por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 23 de maio de 2011

SÍLVO CALDAS - por Norma Hauer


O CABOCLINHO QUERIDO

Assim o denominou César Ladeira, quando de seu reingresso na Rádio Mayrink Veiga em 1933. Reingresso porque lá já atuara no início de sua carreira em 1927.
Seu nome Sílvio Narciso de Nascimento Caldas ou simplesmente SÍLVIO CALDAS.
Sílvio Caldas nasceu em 23 de maio de 1908, aqui no bairro de São Cristóvão, portanto, há exatamente 103 anos.
No ano de seu Centenário (2008) Sílvio merecia o que não teve: muitas homenagens pelo muito que enriqueceu nosso cancioneiro, não somente como cantor, mas também como compositor.

Ao lado de Francisco Alves, Orlando Silva e Carlos Galhardo foi considerado um dos quatro grandes do tempo áureo do rádio no Brasil. Dos 4 Foi o que mais viveu, tendo falecido em fevereiro de 1998, dois meses antes da data em que completaria 90 anos.

Sílvio Caldas, filho de um afinador de piano, pode se dizer que já nasceu dentro do meio musical. Aos cinco anos já se apresentava,. cantando, em festinhas infantis, sendo muito requisitado. E desfilava no carnaval , levado pelos integrantes do Clube de São Cristóvão.
Entre um canto e outro, aprendeu o ofício de mecânico de automóveis e transferiu-se, em 1924, para São Paulo, onde exerceu essa profissão. Mas o que lhe falava mais alto era a música. Assim em 1927, regressando ao Rio foi levado por um ator teatral conhecido como Milonguita à Radio Mayrink Veiga, onde atuou mediante o pagamento de cachê, durante esse ano, tendo se transferido para a pioneira Rádio Sociedade no ano seguinte.

Simultaneamente com suas apresentações no rádio, continuava sua tarefa de mecânico, até que em 1930 veio sua grande chance de gravar. Foi uma música que não fez qualquer sucesso, mas que lhe abriu as portas para as gravações. Nesse mesmo ano gravou duas composições de Sinhô: ”Recordar é Viver” e “Amor e Poeta”, acompanhado ao piano por Henrique Vogeler, um nome conceituado na época.

Ainda em 1930 atuou ao lado de Margarida Max, na revista “Brasil do Amor”, onde também se iniciava, como compositor e pianista , o futuro autor de “Aquarela do Brasil”: Ari Barroso.
Sílvio cantou, de Ari, o samba “Faceira”, o primeiro sucesso de ambos. Aí sim, a porta se abriu para aquele que também viria ser conhecido como “Poeta da Voz”, título que lhe foi dado pelo radialista Paulo Roberto, que apresentava as “Serestas de Sílvio Caldas” na Radio Tupi. Foi nessa emissora que Sílvio atuou por mais tempo, embora tivesse sua passagem outras vezes pela Mayrink Veiga e pela Nacional.
No ano de 1930, Sílvio gravou 19 discos, mas apenas “Faceira” pode ser considerado sucesso.
No ano seguinte gravou, para o carnaval, “Bambina, meu Amor” e “Sestrosa”, ambas de Rogério Guimarães, mas que também não foram sucessos.
Em 1932 com “Maria” ...”o teu nome principia, na palma de minha mão...”, de Ari Barroso e Luiz Peixoto, “estourou” em todo o Brasil.
No carnaval de 33 gravou, ainda de Ari Barroso, o samba “Segura essa Mulher”. E nesse mesmo ano gravou, de Noel Rosa, “Vitória”, em parceria com o pianista Nonô (Romualdo Peixoto) que viria a ser tio de Ciro Monteiro e de Cauby Peixoto.
Nonô foi, durante muitos anos, pianista da Rádio Maryrink Veiga, a quem César Ladeira denominou “Chopin do samba”.
Em 1934 aparecem as duas primeiras composições de Orestes Barbosa gravadas por Sílvio Caldas, “Santa dos Meus Amores”e “Serenata”. Esta passou a ser seu prefixo musical. em seus programas radiofônicos.
No mesmo ano de 34, gravou “Boneca”;”O Telefone do Amor”;”Inquietação” e “Por Causa dessa Cabocla”. No ano seguinte, gravou “Madrugada” e “Acorda Escola de Samba”, no qual Herivelto Martins dava início a suas composições enaltecendo as escolas de samba.

Em 1936 tomou parte do elenco do filme “Cidade Maravilhosa”, de Luiz de Barros. No cinema trabalhou ainda em “Luz dos Meus Olhos”, de José Carlos Burle, em 1947.

Em 1937, gravou “Adeus Felicidade”; “Sabiá”,um samba-canção de Jararaca e Vicente Paiva,( autores de “Mamãe eu Quero”) sucesso do carnaval desse ano, na voz de Almirante.
E foi em 1937 que gravou dois outros poemas de Orestes Barbosa:”Arranha-Céu” e “CHÃO DE ESTRELAS”, que se tornou o hino das serestas. Foi sobre o verso “tu pisavas os astros distraída” que Manuel Bandeira disse que se um dia fosse escolhido o mais bonito verso da canção brasileira, seria esse o escolhido.
Não dá para citar tudo que marcou a carreira de Sílvio Caldas, mas citaria “Quando eu penso na Bahia”(1937);”Pastorinhas” e “Professora” (1938);”Deusa da Minha Rua” ;”Falsa Felicidade”;”Sorris da Minha Dor”(1939).
Sobre “Pastorinhas”, há uma historia que deve ser resumida: essa foi uma marcha-rancho, de nome “Linda Pequena” , da autoria de Noel Rosa e João de Barro (o Braguinha”) gravada em 1936 por João Petra de Barros. Não fez sucesso.
No ano de 1938, para enfrentar a desclassificação de “Touradas em Madri” como campeã no concurso do carnava desse ano. que era realizado na “Feira de Amostras”, mas foi considerada “passo doble”, Braguinha, foi buscar a “Linda Pequena”, alterou parte de sua letra e a lançou como “Pastorinhas”, na voz de Sílvio Caldas. Resultado: venceu o concurso.
Sílvio não parou aí com seus sucessos. Em 39 gravou “Deusa da Minha Rua” ...”na rua uma poça dágua, espelho de minha mágoa, transporta o céu para o chão...”Falsa Felicidade”;”Sorris da Minha Dor”; “Da Cor do Pecado” (que há pouco tempo se transformou em nome de novela) ; regravou “Rancho Fundo” e “Maria”.

Interessante que “Rancho Fundo” foi gravado por Elisinha Coelho, em 1932 (?) com o nome de “Na Barra Funda”:-a mesma música,com outra letra. A segunda letra é da autoria de Lamartine Babo, o mesmo Lamartine que, compondo os hinos dos clubes de futebol que disputavam o campeonato carioca, deu para Sílvio Caldas gravar os hinos do São Cristóvão (clube de Sílvio) e do Vasco da Gama.

De Custódio Mesquita e Sadi Cabral Sílvio gravou, em 1940, o fox-canção “Mulher” e a valsa “Velho Realejo”. No mesmo ano levou para o disco a valsa ”O Amor é Assim”, de Sivan Castelo Neto e as marchas “Andorinha” e “Sinhá-Moça Chorou”, de sua autoria.
Em 1941, dois sambas com nome de mulher fizeram grande sucesso no carnaval: ”Aurora” e “Helena”(não foram gravadas por Sílvio). Por causa dessas músicas, Sílvio Caldas, Orlando Silva e Ciro Monteiro, em trio gravaram “Rosinha”, em que diziam:
”não quero saber da Aurora,
a Helena deu o fora
e com a Rosinha é que vai ser”

De Ari Barroso, mais duas composições “Morena, Boca de Ouro” e “Três Lágrimas”.
No ano seguinte, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, duas composições foram gravadas para os soldados: ”Fibra de Herói e Canção do Soldado”.
Não dá para citar nem a terça parte do que Sílvio gravou, mas quero citar três composições de Georges Moran : ”Não Voltarás, nem Voltarei”;”Ninotchka” e “Kátia” . Georges Moran foi um autor que se “abrasileirou e se enturmou” com nossos compositores. Nascido na Rússia, veio para cá antes da segunda guerra e se adaptou ao nosso meio musical sendo autor de várias composições gravadas por Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Dircinha Batista, Francisco Aves...
De outros compositores tivemos, com Sílvio, “Algodão”;”Feitiçaria”;”Sim ou Não”;”Minha Casa”; “Não me Pergunte”;”Cabelos Cor de Prata”;”Violões em Funeral”... Tudo em 78 rotações.

Com a chegada dos LPs, foi o primeiro cantor a gravar um, de nome “Saudades”, onde regravou várias composições suas com Orestes Barbosa., além de “Vestido das Lágrimas”, antes gravado por Floriano Belhem.
Na fase dos LPs gravou muitos sendo um com Pedro Vargas, “ao vivo” no Canecão. E o último, comemorando seus 80 anos, no Teatro João Caetano.

Sílvio Caldas, afastou-se do meio musical e se transferiu para seu sítio em Atibaia, em São Paulo, onde faleceu em 3 de fevereiro de 1998, dois meses antes da data em que completaria 90 anos.
Nessa data, foi lançado um CD em homenagem a esses 90 anos .

Norma

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