ZODÍACO – Fevereiro – por Daniel Lima
E ao chegar fevereiro
ainda serás imortal
da trágica imortalidade dos palhaços,
das colombinas e dos arlequins.
Fevereiro é o Brasil,
Já vem gingando.
(E o que é gingar?
Não perguntes,
não se diz,
não se explica:
só se vendo (ou fazendo).
Fevereiro desfila
Gosta de ser fevereiro.
Ele se adora.
E porque se adora,
fevereiro samba e ri
e se cobre todo de miçangas.
Há borboletas que não vejo
no jardim de rosas que não tenho.
Mas fevereiro cria
as rosas e o jardim
e as borboletas.
Fevereiro não gosta de Scarlatti
mas gosta de escarlate
e azul
e cores misturadas.
Fevereiro é ligeiro,
um voo de pássaro encantado,
um relâmpago no céu inesperado
(o relâmpago e o céu),
o céu de fevereiro,
a luz fugaz de um fósforo aceso.
A alegria que levas de reserva
colheste-a por certo em fevereiro,
para queimá-la talvez a vida inteira.
Mês leviano, essencial
Eterno e contingente.
No dia em que o perderes
com ele perderás a tua mocidade
e terás assinado antes da hora
um pacto de morte com a tristeza
e seus horrores.
Fevereiro é riso puro.
Um riso puro
é um riso sem rosto
um riso sem figura
a rir
no espaço tempo do riso
sem olhos e sem boca,
um riso absoluto
e em si,
não riso de alguém,
senão que um simples riso puro, riso
sem boca, sem nariz
riso em rosto nenhum
(volto a dizê-lo),
riso que só Kant talvez entenderia
riso só, transcendental,
só riso