. Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ter mais, mas sabe menos do que eu. Eu sou assim. Quem quiser gostar de mim, eu sou assim. Vivo sonhando, sonhando, mil horas sem fim. Sabe você o que é amor? Sabe o que é um trovador? Sabe!


- Já sei olhar o rio por onde a vida passa, sem me precipitar e nem perder a hora. Você foi um rio que passou em minha vida... Vieste na hora exata, com ares de selva e luas de prata. Você foi o meu sorriso de chegada e a minha lágrima de adeus. Ah, quantas lágrimas eu tenho derramado! Mas não há de ser nada, eu vou por aí... eu vou por aí. (A minha estrada, ainda, corre por seu mar!)

- Bem, agora, deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí a procurar rir pra não chorar. Sabes que a língua do povo é contumaz, traiçoeira. Eu desconfio que o nosso caso está na hora de acabar. Esquece o nosso amor, vê se esquece... Se alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga se você me quer ou não... Diga que vocÊ me adora, que vocÊ lamenta e chora a nossa separação! Que eu te perdoo por fazeres mil perguntas que, em vida que andam juntas, ninguém faz. Mas que eu vou voltar, sei que ainda vou voltar. Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto! Porque você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci. Das lembranças que eu trago na vida, você é a saudade que eu gosto de ter. Leve na lembrança a singela melodia que eu fiz pra você...

- Vamos! Vem andar comigo numa beira de estrada, nesse lado ensolarado que eu achei pra caminhar! Por você, eu largo tudo: carreira, dinheiro, canudo! Vou dizer que o amor foi feitinho pra dar, porque coisa mais bonita é você. Assim... justinho, você, eu juro! Eu eu não ando só, só ando em boa companhia!

- Boa noite ! Fiquem na paz. O amor está no ar...É só aspirar ! "

As falas não eram direcionadas entre si, mas evocavam sentimentos mil.

A gente usa a música como pombo correio.Um pombo que não volta com a resposta . Cantar é um desabaço , e um prazer. O palco pode ser o banheiro , uma varanda com rede armada ou uma cadeira de balanço. No virtual, também se faz serenatas.

Naquele dia cantamos e lembramos as músicas que sabíamos , na memória da emoção.

O dia da Socorro Moreira - por José do Vale Pinheiro Feitosa
Fiz duas postagens (abaixo) sem antes ler o Blog. Após terminar a tarefa que executava, o abri. E nele o dia da Socorro Moreira. O aniversário da Socorro.
Pensar sobre aniversários é fácil. O difícil é não se repetir ao dizer algo sobre eles. Não neste caso. A Socorro Moreira realmente plantou um ímã na cidade do Crato. Um imã que inteligentemente soube dar efeito à distância. Pronto ela mesma se confunde com a cidade e a cidade com ela.

Abro as imagens e o Nilo sempre por lá, Joaquim Pinheiro mesmo quando não está, lá se encontra. O Armando, Carlos,  Edilma, considerem que a Socorro além de tudo é um pouco de todos eles.

Nestes tempos de autorias, nesta vaidade banal do eu fiz, nada como uma Socorro Moreira que é ao mesmo tempo todos nós e todos somos ela. Igualmente somos  Joaquim, Nilo, Hugo Linard, João Marni, Edilma, Bisaflor, Corujinha e vou seguindo para não repetir a lista que sabemos longa, inclusive Eu e o Salatiel que nesta parte do planeta nos encontramos.



Na ponta da rua
Moreirinha é arte!

Minha mãe,
minha avó, minha casa,
meu pé de algaroba
minha catapora...
Tudo para trás!

Casa dos apertos
Redes pelas salas
Um banheiro só
Uma fila grande
Toalha encharcada,
um lençol gigante

Carta e telegrama,
um amor distante,
outros lá na vala.


O mergulho dos carros
A queda dos meninos
Um tiro, um enfarte
uma chuva, um sumiço
Casamentos na sacristia
Fatalidades, mescladas de
Alegrias .

Palacetes, casas conjugadas,
dentro de um só plano.
Cadeiras na calçada
E a gente a passar, a deixar
hora íntima, no ar...

Dor de cotovelo




Lupicínio e a dor-de-cotovelo
As aparências enganam
Lupicínio Rodrigues


Vejam como as aparências enganam
Como difere a vida dos casais
Não são aqueles que mesmo se amam
Que sempre moram em lugares iguais

Uns se casam porque se querem
Outros somente por comprazer
Sem nem pensar que por mais que fizerem
Nunca haverão de deixar de sofrer

Com seu criado que está presente
Também se passa uma história assim
Ela casou-se com outro vivente
E eu tenho outra mulher para mim

Só uma coisa eu sempre reclamo
E até hoje não me conformei
Que quem casou com a pessoa que eu amo
Beije na boca que eu tanto beijei

* Essa música foi inesquecivelmente gravada pelo ilustre cearense Gilberto Milfont, contemporâneo do meu pai, na cidade do Crato. Eles cantavam juntos na antiga Rádio Araripe , nos anos 40.

* Assim falou Caetano de Lupicínio : as canções dor-de-cotovelo não falavam das histórias vivenciadas por ele. Segundo consta , no testemunho da sua mulher, foi muito feliz no amor e no casamento. Porisso que a sua "fossa" tinha perspectiva, um norte , uma compreensão racional.
O poeta fala da dor do outro , como se ela fosse sua...O que de fato é verdade. E Fernando Pessoa , quase disse a mesma coisa.
A gente que gosta de escrever fica esvaziado quando está desapaixonado ou sem sofrer ... Isso é mentira também. Pra felicidade , pra saudade e pro amor nunca falta pano pra gente costurar um poema. O que falta é o poema chegar, e dizer !
Não existe uma única canção de Lupicínio que eu não goste de cantar...
"...Êta dor/que não devolve quem se ama/ êta dor que ninguém quer dizer que tem/ disfarçada num sorriso mentiroso/ é um pedaço de saudade de alguém."
- Essa é mais uma dor da humanidade : a dor-de-cotovelo. Ainda bem que ela dá e passa !

Lentes do encanto



Um falava
A outra escutava de olhos arregalados,
completamente encantados.
Os amores nascentes , entravam
por todos os buracos.
.
Tempos depois, esbarraram-se,
numa das esquinas da vida.
Os dois ainda, pessoas apaixonadas !
Falam do mar, do amor, e
do vento acariciando a alma.
Possuem silenciadores, mas
preferem amplificar sentimentos...
Reencontro pra viver
tudo aquilo que faltou.
Pra um nem faltou nada ;
Para o outro, muito menos ...
.
- Mentem !
Faltou um beijo...
e agora querem os juros e as juras...
Querem muitos beijos juntos !
.
Sonhos, pensamentos
revelam que os sentimentos
mudam de chão e de cor
Faz tempo, faz tempo ...
Um dia você chegou !
.
No silêncio das manhãs vou fiando
o terço do meio dia
Quando o dia finda
meu coração se inflama,
e acende uma poesia.
- Tonta e branca,
a lua descobre a pauta ,
e compôe a melodia !


Lembrei a canção que o Orlando Silva gravou. Uni-me ao compositor, e percebi a dor das folhas secas, abatidas pelo vento, envergadas por falta de viço e de vida.
Apenas lá, esperando o açoite dos ventos.
É como uma rosa seca, escondida nos livros do passado... Perdeu o cheiro, mas sabe contar histórias.
É como amores fenecidos, ainda misturados, a tantas coisas vivas, merecem o respeito de ser reintegrados ao útero de uma terra viva.
Que tudo se transforme em pó: as velhas palmeiras, pessoas, coisas... Que possam estrumar novos sentimentos, recriarem-se!
Doeram-me aquelas palmas acanhadas e secas, sem o carinho e a dança do vento. Combinam com o final do dia, entre a rosa e o grafite.
A natureza na ausência do sol enluta-se.A lua, eterna viúva, numa fase de alegria, chega com o seu bando... Bando que pisca, faísca ,e assume seu posto, na festa da boemia.
Choram as flores, seus orvalhos... Nuvens também se dispersam ou se condensam, quando finda o dia.
O tempo esquentou. Troco meu costume, e na seda me aconchego, como num corpo do amante.
Corpos secos, roupas brancas, marfim... Como os velhos coqueiros, que agora vejo, vestidos no terreiro, com a roupa do fim!

Socorro Moreira



Lá fora o mundo é mar
Meu olhar pula
Avista tudo de forma turva
Faço conta dos anos
Cumpridos e não vividos
Faço contas nas tardes compridas
É vermelho o meu saldo de agonias
É azul o mistério dos meus dias!

Colegas



Ontem, Nilo Sérgio entrou no blogue , com a promessa de contar as peripécias da sua turma de Ginásio.

Na mesma hora , pensei na minha turma do São João Bosco , e pelos signos dos anos , essa turma também marcou história e tonou-se inesquecível.

Quando conhecíamos um garoto ou nos informávamos sobre algum , a primeira pergunta era : " que série você está cursando " ?

Os afins , na nossa concepção , faziam a mesma série, tinham mais ou menos a mesma idade , os mesmos referenciais. A diferença, hoje eu sei , é que não temos um registro de danações, mas temos um registro importante de bom convívio.

Por falar em *convívio era de praxe arranjá-los , na forma de encontro e entretenimento.Provavelmente aconteceu algum com a turma do Nilo. Provavelmente rolou , no mínimo , um caso de amor entre a minha e àquela turma.

Mas olhando a foto postada, a lembrança de cada um vai se animando num dado contável... afinal não existiam na época, fatos inconfessáveis.

Pela ordem numérica : Nesinha Batista , Márcia Barreto , Francíria Alencar , Ione Esmeraldo , Socorro Matos, ( ?) Ismênia Maia , (?),Rosineide Esmeraldo , Tarcisinho Leite , Magali Figueiredo, Edna Brito , Lisete, Socorro Moreira , Divani Cabral, Walda Arraes , Angélica Aires, Joaquim Pinheiro, Graça Aragão , Stela Siebra, Vera Batista, Regina Vilar e Hugo Linard.

A turma tinha vários hinos. Stela era mestra em parodiar os sucessos musicais da época. Mas, a que mais caracterizou a nossa alegria, juventude , e espírito de festa foi a música "Festa de Arromba " do Erasmo Carlos. Não me atreveria a escrever a tal paródia ,pois haveria falha de memória... E se nos valéssemos da memória coletiva ? A paródia da Stela, talvez fosse reconstituida. Essa proposta não é dever de casa, nem está valendo nota... Vamos tentar , aqui pra nós, resgatar pelo menos , esse tempo de felicidade?

* Reunião nas tardes de sábado, entre as mesmas classes de diversos Colégios , com música dançante e comes e bebes.




Rastros ...



Noites de ócio
longas , insones ...
Internet, TV, telefone
de pensamentos fixos,
pesadas nos vícios .
Tardes de torpor
sonolentas , vazias .
Manhãs atropeladas ...
Curtas manhãs !
-Tempos roubados de mim !
.
Rio dos alentos
Recife dos reencontros
Crato comigo...
unido, indescritível
Estradas sem pontes
Rio sem margens
Profundas viagens
Pálpebras pesadas
pernas cruzadas,
diante da claridade...
Fechando ciclos !
.
Minha mãe voltou
Abracei o colo que foi meu
Ainda tem aconchego
no sorriso terno
Ainda tem luz
nos olhos sábios !
Na esquina da rua
vi o vazio do meu pai,
encostado no muro
Presença invisível ?
Pensei ouvir seu assobio
Tanto tempo passou...
O tempo anda,
e vultos invisíveis
se alastram como buracos,
marcando a história.
.
Túnel do tempo
Entrar e sair
Abraçar, despedir-me
Fazer isso na memória ...
Seguir o rastro do perfume
Aspirar a poeira das horas !

.

Insensatez



Hoje eu disse hoje pra uma amiga que o meu coração está aposentado, que ele pendurou as chuteiras,e que foi promovido para técnico amoroso.

Pensando bem, eu mesma o destitui da posição de técnico. Quem pensa que sabe , nem adivinha ! As coisas do coração são mesmo indecifráveis...Não exatamente complicadas !

Raros são os encontros , e a paciência no amor é quase utópica. Admiro os pares que se aturam , e acabam construindo uma realidade amorosa, nem sonhada , de tão linda !

Parece até que, inconscientemente, temos certeza de que existimos sozinhos. Mas o desafio de achar a companhia certa , está internalizado , e vive de teimosia.

A paixão é uma loucura que o amor cura.

A paixão acontece , num cruzar do olhar, numa troca de versos, num momento mágico. Se for alimentada , e dependendo do alimento, ela nos enlouquece , como um porre de vinho. Mas quem sabe amar, cura a paixão , empresta-lhe equilíbrio, e vai acertando os desencontros com novos tipos de encantos.

Existem pessoas que são vulneráveis a qualquer encanto. Sentem paixão por um, amam outros; na presença de um , sentem a falta do outro; não conseguem se definir;vivem o desequilíbrio e a eterna inquietação amorosa ; só valorizam a paixão: "São loucos !"

Hoje escutei de uma amiga : " não existe felicidade com traição".Quem ama está vulnerável, sim! Se a gente desiste de uma pessoa, ela torna-se vulnerável , e pode amar de novo. Às vezes a melhor e única solução é promover a liberdade do outro. Soltar o pássaro da gaiola, e também voar ...A coragem de ser livre não implica em perdas...É ganho de si mesmo !

Tem gente que é louco de paixão, e não sabe administrar sentimentos. O fado é solidão !

Tem gente que tem vocação para solidão. Abraça o destino , e se acompanha de outros afetos, que podem ser verdadeiros.

Fiquei muito estranha quando descobri que eu estava curada das paixões. Que o amor pode ficar longe, em até noutro plano... Que a vida não nos esconde alegrias, e que é cómodo dormir e acordar sozinha.

Mas uma coisa é certa ... Não adianta driblar o coração. O olhar e a palavra conseguem trair,mas o coração é fiel; não se engana, nem engana ; ele é curado de paixão, quando percebe que o amor gosta de respeito e lealdade; que a gente perde o que não merece... E que a paciência faz com que a gente ganhe o bem desejado.

Acho que escrevi pra mim mesma . Espero que outros se identifiquem com o texto, e me acrescentem um recado.