por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 30 de abril de 2014

Pelé e o Brasil - José do Vale Pinheiro Feitosa

A consciência crítica sobre a ditadura e o massacre social no nosso país sempre viu Pelé como um mito que não se preocupou com as origens de classe e etnia de sua família. Nunca fez um gesto para denunciar o status quo que sufocava os pobres e nem levantou lebres contra o racismo que se expressa contra a população que se originou na África.

Pelé, um negro e ídolo popular, chegou até falar em amor quando vivíamos uma das situações mais críticas de repressão política. Gostava de aparecer ao lado dos poderosos e andou bem distantes de mitos negros de repercussão mundial como Miriam Makeba que abriu uma luta mundial contra o Apartheid em sua África do Sul.

O que se diz sobre ele no mundo sujo do marketing, associações com empresas, patrocínios e contratos de jogadores é uma corrente que toma energia na mesma fonte dos velhos cartolas do futebol. A face corrupta e mercenária por vezes é assacada contra ele nos meios de comunicação especializado.

Por tudo isso Pelé é posto do outro lado da rua em relação àqueles que lutam por uma vida melhor, por justiça social e por maior igualdade pública. Mas aí é que começa a minha narrativa.

Pelé foi por muitos anos o maior símbolo da capacidade dos negros em todas as sociedades que os discriminam. Pelé, pode ser que não Edson Arantes do Nascimento, mas Pelé é a força da raça, o vitorioso, o gênio aquele ser superior que toda cultura deseja. Especialmente a cultura dos povos explorados e oprimidos.

Pelé, até por ser brasileiro, por vir de um país pobre e sujeito às tempestades dos impérios arrogantes, terminou por representar no imaginário de povos em igual situação a rota da superação histórica. Por isso todo brasileiro que estivesse no mais remoto lugar da Ásia, da África, da América do Sul e até da Europa era automaticamente identificado por Pelé. Pelé era sinônimo de brasileiro.

Esta coisa que o Brasil ainda carrega. De ser este gigante territorial que pode contribuir com outro modo de fazer política. De ser alegre, tolerante, aberto à diversidade, lutar pelo progresso material nacional mas sem comandar a estratégia imperial do domínio e do controle dos povos.

Este Brasil mulato, branco, negro, indígena e japonês que é cor de todas as cores.   


Em conclusão: os setores mais progressistas não conseguem ver em Pelé a essência da sua genialidade popular e o mais arraigado pensamento de direita, que deseja ser o Brasil o mero reflexo de um espelho do majestoso imperial do hemisfério norte, vê no nosso povo apenas a sua marcha serviçal. 

"É FOGO" - José Nilton Mariano Saraiva

Numa dessas nossas andanças pelo Brasil, certa vez desembarcamos em Curitiba, a belíssima e agradável capital do Paraná, já à noitinha e com o tempo bastante frio. Em chegando ao hotel, a surpresa: no hall, dentro dos elevadores, nos corredores, nas portas dos apartamentos e, enfim, por todo o prédio, cartazes em letras garrafais anunciavam: “A falta d’agua é fogo”.

De princípio, não demos maior importância, porquanto a prioridade era se acomodar o mais rápido possível e logo partir para conhecer a noite curitibana.
E aí a surpresa: ainda no elevador, o “office-boy” encarregado de transportar as malas, notando o sotaque diferente dos integrantes do grupo, indagou de onde éramos. Ao saber sermos cearenses, do Crato, Fortaleza e tal, identificou-se como também cearense, só que se São Benedito, na Serra da Ibiapaba. Não se conteve e, apontando para o cartaz afixado numa das laterais do elevador, disparou: “Tão vendo isso aí ? É que aqui tá faltando água há vários dias e “eles” tão passando por grande dificuldade” E emendou: ”Eu acho é pouco. Só assim “eles” vão ter consciência do sofrimento que nós, nordestinos, passamos com a seca”. Já instalados, telefonema da portaria reverberava o dito pelo office-boy: “Senhor, queríamos comunicar-lhe que toda a cidade está com problemas de falta d’agua e, assim,  pedimos sua compreensão a fim de consumir o menos possível, só o absolutamente necessário”.

A reflexão nos remete ao drama pelo qual passa o todo poderoso Estado de São Paulo, atualmente no enfrentamento de uma estiagem braba e demorada, com água faltando até para as necessidades básicas e com perspectiva de racionamento iminente. E como o tal São Pedro não tá nem aí para o drama dos paulistanos, a tendência é a coisa piorar.

Mas, como não há mal que dure para sempre, naturalmente a “coisa” passará algum dia; e aí, pode ser que eles deixem de “frescura” e não fiquem a reclamar da transposição das águas do Rio São Francisco, sob o argumento que a Região Nordeste não é prioritária e que se está jogando dinheiro fora com um projeto de tamanho alcance social.


Por enquanto, vão ter que reprisar o lengalenga que ouvimos dos  curitibanos, àquela época:  “A FALTA D’AGUA É FOGO”. 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Pompeia




J. FLÁVIO VIEIRA

                                               A mulher ralhava, os filhos implicavam.  Aquele hábito diário do velho Vulpino Seabra incomodava toda a família. Lembravam que os tempos agora eram outros, que a violência andava à solta, que com  internet e afins já não se justificava sair flauteando por aí, mal o sol se esgueirava por trás da  serra, ainda espreguiçante. Nem precisava: tinha um Sacolão logo na esquina , e o vendedor de porta em porta com sua  carrocinha. Sentiam-se os familiares   diminuídos, vendo um membro importante da família teimando com um trabalho de vassalo. Principalmente porque os tempos das vacas magras já haviam passado, os velhos tinham se aposentado, os filhos estavam bem colocados: queriam mais era travestir-se de um ar nobiliárquico e apagar de vez , da memória de todos, aqueles passado de liseira. Vulpino, no entanto, fazia ouvidos de mercador. Preparava, com desvelo de ourives, o velho cigarro de palha que dependurava aceso em um dos cantos da boca, pegava a cesta grande, raceada com balaio,  e , num nem “escuto o barulho da mutuca”, partia para o Mercado, antes que os raios sanguíneos escorressem  como uma hemorragia na linha do horizonte.  Desde que se aposentara sempre fora assim. Cedinho trazia para casa frutas e verduras frescas , ainda com o cheiro de terra e de orvalho.
                                               Vulpino trabalhara na agricultura e o convívio com o multicolorido das frutas e verduras , o cheiro doce das primícias terrestres lhe traziam uma profunda paz à alma. Além de tudo, como todo velho, tinha um acordar madrugante e exasperava-se com a preguiça dos demais familiares. No mercado encontrava com os demais companheiros de geração e iam, pouco a pouco, entre um corredor e outro, colocando as fofocas em dia. E havia, ainda, inúmeras outras qualidades. O mercado fazia-se um lugar propício para as contravenções culinárias. Ali tomava o caldo de mocotó logo pela manhã, espantava o anjo da guarda com a primeira bicada de zinebra , com o tira-gosto de buchada ou sarapatel.  Naquele espaço inda não tinham sido descobertos o sal e  o colesterol . A rapadura e doce de leite nunca fizeram mal  ao diabetes. Ademais,  qualquer indisposiçãozinha transitória tinha, logo defronte, a barraquinha das meizinhas : marcela, ipepaconha, boldo, capim santo, hortelã...  Àquelas horas, todos os pecadilhos eram permitidos e nem adiantava os implicadores de sempre virem especular : nunca havia testemunhas de possíveis delitos cometidos. Valia a Lei da Omertà.
                                               Havia ainda uma outra grande atração no Mercado de Frutas. Sempre era possível ir se enxerindo para uma ou outra vendedora. Puxava-se conversa daqui, encomprida uma outra ali e, muitas e muitas vezes, reacendiam-se chamas que se imaginavam totalmente extintas, sufocadas em meio às cinzas dos anos. Vulcões inativos , remexidas placas tectônicas enferrujadas, voltavam a cuspir lava como nos tempos de Pompéia e Herculano.
                                               Por tudo isso, Vulpino não abria mão da viagem matutina. Percebia que vinha um pouco mais de verduras e frutas na cestinha, quando retornava do mercado. Trazia o mistério do frescor das fontes e da erupção súbita dos vesúvios extintos.
Crato, 24/04/14

segunda-feira, 21 de abril de 2014

"Progresso Social": BRASIL x BRICS

BRASIL já ultrapassou com folga a CHINA e a RÚSSIA nos “Indicadores de Progresso Social”, a saber:

1º - Suécia: 64,81 pontos;
2º - Reino Unido: 63,41 pontos;
3º -  Suiça: 63,28 pontos;
4º - Canadá: 62,63 pontos;
5º - Alemanha: 62,47 pontos; ...
18º - Brasil: 52,27 pontos; ...
32º - China: 47,92 pontos;
33º - Rússia: 46,89 pontos; ...
39º - África do Sul: 44,67 pontos;
43º - Índia: 39,51 pontos;
50º - Etiópia: 32,13 pontos.

Estudos internacionais já mostram que o Brasil descolou dos BRICS na redução da desigualdade e no combate à miséria. Segundo o novo “ÍNDICE DE PROGRESSO SOCIAL”, criado pela Harvard Business School, o Brasil é o que mais avança socialmente entre as economias dos BRICS. 

Em vez de analisar indicadores econômicos, entre eles o crescimento do PIB, o índice avalia resultados sociais e ambientais, usando fontes de dados do Banco Mundial e da Organização Mundial da Saúde. “O progresso social será crucial para a ambiciosa estratégia de desenvolvimento do Brasil”, diz o professor da Harvard Business School, Michael Porter, criador da metodologia. Porter trabalha em colaboração com economistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e importantes organizações internacionais de empreendedorismo social, de administração, filantrópicas e acadêmicas.





sexta-feira, 18 de abril de 2014

Colaboração de Eurípedes Reis


Ontem, faleceu o Gabriel Garcia Marquez, autor de diversos livros. Entre eles Cem Anos de Solidão, O Amor nos Tempos do Cólera, Memórias de Minhas Putas Tristes, A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada e Ninguém Escreve ao Coronel.
Existem centenas de frases escritas por ele. Em sua homenagem, destaco algumas:
·         Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade.
·         A sabedoria é algo que quando nos bate à porta já não nos serve para nada.
·         Tudo é questão de despertar sua alma.
·         A vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver.
·         Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo
·         O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança.
·         Te amo não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo.
·         Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.
·         Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma.
·         Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a este artifício conseguimos suportar o passado?
·         No dia em que a merda tiver algum valor, os pobres nascerão sem cu.
·         Você acredita em amor a primeira vista? Claro que sim! Os impossíveis são os outros!
·         Um verdadeiro amigo é alguém que pega a sua mão e toca o seu coração.
·         Deixe que o tempo passe e já veremos o que ele traz.
·         As mulheres só se entregam aos homens de ânimo resolvido, porque lhes infundem a segurança que tanto anseiam para enfrentar a vida.
·         Não chores porque terminou.
·         Acontece que a gente não sente por dentro, mas de fora todo mundo vê.
·         Se você pretende ficar louco, fique sozinho.
·         Aproveita agora, que és jovem, para sofrer tudo o que pode - lhe disse -, que estas coisas não duram toda a vida.
·         Um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
·         Te amo não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo.
·         Quando não escrevo, morro. Quando escrevo, também
·         Como escritor me interessa o poder, porque ele resume toda a grandeza e a miséria do ser humano.

Ele tinha 87 anos, ou seja, não “morreu fora do combinado”. Mas, sem dúvida nós humanos, sem sua presença, ficamos mais pobres. Pobres em cultura.

Gabriel


Pequena grande homenagem do jornal O POVO (de 18.04.14), ao poeta que se foi, ontem:

“SEM ANOS DE SOLIDÃO - Gabriel, depois de ler você, a humanidade nunca mais se sentiu só”.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

DESCOBRIMENTO DA ÍNDIA - José do Vale Pinheiro Feitosa

O Everest bem próximo a nós

Quem precisa atravessar continentes para pousar na Índia? Nenhuma noção do outro, da diversidade humana, da enorme diferença dos valores ocidentais pode ser maior do que encarar a própria cultura daqueles erroneamente chamados índios.  

Aqui mesmo nas florestas da América do Sul seria suficiente. Mas com dúvidas se isso é possível em razão do desmatamento e do avanço além das fronteiras em busca do látex da seringueira, do ouro e pedras preciosas, do capim das manadas bovinas. O ocidente plantou edifícios sobre a alma dos originários e diferentes povos deste novo mundo.

Então que se tome uma aeronave e pelos céus se cruze o Atlântico, a África, suba a Península Arábica e pouse em Délhi. Ao norte da Índia. A imensa, distinta, multiétnica, matriz de grandes civilizações, culturas e de tudo que se pode reconhecer como Oriente. Não do Oriente do mediterrâneo irmão siamês do Ocidente.

Do verdadeiro Oriente das planícies, dos planaltos, dos mares e da mais superlativa cadeia de montanhas da terra: o Himalaia. Em tudo diferente: desde os perfumes, sabores, das cores, dos olhares, das falas, escritas e artes. Raiz difusora de grandes e complexas misturas de religiões, códigos de viver, fazer história e inventar o futuro tais como o Hinduísmo e todas as suas imensas variações, o Islamismo, o Budismo e do outro lado das montanhas o Taoísmo e o Confucionismo.

E de repente todo o meu corpo se encontra nas ruas de Délhi, Katmandu, Calcutá, Siliguri e Darjeeling esta cidade já nas franjas do Himalaia. Planícies e montanhas. Rios sagrados que nascem nas alturas e fertilizam as planícies. A Índia é uma aventura de descobrimento e ruptura.

Descobre-se o oriente e a mais completa alteridade. E rompe-se com o circuito euro-americano do turismo de classe média brasileiro. Ainda bem que agora se voltando para a Turquia e o que restou das colônias gregas da Ásia Menor.


Falar na Índia como ritmo de desenvolvimento dos BRICS é menos do que se encontra uma vez se estando nela. Nenhum relato de viajante, imagens fixas ou móveis, literatura e artes pode dizer o que é se encontrar nas ruas e estradas da Índia. Faz parte daquelas coisas que se necessita respirar, comer, beber, andar e dormir para se entender a verdadeira dimensão.

Mafiosas "Excelências" - José Nilton Mariano Saraiva

Agora é oficial. Não se pode ignorar ou tergiversar.

O presidente do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE), desembargador Luiz Gerardo Pontes Brígido, mostrando ser uma pessoa corajosa e destemida, declarou hoje (15.04.14) à mídia cearense aquilo que todo mundo já sabia, mas evitava imiscuir-se em razão da gravidade de que se reveste a questão e do “peso” dos atores envolvidos: a “corrupção” corria livre, leve e solta nos “plantões” de finais de semana daquela corte (e que a grana disponibilizada era coisa alta e apetitosa), face envolver bandidos de alta periculosidade.

Para se ter idéia do alcance e magnitude do problema, sabe-se que, irmanados, servidores daquela corte, advogados e até dois desembargadores participavam da perigosa quadrilha. O bem montado esquema, visando principalmente beneficiar bandidos envolvidos com o tráfico de drogas e assassinatos, constava da apresentação de “alvarás de soltura” apenas e tão somente no decorrer dos “plantões” dos finais de semana, quando à frente dos trabalhos estivessem os “sortudos” desembargadores que chefiavam o bando.

Para se ter idéia do alcance e propósitos das mafiosas “Excelências”, enquanto em dias normais a média de concessão dos tais “alvarás de soltura” se situava na faixa de 15 ocorrências, durante os “plantões” de final de semana (principalmente à noite) esse número saltava para 70 liberações (fala-se que cada liberação não custava menos que R$ 100.000,00).

Lamentavelmente, já se sabe que face à brandura das nossas leis, o tal “segredo de justiça” prevalecerá e não teremos oportunidade de conhecer quem são os corruptos (já identificados e denunciados ao Conselho Nacional de Justiça).


Agora, aqui prá nós: se tínhamos o Poder Judiciário como um fiel guardião contra os excessos praticados com os menos favorecidos, a quem agora recorrer ???

terça-feira, 15 de abril de 2014

O "GIRO DA RODA" - José Nilton Mariano Saraiva

As recentes e oportunas postagens do Zé Flávio e do Carlos Esmeraldo tendem sinalizar para o tão almejado “recomeço” do Crato (e o seu despertar para uma nova era), porquanto provocadoras de reflexões e debates sobre os erros cometidos no PASSADO e o que poderá ser feito HOJE na perspectiva de que tenhamos  algum FUTURO. 

De um lado, o Zé Flávio foca sua análise no saudosismo e pessimismo dos cratenses, deixando transparecer terem sido fatores determinantes e responsáveis pelo estado de hibernação que acomete a cidade já há uns 40 anos; aproveita a oportunidade e nos chama a atenção para a necessidade do estabelecimento de metas que representem a vocação da cidade, sugerindo cuidados com a Cultura e a Ecologia.

Já a vertente ofertada pelo Carlos Esmeraldo, além de reforçar o explicitado pelo Zé Flávio, basicamente nos direciona à necessidade de “união” do povo cratense em prol da cidade.

Particularmente, entendemos que há, sim, perspectiva de reversão do quadro, desde que nossa população se conscientize da necessidade de engajar-se mais efetivamente nessa luta.

Afinal, como negar que o Crato chegou a esse deplorável estado de paralisia em razão da irresponsabilidade do seu povo no momento de usar sua arma mais importante, o voto.

Sim, porque optar por um quadro político sem nenhum vínculo ou comprometimento mais sério com a cidade (nas eleições proporcionais), ou que na eleição majoritária (prefeito) escolha o candidato levando em conta a tal “tradição famíliar”, como recentemente fez o nosso povo, é algo imperdoável (assim como escolher pessoas despreparadas e que objetivam apenas “se fazer” na política, é crime).

Como mostrou o Carlos Esmeraldo em sua postagem, é através de uma representação política atuante e unida que conseguiremos a tão sonhada alavancagem da economia, E isso representa o quê ??? Ora, implantação de indústrias e atração de empreendimentos comerciais de porte, com a conseqüente criação de empregos, geração de renda, aumento do consumo, movimentação do comércio e, alfim,  benefícios para a cidade, via recolhimento de impostos e taxas. Assim, aumentando sua base arrecadadora, o poder municipal terá condição de investir em novos planos e projetos, que decerto beneficiarão a cidade e seus habitantes. A isso se deu a alcunha de o “giro da roda”. Portanto, façamos a “roda girar”, no Crato, e o resto virá em conseqüência.

Claro que, como mostrou o Zé Flávio, a chegada do progresso tem sua porção dicotômica (ônus-bônus, positivo-negativo e por aí vai), comumente deixando seqüelas, tipo aumento da criminalidade e de roubos, transito caótico e demais mazelas. E aí surge o grande dilema: crescer e se sujeitar a isso tudo (já que decorrência desse mesmo progresso) ou ficar “deitado eternamente em berço esplêndido” (à espera que as coisas aconteçam naturalmente), abdicando do desenvolvimento e tornando-se uma cidade dormitório (como o é o Crato hoje), onde apenas um restrito grupo de pessoas se beneficia. Mas, se optarmos por isso, como o poder municipal arranjará dinheiro até para saldar sua folha de pessoal  ???

Urge, pois, que comecemos a mudar o jogo, via realização de seminários e debates, objetivando “acordar” os habitantes da cidade no tocante a influencia do seu voto quando da escolha dos que nos representação nos mais diversos foros .

Em suma: para nos catapultar do marasmo vigente, educação, política e economia se nos afiguram como complementares e necessários, porquanto essenciais numa possível retomada de crescimento.

Post Scriptum


“Educando o jovem não será necessário punir o homem” (autor desconhecido). 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

NA MINHA RUA CABEM TODOS OS SONHOS URBANOS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Com alguma dúvida vou meter minha colher nos textos dos queridos Zé Flávio e Carlos Eduardo. A dúvida parte da própria ausência na maior parte da história da minha cidade. Saí daí para estudar fora e nunca mais voltei para ficar mais do que uma semana. Portanto sou uma peneira incapaz de reter a realidade do território da minha própria natalidade.

Mas eles mesmo me deram elementos. Deixaram-me a impressão que a chamada conurbação implica em aprofundar mais do que um conflito histórico. Na cara que até hoje pairam lembranças da guerra entre Juazeiro e Crato ainda no início do século XX. Mas esse conflito pode implicar outra questão.

Ao invés de um conflito explícito, há implícito a negação de que uma única cidade não é suficiente para representar o que o território conurbado é. Inclusive é muito interessante esses aspectos pois as regiões metropolitanas trazem espaços dedicados como zonas comerciais, industriais, parques e lazeres, regiões dormitórios, zonas ricas e zonas pobres.

Mesmo assim os espaços dedicados estão cada vez mais se desfazendo por um processo de integralidade urbana em que se misturam todas as funções necessárias na vida urbana. Quer dizer no mesmo território se mesclam comércio, empregos, moradias, lazer e assim por diante.  

Quero dizer que a conurbação leva consigo o desejo da integralidade urbana. As cidades que a compõem serão interpenetradas pela mobilidade urbana, dependerão de suprimentos essenciais na escala conjunta e a vocação nunca será um fenômeno per si. Ela sempre dependerá das necessidades e demandas conjuntas.

Por isso mesmo o próprio conceito de metropolização e conurbação se deita na capacidade de se compor a realidade conjunta através da identificação, do planejamento e consecução da integralidade de serviços e necessidades onde as pessoas vivem e trabalham. Essa é a grande questão.


A grande questão é descentralizar, espalhar equipamentos urbanos em todas as cidades e bairros. Romper concentrações, especializações e vocações. Todos os sonhos urbanos cabem na rua em que as pessoas vivem. Quem na minha cidade não tem consciência da situação desigual entre o Bairro Gisélia Pinheiro quando comparado um bairro de classe média? 

domingo, 13 de abril de 2014

O que nossos vizinhos pensam do Crato? - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Longe de mim o desejo de fomentar a rivalidade latente entre Crato e Juazeiro. Primeiro por que fui dirigente regional da Coelce em Juazeiro durante 15 anos. E ao retornar para Fortaleza, onde originalmente eu era lotado, sai de Juazeiro com muitos amigos e a maior das honrarias que um cratense poderá ter granjeado na vizinha cidade: o título de cidadão juazeirense. Segundo o coronel José Ronald de Brito, apenas cinco cratenses possuem tamanha distinção. Nesses 15 anos de convivência com os juazeirenses, somente ouvi deles palavras de admiração pelo Crato.

Vi em Juazeiro um povo dedicado ao trabalho, que luta para conseguir as benesses para sua terra. Para tanto, toda a comunidade unida se faz representar pelas suas lideranças políticas e de classes. Certa vez, eu testemunhei pessoalmente, uma caravana de juazeirenses composta de todos os seus representantes: deputados federais e estaduais, prefeito, vice-prefeito, vereadores, presidente de Associação Comercial, clubes de diretores lojistas e de serviços visitando o governador do Estado, a fim de solicitar para Juazeiro a sede regional de um órgão público. Jamais tomei conhecimento de movimentação semelhante dos nossos conterrâneos em benefício do nosso querido Crato. Convém lembrar que a pressão de um grupo é muito mais produtiva do que uma voz solitária.

Desejo deixar bem claro que particularmente eu concordo com parte das opiniões de um jornalista de Juazeiro, abaixo transcrita e que espero ser um palpite isoldado.

"---- assim como o povo do Juazeiro é responsável pelo progresso do Juazeiro, o responsável pela paralisia de Crato é o próprio povo de Crato - - - Cada cidade tem sua alma, seu espírito.  Desenvolvimento é resultado do espírito de um povo. O do Juazeiro é de trabalho e progresso, enquanto o de Crato é de diversão e lazer."

Finalizando, gostaria que o povo cratense tomasse conhecimento dessa declaração e se unisse para trabalhar pela nossa terra. Para tanto temos que formar novas lideranças, esquecendo que candidatos a cargos políticos de outras regiões não têm nenhum compromisso com o Crato. Tenho certeza que a coisa não está perdida.

Conforme recente análise realizada pelo competente médico e escritor cratense Dr. José Flávio Pinheiro Vieira, o  IDH do Crato, índice que mensura os indicadores de longevidade de um povo, sua qualidade de vida, de educação e renda, somente fica atrás do de Fortaleza e praticamente empatado com Sobral, que é o segundo colocado. E o Dr. José Flavio acrescenta: "Queiramos ou não, vivemos num éden".

Finalizando sua análise, o Dr. José Flávio conclui que devemos centrar nossas atenções em nossa vocação de centro irradiador de cultura e capital ecológico. O caminho é esse ai. Vamos à luta!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A Treva e o Arco-Íris




Existem momentos na vida onde
 a questão de saber se se pode pensar
diferentemente do que se pensa,e perceber
diferentemente do que se vê,
 é indispensável para continuar
 a olhar ou a refletir.

J. Flávio Vieira
                                    Há dois sentimentos correlatos  que pairam , como uma nuvem  negra, sobre a cabeça dos cratenses. De um lado , o Saudosismo crônico, perceptível, claramente, nas gerações mais antigas. Estas pessoas viveram,  plenamente, aquilo que se considera o apogeu da Vila de Frei Carlos: os três primeiros quartéis do Século XX. Conheceram uma cidade cônscia do seu passado glorioso, com  seus múltiplos pioneirismos : O Araripe, primeiro Jornal do interior do Ceará ( 1854); a nossa centenária Banda de Música; o Cinema Paraíso (1911), o primeiro do interior do Nordeste;  a primeira instituição educacional do interior do Ceará, o Seminário São José ( 1875); D. Bárbara do Crato, a primeira heroína brasileira; o Hospital São Francisco, primeiro de todo Sul Cearense. Saltam ainda aos olhos figuras históricas de porte nacional, nascidas, formadas ou criadas nas margens do nosso Rio Grangeiro :  o pintor Vicente leite; o cineasta e diplomata Hélder Martins;  o Senador Alencar; Tristão Gonçalves; os escritores Ronaldo Correia de Brito, Batista de Lima, Fran Martins; os cineastas Hermano Penna, Rosemberg Cariri, Jéfferson Albuquerque Júnior;  os poetas Zé de Matos, Cego Aderaldo, Geraldo Urano; o semeador de universidades , Martins Filho; o escultor Sérvulo Esmeraldo; místicos como o Padre Cícero e o Beato Zé Lourenço,  isto apenas para citar alguns.
                                    O outro sentimento que se junta ao nosso saudosismo inveterado é, certamente,  o  Pessimismo. Ele advém do destino tomado  por nossa vila, nos últimos trinta anos.  Os amantes do Crato carregam um certo complexo de inferioridade, um certo travo, quando percebem, claramente, que  se comparados, em termo de progresso, com outros municípios próximos , aparentemente ,  temos murchado e não mantivemos o mesmo ritmo de Juazeiro, Barbalha, Brejo Santo.  Atiram-se farpas para tudo quanto é lado, procurando culpados, principalmente na área política, pela suposta hecatombe. E traçam-se estratégias esquisitas , na busca de um remédio para a hemorragia , como copiar o Turismo Religioso do Juazeiro, atraindo os romeiros, construindo estátuas gigantescas que rivalizem com as do Padre Cícero. Ora, as cidades, como as pessoas,  têm sua própria  vocação .  Inclinações não se criam do nada, pela simples vontade, de um ou outro cidadão. Seria como um pai , tendo um filho com tendência natural para o comércio, tentar fazê-lo maestro de orquestra sinfônica.  Seria possível ?  Talvez, mas sem aptidão  inata, jamais se transformaria num Beethoven ou num Chopin.  
                                   A visão do  desfalecimento do Crato é vesga. Observamos apenas com um olhar profundamente capitalista.  Interessa-nos o olhar frio dos livros de Economia. Mesmo que aumentássemos imensamente o nosso PIB, o benefício viria para todos, ou apenas para a pequena parcela de ricos e afortunados ? Sempre tivemos uma vocação Cultural e ecológica por conta da nossa Chapada Nacional do Araripe. O progresso o que nos trouxe ? Só benefícios ? Em nome dele , desmatamos profundamente nossa reservas, poluímos nossos rios, destruímos todo o nosso patrimônio arquitetônico. O povoamento desordenado das encostas tem trazido prejuízos difíceis de se avaliar. Vale o progresso a todo custo ? O aparente desenvolvimento das cidades circunvizinhas( na realidade uma inchação) tem trazido junto seus imensos efeitos colaterais : trânsito caótico,  colapso na infra-estrutura, violência crescente.
                                    O último Índice de Desenvolvimento Humano no Ceará(IDHM) mostrou que perdemos apenas para Fortaleza , ficamos em terceiro no estado, empatados praticamente com Sobral ,que ocupa o segundo lugar.   Este índice mede três indicadores básicos : longevidade, educação e renda. Queiramos ou não, vivemos num éden. Hoje, com as grandes cidades caririenses  praticamente conurbadas ,  havendo um contínuo fluxo entre elas, há necessidade de buscarmos  este progresso a qualquer preço, sob risco de piorar a qualidade de vida dos nossos habitantes ? Por que não alimentarmos nossa vocação natural, centrando nossas atenções na Cultura da nossa terra e na nosso imenso capital  ecológico ?  Talvez o saudosismo e o pessimismo que invadem a alma dos cratenses dependam apenas  do ângulo para onde focamos nosso olhar:  se deste lado há treva, do outro corre um rio cristalino e um arco-íris circunda os céus.

Crato, 11/04/14