por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 24 de março de 2012

Nota de pesar.


Chega o dia,em que as nossas mães  começam a viaja sem a nossa companhia... É a lei natural da vida.
Maria Ninete Pinheiro Teles Vieira,despediu-se da vida terrena, deixando  a sua família construída, mas eternamente saudosa.

Somos contigo, amigo Zé Flávio!

Minha Tia High Tech e o Pterossauro Chinês - José do Vale Pinheiro Feitosa

Tia Rosinha acabou de ligar-me. Logo imaginei que estivesse “brincando” com a nova mania das tias: o smartphone. Acharam o máximo levarem a internet para onde forem. Mesmo no banho de sol no açude podem ler os jornais, buscar receitas no Google ou mandar alguma mensagem para um sobrinho.

Era o que pensava com o telefonema de tia Rosinha, inclusive pelo entusiasmo com o qual me deu a benção do dia. Eu fiquei muito curioso com a alegria e não precisei esperar muito: era assunto das ciências, uma descoberta fundamental. Algo tão espetacular que ela se engasgava na argumentação e não me oferecia pistas do que realmente se tratava.

- Titia! O que é mesmo que a ciência descobriu?

- O Guidaco venator!

- O quê? Titia!

- Tem três metros de uma ponta a outra das asas. É grande demais meu filho. É quase do tamanho do quarto do Oratório.

- Titia e que pássaro medonho é esse? – Sendo bicho de asas para ser admirável pelos três metros de asa só podia ser um pássaro, avião é que não seria.

- É demais meu filho! E a fotografia dele é de bicho ruim. Tem uma crista maior do que de um galo de raça, um bico prá mais de metro, feio e meio curvo. E se não bastante a ruindade das fuças do bicho, na boca dele tem uns dentes enormes. Dizem que os bichos sobram quando ele fecha o bico. Os dentões ficam entrelaçados por fora da boca do danado.

- Ave Maria titia! Se este bicho voar por aí a senhora tem que reforçar o galinheiro. Cuidado com os burregos e com os bezerrinhos! – Fiz a primeira gracinha que me veio.

- Não meu fiii! O bicho é de outro tempo. Não dá mais ovo nos dias de hoje não. Ele viveu há muito tempo. Ainda naquele tempo daqueles bichos gigantes...como é mesmo o nome deles?....aqueles que dizem ser da pré-história!

- Dinossauro?

- Isso! E tu sabe o que significa Guidaco venator? – Tia Rosinha quase soletrava a palavra enquanto emitia as sílabas numa exagerada solenidade.

- Não tenho nem idéia!

- Quer dizer: o espírito mau do dragão caçador.

- É mesmo?! - Falei com espanto para absorver o entusiasmo de tia Rosinha.

- É meu filho. Eu achei o máximo.

- Muito bem minha tia um bom dia para.... – Achei que ela ia encerrar o assunto e já me despendia quando ela me atalhou.

- E tem a coisa mais importante de tudo isso meu filho!

- É titia?

- É! O bicho viveu na China. Lá no outro lado do mundo...

- ????? – eu não sabia o quê dizer sem compreender qual a importância do fato para tia Rosinha.

- Pois é meu filho! Lá do outro lado do mundo. Na China!

- Esses chineses minha tia só faltavam exportar isso para nós! – Tentei uma gracinha para compensar o que me parecia o exagero dela.

- E precisa? Os da China são iguaiszinhos àqueles encontrados aqui no Crato. O Guidaco, meu filho – a titia tinha intimidade total com a paleontologia – é pterossauro muito semelhante ao Ludodactylus sibbicki – a pronúncia da tia eu não garanto, mas o tom dela deu ao bicho os ares de muita importância - encontrado na formação Crato da bacia sedimentar do Araripe.

Essas minhas tias não são apenas High Tech: elas são geniais. Absorvem o texto que lêem com uma integridade de fazer inveja até em aluno de pós-graduação.

- Olhe o Crato se irmanando com China titia! – Levei a aproximação dos espécimes na gozação.

- Meu fiii! Eu vou dizer uma coisa! Tem mistério nesta história, viu? Por que é que tem aqui no Crato e depois precisa correr mais do que uma banda do mundo para surgir animais parecidos? Por que é que o bicho não deu na África e nem nas Europa. Só deu aqui e lá do outro lado do mundo. Isso é muito mistério viu?

Aí compreendi todo o entusiasmo da ligação de tia Rosinha. Este paradoxo da ciência tinha sido compreendido por ela.

- Por isso meu filho eu vou rezar muito mais pelo Crato. Esta terra tem mistério que se perde nas lonjuras e assunto que se esqueceu nas dobras do tempo. Vou rezar viu?

- Titia um beijo na senhora – a alegria de tia Rosinha se transmitira para mim – Reze muito minha tia, pois quem sabe o povo escolhe um bom prefeito nas próximas eleições!