por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 29 de outubro de 2012


Nora Ney foi a primeira brasileira a gravar uma música de Rock. Chamava-se Rock Around de Clock lançado por Billy Halley Comets e fez grande sucesso nos EUA. Nora Ney cantava samba e sambas canções e pertencia à era de ouro do rádio, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo, com a revista do Rádio e com os grandes ídolos do rádio sendo recebidos pelo Presidente Juscelino Kubitschek.

O pós-guerra, anos 40 em diante foi a vez da avalanche fonográfica e cinematográfica a inundar a cultura latino americana. Foi nesse embalo que a balança cultural com uma forte raiz nacional, o Tango na Argentina, a diversidade brasileira, inclusive o Samba e Bossas Nova, os ritmos caribenhos e mexicano sofriam o peso do jazz e do rock americano.

Foi aí que surgiu o fenômeno da versão e o Brasil criou “especialistas” nelas. Fora os jovens paulistas do anos 50, como Cely e Tony Campelo, naquele período eram pessoas de meia idade, como foi Nora Ney a entrar no filão. Foi aí, que um cantor de voz empostada, melodiosa e erres bem pronunciados entrou na onda. Carlos Gonzaga que estourou com estes dois sucesso abaixo de Paul Anka e Neil Sedaka

Oh Carol  - Carlos Gonzaga. Sucesso de Neil Sedaka de 1958 escrita em conjunto com Howard Greenfield e feito por Neil para sua namorada na época Carole Klein depois que ela se tornou Carole King. Carole King é  uma grande intérprete  e compositora americana tendo sucessos como It´s too late.


Diana - Carlos Gonzaga. Música de Paul Anka foi o maior sucesso do compositor e foi lançada em 1957. Paul nascido no Canadá era de origem Síria e fez a música Diana para a babá chamada Diana Ayoub. Paul era de fato um grande músico, além de ter promovido um dos maiores sucessos de venda de disco dos EUA, ele é o compositor da famosa My Way cantada por Sinatra e Elvis além da canção She´s A Lady gravada por Tom Jones. 

Lembro que a seca roía até os ossos dos nossos sertanejos e as rádios ecoavam o sucesso impressionante de Diana. Aliás, na contrabalança João do Vale emplacava com Canto da Ema.

Cada compacto ou LP do Carlos Gonzaga era uma festa de sucessos. As rádios tocavam quase todas as faixas: Foi o teu beijo, Bat Masterson, O Diário, Cavaleiros do Céu, Juramento de Play Boy, Meu Ciúme, Nunca aos Domingos, São Francisco, Rapaz Solitário e muito mais que a lista é grande. Sem contar de que no embalo ele se aventurou em algumas canções populares um tanto quanto puxada ao sertanejo como Anahi, Poeira, Sereno e por aí foi. 

Mas guardei esta por uma memória específica. Carlos Gonzaga veio ao Crato. Um show no Cine Educadora. Salão cheio e a elite cratense. Naquela altura era um evento para sempre na memória da cidade. As melhores roupas, penteados de salão, muita rinçagem nas cabeleireiras, perfumes e jóias.

Carlos Gonzaga era brilhante na voz, mas um mulato de meia idade, muito bem cuidado e de cabelos esticados e "brilhantinados". Então quando ele resolveu cantar Uma Escada para o Céu, chamou uma das moças casadoiras e virgens das primeiras filas e solou a canção pegando na mão dela. Encabulada dos olhares feitos holofotes, mas encantada pela melodia cantada tão próxima ao seu coração.

Ao final Carlos Gonzaga deu-lhe um beijo sobre o dorso da mão. Um famoso beija mão elegante do tempo das rainhas e ainda remanescentes em algumas autoridades eclesiásticas do catolicismo. A moça saiu dali quase correndo, o rosto incendiado de vergonha, parecia que um desvirginamento ocorrera aos olhares de todos. E simbolicamente fora um momento épico para o conservadorismo com preconceito de raça e classe.

E com vocês:

Uma escada para o céu - Carlos Gonzaga. 
     


"Moroni" e "Heitor" - José Nilton Mariano Saraiva




(Em aditamento à postagem do Zé do Vale sobre as eleições de Fortaleza).

Meses atrás, antes das convenções partidárias que homologariam os candidatos à prefeitura de Fortaleza, o Governador do Estado Cid Gomes viajou pra Portugal, onde teria tido uma conversa particular com o cidadão Moroni Bing Torgan (candidato derrotado em mais de uma tentativa para o cargo) e que houvera sido mandado pela Igreja à qual pertence para uma “missão religiosa” em terras lusitanas. Comentou-se, na oportunidade, que o objetivo do Governador seria “convidar” o referido senhor a voltar de imediato a Fortaleza e concorrer à Prefeitura mais uma vez, só que por um partido que não o oficial, o do Governador. No fundo e mais que evidente, a estratégica “jogada” embutia o aproveitar-se da popularidade do Moroni na periferia da cidade a fim de “rachar” ao meio o eleitorado naquelas comunidades, impedindo que o candidato da Prefeita de Fortaleza “dominasse o pedaço”, partindo com vantagem sobre o candidato oficial.
A despeito de tal versão nunca ter sido confirmada (embora o Governador tenha viajado a Portugal, sim), não mais que de repente Moroni mandou para o espaço a tal “missão religiosa”, abdicou de continuar pregando em nome de Deus, largou tudo de uma hora pra outra e desembarcou extenuado em Fortaleza no final do dia da convenção dos Democratas (já ao apagar das luzes), onde foi recebido apoteoticamente no aeroporto, de onde se dirigiu para o ginásio onde se realizava o evento, sendo cristalizado pelo partido como o candidato a prefeito (tudo isso, acreditem, “por amor a Fortaleza”, como disse na oportunidade).
Se foi “doutrinado” ou não pelo Governador, a verdade é que o Moroni que voltou nem de longe lembrava o Moroni que houvera partido: repaginado, seletivo, esqueceu o discurso agressivo, a postura desafiadora e se nos apresentou na pele de um caridoso pastor, fala mansa, a pregar a paciência e o perdão, evitando critica mais pesada aos concorrentes políticos, especialmente ao candidato oficial. O seu negócio agora era suplicar, pelo amor de Deus e de todos os Santos, que lhe dessem uma “caneta”, que com ela resolveria todos os males de Fortaleza. Ainda assim, cumpriu a “missão” para a qual houvera sido escalado pelo Governador, recebendo expressiva votação no primeiro turno (claro que em troca de alguma coisa).
E aí entra em cena o candidato Heitor Ferrer, Deputado Estadual do PDT, que se tornou conhecido e respeitado pela atuação firme, valente e corajosa no plenário da Assembléia. Voz solitária a denunciar com consistência os abusos perpetrados pelo Governador do Estado surpreendeu ao receber um “transatlântico” de votos quando as urnas foram abertas, passando Moroni pra trás e quase tomando o lugar do candidato oficial (houve, inclusive, a suspeita de que a manipulação das pesquisas às vésperas do primeiro turno o tenham prejudicado, impedindo sua ida para o segundo turno; tanto que há, sim, um despacho (não cumprido e, portanto, desmoralizado), de uma juíza de Fortaleza, “desautorizando” a realização do segundo turno (antes que o caso fosse esclarecido). A mídia, incompreensivelmente, não divulgou (por qual razão ???) e poderá haver contestação mais adiante (embora não vá dá em nada).
Pois bem, no segundo turno, Moroni, como esperado, apoiou de pronto (e recomendou) ao seu eleitorado a candidatura oficial, carreando uma boa quantidade dos votos dos seguidores, que ajudou em muito a eleição do novo prefeito (claro que será aquinhoado com algum “mimo”, possivelmente a secretaria de segurança do Estado). Aguardemos.
Já Heitor Ferrer, que passou toda a vida parlamentar batendo forte e com consistência no Governador do Estado, decepcionou as quase trezentas mil pessoas que o sufragaram, ao optar por uma posição neutra (e de certa forma covarde), sob a alegativa de que ao partido cabia decidir a questão. Dúvidas inexistem de que o seu apoio individual (ou recomendação do “político” aos seguidores) ao candidato contrário ao oficial (já que cáustico crítico do Governador) certamente teria mudado o rumo das eleições de Fortaleza. No entanto, aos 48 minutos do segundo tempo, Heitor Ferrer roeu a corda, manchou a sua biografia e perdeu o gol mais feito que se tem notícia.
Moroni e Heitor tiveram, pois, de maneiras distintas, papel decisivo no resultado final das eleições de Fortaleza. Alguém tem dúvida ???