por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 31 de março de 2011

A calçada dos Piancós


--- De que adianta ainda continuar vivendo, meus filhos? Nem mais no Crato, eu moro !

Quando o velho Felinto pronunciou aquela frase, os filhos quase que piraram. Já vinham percebendo que, depois dos oitenta, o pai decaíra, andava mais capiongo e ensimesmado. Logo ele que sempre se mostrara tão expansivo e, até então, enfrentara os ataques inexoráveis do tempo com galhardia e bom humor! Acreditaram que devia se tratar de alguma depressão – um dos demônios da velhice – já que, recentemente, Felinto havia perdido a esposa e um dos seus amigos mais diletos: Sampson. Ficara como um Mateu sem Catirina , sem Mestre e sem Jaraguá. Como encontraria forças para brincar o Reisado da vida? Aquela frase, no entanto, feriu os tímpanos dos familiares : a depressão talvez fosse apenas um dos acompanhantes do séquito terrível da demência. Felinto , desorientado, dava mostras que nem mais percebia que estava na sua cidade querida, companheira dileta de toda uma vida! Com o passar dos dias, no entanto, os filhos se tranqüilizaram um pouco. Embora Felinto permanecesse sorumbático e pensativo, não mais demonstrou sinais de desorientação. Claro que poderia ter se tratado de um curto circuito , um daqueles que frequentemente antecedem a explosão final das turbinas da lucidez. Os filhos, então, se aproximaram mais do velho e insistiram , dia após dia, em testes de memória. O pai foi aprovado em todos com distinção e louvor, como se dizia na juventude dele. Um dia, por fim, conseguiram , com alguma relutância, uma declaração de Felinto que terminou por demonstrá-lo mais vívido e sábio como jamais pensariam. Terá sido, quem sabe, o clima proporcionado por aquela noite de lua cheia, confidente e cúmplice das peripécias do nosso Felinto desde os tempos mais remotos. O certo é que , como no teatro, com iluminação perfeita, nosso candidato a gagá desembuchou seu monólogo. Tivera, até ali, uma vida longa e feliz. Uma pitadinha de sucesso, algumas gotas de fracasso, muitas xícaras de desejos, colheradas de prazeres, copos de dissabores... Mas foi com esses ingredientes que conseguiu montar a palatável receita da sua existência. No outono e inverno dos seus anos, no entanto, começou a perceber que o bolo começara a azedar e, quiabando dia após dia, terminou nos últimos meses a se tornar intragável. Olhando para trás, pelo retrovisor, percebeu claramente que a morte , como um curare nos vai paralisando paulatinamente: o fim instala-se a crédito. E foram muitas e muitas mortes no último quartel : o tesão, a mobilidade, a saúde, a esperança, o vigor físico, a esposa e o amigo de todos os momentos: Sampson. Com a velhice ele se transformara numa coisa obsoleta. Já não falava a língua dos jovens e, pior, os últimos remanescentes do seu idioma haviam todos respondido à chamada inexorável da velha da foiçona. Como uma vitrola imprestável servia apenas à curiosidade pública. Via-se como uma peça de museu, exposta periodicamente à visitação . Tantas mortes seguidas e continuadas o tinham abatido, mas nada fora tão forte como a percepção que tivera há uma semana. Lembrou do Crato da sua juventude, procurou-o vila afora e simplesmente não mais o encontrou. Onde estava encantada a cidade encantada que conhecera algumas décadas atrás? As casas coladinhas uma na outra, aconchegadamente, sem muros, quem imaginaria se transformariam nos presídios de segurança máxima da atualidade? Os vizinhos eram quase que familiares que moravam num outro quarto da casa. Estavam sempre próximos e havia uma contínua troca de pequenos favores de lado a lado. A televisão e o rádio de algum morador mais abastado eram objetos de uso comunitário. Claro que as fofocas pululavam na vilazinha de muro baixo, mas nada se compara à frieza e à indiferença dos dias atuais. As calçadas eram uma extensão da casa, uma espécie de Centro de Convenções da família, ainda não tinham sido açambarcadas pelas ruas, pelos postes, pelas placas de propaganda. As ruas, então muitas ainda sem calçamento, faziam-se o playground das crianças, o parque de diversão da molecada: o palco do pião, da bila, da bandeira, do chicote queimado, do pega, da bola. Não haviam ainda sido invadidas pelo carro e pela moto. Os cinemas , cujo escurinho fora cúmplice de namoricos e apalpadelas, haviam fechado as portas. Os clubes sociais sobreviviam às custas de bandas de forró com sua apologia única e repetitiva à cachaça e à raparigagem. Naquele dia chegara à conclusão aterrorizante e definitiva : já não moro mais no Crato! Suportou até a ação do apagador do tempo sobre sua história, mas pareceu-lhe insuportável quando a isso se associou o extermínio puro e simples da geografia. Tanto que avisou aos filhos: não sei se vale a pena esperar a cobrança da última prestação, estou pensando, seriamente, em me adiantar e saldar antecipadamente a minha dívida para com a morte. Os filhos de Felinto entenderam as razões do pai e decidiram respeitar o curso de colisão que tomara, afinal sempre fora um ótimo e destemido timoneiro. Ontem, no entanto, no jantar, Felinto pareceu, estranhamente, mais alegre e palrador. Disse aos parentes que desistira da derradeira empreitada. Recobrara as forças. Para uma récua de filhos incrédulos ele explicou a súbita guinada que dera no Titanic da sua existência, já indo em direção do iceberg . Passara na Caixa D´água nestes dias e tivera uma visão consoladora. Estava lá , triunfante, a Calçada dos Piancós. Todos sentados, à noite, com suas cadeiras do lado de fora, contando as últimas e mais picantes novidades da cidade, juntos com muitos amigos. De um lado a TV ,ligada à tomada por uma gambiarra, transmitia um fabuloso Fla-Flu, em pleno calçamento. Corria uma cervejinha solta e , a um canto, um dos meninos assava uma carninha numa churrasqueirinha de roda de fusca. Felinto, imediatamente, banhou-se na alegria de outrora.Parecia Noé ao avistar a pomba com o galho de mato no bico. Restava ainda uma esperança. Nem tudo estava perdido.

--É preciso avisar ao IBAMA, ainda existem os últimos exemplares da espécie mais ameaçada de extinção nos dias de hoje: Gente, gente de carne e osso !


J. Flávio Vieira

Consciência ecológica - Por José de Arimatéa dos Santos

Interessante o que está acontecendo no mundo inteiro a respeito da defesa do meio ambiente e um dos motes de tudo isso recai sobre a economia de energia. Vários fatores são preponderantes para cada cidadão fazer sua parte e se conscientizar da participação nesse processo. É importante analisar friamente cada ato nosso em relação aos recursos naturais que usamos diariamente. Em relação a isso já tem muito país a fora que só compra carne ou outros produtos advindos de regiões que preservam o seu meio ambiente. Sensacional.
Aqui no Brasil o desmatamento e a falta de proteção aos nossos rios sempre foi fato recorrente. No Brasil dos anos 70 e na amazônia principalmente é célebre aquela frase: "Integrar para não entregar". Simplesmente propaganda oficial para a destruição das matas para o "progresso". Nisso indago: - Que progresso é esse? Quem realmente se beneficiou da derrubada e exploração irracional dos recursos naturais? Desse jeito o caminho é a derrocada final da existência humana na terra. Pode parecer exagero, mas as consequências ecológicas com catástrofes e tragédias são acontecimentos que dia após dia se avolumam no noticiário.
A consciência ecológica demanda atitudes de defesa da vida nossa e dos que estarão aqui no futuro. Atitudes que tem a ver com o cuidado com as florestas, com o nosso lixo, com o uso correto da água e o estudo do clima. Ainda bem que nas escolas já está arraigado o necessário e importante processo de começar a educação ambiental com as criancinhas que estão nos seus primeiros anos de banco escolar. As crianças têm o dever de cuidar quando adultos e certamente cuidarão desse planeta bem melhor que nós. Espero que nossos congressistas se inspirem nas crianças e usem do bom senso na votação do novo Código Florestal. Consciência ecológica é a preservação do meio ambiente e consequentemente conservação da vida.
Texto e foto: José de Arimatéa dos Santos
MULHERES... PORQUE AMÁ-LAS
Esta noite, como se eterna fosse,
De improviso, em canto doce,
Apenas busco a voz, mas perco a fala;
Há tantas mulheres, em meu redor,
E apenas quero amá-las.

Há nesse improviso o fervor do verso
Tangível o riso, mas que a noite cala,
Como se mudasse o rumo do universo.
A mulher... nessa noite, só quero amá-la.

Cinge meus olhos a infância perdida,
Mas minh’alma ainda assim não se abala.
Foge, furtiva para os jardins,
Buscando flores, desmanchando pétalas
E, ao vê-las, sonha rosas,
Vermelhas, túrgidas, amarelas,
Quem sabe cravos, rosas dálias...

Mulheres, nesta noite,
Eu só quero amá-las.

Minha homenagem às mulheres, neste mês de março, pelo brilho  que esprestam às nossas vidas. Que vivam as mulheres! tim tim.

Para Verônica

São Paulo, 27.03.2009


Verônica, quero te dar outro presente.

Não igual àquele. Diferente, consistente...

Uma mistura de terra e de semente

que faz coisas boas brotar na gente.


Minha dádiva para ti é somente

um poema que começou tímido, latente,

pareceu morrer mas, de repente,

vigou com força e agora existe.


É para ti, minha amiga, eternamente

um símbolo do nosso laço, passado e presente.

Servirá para amenizar a saudade dolente

e para reviver momentos belos e marcantes.


Por fim, um mimo escrito carinhosamente

do fundo do meu íntimo sobrevivente

das mazelas que meu peito sente

por causa da distância que separa a gente.


Prosa e Verso "No Azul Sonhado"- Vários Autores






Concluímos primeira, segunda e terceira revisão.
Diagramação e capa, em vias de conclusão
Edição
Revisão gráfica
Impressão
Lançamento.-16.07.2011




Relação de autores:
1.Aloísio Paulo
2.Assis Lima
3.Bernardo Melgaço
4.Carlos Esmeraldo
5.Wilton Dedê
6.Domingos Barroso
7.Edmar Cordeiro
8.Francisco das Chagas
9.Geraldo Ananias
10.Geraldo Urano
11.Isabela Pinheiro
12.José Flávio Vieira
13.João Marni
14.João Nicodemos
15.Joaquim Pinheiro
16.Emerson Monteiro
17.José Carlos Brandão
18.José Nilton Mariano
19.Mara Thiers
20.Liduína Belchior
21.Luís Eduardo
22.José do Vale Feitosa
23.Lupeu Lacerda
24.Magali F.Esmeraldo
25.Manoel Severo
26.Marcos Barreto
27.Marcos Leonel
28.Tetê Barreto
29.Nilo Sérgio
30.Pachelly Jamacaru
31.Abidoral Jamacaru
32.Roberto Jamacaru
33.Pedro Esmeraldo
34.Rejane Gonçalves
35.Rosa Guerrera
36.Luiz Pereira
37.Stela Siebra
38.Tiago Araripe
39.Ulisses Germano
40.Vera Barbosa
41.Corujinha Baiana
42.Everardo Norões
43.Cristina Diogo
44.Telma Brilhante
45.Socorro Moreira


Diagramação: Luiz Pereira
Prefácio: José Flávio Vieira
Orelha: José do Vale Feitosa
Dedicatória: por Tiago Araripe ( homenageando J. de Figueiredo Filho e Patativa do Assaré)
Foto da capa: Pachelly Jamacaru
Revisores: Stela Siebra e Luís Eduardo
Edição: catadoradeversos.blogspot.com – “No Azul Sonhado”

Tiragem: 500 exemplares

225- (cinco p/autor)
25- P/divulgação
250- será colocado à disposição dos autores (quota extra), colaboradores e leitores,  pelo preço mínimo de 12,00
Despesa com a edição: 4.000,00 ( estimativa próxima)
*Alguns autores já fizeram suas reservas.
E-mail: sauska_8@hotmail.com



O "analfabeto" e "doutor honoris causa" - José Nilton Mariano Saraiva

A tradicionalíssima Universidade de Coimbra (Portugal) foi criada em 01/03/1290 (há mais de 700 anos, portanto), e é uma das maiores instituições de ensino superior e de pesquisa do mundo. Em seu portfólio curricular oferece todos os graus académicos em arquitetura, educação, engenharia, humanidades, direito, matemática, medicina, ciências naturais, psicologia, ciências sociais e desportos. Devido à excelência do ensino ofertado, possui aproximadamente 22 mil estudantes, abrigando uma das maiores comunidades de estudantes internacionais em Portugal.
Pois foi essa legendária Universidade, por sugestão unânime do seu corpo diretivo, que resolveu conceder ao “despreparado” e “analfabeto” brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o título de “Doutor honoris causa”, em reconhecimento ao profícuo trabalho nos oito anos em que respondeu pela Presidência da República do Brasil, oportunidade em que consolidou-se e foi reconhecido como um dos maiores estadistas do mundo.
Fato é que, nunca dantes na história de Coimbra, houve uma cerimônia tão concorrida, já que todos os seus grandes doutores (acadêmicos consagrados em todo o mundo) estavam lá, incluindo Gomes Canotilho, Castanheira Neves, Coutinho de Abreu e Boaventura de Souza Santos, dentre outros. Na oportunidade, fizeram questão de justificar tal concessão, conforme transcrições abaixo.
Joaquim Gomes Canotilho, professor de Direito da Universidade de Coimbra: “Enquanto presidente, Lula levou a mensagem da promoção da paz a todos os fóruns do Mundo. Ostenta já várias condecorações e honrarias, nacionais e internacionais, mas temos a honra de a Universidade de Coimbra ser a primeira a conferir o grau de doutor “honoris causa” ao cidadão Lula da Silva”. O professor aproveitou para destacar o significado simbólico deste reconhecimento: “É um cidadão do Mundo, um estadista global, um lutador contra a miséria, a fome e a desigualdade. Afirmou-se como engenheiro da paz e da justiça. Deu sempre ressonância mundial à língua portuguesa. O grau de doutor sobre proposta da faculdade de direito é a expressão simbólica da sua imensa sabedoria. Peço-vos, por tudo isto, magnífico reitor, que ordeneis a imposição de insígnias doutorais ao eminente humanista e homem de estado aqui presente, o ex-presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva”, concluiu.
Já Coutinho de Abreu, também professor de Direito de Coimbra, foi mais incisivo e contundente: “Longo é já o tempo em que Lula da Silva, sem nunca deixar de aprender, vem ensinando na Universidade-Universalidade. Ensinando-fazendo, fazendo-ensinando, tentando, com muitos mais, melhorar o mundo. Se Lula tem dado tanto, inclusive a Portugal, é justo que a cidade de Coimbra também aberta ao Mundo, à cooperação entre os povos e à interação das culturas, no respeito pelos valores da independência, da tolerância e do diálogo, dê a sua mais alta distinção a Lula”, resumiu Coutinho de Abreu, concluindo com a afirmação de que esta distinção é “o profundo reconhecimento a um homem persistentemente generoso e solidário”.

O Curso do Céu - José do Vale Pinheiro Feitosa




Vagaroso,
o tampão do dia escorregou,
atrás das montanhas azuis
da minha distância.

Quando me dei conta,
a luz do dia,
escoava inteira por ali,
no esgoto da existência.

Enquanto,
ouro de frontispício,
avermelhava-se o canto,
do escoado dia.

Secava,
toda a luz existente,
do recipiente do céu,
escuridez figurada.

E neste instante,
do fusco do perdido claro,
o céu era via láctea,
um novo luminar.

Sutil,
subentendida sabedoria,
silente verdade,
contemplativa nuance.

E o céu,
preenchido de vaga-lumes,
retirada de galáxias,
girou.

E no outro lado,
a monção de luzes,
vidente resplandeceu,
os poros da pele.

Não sempre,
alternada com a sutileza,
entre a paga da vida,
e a vida paga.

Paracuru, 6 de agosto de 2010.


Relembrando uma história de amor : a música dos meus pais!



Ruth Escobar


Maria Ruth dos Santos Escobar (Porto, 31 de março de 1936) é uma atriz e produtora cultural luso-brasileira.

PARTIDA DE XADREZ - por Ulisses Germano


Xadrez confecionado pelo casal artista Lulu Lacerda e Pebinha (genios naquilo que fazem!)


'Tava jogando xadrez
E o meu peão desalmado
De passagem se desfez
E um tal bispo safado
Deu entrada para um xeque
Que bem cedo abriu o leque
Deixando meu reino atado

Não deixei nada por menos
E avancei na mesma linha
E com todos os venenos
Deixei o bispo na rinha
Ele então baixou a guarda
E temendo a retaguarda
Não comeu minha rainha

Ufa! Vi que o adversário
Blefava no sacerdócio
E que o meu reino corsário
Tinha que sair do ócio
Então saltei do cavalo
E num leve intervalo
Infligi novo negócio

Avancei o peão da dama
Com a torre ele veio
Fiz um roque como trama
Uma forma de entremeio
Projetei uma jogada
Juro! Não foi marmelada
O meu xeque-mate veio!


Dedicado ao amigo e parceiro raro do xadrez Pebinha que por uma "peinha de nada" do tempo quase que a gente ia jogando novamente!