por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dos Grifos - Marcos Leonel



Assinalar como inconfundível
A trapaça da presença camuflada
Das gruas ante o pulo dos desesperados

Assinalar como irrefutável
A carcaça da ausência alimentícia
Do microondas bipolar posto na sucata

Assinalar como imensurável
A velha rua que sobrevive ao eterno
Apenas com verdades banais

Assinalar como praticável
Tudo aquilo que se destitui facilmente
Das qualidades essenciais

Assinalar como insuportável
A falta de subversão na resistência
E no formol da organização cultural

Não esquecer jamais
Que a verdade é a maior entre
As maiores sabotagens da ciência


por Marcos Vinícius Leonel



 

tem dia
que o único som possível
é blue

(Lupeu Lacerda)

UMA CRÔNICA POÉTICA DE MÁRIO QUINTANA- Por Stela Siebra Brito




A poesia de Mário Quintana registra um profundo humanismo; seu lirismo é carregado de ternura, intimismo, melancolia e humor irônico. Quintana faz, de pequenas coisas, belos e singelos poemas. Registramos aqui um poema em que a memória do poeta o transportou para um tempo passado, de infância certamente, cheio de acontecimentos na rua, na vizinhança, na família, “pequenas vidas / pequenos sonhos”.
São os cantares de Quintana, que na visão poética de Manuel Bandeira não são cantares, são quintanares: (...) “Quinta-essência de cantares... / Insólitos, singulares... / Cantares? Não! Quintanares”.
Eis o poema/crônica:

CRÔNICA

Sia Rosaura tirava a dentadura para comer
Por isso ela tinha o sorriso postiço mais sincero da minha rua
Dona Maruca fazia uns biscoitinhos minúsculos, estalantes e secos, chamados mentirinhas
Eduviges era pálida e lia romances lacrimosos de Perez Escrich
Tanto suspirou em cima deles que acabou fugindo com um caixeiro viajante
O tempo se desenrolava como um rio por entre as casas de porta e janela
Pequenas vidas
Pequenos sonhos
Na noite imensa as estrelas eram como girândolas brancas que houvessem parado
Sentados à porta
- dois santos, dois mágicos, dois sábios –
meu velho Tio Libório e o velho farmacêutico
propunham-se e compunham charadas
que depois orgulhosamente remetiam sob nomes supostos
para o grande anuário estatístico recreativo e literário da capital do Estado

Adolescência - Por Joaquim Pinheiro




A ADOLESCÊNCIA PERMANECEU

Começamos a adolescência no período da foto, tirada em Salvador, 1964. Graças a Deus, a fase continua até hoje. Pelo menos me senti assim nos dias que passei no Crato e reencontrei colegas da época.
Vera, Socorro, Rosineide, Sérgio, Francíria, Vilani Luna, Regina e Stela, foi ótimo reencontrar vocês e, mais ainda, perceber que mudaram muito pouco. Diferenças mínimas para as imagens dos anos 60 gravadas na minha memória. A foto é uma prova disto.

SOBRE CONDENADOS E CONDENAÇÕES - por José do Vale Pinheiro Feitosa


No inferno ou na cadeia. Em ambas as condenações. A pagar penas. E quem cumpre pena não corrige o erro, apenas executa outra coreografia composta para interditar o erro potencialmente possível. E no calor do inferno ou na apnéia das grades o que voga não é o erro ou sua correção, mas os dias sob tutela.

Perguntou-me: isso é prisão ou inferno? Não sei, apenas uma ideia vaga das normas, dos padrões de qualidade; como uma ética profissional ou a estética dominante. Queres o exercício? Torne-se um condenado. Às grades, ao fogo que forja e à forma que modela.

A condenação é parte da educação para o coletivo, não é? Sempre foi e será. Quando se diz Deus, não é da unidade fundida, mas da unidade coletiva que se fala. E o inferno é apenas a pedagogia da palavra de Deus. A cadeia é a filial deste no arranjo dos prepostos no ordenamento cotidiano.

A qualidade, a excelência, a produtividade, o grau de satisfação, a demanda são mandamentos de Deus. Que a felicidade navegue nas tempestades de novos portos. Quando a fugacidade é parte do desejo elástico e as coisas sem limites são apenas a expressão da fronteiras móveis.

Então se o inferno e a prisão são a didática dos mandamentos de Deus, onde de fato existe o mundo? Onde fica o mundo tal e qual é? Fora da criação. Na liberdade que é o invento, pois este é o aperfeiçoamento da criação nas pernas, braços e mente do condenado.

Mas se a cada um cabe a liberdade do invento, como haverá o coletivo? Não haverá. O coletivo deixe para lá. O conjunto não será a nossa matemática. Esqueça a matemática. Nem a imitação se considerará. Não evite o erro ou se limite ao acerto, lembre que o outro neste par de danças tem o próprio ritmo.

Mas quanta anarquia! O caos é o átomo da liberdade; a incerteza as moléculas do amanhecer e a superação as proteínas da vida. Todo humano antes da condenação tem em si átomos, moléculas e proteínas. Quando a criação se impõe perante a maioria, só restam aos condenados a visão das grades e o calor da chamas.

por José do Vale Pinheiro Feitosa

Somos assim,
cachorro-poeta...
farejando beleza na escuridão.
Não temos medo da morte,
nem temos pressa (que é inimiga da beleza)
das migalhas que recolhemos
construimos castelos e reinados...
com as notas da cítara
derrubamos muralhas
não há o que temer
(a não ser o medo)

MARIO ROSSI - por Norma Hauer


MAIS UM CENTENÁRIO EM 2011

Foi em Petrópolis que, no dia 23 de maio de 1911, nasceu, o compositor, letrista e poeta MÁRIO ROSSI.

Depois de exercer postos no Exército, em sua terra natal, veio para o Rio em 1935 e já no ano seguinte, conhecendo o compositor Gastão Lamounier, com ele compôs as valsas "... E O destino Desfolhou" e "Assim acaba um Grande Amor, ambas gravadas por Carlos Galhardo, na Odeon.
Na mesma época, conheceu Albênzio Perrone, francês de nascimento, mas intérprete brasileiro, e com ele gravou "Suave Poema de Amor","Como és Linda, Querida, Sorrindo"; "A Quem Culpar, Afinal?"...

Foi com Roberto Martins que Mário Rossi mais se entrosou, podendo-se destacar da dupla:"Renúncia"(primeiro grande sucesso de Nelson Gonçalves); "A Valsa dos Noivos";"A Saudade é um Compasso Demais"; "A Valsa dos Noivos";"Perdão, Maria"; "Rei Vagabundo";"Adeus"; "Volta Para Mim"; "Bodas de Prata";"Perfil"...

Para destacar uma composição da dupla, coloco aqui a letra de "BRINQUEI DE AMOR", gravada por Carlos Galhardo:

BRINQUEI DE AMOR

Brinquei, brinquei de amor...
E a conseqüência foi todo o mal que me fez.
Zombei, zombei da dor
E chorei ao chegar a minha vez.
Brinquei, brinquei mas no fogo do amor
O meu coração queimei.

Envelhecendo na saudade mais pungente
Eu vou vivendo assim eternamente
Brinquei, brinquei um dia com o fogo da paixão,
Eu não sabia
E queimei meu coração."

Um samba da mesma dupla, que alcançou grande sucesso na voz de Ciro Monteiro", em 1943, voltou à tona em uma recente gravação de Zeca Pagodinho:"Beija-me".

Mário Rossi, com o maestro Fon Fon, compôs e Odete Amaral gravou, um dos maiores sucessos da cantora: "Mormurando" e com Gastão Viana, um dos maiores sucessos de Isaurinha Garcia.

Eis a letra de

“O SORRISO DO PAULINHO

Não é possível viver assim desse jeito
Chegando de madrugada sujo de luxo e de pó.
Parece incrível você perdeu o respeito
Não tem amor a mais nada me deixa em casa tão só.
..
O meu consolo é o sorriso do Paulinho
Quando pergunta mamãe onde andará meu paizinho.
Então eu choro e você sabe por que
Nosso filho desconhece o que dizem de você.
Mário Rossi compôs com muitos parceiros. Um que merece destaque é Vicente Celestino, que, dentre outras, gravou da autoria de ambos, "Quando o Outono Chegar", “Minha Terra” e “Sangue e Areia".

Mário Rossi faleceu, aqui no Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1981, aos 70 anos.

Bob Dylan



Robert Allen Zimmerman, mais conhecido como Bob Dylan (Duluth, 24 de maio de 1941), é um cantor e compositor norte-americano.

Nascido no estado de Minnesota, neto de imigrantes judeus russos, aos dez anos de idade Dylan escreveu seus primeiros poemas e, ainda adolescente, aprendeu piano e guitarra sozinho. Começou cantando em grupos de rock, imitando Little Richard e Buddy Holly, mas quando foi para a Universidade de Minnesota em 1959, voltou-se para a folk music, impressionado com a obra musical do lendário cantor folk Woody Guthrie, a quem foi visitar em Nova York em 1961.

Em 2004, Bob Dylan foi escolhido pela revista Rolling Stone, como o 2º melhor artista de todos os tempos, ficando atrás somente dos Beatles e uma de suas principais canções, Like a Rolling Stone, foi escolhida como a melhor de todos os tempos. Influenciou diretamente grandes nomes do rock americano e britânico dos anos de 1960 e 1970, destacando-se aí The Beatles, notadamente nas composições de John Lennon, a partir do álbum Rubber Soul de 1965.

wikipédia

Ricardo de Carvalho Duarte



Chacal (pseudônimo de Ricardo de Carvalho Duarte, Rio de Janeiro, 24 de maio de 1951) é poeta e letrista brasileiro.

Aluno de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi um dos primeiros poetas da década de 1970 a se utilizar do mimeógrafo para divulgar sua poesia (à qual só se dedicou por ser incapaz de desenhar um cavalo), com o livro Muito Prazer (1971/2), na companhia de Charles Peixoto, que editou Travessa Bertalha 11. Em seguida teve um poema incluído na antológica revista Navilouca, editada por Torquato Neto e Waly Salomão.


O OUTRO

só quero
o que não
o que nunca
o inviável
o impossível

não quero
o que já
o que foi
o vencido
o plausível

só quero
o que ainda
o que atiça
o impraticável
o incrível

não quero
o que sim
o que sempre
o sabido
o cabível

eu quero
o outro

(De BELVEDERE (1971-2007). Rio de Janeiro: 7 LETRAS; São Paulo: COSACNAIFY, 2007)

SIDERAL - por Stela Siebra

LUA EM LIBRA

O que é intrínseco na pessoa com Lua em Libra é o senso de equilíbrio e justiça, como também a apreciação do belo, do que é estético, elegante, de bom gosto. Há uma tendência ao refinamento e à diplomacia, assim como forte necessidade de relacionamentos.

É ... você que tem uma lua libriana, para sentir-se seguro e confortável, precisa envolver-se emocionalmente, muito embora na maioria dos relacionamentos você tenha que fazer concessões para que a união atinja a harmonia desejada. É que você tem muita facilidade de colocar-se no lugar do outro, e isto lhe deixa suscetível às emoções alheias, além de levá-lo a priorizar o interesse deles em detrimento do seu, notabilizando o desejo de agradar, apesar de esperar ser agradado e considerado também.

Esta necessidade de agradar está ligada à insegurança de ficar sozinho ou ao medo de ser abandonado.
Neste caso é bom lembrar que estar casado, ter uma vida social intensa, ou seja, estar sempre acompanhado, não significa ausência de solidão.

O primeiro passo para alimentar sua lua libriana é desenvolver um relacionamento saudável com você mesmo, acolhendo as mensagens internas que sinalizam o anseio pela segurança da integração da alma com sua essência mais íntima e pura, com suas necessidades de equilíbrio e paz interiores.
Só assim, alimentado adequada e harmoniosamente, você poderá criar relacionamentos mais satisfatórios.

Nutra também sua lua com emoções advindas da arte, desenvolvendo possíveis dons artísticos, ligados principalmente à decoração, à estética e à harmonização de ambientes.
E faça do seu lar um lugar bonito e atraente, onde você certamente vai sentir-se confortável e seguro.

UBUNTU



A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.
Ela  contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando  terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva.
Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e tudo e colocou debaixo de uma árvore. Aí ele  chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse “já!”, elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse “Já!”, instantaneamente todas   as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.
O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.
Elas simplesmente responderam: “Ubuntu, tio. Como uma de nós  poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”

Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda  não havia compreendido, de verdade,a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?
Ubuntu significa: “Sou quem sou, porque somos todos nós!”
Atente para o detalhe: porque SOMOS, não pelo que temos…
UBUNTU PARA VOCÊ!

Poemas - Por Stela Siebra Brito





TEREZINHA DE JESUS NÃO CAIU, NÃO FOI AO CHÃO

Por Stela Siebra Brito



Primeiro amor:

Andávamos de mãos dadas

e não nos dizíamos (ou sabíamos)

namorados

os lábios roçavam-se fugidios

tenros

assustados

com a delícia da carícia

com a leveza fugaz

insustentável

oscilante

do amor adolescente,

do amor nascente.



Segundo amor:

Meio dia de luz e calor

teu olhar se adulçorou sobre o meu

lambuzando-me de ternura e frescor.



Noite clara e fria

teu olhar se derramou sobre o meu

como árvore debruçada no rio,

beijando as águas do meu rosto

banhado de chuva e lua.



Terceiro amor:

Subia pela varanda

sem que eu jogasse meus cabelos de Rapunzel.

Dizia amar-me, mas Vênus me piscava um olho, descrente, irônica.

O obstáculo intransponível não era a torre,

era o encantamento feito pela bruxa que morava dentro de mim:

meus olhos só brilhariam com poesia.

E ele era tão somente um príncipe,

desprovido de graça poética,

da loucura e lucidez dos que amam

estrelas,

madrugadas, trovões

e a solidão das palavras.



Rapunzel ainda está na torre,

mas, cadê o poeta?


Stela Siebra Brito

Águas de Maio - Por João Nicodemos de Araújo Neto


(Imagem do Rio Apa-MS)

Águas de maio chegando em meus olhos
São águas que um rio me quer navegar
Águas de maio lavando as correntes
São águas de um rio sonhando com o mar

Águas serenas brotando da fonte
Num leito de pedras que vem renovar
São águas que lavam que levam lembranças
Em águas tranqüilas quero navegar

São águas de chuvas, são gotas de orvalho
Vertidas no tempo de tudo molhar
São águas que seguem, são águas que passam
Correndo da serra seguindo pro mar

Águas que banham que sonham sementes
Brotando nos campos, encantos de amar
São águas que cantam serenas, tranqüilas
Movendo montanhas pra outro lugar


Água clara, água fina. Água ensina a navegar
Água cura pura água. Água e Luz a clarear.


João Nicodemos

Luiz Gonzaga - Por Joaquim Pinheiro



Tive a sorte de conhecer pessoalmente Luiz Gonzaga e, mais ainda, a satisfação de ser por ele incluído no rol dos seus amigos. Apesar da fama, o Rei do Baião era pessoa humilde. Só me tratava por “Dr. Joaquim”. Uma das suas virtudes pessoais era a gratidão. Não esquecia quem o ajudou. Enaltecia personalidades que agiram em seu favor ou de sua família. Tinha uma simpatia enorme por Dr. Humberto Macário por conta da dedicação dele no tratamento de uma doença no velho Januário, ainda nos anos 60.
Os primeiros contatos com o Rei foi no tempo em que trabalhei no Banco do Estado de Pernambuco (1987/90). O atendi em várias ocasiões, atendimento absolutamente normal, dentro dos padrões bancários.
Uma ocasião, durante um show no Clube do Bandepe, em maio de 1989, o antepenúltimo da sua vida, Gonzagão me avistou na platéia e me “intimou” a subir ao palco. Tenho fotos e filmes deste dia.
Há exatos 20 anos, atendi ligação de Humberto Mendonça, então Presidente da Associação Comercial do Crato, e, por conta dela, passei boa parte da manhã do dia do falecimento de Luiz Gonzaga com os organizadores das cerimônias funerais dele, tendo, inclusive, um diálogo bastante difícil com Gonzaguinha.
Humberto Mendonça em seu livro e em artigo publicado no Diário do Nordeste de 18.02.2002 relata o fato com as palavras a seguir:
“... quero lembrar um detalhe do que aconteceu por ocasião da sua morte, em Recife. Foi criada uma polêmica que envolveu até o seu filho Gonzaguinha, que decretara que o cortejo com os restos mortais passaria somente em Juazeiro, a caminho do Exu, excluindo a cidade do Crato, que ele tanto amou. Foi preciso que eu entrasse em contato com o governador do Pernambuco, Miguel Arraes, através do seu sobrinho Joaquim Arraes Pinheiro, que, incontinenti, autorizou a Casa Militar do seu governo a agilizar e incluir o Crato no roteiro de despedida, rumo ao seu Exu e à eternidade...”


Joaquim Pinheiro

Quem Faz a História ?- Corujinha Baiana



Quem construiu a Tebas das sete portas?

Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?

E a Babilônia tantas vezes destruída?
Quem ergueu outras tantas?

Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China?

A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os levantou?

Sobre quem triunfaram os Césares?

A decantada Bizâncio só tinha palácios
Para seus habitantes?
Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu,
Os que se afogavam gritaram por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?

César bateu os gauleses,
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?

Felipe de Espanha chorou quando sua armada naufragou.
Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Uma vitória a cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?
Um grande homem a cada dez anos.
Quem pagava as despesas?

Tantos relatos.
Tantas perguntas.


Bertolt Brecht
(Poeta e dramaturgo alemão)10-2-1898, Augsburgo 14-8-1956, Berlim Oriental

Eugen Berthold Friedrich Brecht é um dos autores alemães mais importantes do século XX, especialmente nas suas facetas de dramaturgo e de poeta. De formação marxista, Bertolt Brecht (seu nome artístico) dava grande importância à dimensão pedagógica das suas obras de teatro: contrário à passividade do espectador, sua intenção era formar e estimular o pensamento crítico do público. Para isso, servia-se de efeitos de distanciamento, como máscaras, entreatos musicais ou painéis nos quais se comentava a ação. Brecht expôs em escritos de caráter teórico e encenações modelares essa nova forma de entender o teatro.



O reconhecimento de sua genialidade chegou muito depressa: em 1922, foi concedido ao jovem Brecht o prêmio Kleist por Tambores da Noite. No entanto, no princípio dedicou-se à assessoria artística, trabalhando, por exemplo, para o Teatro Alemão de Berlim, de Max Reinhard, entre 1924 e 1926.

Brecht consolidou-se como escritor independente logo após os musicais Ópera dos Três Vinténs (1928) – que bem mais tarde inspiraria a Ópera do Malandro, do brasileiro Chico Buarque de Holanda – e Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny (1930), escritos em colaboração com o compositor Kurt Weil. A crítica social contida nessas obras e seu humor cínico causaram escândalo na República de Weimar alemã.

A ascensão ao poder dos nazistas marcou o início de uma longa odisséia para Brecht, que, no final, o conduziu à Califórnia, onde permaneceu até o final da guerra e onde escreveu muitas das suas famosas obras teatrais: Galileu Galilei (1938), que aborda a responsabilidade da ciência, dando três pontos de vista distintos nas suas três versões; a peça antibelicista Mãe Coragem (1939); A Boa Pessoa de Setzuan (1941).

Em colaboração com Lion Feuchtwanger, em As Visões de Simone Machard, transportou para a época da Segunda Guerra Mundial o mito de Joana d´Arc, personagem que já tinha abordado em 1930 em Santa Joana dos Matadouros, que só estreou em 1959.

A obra contra Hitler, A Ascensão Irresistível de Arturo Ui, escrita no exílio na Finlândia, em 1941, só estreou depois da morte de Brecht. Após o regresso à Alemanha Oriental, fundou –- e, a partir de 1949, dirigiu, conjuntamente com sua mulher –- o Berliner Ensemble, onde se encenavam principalmente suas obras. Tal como as peças de teatro, a obra lírica de Brecht, publicada em quatro coleções, contém uma importante carga de crítica política e de ironia, embora também tenha composto poemas de amor muito pessoais. São especialmente conhecidas as Histórias do Sr. Keuner, coleção de breves episódios, que escreveu desde 1930 até a sua morte e foi publicada em 1958.

Fonte :http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_134.html

Antes que a noite cearense a esqueça ...

Fonte:
Diário do Nordeste




Késia Almeida
Noite vazia

Publicado em 3 de fevereiro de 2005

A cantora Késia faleceu na tarde da última terça-feira. Ela era um das mais queridas e aclamadas vozes que já embalaram as noites do circuito cultural da Capital cearense. Pernambucana de nascimento, a intérprete tomou o Ceará como casa, numa trajetória intensa iniciada com o despertar da década de 80. Aos 43 anos, partiu vítima de falência múltipla de órgãos, após uma cirurgia de urgência. A seguir, o Caderno 3 expõe lembranças, melhor dizer, afagos de artistas e outras pessoas que dividiram momentos ricos, de palco e bastidores, com a cantora em seus 25 anos de carreira

“Perdemos uma de nossas mais importantes cantoras. Késia não era natural do Ceará, como também não era Lili Alcalay, mas a música a fez cearense, a fez nossa. Ela era dona de uma interpretação forte, profunda, entusiasmada. Késia cantava com a alma. Como artista e pessoa, era extremamente generosa, sempre disposta a ajudar o outro. Sem dúvida, o Ceará fica menos musical”.

Heriberto Porto


NOVALIS


“Quando a chave de toda a creatura
seja mais do que número e figura,
e quando esses que beijam com os lábios,
e os cantores, sejam mais que os sábios,
e quando o mundo inteiro, intenso, vibre
devolvido ao viver da vida livre,
e quando luz e sombra, sempre unidas,
celebrem núpcias íntimas, luzidas,
quando em lendas e líricas canções
escreverem a história das nações,
então, a palavra misteriosa
destruirá toda a essência mentirosa.”

NOVALIS
in “Henrique de Hofterdingen”
(trad. de Mário Cesariny)

AQUARELA- POR SOCORRO MOREIRA




todos os eus conscientes
se encaminham para o encontro
dos eus desconhecidos.

um afim, em potencial
é sempre um pedaço da gente
que se descortina...

do nós conosco
do vós convosco
dos eus
com nossos eus superiores


enquanto isso,
o caminho é construído
cheio de surpresas boas
cheio de percalços
que marcam


e se não fosse
a paixão,
os bens inexplicáveis,
as emoções,
sinalizadas pela nossa sensibilidade...?

a vida seria desbotada
vazia estrada...
sem terra, sem água,
sem sol, sem ar,
sem verdes folhagens...


e em tudo isso,
as cores primárias,
se movimentam,
pra compor uma aquarela sonora,
onde tudo vira instrumento,
pincel,
na mão da criatura,
que também é criador !

PERDAS - POR SOCORRO MOREIRA


Poucos sabem ser " deixados "
Cristo,Buda, outros...
Livres do material
Dos egos centrismos ...

Um dia me encontrei num canto,
Ferida , sem poder voar,nem mesmo caminhar

Estava totalmente exposta aos elementos

Hpoje  sou  meu projeto, objeto e objetivo
Verbo da minha oração 
Mercê da pontuação divina...
Fortalecida !

SÍLVO CALDAS - por Norma Hauer


O CABOCLINHO QUERIDO

Assim o denominou César Ladeira, quando de seu reingresso na Rádio Mayrink Veiga em 1933. Reingresso porque lá já atuara no início de sua carreira em 1927.
Seu nome Sílvio Narciso de Nascimento Caldas ou simplesmente SÍLVIO CALDAS.
Sílvio Caldas nasceu em 23 de maio de 1908, aqui no bairro de São Cristóvão, portanto, há exatamente 103 anos.
No ano de seu Centenário (2008) Sílvio merecia o que não teve: muitas homenagens pelo muito que enriqueceu nosso cancioneiro, não somente como cantor, mas também como compositor.

Ao lado de Francisco Alves, Orlando Silva e Carlos Galhardo foi considerado um dos quatro grandes do tempo áureo do rádio no Brasil. Dos 4 Foi o que mais viveu, tendo falecido em fevereiro de 1998, dois meses antes da data em que completaria 90 anos.

Sílvio Caldas, filho de um afinador de piano, pode se dizer que já nasceu dentro do meio musical. Aos cinco anos já se apresentava,. cantando, em festinhas infantis, sendo muito requisitado. E desfilava no carnaval , levado pelos integrantes do Clube de São Cristóvão.
Entre um canto e outro, aprendeu o ofício de mecânico de automóveis e transferiu-se, em 1924, para São Paulo, onde exerceu essa profissão. Mas o que lhe falava mais alto era a música. Assim em 1927, regressando ao Rio foi levado por um ator teatral conhecido como Milonguita à Radio Mayrink Veiga, onde atuou mediante o pagamento de cachê, durante esse ano, tendo se transferido para a pioneira Rádio Sociedade no ano seguinte.

Simultaneamente com suas apresentações no rádio, continuava sua tarefa de mecânico, até que em 1930 veio sua grande chance de gravar. Foi uma música que não fez qualquer sucesso, mas que lhe abriu as portas para as gravações. Nesse mesmo ano gravou duas composições de Sinhô: ”Recordar é Viver” e “Amor e Poeta”, acompanhado ao piano por Henrique Vogeler, um nome conceituado na época.

Ainda em 1930 atuou ao lado de Margarida Max, na revista “Brasil do Amor”, onde também se iniciava, como compositor e pianista , o futuro autor de “Aquarela do Brasil”: Ari Barroso.
Sílvio cantou, de Ari, o samba “Faceira”, o primeiro sucesso de ambos. Aí sim, a porta se abriu para aquele que também viria ser conhecido como “Poeta da Voz”, título que lhe foi dado pelo radialista Paulo Roberto, que apresentava as “Serestas de Sílvio Caldas” na Radio Tupi. Foi nessa emissora que Sílvio atuou por mais tempo, embora tivesse sua passagem outras vezes pela Mayrink Veiga e pela Nacional.
No ano de 1930, Sílvio gravou 19 discos, mas apenas “Faceira” pode ser considerado sucesso.
No ano seguinte gravou, para o carnaval, “Bambina, meu Amor” e “Sestrosa”, ambas de Rogério Guimarães, mas que também não foram sucessos.
Em 1932 com “Maria” ...”o teu nome principia, na palma de minha mão...”, de Ari Barroso e Luiz Peixoto, “estourou” em todo o Brasil.
No carnaval de 33 gravou, ainda de Ari Barroso, o samba “Segura essa Mulher”. E nesse mesmo ano gravou, de Noel Rosa, “Vitória”, em parceria com o pianista Nonô (Romualdo Peixoto) que viria a ser tio de Ciro Monteiro e de Cauby Peixoto.
Nonô foi, durante muitos anos, pianista da Rádio Maryrink Veiga, a quem César Ladeira denominou “Chopin do samba”.
Em 1934 aparecem as duas primeiras composições de Orestes Barbosa gravadas por Sílvio Caldas, “Santa dos Meus Amores”e “Serenata”. Esta passou a ser seu prefixo musical. em seus programas radiofônicos.
No mesmo ano de 34, gravou “Boneca”;”O Telefone do Amor”;”Inquietação” e “Por Causa dessa Cabocla”. No ano seguinte, gravou “Madrugada” e “Acorda Escola de Samba”, no qual Herivelto Martins dava início a suas composições enaltecendo as escolas de samba.

Em 1936 tomou parte do elenco do filme “Cidade Maravilhosa”, de Luiz de Barros. No cinema trabalhou ainda em “Luz dos Meus Olhos”, de José Carlos Burle, em 1947.

Em 1937, gravou “Adeus Felicidade”; “Sabiá”,um samba-canção de Jararaca e Vicente Paiva,( autores de “Mamãe eu Quero”) sucesso do carnaval desse ano, na voz de Almirante.
E foi em 1937 que gravou dois outros poemas de Orestes Barbosa:”Arranha-Céu” e “CHÃO DE ESTRELAS”, que se tornou o hino das serestas. Foi sobre o verso “tu pisavas os astros distraída” que Manuel Bandeira disse que se um dia fosse escolhido o mais bonito verso da canção brasileira, seria esse o escolhido.
Não dá para citar tudo que marcou a carreira de Sílvio Caldas, mas citaria “Quando eu penso na Bahia”(1937);”Pastorinhas” e “Professora” (1938);”Deusa da Minha Rua” ;”Falsa Felicidade”;”Sorris da Minha Dor”(1939).
Sobre “Pastorinhas”, há uma historia que deve ser resumida: essa foi uma marcha-rancho, de nome “Linda Pequena” , da autoria de Noel Rosa e João de Barro (o Braguinha”) gravada em 1936 por João Petra de Barros. Não fez sucesso.
No ano de 1938, para enfrentar a desclassificação de “Touradas em Madri” como campeã no concurso do carnava desse ano. que era realizado na “Feira de Amostras”, mas foi considerada “passo doble”, Braguinha, foi buscar a “Linda Pequena”, alterou parte de sua letra e a lançou como “Pastorinhas”, na voz de Sílvio Caldas. Resultado: venceu o concurso.
Sílvio não parou aí com seus sucessos. Em 39 gravou “Deusa da Minha Rua” ...”na rua uma poça dágua, espelho de minha mágoa, transporta o céu para o chão...”Falsa Felicidade”;”Sorris da Minha Dor”; “Da Cor do Pecado” (que há pouco tempo se transformou em nome de novela) ; regravou “Rancho Fundo” e “Maria”.

Interessante que “Rancho Fundo” foi gravado por Elisinha Coelho, em 1932 (?) com o nome de “Na Barra Funda”:-a mesma música,com outra letra. A segunda letra é da autoria de Lamartine Babo, o mesmo Lamartine que, compondo os hinos dos clubes de futebol que disputavam o campeonato carioca, deu para Sílvio Caldas gravar os hinos do São Cristóvão (clube de Sílvio) e do Vasco da Gama.

De Custódio Mesquita e Sadi Cabral Sílvio gravou, em 1940, o fox-canção “Mulher” e a valsa “Velho Realejo”. No mesmo ano levou para o disco a valsa ”O Amor é Assim”, de Sivan Castelo Neto e as marchas “Andorinha” e “Sinhá-Moça Chorou”, de sua autoria.
Em 1941, dois sambas com nome de mulher fizeram grande sucesso no carnaval: ”Aurora” e “Helena”(não foram gravadas por Sílvio). Por causa dessas músicas, Sílvio Caldas, Orlando Silva e Ciro Monteiro, em trio gravaram “Rosinha”, em que diziam:
”não quero saber da Aurora,
a Helena deu o fora
e com a Rosinha é que vai ser”

De Ari Barroso, mais duas composições “Morena, Boca de Ouro” e “Três Lágrimas”.
No ano seguinte, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, duas composições foram gravadas para os soldados: ”Fibra de Herói e Canção do Soldado”.
Não dá para citar nem a terça parte do que Sílvio gravou, mas quero citar três composições de Georges Moran : ”Não Voltarás, nem Voltarei”;”Ninotchka” e “Kátia” . Georges Moran foi um autor que se “abrasileirou e se enturmou” com nossos compositores. Nascido na Rússia, veio para cá antes da segunda guerra e se adaptou ao nosso meio musical sendo autor de várias composições gravadas por Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Dircinha Batista, Francisco Aves...
De outros compositores tivemos, com Sílvio, “Algodão”;”Feitiçaria”;”Sim ou Não”;”Minha Casa”; “Não me Pergunte”;”Cabelos Cor de Prata”;”Violões em Funeral”... Tudo em 78 rotações.

Com a chegada dos LPs, foi o primeiro cantor a gravar um, de nome “Saudades”, onde regravou várias composições suas com Orestes Barbosa., além de “Vestido das Lágrimas”, antes gravado por Floriano Belhem.
Na fase dos LPs gravou muitos sendo um com Pedro Vargas, “ao vivo” no Canecão. E o último, comemorando seus 80 anos, no Teatro João Caetano.

Sílvio Caldas, afastou-se do meio musical e se transferiu para seu sítio em Atibaia, em São Paulo, onde faleceu em 3 de fevereiro de 1998, dois meses antes da data em que completaria 90 anos.
Nessa data, foi lançado um CD em homenagem a esses 90 anos .

Norma