por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 23 de dezembro de 2012


Fotos de SAMUK





O Papa e o Casamento entre Pessoas do Mesmo Sexo - José do Vale Pinheiro Feitosa


Os romanos absorveram a palavra “laikós” do grego que significava “do povo” e depois o Latim Vulgar evoluiu para “leigas” que derivou para o hoje leigo. E a palavra “leigo” se desdobra em dois significados principais: que não pertence ao clero ou aquele que é ignorante em relação a um determinado assunto ou profissão. Os sacerdotes como senhores do feudo espiritual, pretendentes a porteiros da eternidade, reduziram as almas aflitas ao estado da secularidade. Aquele que vive apenas no tempo, no século.

Tome-se na espiritualidade, na materialidade e na eternidade a trindade que une a carne frágil ao evoluir do cosmo e perceba o quanto a narrativa cristã original era mais ampla, livre, universal e igualitária. Cabia a todos neste mito do nascimento regular do “Natal” e na renovação da fertilidade no “Ano Novo” que restabelece o calendário do fim do tempo.

Esteja na leitura que contigo estou. O evoluir etimológico é um assunto por vezes árduo e enfadonho, igualmente parece o estudo da genealogia familiar. Mas como ocidentais, que somos desaguadouros da civilização greco-romana e da narrativa mesopotâmica dos semitas, perceba o quanto a tua ligação ao cosmo é germinação secular, do tic-tac dos segundos e do foguetório dos séculos. Do leito e da mesa do teu lar ao planeta com suas desigualdades territoriais.   
  
Por isso o leigo, a realidade do mundo, posto que humana e do povo, se contrapõe à elite sacerdotal, à igreja, à formação de feudos e de senhores. Enquanto o leigo amplia, a ordem eclesial recolhe-se entre muros de castelos ou burgos a restringir todos a regras seculares de ritos e mitos. A ordem feudal que abafa a circulação da difícil união entre a carne e o cosmo.

Entendo que nesta altura pergunte-se a respeito por que te ofereço estes parágrafos. O Papa em mensagem ao fieis resolveu fechar mais janelas na livre relação entre todos. Ao condenar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não apenas demonstra o quanto ausente se encontra a igreja da ordem laica do Estado como nada mais há que se opor ao espírito de mediação entre as pessoas e o cosmo. Mediação que se encontra nas leis que não apenas são removíveis como também se movem pela própria relação com o tempo e o espaço.

Ao chegar ao limite dos muros do Vaticano o Papa lança pedras de fogo sobre as ruas e praças urbi et orbi apinhada de gente. Praticamente o sacerdote máximo da Igreja Católica não defende os fieis, mas ao contrário, convoca os fieis a combaterem a oxigenação dos seres humanos, essa espécie tão dependente deste gás. Amanhã quando Irmandades Católicas se radicalizarem quais outras “irmandades” muçulmanas ou judaicas as ruas e praças estarão interrompidas para a relação entre o ser humano e o cosmo.

A radicalidade feudal das religiões, em pleno tempo da universalização e da igualdade, tem o dom da sufocação. Da tortura e do ódio. Da perseguição e da crucificação. Mesmo que católicos atentos aos seres e ao cosmo não façam essa leitura, é inegável que a história recente mostra tal radicalidade nas ruas do Cairo, na Líbia, na Síria, na Europa, enfim onde o humano existe por necessidade de ser no mundo.      



Bibi da Onça - Um Otimista no Natal - Por José do Vale Pinheiro Feitosa

O título carece explicação. Bibi por diminutivo de Beraldo e Onça por feito de coragem ao contrário. Madrugada de valentões: caçada de uma onça que dizimava as ovelhas lá no olho d´água da Serra do Quincuncá. A luta para arrumar a arriscada excursão na coragem de Bibi. Ele acompanhou, mas assim que o rastro da fera e tiquinhos de bosta verde no meio do mato apareceram, deu uma sede de deserto na alma de Bibi. As cabaças estavam secas. Alguém sugeriu que Bibi chupasse um taco de rapadura. Pronto Bibi bateu em retirada a busca de um pote de água dormida. A onça colou ao apelido de Bibi.

Bibi é otimista inveterado. A sentença do patrão das terras onde vive agregado são loas de obediência. Mas ele tem uma arrumação no olhar: o olho esquerdo fulmina o pessimismo dos que reclamam e o direito ilumina as glórias do patrão. O Patrão anda por aí na Hilux refrigerada, mora na cidade e de costuma provar o sal da terra nos mares bravios do Ceará. Bibi é outra coisa: casa com teto vazado feito arupemba e paredes com buracos de espia.

Neste natal o patrão mandou a Hilux na fazenda para pegar as carnes de um carneiro e um peru de primeira. Aproveitou a viagem e mandou uma “ceia de natal” para os agregados da sua fazenda. O olho direito de Bibi da Onça brilhou como uma super nova.

Os agregados que restavam na fazenda eram poucos e Bibi aproveitou para criticar:

- Viram no que dá? É esta tal de Bolsa Família e os homens se aposentando cedo demais. Tem muito caba bom de eito que foi morar na cidade com aquele dinheirão que ganha do governo não quer mais nada com o trabalho. Agora é isso aí! Uma festa desta tinha para mais de quarenta pessoa. Agora é só nós.

De fato os presentes à “ceia” não passavam muito de quinze pessoas. Entre eles uns três sobrinhos de Bibi, Mário e sua mulher Ana, Zé Chulé e a mulher, Tonho e Zefinha e mais outras pessoas que não adianta esticar a lista. E aí veio a ceia. Que decepção. Bibi, abriu a bolsa de plástico e tinha umas seis pet de tubaína. Mario olhou para Ana e estimulou o olho esquerdo de Bibi.

- Mas minino só mandou “espoca bucho”. Antigamente pelo menos tinha aluá. Agora é este bicho que faz nós soltar tanto traque que escangalha o buraco que rima com caju.

- Deixe de ser ingrato. Seu pessimista. Nunca vê as coisas boas que acontece. Tudo é ruim, não adianta dar as estrelas. O aluá é coisa ruim, da casca do abacaxi, suja, cheia de micróbio. Agora não, este refrigerante de primeira é sadio, a água é até pasteurizada.

Mario olha para Ana e comenta: e vai ter pastel?

- Qui nada. Ói lá em riba da mesa, só tem aquela bulacha dura da bodega de Mané da Rola.

Bibi ficou possesso com as palavras de Mario e Ana. Foi de porta a fora e fez uma oração de louvor ao seu patrão, com o chapéu na mão e o olho direito olhando para a casa grande adormecida no silêncio do natal, com tubaína, bolacha dura e sem a Missa do Galo.

Para Alfredo!



Feliz Aniversário!


Aniversaria hoje um dos homens da minha vida - O filho único dos meus pais: Alfredo Moreira Neto! Ninguém lembra esse menino melhor do que eu _ sua irmã mais velha. Doce no coração, amigo irmão. Desejo pra essa figurinha humana, toda felicidade do mundo.
Abraços, querido!




Suas primeiras palavras foram :"vou ser Pa...", que significava: vou ser padre. Bem ensinadas pela minha mãe.Mas ele é pai- um grande PAI! Os filhos que o confirmem!
Sem dúvidas, o filho preferido de Dona Valda., mas a gente( 5 irmãs) nunca sentimos ciúmes. Também era o nosso irmão preferido- sempre será!
Neste dia, sempre dizia - quero dois presentes: Natal e aniversário...E a minha mãe sorria.
Saudade imensa, mas serena, da minha família, quando éramos todos pequenos.

Zélia, Socorro, Verônica, Teresa e Catarina entregam-te corações amorosos. Que Deus abençõe a tua familía: esposa (Silvana), filhos, noras, e a neta que vai chegar - a  sua Marina!


AVE MARIA NO MORRO DE HERIVELTO MARTINS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Aos meus amigos músicos do Cariri: viver é preciso e navegar também. Ocupem-se com sua arte, não se aprisionem ao sucesso. Herivelto Martins quando compôs Ave Maria no Morro apenas escutava o canto dos pardais se recolhendo. Levou a música para Benedito Lacerda e este retrucou que aquilo era música de igreja, eles precisavam compor música para ganhar dinheiro.

Mas nem pela hierarquia da igreja foi compreendida: o taciturno e conservador Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, num descompasso com a música e seu tempo disse que a música era um heresia e pediu a censura da mesma. Estávamos em 1942, no âmago da Ditadura do Estado Novo e Herivelto salvou a música por ser amigo dos censores do regime.

Dom Leme e Benedito estavam errados com Deus e com os homens. Quem escuta a letra e a compreende, observa o quanto Dom Leme se afastara do espírito original do cristianismo e demonstrava um elitismo anti-povo. A música é um dos maiores sucessos mundiais da cultura brasileira. Tem versões em Espanhol, Francês, Inglês, Italiano, Alemão e até em línguas eslavas. Os italianos trouxeram a letra para sua paisagem, nem referência fazem ao Rio e suas favelas. A versão mais reproduzida é a espanhola.

Numa rápida e incompleta pesquisa no Youtube consegui levantar mais de 30 apresentações de artistas estrangeiros. A música além de servir para a expressão da voz, como bem disse Benedito Lacerda é excelente para orquestras e festas religiosas. Ela foi gravada por cantores de ópera, cantores populares, orquestrada com instrumentos de sopros, guitarras, órgãos, corais, orquestras de tambores e assim por diante.