por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 8 de maio de 2011

Já no final da noite uma nota pela maternidade - José do Vale Pinheiro Feitosa

Lá pelas 9 da noite foi que se resolveu. Isso para o público, na intimidade a solução já estava posta de antes. Todo mundo festejando o dia das mães e ele calado. A ausência no almoço até se pode compreender, mas nem um raminho de bogari ele compareceu para ofertar à mãe.

Era literalmente um FDP nos termos do desprezo pelo dia da mãe. Mas neste dia surgem muitas manifestações. São tantas notas de saudade, algumas de amargura, outras de alegria pelo encontro, e sempre tem alguém falando de perdas. A mãe se desdobrada em muitos sentimentos.

Mas nada por se estranhar. As referências dos filhos para as mães, além do comezinho de falar chavões, até por obrigação, são múltiplas e variadas. Como a vida de cada um é diferente do outro, vai daí que os sentimentos com o amor de mãe variem.

Ele sempre fora assim. Nada de comemorar o dia das mães na luz do próprio dia. Como costumava acordar às 9 da manhã, contava mais doze horas e a partir daí se manifestava. Com todo o vigor que o silêncio anterior não fazia suspeitar-se de tamanho respeito e amor pela mãe.

Por volta das 21h30min, a mensagem dele estava nos blogs: não é a mãe em quem penso, é nela, aquela mulher que me gerou, cuidou e me via muito mais importante do que me imagino. Ela por vezes vinha com a raiva da disciplina para educar. Mas, pacientemente, retira o carrapicho do medo que se entranha na nossa alma como se fosse parte dela. A mãe que morria de medo da vida, mas tinha vida suficiente para domar o medo que morria.

Por volta de 21h40min, um amigo, por telefone, o elogia pela mensagem, mas estranha sempre este comportamento atrasado. Ele responde: se hoje é o dia da mãe, eu vou esperar pelo menos umas doze horas para existir no mundo. ????? – tanta interrogação parecia se imprimir no silêncio do amigo do outro lado da linha ao que ele esclareceu: tenho que esperar que a mãe primeiro nasce para que eu viva.

Reconhecimento de um filho – Por Carlos Eduardo Esmeraldo.

Neste “Dia das mães” me emocionei por demais ao ler esta mensagem de um filho à sua querida mãe: “Mamãe, devo muito do que sou a você, que com bondade, sensibilidade e senso de justiça, me ensinou a ser justo e ético com as pessoas e com o mundo. Obrigado e feliz dia das mães.
Como seria bom se todos os filhos tivessem esse nível de reconhecimento! Foi isso mesmo que senti com minha saudosa mamãe, mas não escrevi um texto tão bonito quanto esse e hoje já não mais a tenho para dizer algo semelhante!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

"Oropa, França e Bahia"-Ascenso Ferreira



(Romance)


Para os 3 Manuéis:
Manuel Bandeira
Manuel de Souza Barros
Manuel Gomes Maranhão



Num sobradão arruinado,
Tristonho, mal-assombrado,
Que dava fundos prá terra.
( "para ver marujos,
Ttituliluliu!
ao desembarcar").


...Morava Manuel Furtado,
português apatacado,
com Maria de Alencar!



Maria, era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar...


A vida de Manuel,
qque louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de "Oropa, França e Bahia"!



— Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
— Estás idiota , Maria.
Essas naus foram vintena
Que eu herdei da minha tia!
Por todo o ouro do mundo
eu jamais a trocaria!



Dou-te tudo que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra Estrela,
perfumes de benjoim...



Nada.
A mulata só queria
que seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a mais pichititinha,
prá ela ir ver essas terras
"De Oropa, França e Bahia"...



— Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da quinta do Aguirre,
uma queijadas de Sintra,
só prá tu te distraire
desse pensamento ruim...
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira
com galinha de oxinxim!



"Ó lua que alumias
esse mundo de meu Deus,
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus.



"Eu sou mulata dengosa,
linda, faceira, mimosa,
qual outras brancas não são"...
Cantava forte Maria,
pisando fubá de milho,
lentamente no pilão...


Uma noite de luar,
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
— Ah! Seu Manuel, isso chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul.


— "Onde vais mulhé?"
— Vou me daná no carrosé!
— Tu não vais, mulhé,
— mulhé, você não vai lá..."



Maria atirou-se n´água,
Seu Manuel seguiu atrás...
— Quero a mais pichititinha!
— Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido da minha tia !
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"!



Nadavam de mar em fora...
(Manuel atrás de Maria!)
Passou-se uma hora, outra hora,
e as naus nenhum atingia...
Faz-se um silêncio nas águas,
cadê Manuel e Maria?!



De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"!



E as naus de Manuel Furtado,
herança de sua tia?


— continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que, ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia!


— As eternas naus do Sonho,
de "Oropa, França e Bahia"...




Ascenso Ferreira



Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira (Palmares, 9 de maio de 1895 — Recife, 5 de maio de 1965) foi um poeta brasileiro.

Órfão aos treze anos de idade, passou a trabalhar na mercearia de um tio e, em 1911, publicou no jornal A Notícia de Palmares o seu primeiro poema, Flor Fenecida.

Em 1920, mudou-se para o Recife, onde tornou-se funcionário público e passou a colaborar com o Diário de Pernambuco e outros jornais.

wikipédia

O AMOR MADURO Arthur da Távola




O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas quase silencioso.
Não é menor em extensão.
É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações:
presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas:
amplia-se com as ausências significantes.


O amor maduro tem e quer problemas,
sim, como tudo.
Mas vive dos problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas
de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.


Na felicidade está o encontro de peles,
o ficar com o gosto da boca e do cheiro,
está a compreensão antecipada, a adivinhação,
o presente de valor interior,
a emoção vivida em conjunto,
os discursos silenciosos da percepção,
o prazer de conviver, o equilíbrio de carne e espírito.
Carne intensa, alegre, criança, redescobrimento
das melhores dimensões pessoais e alma refeita,
abastecida de todas as proteções necessárias,
um enorme empório de afinidades acima e além
de meras concordâncias intelectuais.
Os problemas daí derivados são os problemas da felicidade.
Problemas, sim, alguns graves.
Mas estalantes de um sentimento bom.


Na infelicidade estão a agressão, o desamor,
o não conseguir, a rejeição, a dor, o cansaço,
a troca com perda, a obrigação, o tédio, o desencontro,
o insulto, o ciúme machucante, as futricas de família,
as peles se eriçando e os toques que dão susto.
Os problemas da infelicidade não devem ser trazidos
para a trama do amor maduro.
O amor maduro é sólido e definido.
Mas estranhamente se recolhe
quando invadido pelos problemas
da infelicidade que fazem a glória do amor imaturo.
Acaba acabando.


O amor maduro não disputa, não cobra,
pouco pergunta, menos quer saber. Teme, sim.
Porém não faz do temor argumento.
Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado e importante
porque redentor de todos os equívocos do passado.
O amor maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é filho da capacidade de crer e continuar.
É o sentimento que se manteve mais forte
depois de todas as ameaças, guerras ou inundações existenciais
com epidemias de ciúme, controle ou agressividade.


O amor maduro é a valorização do melhor do outro
e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas
para sentimentos antigos, jardins abandonados cheios de sementes.
Ele não pede, tem. Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe. Não exige, dá. Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz.
Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.


O amor maduro não precisa de armaduras, coices, cargos
iluminuras, enfeites, papel de presente, flâmulas, hinos,
discursos ou medalhas:
vive de uma percepção tranqüila da essência do outro.
Deixa escapar a carência sem que pareça paupérrima.
Demonstra a necessidade sem que pareça voraz.
Define uma dependência sem que se manifeste humilhante.


O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão.
Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e sua incompletude,
por isso é pleno em cada ninharia por ela transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto
e a forma adulta de ser sublime e criança.


É o sol de outono: nítido mas doce.
Luminoso, sem ofuscar.
Suave mas definido.
Discreto mas certo.
Um sol, que aquece até queimar.

Coisas que a vida ensina depois dos 40- Artur da Távola



Amor não se implora, não se pede não se espera...
Amor se vive ou não.
Ciúmes é um sentimento inútil. Não torna ninguém fiel a você.
Animais são anjos disfarçados, mandados à terra por Deus para
mostrar ao homem o que é fidelidade.
Crianças aprendem com aquilo que você faz, não com o que você diz.
As pessoas que falam dos outros pra você, vão falar de você para os outros.
Perdoar e esquecer nos torna mais jovens.
Água é um santo remédio.
Deus inventou o choro para o homem não explodir.
Ausência de regras é uma regra que depende do bom senso.
Não existe comida ruim, existe comida mal temperada.
A criatividade caminha junto com a falta de grana.
Ser autêntico é a melhor e única forma de agradar.
Amigos de verdade nunca te abandonam.
O carinho é a melhor arma contra o ódio.
As diferenças tornam a vida mais bonita e colorida.
Há poesia em toda a criação divina.
Deus é o maior poeta de todos os tempos.
A música é a sobremesa da vida.
Acreditar, não faz de ninguém um tolo. Tolo é quem mente.
Filhos são presentes raros.
De tudo, o que fica é o seu nome e as lembranças a cerca de suas ações.
Obrigada, desculpa, por favor, são palavras mágicas, chaves que
abrem portas para uma vida melhor
O amor... Ah, o amor...
O amor quebra barreiras, une facções,
destrói preconceitos,
cura doenças...
Não há vida decente sem amor!
E é certo, quem ama, é muito amado.
E vive a vida mais alegremente...


Artur da Távola

Artur da Távola



Artur da Távola, o pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, (Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1936 — Rio de Janeiro, 9 de maio de 2008) foi um advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro.

SOBRE FUNDAMENTALISMO

É bom lembrar que a palavra “fundamentalismo “tem sua origem no Ocidente cristão e é fruto e decorrência do que se convencionou designar Modernidade. Os maiores fundamentalismos encontram-se no Ocidente. Foi aqui que foram gestados, em oposição à Ilustração(Movimento filosófico do século XVIII que se caracterizava pela confiança no progresso e na razão. Desafiava a tradição e incentivava a liberdade de pensamento.) e ao Liberalismo(Conjunto de idéias e de doutrinas que visa a assegurar a liberdade individual na política, na moral, na religião) e são filhos diletos do Romantismo (Movimento que substitui a Ilustração e os antigos modelos clássicos, procurando situar a existência humana num todo que envolvesse céus e terra. Daí que privilegiou os mitos da Antigüidade, da Idade Média e, não raro, da Reforma, culminando, muitas vezes, num movimento de Restauração de valores poéticos, religiosos e políticos).
A temática do fundamentalismo voltou a ser enfocada, após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, quando aviões foram, intencionalmente, lançados contra o coração financeiro norte-americano, em Nova Iorque, e contra o coração militar norte-americano, o Pentágono, em Washington. Fundamentalistas islâmicos foram acusados de serem os autores do atentado.
As pessoas, que planejaram os ataques suicidas de Nova Iorque e de Washington, certamente, estavam convictas de que o faziam em nome da luta do bem contra o mal. Essa sua convicção é denominada de Maniqueísmo(Doutrina desenvolvida pelo persa Mani (século III), segundo o qual o universo foi criado e está dominado por dois princípios antagônicos: Deus e Diabo. Por isso, só há dois princípios opostos: bem e mal.), típica das pessoas que não vislumbram mais o arco-íris, mas só vêem preto e branco, luz e trevas... Seus argumentos não precisam ter sido religiosos. Os argumentos do presidente Bush, ao jurar vingança, foram semelhantes: ‘Vamos eliminar o mal deste mundo’. Bush não precisa ter feito suas colocações necessariamente religiosas.
Não são apenas fanáticos religiosos que precisam de argumentos para justificar seus atos, que a maioria chama loucura. Muitas vezes (na maioria das vezes?), quando procuramos argumentos para definir nossos fundamentos, procuramos por inimigos. Os proprietários e os acionistas da indústria de armamentos precisam de argumentos para dizer que são fundamentais. Aí o bom passa a ser mau e o mau passa a ser bom.
Quando Saddam Hussein usou armas químicas contra curdos e iranianos, era bom e boas eram as armas químicas. Quando passou a criticar os fornecedores dessas mesmas armas, passou a ser mau e más eram as armas químicas. Bom era Osama Bin Laden, ao tempo em que, em Hollywood, se filmava Rambo 3. Aí os afegãos muçulmanos eram bons. Eram, nas palavras de Ronald Reagan, heróis semelhantes aos pais fundadores dos Estados Unidos da América do Norte. Treze anos depois são maus.
Em 11 de setembro de 1973, 28 anos antes de 11 de setembro de 2001, o palácio presidencial de Santiago do Chile ardeu em chamas e o presidente Salvador Allende foi assassinado. O ato foi considerado bom, pois, segundo Henry Kissinger, o país “se havia tornado marxista em decorrência da irresponsabilidade de seu povo”. Todos os fundamentalistas se parecem: os religiosos e os do mercado. Os religiosos, porque vivem dos dogmas da fé; os do mercado sempre, porque, para eles, o mais importante são as leis que regem a compra e a venda de seus produtos. Desprezam vidas humanas. O trágico é que, enquanto desprezam vidas humanas, o fazem em nome da Única Verdade. As atrocidades do movimento guerrilheiro Sendero Luminoso, no Peru, prepararam as atrocidades do presidente Fujimore.
As atrocidades do Oriente Médio prepararam as atrocidades do terrorismo feito em nome de Alá. Não é Alá quem comete os crimes feitos em seu nome. Não foi Deus quem encomendou aos nazistas o holocausto judeu; não foi Deus quem encomendou a expulsão dos palestinos de suas terras. O maniqueísmo, o olho por olho e do dente por dente, deixa o mundo cego, sem olhos, e desdentado. Depois de as vacas terem ficado loucas, os seres humanos enlouquecem. Os seres humanos criaram sistema que provoca loucuras, em nome da Verdade Única.

texto acima é parte de um artigo do Prof. Dr. Martin N. Dreher, da UNISINOS)

Curtas - XXII - Aloísio



Dor que gera tristeza
transformada em poesia
e assim vai o poeta
levando o seu dia-a-dia.

Perfil de MÃE - por Rosa Guerrera




Nunca consegui uma frase exata para definir a palavra mãe !
A impressão que tenho é que todas as mães possuem aquele
gostinho bom de chocolate , aquele perfume gostoso de um botão de rosa , aquele trecho romântico de uma melodia suave , aquela mansidão de um lago azulado , aquele brilho das estrelas que ornamenta o firmamento, aquele calor que emana de um dia de sol , aquela placidez de uma onda que dorme na areia, aquele barulhinho simpático de pingos de chuva numa vidraça e todo o amor do mundo em forma de mulher .
Hoje já não a possuo mais a minha pertinho de mim , mas como esquecê-la ? Como esquecer as mães que já partiram ?
O chocolate, o perfume gostoso, a letra de uma musica bonita ,a serenidade de um lago, o calor do sol, o brilho das estrelas , as brancas ondas na areia , ...tudo continua exatamente na paisagem dos nossos dias .
E em tudo isso , sentimos braços invisíveis que ainda nos ofertam carinho e amor, com o mesmo perfil e com o mesmo sorriso em forma de uma gigante e ao mesmo tempo pequenina palavra que fala a voz de todo o Universo : “ Mãe “.

 por rosa guerrera

OS OLHOS QUE TUDO VÊEM - José do Vale Feitosa



Tato Lacerda nasceu com uma guilhotina prestes a separar sua cabeça do corpo. Não tomava sol. Tinha medo de enegrecer e virar o cão. Sal lhe despertava repugnância: não queria virar uma estátua de sal como a mulher de Ló. O açúcar, sustos de escassez da insulina. A mulher vinha com a blenorragia, a homossexualidade com a imoralidade, o onanismo como sujeira. O amargo dava úlcera e o sabor engordava.

Sem sol, praias, mulheres e bebidas, temia a perda de audição com o Rock and Roll. A fobia de contato com as coisas evidentes da civilização fazia de Tato um profícuo orador dos “perigos da série”. Ou melhor: dos perigos em série.

Morava numa periferia da cidade de Crato, no todo deste planeta convulso, mas era atento ao que ocorria. Por isso mesmo conhecia tudo sob o solo e acima deste. Especialmente nos céus.

Pois foi deste céu que um dia tomou conhecimento das possantes lentes que, postadas nos satélites, seriam capazes de identificar uma pessoa aqui no rés do chão. A questão não era que Tato Lacerda tivesse um erro ou outro, a sua angústia era que ele todo seria alvo de espionagem. Espião examina e age. Tato se escondia.

Era um verdadeiro Bin Laden sob lençóis, enrolado na rede de dormir, quase sem brecha a não ser as luzes filtradas pelos punhos. E a modernidade era fatal, tinha olhos para enxergar até no escuro da noite. Tato almoçava num quarto escuro, sob um guarda chuva preto, mastigando devagar para não expor-se em excesso de movimento.

Nem se fala da agonia da família, o centro perseguido de Tato era maior que tudo mais, inclusive os amigos e a opinião pública. Psiquiatra não resolvia, não tinha pílula para camuflar Tato dos satélites espiões.

E tem cura? Deste tipo de espionagem não. A verdade é que Tato já andava desconfiado de Deus. Por isso mesmo foi retirado do catecismo antes de decorar os atributos dele. A catequista dizia: Onipotente....Tato levantou a voz em exclamação e logo foi dispensado das lições. Podia aprender que o Espírito Santo, o Filho e o Pai eram deuses, mas não eram três deuses distintos, apenas um verdadeiro. Não tinha problema resolver este enigma, mas dizer que Deus era Onipresente e Onisciente provocaria um desastre na segurança do rapaz.

Mas aconteceu que uns árabes de meia tigela, sem armas importantes e vindos dos cafundós do Judas, derrubaram as duas torres gêmeas do país dono dos satélites espiões. E os satélites não viram os árabes e nem adivinharam as intenções dele. E foi um bem depois do outro. Lá no Crato tinha tempo de correr da bacia d´água jogada fora, mas os satélites espiões nem para isso serviram.

Pronto no dia seguinte estava Tato, sem camisa, na maior satisfação, tomando banho de sol em plena manhã da Praça Siqueira Campos.


por José do Vale Pinheiro Feitosa

Dia das Mães João Marni



Mulher, que há milhões de anos, no período cenozóico, uma vez Lucy, deixaste as impressões na lama vulcânica quando instintivamente olhaste para trás, temendo pela vida do teu rebento;


Tu, que uma vez Eva, foste castigada por não postergar a procriação, tal e qual adolescente de hoje;


Tu, que embalas o sonhos de ser mãe, que exultas e ficas radiante quando concebes e carregas no ventre a razão da tua vida, deixando de existir para ti... que passas a rir ou chorar com o que ao filho acontece;


És capaz de nadar em águas turbulentas para salvá-lo, mesmo não sabendo fazê-lo. És também obstinada e nunca perdes a fé, a exemplo do Ingrid Betencourt, suportando um cativeiro de seis anos em meio à selva, às humilhações e maus tratos, acesa apenas pela tênue luz da esperança em rever os filhos.


Mãe, jamais mentes quando dizes que teu filho é o mais bonito, inteligente, inocente e o melhor dos homens. És símbolo de coragem e de responsabilidade, como aconteceu com aquela vietnamita, encontrada num buraco com seus filhos, durante a guerra, tendo negado ao seu algoz sobre seu companheiro com vários “não sei”. Mas quando indagada de quem seriam aquelas crianças, disse-lhe: “São minhas!”


Mãe, cuja maior queixa no consultório do pediatra é que seu filho não quer comer... Adiante, na juventude dele, não dorme enquanto não chega;


Mãe, feito Nossa Senhora, que mesmo sabendo desde sempre do destino reservado ao seu filho, Jesus, não foi capaz de segurar as lágrimas.


Parabéns a todas as mães, ricas ou pobres, santas ou pecadoras. Até às que abandonam ou agridem os filhos, pois doentes que estão, perdoadas são.


Tu que és filho, se não puderes comprar-lhe um presente, prenda maior será beijá-la e abraçá-la entre palavras como: “eu te amo, mãe!”.


Se distante estás, manda-lhe uma mensagem e, se já a não tens mais, lembra-te dela com alegria.


Presto homenagem agora à minha própria mãe, Maria Olga, num texto que ouso e espero, venha refletir o sentimento de todos pela sua:


Mamãe,
Do sopro do amor, no encontro aleatório dos códigos, iniciei-me na vida.
Alimentado como fruto em teu ventre, chorei ao deixar o silêncio e o morno de
tuas águas! Sorvi cada gota do teu néctar, enquanto maravilhava-me com teu olhar.
Nunca mais deixei de cair e de tentar novamente, desde que impelido a andar. Saí por aí e em lugar nenhum encontrei a paz, a entrega e a ternura como em ti, m
amãe! Em momento algum lamentaste o que te reservou a vida. Teu espírito é de continuar... Os filhos estão sempre a pedir perdão. Então perdoa-me, mãe, 70 vezes 7, Uma vez mais, quando perturbo o teu sono. És muito rica, pois em tempos difíceis, vendeste tuas jóias, exceto as do coração!
Te amarei sempre!

LEMBRANÇA - Marcos Barreto de Melo

A tua ausência se eterniza
Na saudade que é infinda
Só a lembrança ameniza
A dor, que em mim pereniza

Hoje, sem a tua ternura
Vou plantar meu padecer
Pra colher tua lembrança
Enquanto espero o anoitecer


Marcos Barreto de Melo

Filhas: presença

Sorríamos.
O tempo era de amor.
A entrega generosa se invertia.
Um ciclo se completava.
Tudo é impermanente.

(Stela Siebra)

Homenagem à minha mãe - Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Hoje, dia das mães, é a data em que os filhos querem presentear suas mães em agradecimento ao amor, carinho e dedicação que todas elas têm pelos seus filhos.
O dia das mães deveria ser comemorado diariamente, não com presentes materiais, mas com amor, carinho, atenção e sempre valorizando a mulher, que enxerga em cada filho um presente de Deus. Toda mãe dedica aos filhos um amor incondicional.
Nesta data está completando um ano e dois meses que a minha mãe faleceu. A saudade é grande, mas sei que ela cumpriu sua missão na vida sendo esposa e mãe exemplar.
Maria Eneida de Figueiredo, minha mãe, casou com meu pai Aníbal Viana de Figueiredo e conseguiram completar sessentas anos de vida a dois. Foi uma longa convivência, que mesmo com as dificuldades enfrentadas, procuraram viver da melhor forma possível. Este foi um casamento de muita união fundamentada no amor. Acredito que eles colocaram nos alicerces da família as palavras de Jesus: “quem ouve as minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, mas a casa não caiu, porque fora construída sobre a rocha.” (Mt 7,24-25) O matrimônio dos meus pais foi construído sobre a rocha do amor e das bênçãos de Deus. Portanto não poderia deixar de ter sido uma união feliz.
Após a partida do meu pai, a saúde da minha mãe foi se agravando e depois de três anos e dez meses foi a vez dela ir ao encontro de Deus.
Do casamento de meus pais nasceram oito filhos. Lembro-me sempre de toda a dedicação da minha mãe cuidando dos filhos e, ensinando a todos eles o caminho do bem. Ela procurou passar para os filhos os valores morais e cristãos, através do seu testemunho de vida. Uma mulher digna, de muita fibra, que ao longo da vida nos ensinou que o mais importante do que riquezas materiais é o amor ao próximo, o respeito pelas pessoas e a honestidade. Sempre nos incentivou a estudar e a cumprir com nossas obrigações de estudante.
Eu admirava muito o otimismo e a simpatia dela, sempre com um sorriso nos lábios. Por essa qualidade, construiu muitas amizades, pois com a sua alegria e delicadeza atraía muitos amigos. Aprendi com ela que devemos ser fiéis aos amigos e à família. Com o seu exemplo, nos ensinou a respeitar o ser humano, independente da sua condição social.
Tenho muita gratidão pelo amor que ela nos dedicou e os ensinamentos deixados, todos com o objetivo de nos tornar pessoas ajustadas, condição necessária para construção de uma sociedade melhor.
Agradeço a Deus por ter tido uma mãe tão amorosa e dedicada. Pela memória dela homenageio a todas as mães.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Os Discípulos de Emaús – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Em todas as missas celebradas neste domingo é proclamada uma das passagens mais bonita do Evangelho. Nele o Evangelista Lucas nos revela, que após a morte de Jesus, dois de seus discípulos, andavam de Jerusalém para o povoado de Emaús, distante 11 km desta cidade, quando Jesus se achegou perto e começou a caminhar ao lado deles, sem ser reconhecido. Perguntou o que eles iam conversando pelo caminho. Os discípulos com o rosto muito triste, indagaram: “Por acaso és o único forasteiro em Jerusalém que não soubeste o que aconteceu a Jesus de Nazaré, um profeta poderoso em palavras e ações? Já faz três dias que os nossos chefes sacerdotes o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram. Nós esperávamos que ele fosse o libertador de Israel.” Os discípulos lhe contaram ainda, que algumas mulheres do grupo haviam visto o túmulo vazio, e que dois anjos disseram a elas que o Mestre havia ressuscitado. Mas ninguém o tinha visto. Jesus, até então um desconhecido peregrino para eles, começou a lhes explicar o que dizia as Sagradas Escrituras a seu respeito. E quando eles chegaram ao povoado de Emaús, Jesus fez de conta que ia continuar a caminhada. Os discípulos disseram: “Fica conosco, já é tarde e a noite já vem.” Naturalmente, eles sabiam que era perigoso andar por aquelas estradas à noite. Jesus aceitou o convite, e durante a ceia, ao partir o pão, foi reconhecido pelos discípulos. Como por encanto, Jesus desapareceu. Os discípulos olharam um para o outro e perguntaram: “Não estava o nosso coração a arder quando ele nos falava pelo caminho?” E de repente, encheram-se de coragem e voltaram a Jerusalém para contar o que tinha acontecido aos onze apóstolos, que estavam reunidos. Receberam desses a afirmação de que o mestre havia realmente ressuscitado e encontrara-se com Pedro.

Que lições poderemos tirar dessa mensagem? Em primeiro lugar, aquele que caminha com Jesus pelas estradas da vida não pode ter medo. Quem tem o Filho de Deus ao seu lado nada deve temer. Em seguida, sabemos que o Cristo ressuscitado poderá a qualquer momento ser encontrado na Bíblia Sagrada, na partilha fraterna do pão e no meio da comunidade reunida. O projeto de vida que Jesus nos deixou engloba todas essas características próprias de seus seguidores.
Vivemos numa sociedade voltada para os bens materiais e por isto se tornou profundamente individualista. Como seguidores de Cristo temos como dever trabalhar no sentido de transformar essa sociedade, tornando-a mais justa e solidária. Não será tarefa fácil, mas caminhando ao lado de Jesus, tudo será possível.

“Fica conosco Senhor! É tarde a noite já vem, fica conosco Senhor! Somos teus seguidores também.” (Refrão da música “Os discípulos de Emaús” do Pe. João Carlos. SDB)

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Jesus presente na partilha – Por Pe. Nilo Luza ssp

O belo trecho de Lucas nos revela a caminhada dos discípulos de Emaús com o Ressuscitado. É uma demonstração de que Jesus – ainda que não seja reconhecido à primeira vista – caminha conosco. A narrativa mostra também que ele aproveita a ocasião para fazer uma catequese sobre a partilha.

O povo brasileiro tem convicção de que Deus caminha com ele, em tudo o acompanha. Essa presença, porém, nem sempre é “dinâmica”, isto é, capaz de provocar a transformação dos momentos difíceis da vida. A fé em Cristo, companheiro no cotidiano da existência, pode iluminar nossa vida e mudá-la de rumo, a exemplo dos discípulos que, após perceberem a presença do Ressuscitado, retornaram à Jerusalém e anunciaram a boa notícia aos irmãos.

Assim como acompanhou os discípulos de Emaús, Jesus nos acompanha em nossa trajetória, e com sua palavra, nos ilumina e vai mudando nossa maneira de encarar as coisas e os acontecimentos.

O caminho de Emaús é o caminho da nossa fé. Ela nos dá a certeza de que Cristo, embora não de forma física, continua presente e nunca nos abandona. Essa certeza será sempre maior à medida que nos deixamos iluminar com sua presença e nos alimentamos pela eucaristia, sinal por excelência de partilha e solidariedade.

E é justamente na hora da partilha do pão os discípulos o reconhecem (os olhos deles “se abriram e eles reconheceram Jesus”), pois esse foi o gesto repetido por ele ao longo de sua vida. A sociedade de hoje reconhece Cristo à medida que os cristãos forem capazes de partir o pão. Isso significa compromisso com a justiça, com a solidariedade, com a defesa daqueles aos quais é roubado o pão cotidiano. Sem partilha e solidariedade, estamos caminhando no rumo que nos afasta de Jesus.

Por Pe. Nilo Luza, ssp

“Transcrito do jornal “O Domingo” Edição de 08.05.2011”.

POETAS - por Rosa Guerrera


Foto de Emerson Monteiro

Pensei em te dar um rio repleto de ternura ,

mas esqueci que todo rio corre e desaparece no mar.

Pensei em te dar uma árvore cheia de frutos,

mas esqueci que no inverno ela parece sucumbir á chuva .

Pensei em te dar o céu sempre estrelado ...

E esqueci também que núvens cinzentas podem apagá-lo.

Pensei em te dar canteiros de flores...

E esqueci de regá-las ..

Pensei na vida como um livro apenas meu,

E não observei que suas páginas pertenciam ao destino.


Hoje sou rio seco,árvore sem frutos e céu nublado.

Canteiro com rosas murchas.

Livro com páginas rasgadas.

Porto sem navios .

Pássaro mudo .

Harpa sem cordas .

Som sem ritmo.

Passos sem rumo...

E no coração a dura certeza de que :

O amor completo só existe mesmo na pena dos poetas !

PENSAMENTOS MEUS... - por Rosa Guerrera



Relendo hoje um velho livro de minha autoria , escrito em 1987 , pensei em arquivar também aqui no blog , alguns pensamentos que ali deixei . .

E curiosamente observei como a vida é realmente um circulo vicioso. No hoje ou no amanhã ,estamos sempre a repetir gestos, falas e sentimentos que aconteceram no passado.................

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“Existe sempre uma espera dentro de cada coração !
E nessa espera uma árvore chamada DEPOIS, composta de várias ramas .
Morremos a cada instante e renascemos a cada momento., enquanto a espera continua ...
Mesmo que o DEPOIS vá adiantando sempre
Mais e mais o seu passo .”

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“Rabisquei a tua foto nos meus sonhos de criança ...
Sem imaginar jamais que um dia seria fotografada pelo teu amor ,
No instante em que fiquei completamente despida
Nos teus braços “.

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“Soltei o leme da minha embarcação
Sem temer a ofensiva do vazio ...
E fui te encontrar a minha espera
Trazendo no rosto o cansaço dos dias
Vividos sem mim” .

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“Trago nos meus olhos uma imágem perdida
E nas costas uma mochila carregada de saudades ..
Mas mesmo assim , ainda sei acreditar no amor”.


por rosa guerrera

Nós somos mães e filhos !





Passando uma vista na relação de colaboradores  do blog, surpreendi-me evocando a imagem e nome das mães  de uma grande maioria.

Lembro com ternura algumas  que viraram anjos, como as mães de Zé do Vale, Stela, Edmar, Everardo, Marcos e Tetê, Altina , Calazans, Tiago, Elmano, Magali, Carlos, Pachelly, Ismênia, Rosa Guerrera,
Emerson, João Marni, Fátima Figueirêdo...

Outras com quem falei amistosamente por telefone, como as mães de Eduardo e António Barbosa.

Aquelas que abraço e cumprimento, no calor do dia a dia, de vez em quando, ou pelo menos  um dia na vida...Como a de Jeânia, Joaquim e Maria Amélia, Zé Flávio, Luds Lacerda, Nilo Sérgio, Ulisses, Marcos Leonel, Liduína, Nicodemos, Ana Cecília, Domingos Barroso, Mara Thiers, Nívia Uchôa, Zélia Moreira, Kaika...
Estendo minha homenagem àquelas que não conheço, nem conheci
, e a todas as mães do Planeta.
Que a elas seja concedida , a felicidade de todos os seus filhos.

- A graça maior que uma mãe pode receber dos céus!

Billy Blanco


William Blanco Abrunhosa Trindade, mais conhecido como Billy Blanco (Belém do Pará, 8 de maio de 1924), é um arquiteto, músico, compositor e escritor brasileiro.

Keith Jarrett



Keith Jarrett (Allentown, 8 de maio de 1945) é um compositor e pianista estadunidense. Suas técnicas de improvisação conjugam o jazz a outros gêneros e estilos, como a música erudita, o blues, o gospel e outros.

Poemas de José Carlos Mendes Brandão:

link do Cronópios (onde saiu esse texto): http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=5013


QUIETUDE

A casa quieta, à beira do lago, acorda com os pássaros.
Há domingos tão belos que ate os cachimbos florescem.
Os meus olhos e os figos maduros estouram ao sol.
A água fresca dos cântaros reluz à sombra sossegada.

O poeta escreve com estrelas, pedras e pássaros.
A montanha brilha no caminho do pinheiro além-horizonte.
O pássaro desenha o círculo perfeito no céu azul.
A pomba passeia na terra do canteiro de buganvílias.

Escrever é um testemunho da alegria.
A mulher ergue a mão para a macieira em chamas.
As árvores solícitas esperam a passagem do rio.

A figueira abre os braços e oferece a sombra acolhedora.
Nadam na água os peixes dourados e a imagem das árvores.
O melro canta, imóvel. O rio deflui, banha as folhagens do dia.



ENTARDECER

A borboleta conversa com a árvore.
O escorpião passeia entre as pedras.
Estou na varanda olhando o tempo.
O mormaço da tarde me envolve.

Uma taturana queima o meu olhar.
Os cavalos bebem o sol.
Um cabrito salta a porteira.
A água cai na calha de taquara.

O limo tem desperdício de sentido.
Passa uma garça sobre o telhado,
Ilumina a tarde nas asas.

Esta casa me maravilha.
A sombra azul do jacarandá
Se ajoelha para o sol.



SANGUE E SONHO

A infância é o ponteiro caindo no poço,
Subindo pejado de água limpa.
É uma rãzinha no ponteiro
Tocando violino com as estrelas.

É a meia-noite no ribeirão
Dançando com seu vestido de rendas.
É o luar quebrando uma pedra,
Espalhando sementes pelo mundo.

É a terra vermelha na boca
Com gosto de mato, sangue e sonho.
A areia à beira do córrego me acolhe.

Sou a novilha lambendo a minha cara,
Sou o cavalo alazão galopando
Com um galo cantando nas ancas.



O GRILO

O grilo aproveita a noite no monte de lenha,
Tomou vitamina e canta a plenos pulmões.
Pingam na noite lágrimas como estrelas,
A lua acorda, se levanta e boceja na janela.

A árvore abaixa a copa para a terra sonolenta.
As casas solitárias se apagam na distância.
Os cachorros latem encurtando as estrelas.
Late muito mais alto o meu grilo lenhador.

O cheiro do mato molhado me envolve todo.
O meu corpo exulta no calor do barranco.
Os coqueiros do pasto entram em casa.

A língua do meu bezerro Bito me lambe a cara.
Vaga-lumes passeiam beliscando os meus olhos.
O meu grilo martela a bigorna da memória.



A LÂMPADA DE ARGILA

Chego ao lago sereno com suas flores e pássaros.
Deito-me ao sol dourado, sob o verde das árvores.
A brisa ergue no ar a poeira fina dos estames
E a terra fertiliza-se como num encantamento.

Tomo da palavra como uma chave mágica.
As estrelas cantam nas folhas ainda escuras.
O sino toca na montanha acordando o dia.
O meu tronco de árvore floresce e frutifica.

A lagarta carrega uma flor nas costas, torta de dor.
A aranha tece a sua teia, caça e devora a mosca.
O limo escorre entre as pedras do barranco.

Uma cortina de água flui na entrada da gruta.
A casa da poesia é a única morada de Deus.
A lâmpada de argila brilha ainda.



A FLOR E O SOL

A flor se despe para o sol. Escorre leite de seus seios,
Seus lábios fremem. As abelhas preparam a dança
Do amor: ela geme de prazer, se contorce,
Se transforma numa estrela, numa virgem vestal.

O sol beija a nuca, as nádegas. Ela oferece o alforje
Com o néctar. O sol é uma aranha e a teia núbil.
O olho da aranha chove azul. A flor é fêmea
No cio. O sol é um escorpião esperneando.

Ela é uma árvore enferma, conhece a linguagem
Do corpo no verão. Ele agoniza salivando como um cão.
O cheiro dele é um caracol explodindo. Ela, a flor,

É uma jia calada. Mal respira para não morrer.
Ele, o sol, é um peixe com ela dentro.
E tudo é silêncio e escuro antes que o eterno gorjeie.



OS OLHOS DE MINHA MÃE

Nasce uma flor nos chifres da vaca,
Uma fonte de leite puro muge no pasto.
O orvalho da aurora me purifica.
Brotam da memória um bezerro e um touro

Voando sobre as árvores da infância.
Onde o cavalo do meu pai? Onde
O grito retumbando como um trovão?
Os centauros celestes fazem chover

Pétalas do delírio e borboletas azuis.
Um peixe curioso espia das locas na água verde
Do ribeirão correndo no fundo do pomar.

O eterno dorme ao meu lado como um cão.
Minha mãe chega à porta com pássaros nos ombros
E me mostra a face de Deus nos olhos.







MÃE É MÃE - por Ulisses Germano

Terezinha Leite minha mãe

MÃE  É MÃE
(VERSINHOS PARA DONA TEREZINHA - Têka )
(Ulisses Germano) 

A mulher que eu tanto amo
Me ensinou muitas canções
É a mulher que eu clamo e chamo
Pra curar as aflições

Mesmo o mais sábio dos sábios
Nunca ousam dizer não
O seu nome sai dos lábios
Pra entrar no coração

Mãe ensina a amar
A doar e a esquecer
Faz do verbo perdoar
A ação que faz crescer


Mãe é mãe, tá dito e feito
Como poderia ser
De outro jeito?

 
Minha mãe tem som de eme
Até nos ideogramas
Pois é a imagem que geme
Ao saber que tu me amas!
母親
...

PS. Todo dia é dia de mãe!