por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Os odiosos odientos - José do Vale Pinheiro Feitosa

A UDN ainda é uma teia de aranha em algumas memórias do passado. Ela não existe mais, porém o udenismo do "mar de lama" faz parte da realidade política, social e cultural atual. Impossibilitada de apresentar uma projeto alternativo para promover a ascensão social de grandes massas da população. esse "udenismo" espectral se refugia no ódio. 

Faço ressalva: existia uma militância udenista no exercício legítimo da política e esta não é um zinabre do tempo, isso é um lustro da vida em sociedade. Aqui quem critico é a corrente udenista furibunda, magoada, perdedora, que não media consequências e usava os piores métodos para combater os adversários e além do mais era golpista. Só para medir a diferença procurem no Google algo sobre a banda de música da UDN para entender que não falo amplamente do partido. Ou leia a recente entrevista de Aécio Neves na revista Carta Capítal. 

Mas o que tenho recebido de e-mails odientos sobre o julgamento do Mensalão é algo que expõe o que os repassadores são por sucessão das práticas atuais em alguns partidos ou são os velhos golpistas de sempre, que apoiaram a ditadura militar, tinham ódio de tudo que combatesse o regime e depois com a democracia esconderam a vestimenta até que o baile à fantasia os reconvocasse.

Aliás li um texto lúcido no blog da Cynara Meneses sobre Lobão, Roger Moreira e Leo Jaime em que os "rebeldes" dos anos 80 desvestiram as fantasias libertárias e rebeldes e hoje mostram o que realmente foram e são: filhinhos de papai com direito aos uns muxoxos adolescentes. Os meus repassadores de e-mail com os piores xingamentos contra Bolsa Família, Cotas Raciais, ENEM, Lulas, Dilmas, PT e outras secreções dos canais biliares terminam descendo pelas alças intestinais aos destino dos canais que os coletam.

O que me fez vir a esse desabafo, não apenas pelo conteúdo, mas por receber tais e-mails de pessoas a quem considero como de valor equilibrado foi o que escreveu Bob Fernandes no seu Terra Magazine: Brasil afora há quem venere Lula. E ele sabe disso; é muito mais agradável informar e ser informado sobre isso. Mas certamente Lula deve saber, alguém deve dizer a ele de quando em quando: além de fazer oposição, um direito de todos, há quem lhe devote um ódio profundo.

Sem dúvida que é preciso se antecipar aos fornos do fascismo, mas também é alentador que a humanidade ainda mantem o espírito de sobrevivência ou de permanecer em vida de modo a jamais aceitar os foguistas destes fornos.     



Traduções Cariris com Luiz Carlos Salatiell, Abidoral Jamacaru, João Do Crato, Zabumbeiros Cariiris e participação de Luciano Brayner dia 11/11 na Praça da RFFSA -Crato
Foto Pachelly Jamacaru

A Luta dos Contrários - José do Vale Pinheiro Feitosa


As culturas das grandes civilizações expressam toda a grandeza, no sentido matemático, do que seja uma civilização, isso para contrastar com as culturais tribais de sociedades coletoras e caçadoras ou apenas agrícolas. Uma grande civilização normalmente abriga muito mais contradições, pois as classes dominantes e dominadas são mais claras, a expansão territorial é uma marca, a face guerreira por consequência e principalmente a grande rede de produção e comércio. Por certo entendemos que nessa complexidade dialética se encontra os povos dominados pelas expansões territoriais.

Se pegarmos qualquer manifestação de uma cultura da grande civilização vamos encontrar não só os elementos em conflito como, também, o evoluir desta relação ao longo do tempo. Peguemos o cinema americano como exemplo. Ele expressa toda fricção das classes sociais americanas, sua expansão, seus ciclos econômicos, as transformações urbanas e rurais ao mesmo tempo em que acentua, ao longo do tempo, o papel de fonte de discurso e propaganda do “sonho americano” que é afinal o domínio das elites com a natureza já imperial.

Por isso Hollywood é visto essencialmente como máquina de propaganda da política imperial, fazendo por vezes um discurso escapista em relação à realidade e, por outra, fazendo uma pregação ideológica da elite imperial (incluindo instituições como a indústria, bancos, bolsas de valores, impérios midiáticos, universidades etc.). Não estranhemos esta enorme capacidade de “articular” vontades traduzidas numa inteligência estratégica nem sempre baseada em pessoas isoladamente, especialmente grandes lideranças.

A evolução empresarial globalizada evoluiu de tal modo que apenas 147 empresas dominam 40% das riquezas controladas pelas maiores empresas em todo o mundo. Isso numa escala globalizada é uma dimensão nunca dantes vista na história: 1% das empresas controla uma rede estratégica inteira. Neste sentido até mesmo instituições como o cinema de Hollywood já não é parte do projeto apenas americano, mas de toda a ideologia e cultura forjada pelo comando estratégico de poucos agentes. Embora os EUA sejam a grande fonte do modelo imperial e concentrador, o espírito privatista domina a cultura globalizada especialmente pelas estruturas bancárias que são os representantes majoritários daquele comando de apenas 1% das maiores empresas do mundo. A “austeridade” em prol dos bancos pode gerar a força política contraditória a esse comando privado do mundo e essa é a perspectiva política da atual crise. Os desdobramentos nos dirão.

Dois filmes de produção americana expressam muito bem o evoluir da cultura americana ao longo do século XX e início do atual século. O primeiro é um filme que retrata o breve casamento de Ernest Hemingway e Martha Gellhorn considerada a maior correspondente de guerra americana. A essência desse filme é de um país em expansão, mas vivendo ainda uma crise interna de pobreza que por isso mesmo tinha enorme simpatia pelos povos do mundo em crise. Hemingway como escritor do “Por quem o Sinos Dobram” e Gellhorn como correspondente da revista Collier´s na Guerra Civil Espanhola ainda tinham o espírito de solidariedade social pelos povos. O jornalismo aceitava que correspondentes como Gellhorn fizesse matérias arrasadoras sobre violações humanas mesmo que isso contrariasse e ideologia imperial ou os acordos estratégicos do grande capitalismo americano. O livro da Martha a Face da Guerra relatada toda esta questão.

O outro filme é “O Informante” que aparentemente mostra o poder avassalador da indústria do cigarro americana quando surgiram as evidências que ela manipulava o tabaco para ampliar o vício e que o consumo de cigarro era uma nova forma de epidemia. A indústria como é da natureza de todo cinismo privado reagiu dizendo que não reconhecia o vício e jogava toda a responsabilidade do fumar aos fumantes como se não houvesse essa manipulação física e a de psicologia social através da propaganda e marketing.

O filme trata não apenas do poder desta indústria, mas essencialmente demonstra o quanto a imprensa no ambiente imperial, globalizado e privatista tornou-se a função ideológica da hegemonia estratégica do núcleo (elite) imperial avassalador. A observação da cultura é uma fonte inesgotável do aprendizado histórico e da fricção dialética.