por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

MALUF E O “VELHO PADRE”

O octogenário padre brasileiro, que durante anos a fio tinha trabalhado fielmente e com afinco junto ao povo africano na difusão da palavra do Senhor, voltara debilitado ao Brasil (contraíra o vírus ébola) e, agora, doente e moribundo, internado no Hospital Geral de Brasília, é a notícia e manchete midiática da hora.

Em estado terminal, já nos últimos suspiros ele faz um sinal à enfermeira, que se aproxima. - Sim, senhor padre, o que deseja ? - Eu queria ter a oportunidade de conversar com quatro proeminentes políticos brasileiros, antes de partir, sussurrou o velho Padre, ditando-lhe os nomes. - Acalme-se, verei o que posso fazer, respondeu a enfermeira. De imediato, a Direção do hospital entra em contacto com o Congresso Nacional e logo recebe a boa notícia: todos, na condição de católicos, embora não praticantes, faziam questão de cancelar os compromissos do dia, pois não poderiam perder a oportunidade de visitar o velho Padre, moribundo.

A caminho do hospital, na ampla limusine de um deles, Paulo Maluf confidencia pra Jader Barbalho, Renan Calheiros e José Agripino: - Eu não sei porque é que o velho Padre nos quer ver, mas certamente, dado o seu prestígio internacional e sua popularidade junto aos pobres deste país, isso vai ajudar, e muito, a melhorar a nossa imagem perante a Igreja e ao próprio povo, assim como repercutirá internacionalmente, o que é sempre muito bom. Todos concordaram: realmente, ali estava uma grande e rara oportunidade para eles aparecerem e, tanto é verdade, que até fora enviado um comunicado oficial urgente à imprensa, detalhando a hora e o local da visita.

Quando ao “quarto” os “quatro” chegaram, com toda a mídia presente (rádios, jornais, TV, Internet, etc) o velho Padre pediu-lhes para dele se acercarem e, pousando sua mão direita sobre as mãos de Jader Barbalho e Paulo Maluf, e a esquerda sobre as mãos de Renan Calheiros e José Agripíno, agradeceu-lhes aquele gesto magnânimo, caridoso e cristão.

Houve um respeitoso silêncio, enquanto câmaras foram estrategicamente direcionadas aos cinco, já que repórteres televisivos transmitiriam ao vivo e a cores, em horário nobre, para todo o país, aquele grave momento; para tanto, aproximaram seus sensíveis microfones para, quem sabe, captar aquelas que seriam as últimas palavras daquele santo homem, que estranhamente, apesar de muito debilitado, apresentava-se com um ar de pureza e serenidade no semblante.

Então, Paulo Maluf, na condição de porta-voz dos demais (fazendo pose para as câmaras e imprimindo a devida impostação à voz), perguntou-lhe, contrito: -Santo Padre, desculpe a curiosidade, mas porque é que fomos nós – eu, Jáder, Renan e Agripino - os escolhidos, entre tantas pessoas ilustres das que compõem o nosso glorioso Congresso Nacional, para estar ao seu lado, neste momento tão especial ?

O velho Padre, com um sorriso angelical no rosto, serenamente afirmou: -Meus filhos, como vocês são testemunhas, sempre, em toda a minha vida, procurei ter como modelo e seguir à risca, o "Pai Celestial", Nosso Senhor Jesus Cristo. -Amém, sussurraram, os quatro, em uníssono. E aí, o velho Padre fuzilou, contundentemente:

ENTÃO...COMO “ÊLE” MORREU ENTRE LADRÕES, EU QUERIA PRA MIM O MESMO”.

Ato seguinte, "bateu as botas"... sorrindo.

(Autor desconhecido)