por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 29 de maio de 2019

A MÃE, O JUAZEIRO E O PADRE CÍCERO - Dr. Demóstenes Ribeiro (*)


O menino despertou com o canto do galo, e a mãe já preparava a viagem ao Juazeiro. Ela dormiu pouco. O trem ainda apitava ao longe, mas estavam todos ansiosos. Haveria a compra das passagens e era grande o burburinho do povo.
Eles logo tomariam assento. Aquela, quase aventura, era uma viagem especial. A irmã querida, frágil e magrinha, quase morreu de sarampo, e a família iria demonstrar ao Padre Cícero toda a sua gratidão. E próximo à estação, pela janela do trem, vendo a Igreja dos Franciscanos, logo chegaram ao Juazeiro.
O pai, a mãe e as crianças desceram pela rua São Pedro, vaguearam pela São José, andaram na Santa Luzia, na Conceição, no Mercado, talvez na José Marrocos e na Floro Bartolomeu. E o pai conduzindo a todos, certamente deslumbrado com “A Aliança de Ouro”, “As Casas Pernambucanas”, o BNB e o Banco do Brasil: mil sonhos e temores no seu coração guerreiro.
E em meio aos romeiros, na capela do Socorro, no túmulo do Padre Cícero, eles pagaram a promessa. Muitas vezes depois, agora sozinho, no mesmo trem ou de ônibus, o menino voltaria. Compraria gibis e enfeites de bicicleta; na praça principal tomaria sorvete de abacate ou pegaria uma Kombi para o Crato, onde nesse tempo estudava.
E as promessas continuaram com a mãe pedindo a aprovação dele no vestibular e a formatura em Medicina. O milagre se repetiu e todos voltaram, subiram o horto e agradeceram ao “meu Padim” pelo ingresso improvável daquele menino velho na universidade.
Juazeiro do Norte, lugar abençoado, onde meu irmão é feliz. Terra da fé e milagre do Padre Cícero. No teu povo humilde e bom, e não nos ladrões do dinheiro público, existe a força divina a construir a tua história.
E dias atrás, ao ver na televisão tantos “padres cíceros” na bateria de uma escola de samba no carnaval do Rio de Janeiro, ele se lembrou do Cariri e da sua gente, chorou em silêncio e novamente agradeceu ao santo da mãe e da irmã, da infância e da família, pela proteção presente nessa caminhada.
Outro dia em Fortaleza, dia treze, ao passar em frente à Igreja de Fátima, dentro de um automóvel, ele, como um menino antigo, também se juntou às vozes que cantavam e murmurou “com minha mãe estarei na santa glória um dia...” E lembrou do pai, de terno branco e gravata, - velhos tempos - para a missa do domingo na cidadezinha.
Então, fez uma prece e agradeceu muito à mãe. Pois ela, tão devota do Padre Cícero, ainda muito pequeno lhe ensinou a rezar e com imensa sabedoria lhe transmitiu toda a fé. Porque somente um milagre, acreditem ou façam pouco, era a sua vida até aqui.

(*) Médico-Cardiologista, natural de Missão Velha e residente em Fortaleza-CE