por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 31 de dezembro de 2013


Hoje, 31 de dezembro de 2013. Estamos de saída para a Praia de Copacabana. Um amigo, que mora na Avenida Atlântica, com uma visão privilegiada para a Praia, a Multidão e a Queima de Fogos faz uma cota, contrata um DJ, arruma bebidas e comidas, dançamos, conversamos e assistimos. Claro provando a tradicional lentilha da meia noite quando já estamos em 2014. Vocês aí em Crato uma hora após.

À tarde assisti a um entrevista num canal de televisão com o Maestro Zubin Mehta quando a entrevistadora fez a analogia clássica que quase se tornou um chavão. Ela queria a transcendência da música, especificamente a elevação dos seres humanos a Deus. Ao que o Maestro respondeu: ela une as pessoas. Ela eleva as pessoas em razão uma das outras quis dizer o maestro. 

Isso que penso dessa procissão que acompanhei e filmei e fiz um filmete com todo o percurso, com texto e voz. Já publiquei um trecho quando falava na solidão da estrada carroçável que em seguida encheu-se de gente em caminhada. Isso é o que penso sobre a procissão: mais do que um elevação ao sublime da dádiva, é uma elevação dos seres humanos. Assim como todas as nossas mensagens de fim de ano. Com um reparo com a filmagem é em alta definição, tive que rebaixar para poder fazer o upload.




segunda-feira, 30 de dezembro de 2013


UNS

(Caetano Veloso)

Uns vão
Uns tão
Uns são
Uns dão
Uns não
Uns hão de
Uns pés
Uns mãos
Uns cabeça
Uns só coração
Uns amam
Uns andam
Uns avançam
Uns também
Uns cem
Uns sem
Uns vêm
Uns têm
Uns nada têm
Uns mal
Uns bem
Uns nada além
Nunca estão todos

Uns bichos
Uns deuses
Uns azuis
Uns quase iguais
Uns menos
Uns mais
Uns médios
Uns por demais
Uns masculinos
Uns femininos
Uns assim
Uns meus
Uns teus
Uns ateus
Uns filhos de Deus
Uns dizem fim
Uns dizem sim

E não há outros.

Uma demissão por justa causa. - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Em 1978, o motorista do Superintendente da Coelce para a região do Cariri, veio até minha residência, para informar que estava ali a fim de me conduzir ao distrito de Quincuncá, no município de Farias Brito. E eu deveria representar a Coelce na inauguração da energia elétrica daquela localidade. A solenidade contaria com a presença do governador do Estado e outras autoridades. Eu não havia participado nem do projeto, nem da construção da obra e portanto não possuía nenhum dado sobre aquela rede elétrica prestes a ser inaugurada.

O distrito do Quincuncá fica no topo de uma serra cujo acesso a partir da cidade de Farias Brito era muito difícil. Uma ladeira tão íngreme, que ao terminá-la de subir, tivemos de parar o carro por cerca de uma hora, pois a água do radiador estava fervendo, como se ele fosse uma chaleira, tendo derramado quase toda água. Por esse motivo chegamos um pouco atrasado ao inicio da festa.

Quando chegamos, o governador já havia acionado a chave que simbolizava a inauguração tão ansiosamente aguardada pelos moradores da vila. As autoridades já estavam sobre um improvisado palanque para os discursos e, eu como representante da Coelce fui convidado a subir. No palanque, o senador Virgílio Távora se aproximou de mim e perguntou:
- "Dotorzinho, quantos postes tem essa rede?"
- Setenta postes! - Respondi chutando.
- E o transformador? Qual a potencia? - Insistia ele.
- 112,5 kVA - Dei mais outro palpite.
- E quantas casas foram ligadas? - Sua última pergunta.
- 130 residências. - Meu último chute.

Preocupado, desci do palanque e fui ouvir o discurso no meio dos eletricistas da Coelce que tinham trabalhado até aquele dia na conclusão da rede elétrica. Quando ele terminou sua fala, então eu comentei com o chefe de turma que aquelas informações eu havia chutado ao senador Virgílio Távora. Foi com grande surpresa que eu o ouvi dizer:
- O senhor somente errou no número de ligações: foram 128 casas e não 130. O restante estava tudo certo. Mal poderia imaginar àquela altura, que o meu "achismo" seria tema de futuros ensinamentos na universidade.

Três anos depois, encontrava-me em Recife participando de um curso de pós-graduação "lato sensu", o CEDIS - Curso de Especialização em Distribuição de Energia Elétrica, numa promoção da Eletrobrás através da Universidade Federal de Pernambuco. Era uma espécie de revisão do programa do curso de Engenharia Elétrica, especificamente voltado para distribuição de energia, com participação de engenheiros das empresas distribuidoras de energia do nordeste e convidados de países sul-americanos.

Um dos professores era o engenheiro Solon Medeiros Filho, uma das maiores autoridades em medição de energia elétrica. Paraibano de Patos, o professor Solon era autor de vários livros técnicos adotados na maioria dos cursos de engenharia elétrica do pais e um convidado para ministrar palestras e cursos em Congressos e Seminários de Distribuição de Energia Elétrica por toda a  América Latina. Apesar de todo conhecimento de que era possuidor, o professor Solon não perdia a postura de sertanejo. Ministrava suas aulas com muita competência, entremeando os complicados assuntos técnicos com histórias interessantes, sempre que notava o cansaço se abater sobre a turma de alunos. Ele contava, que certa vez num congresso realizado na Argentina, seus companheiros brasileiros participantes daquele evento compravam sapatos de cromo alemão por apenas dez dólares, uma pechincha, o equivalente a cerca de trinta cruzeiros naquela época, ou nossos atuais vinte reais.
- Solon, você não vai comprar sapatos? Estão baratíssimos! -  Diziam seus companheiros. E ele respondia com outra pergunta para em seguida dar seu próprio veredicto:
- Tem vulcabrás? Porque eu só uso vulcabrás!

Certo dia, já no final do curso, ele nos contou uma história de um ex-aluno, recém formado em engenharia elétrica. Este aluno procurou o professor Solon para, segundo ele interpretava, relatar uma grande injustiça de que fora vítima e pedir ajuda a ele para interferir junto ao governador.

Eis o relato desse aluno. Após a formatura, foi contratado pela CELPE, a Companhia de Distribuição de Energia Elétrica de Pernambuco e lotado em Garanhuns. Naquela agradável cidade, o escritório da CELPE era defronte a casa do prefeito. Rapidamente estabeleceu-se uma amizade entre o prefeito e seu jovem vizinho. Certo dia, o prefeito foi convidar o engenheiro para almoçar com ele e o governador do estado na casa dele. Na hora do almoço foi apresentado ao governador, e o prefeito numa distinção ao seu amigo, fez com que ele se sentasse ao lado do governador. Então começou um interessante diálogo semelhante àquele ocorrido comigo e o Senador Virgílio Távora, acima mencionado.
- Quantos consumidores a Celpe tem aqui em Garanhuns? -  Quis saber o governador.
- Governador, me dê um minutinho que eu vou pegar o relatório no escritório ali do outro lado da rua. De pressa eu volto.
- Não. Não precisa. - Disse-lhe o governador! E continuaram o almoço. Alguns minutinhos depois, outra pergunta do governador:
-  Quantos quilômetros de linha de distribuição tem a cidade de Garanhuns? - Quis saber o governador!
-  Governador, deixe-me pegar o relatório, que darei todas as respostas que o senhor desejar.
- Não, não precisa. - E encerrou aquele assunto. E o engenheiro, após relatar tudo ao professor Solon, disse:
- Professor, quando o governador chegou a Recife mandou me demitir. Será que o senhor poderá falar com ele para tornar sem efeito essa demissão? - Então o jovem engenheiro recebeu do professor Solon a seguinte resposta:
 -  O governador fez muito bem em lhe demitir. Quando ele lhe perguntou quantos consumidores tem a cidade, você deveria ter respondido: cinqüenta mil. E olhasse para o homem. Se ele dissesse, só isso? Você deveria emendar: Estou contando somente a cidade, não inclui os distritos e nem a zona rural. Por outro lado se ele exclamasse: tudo isso? Você deveria dizer, estou contando com os consumidores da cidade, das vilas e da zona rural. 

Depois de ouvir essa história, vi como tivera sorte por haver chutado minhas respostas ao senador Virgílio Távora, pois três anos depois daquela inauguração em Quincuncá, ele foi conduzido à chefia do governo do Estado do Ceará e eu não fui demitido como aquele engenheiro pernambucano, nem mesmo transferido, mas nomeado chefe do Departamento Regional da Coelce no Cariri.  Prova de que qualquer chute na direção do gol, mesmo que a bola bata na trave, é melhor do que a bola passar longe da trave. 

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

sábado, 28 de dezembro de 2013

O nosso (anti) herói do sertão - José Nilton Mariano Saraiva

Todo mundo sabe que o Ceará enfrenta uma das maiores secas da história. Que tal drama comoveu milhares, ao se constatar que tem gente no interior bebendo água misturada com lama, porquanto os açudes e reservatórios de há muito chegaram aos fundos lodosos dos poços.

Pois, ainda assim, o Governador do Estado resolveu inaugurar uma “adutora” no município de Pentecoste, a poucos quilômetros de Fortaleza. Adutora cuja tubulação é composta daqueles “canões” grossos de PVC, com diâmetro de 20/30 centímetros em toda a sua extensão.

Só que, durante a inauguração da dita-cuja, “espocaram” vazamentos de tudo que é lado na tubulação, em razão da... “pressão da água” (é vero, senhores, acreditem). Assim, em pleno cenário de fome e desolação, onde literalmente as pessoas morrem de sede, a pressão da água (durante a inauguração da adutora) foi tão grande que os canos de PVC não suportaram e... tome água jorrando aos borbotões (mais um daqueles milagres fajutos de Cícero Romão Batista ???).

Fato é que logo desconfiaram da “qualidade” dos “canões” de PVC utilizados na obra, e que possivelmente alguém pagou por um produto de marca e recebeu um genérico, presumivelmente fabricado no Paraguai, daí o espetáculo inesperado.  A oposição, claro, botou a boca no mundo.

E aí, de pronto, surge a intrépida figura do salvador da pátria, nosso (anti) herói do sertão. Fingindo-se incomodado, sua excelência o Governador do Estado, Cid Gomes, resolveu “fiscalizar” a obra, evidentemente que acompanhado de um exército de áulicos de plantão e de uma autentica caravana de  jornalistas, cinegrafistas e por aí vai.

E aí aconteceu o inimaginável, o intraduzível, o surrealismo em toda a sua pujança: deixando a formalidade de lado, sua excelência se desvencilhou da roupa tradicional, pôs um “bermudão” de cor berrante e, alegando querer ajudar de forma mais efetiva e presencial, mergulhou e submergiu diversas vezes em um tanque, ferramenta à mão, com o intuito de “fechar um registro” (aqueles “torneirões” enormes usados em adutora) a fim de obstacular a derrama do precioso líquido, possibilitando aos seus “colegas-bombeiro” complementar o serviço.

Naturalmente que tudo isso foi “filmado para a posteridade”, de sorte que as gerações futuras possam tomar conhecimento que (em plena seca), graças à atuação do “governador-bombeiro” foi sanado um sério problema de falta d’agua no município de Itapipoca (por que não cunhar uma placa comemorativa, a ser afixada no local, sob o título de “governador-bombeiro” ???).

O espetáculo, desnecessário, deprimente e repulsivo sob todos os aspectos, apenas reforça o conceito pra lá de negativo que os políticos brasileiros ostentam ante a população.


Quanto ao nosso (anti) herói do sertão, governador Cid Gomes, pontuou seu currículo com mais uma atitude reprovável, dentre as muitas que já afloraram na vigência do seu mandato. Afinal, isso é falta de respeito para com seus conterrâneos, ou o atestado eloqüente do pouco caso que faz da inteligência do eleitor cearense.    

FEIRA LIVRE - José do Vale Pinheiro Feitosa

O Rio de Janeiro é uma narrativa esticada. Convivem atos e fatos coloniais, imperiais e republicanos. Da velha, nova e atual República. E não falo de molduras como o casario e ruas antigas. Falo do metabolismo cotidiano da cidade.

Por exemplo, as Feiras Livres. Nos bairros, na véspera, os carros estacionados em certas ruas devem procurar novo repouso. Na madrugada começa a algazarra da montagem de barracas, caminhões estacionando, caixas de hortifrútis com baques se empilhando nas calçadas.

Carros não passam nas ruas, não chegam e nem saem das garagens. A rua é da feira. Os moradores delas são parte da dinâmica. Suas calçadas, seu trânsito a pé, seu silêncio e sua portaria fazem parte da apropriação coletiva da feira. De um coletivo a serviço da atividade mercantil privada e vice-versa.

O esticado Carioca não é um painel de tempos. É a maneira como o hoje acontece. Uma fusão de contraditórios, misturando aparências com interioridades distintas. Ao mesmo tempo um tipo estranho numa mentalidade conservadora. No mesmo corpo a vanguarda e o atraso. E usar o que deseja sem buscar a coerência. Viver o nicho zoando pelos habitats estranhos.

Com o carrinho de feira pela calçada, na rua Jardim Botânico, dou de cara com uma jovem gorda estampando uma camisa com a logomarca da revista Vogue. A revista fashion. Mas quem traduz de fato aqueles dizeres em inglês das t-shirt? E um pintor de paredes com uma camisa de uma campanha eleitoral de dez anos passados.

Nos botequins da redondeza, aqueles que ainda restam, os bebedores contumazes ausentam-se da monotonia dos quitinetes com uma garrafa de cerveja de volume incerto, mas um copo espumando já pela metade. E nunca ficam cheios.

E na barraca de pastel, uma juntada de fregueses pedem, esperam, conversam enquanto o motor de 4 HP espreme o bagaço que esvaziou-se num córrego de caldo de cana. Quem é mais importante? O Caldo de Cana? O pastel? A espera? Ou a conversa?

Os caminhões do peixe, do frango, do porco e até do carneiro. Linguiças. Ovos. Sangue para o molho pardo. Miúdos para o banho de vida insalubre e a retirada da pele das peças que dizem saudável. Dizem, é assim que a regra se interpõe.  

E uma rua plena com as duas margens de verduras, legumes e frutas desde a típicas dos finais de ano como a Lichia e as Cerejas até a velha banana do cotidiano. Barracas de temperos. Dos queijos, coalho, minas canastra, manteiga, parmesão e outros mais que somam-se à natureza de cada comerciante.

Para os sem tempo e preguiçosos, sacos de macaxeira descascada e em pedaços, sacos com mixes de legumes cortados ou de apenas um, além de outros ralados de modo a superar a lavagem daquele processador de legumes que foi uma maravilha na compra, mas hoje é estorvo no armário da cozinha.
E os comerciantes precisam alertar para o seu produto. Eles gritam, fazem piadas, têm seus refrãos. O marketing mais avançado contempla deste a rasgada satisfação com a venda ao repetir inúmeras vezes a palavra maravilha, maravilha, maravilha ou mentir sobre a qualidade do seu produto sem esquecer da piada que o denigre. Por exemplo, o senhor quer um mamão maduro, de vez ou um mamão podre.

E é fatal. Você se torna freguês de algumas barracas. A do Grandão por exemplo. Uma lábia de fazer inveja ao um padre ou a um pastor da liturgia da prosperidade. O melão é ótimo, só ele o tem, vem de Itaiçaba no Ceará. A manga dele não vem de São Paulo mas de um lugar outro onde é mais doce. Na verdade o bom sabor nos coloca no conhecimento da excelência daqueles lugares sem que nunca se tenha qualquer base que a sustente. A não ser a boa capacidade de escolha do Grandão na Ceasa.

E como um cidadão do século XIX, vou de volta para o meu canto, puxando um carrinho de compras cheio dos produtos da era da biotecnologia. A feira do Rio de Janeiro.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A Polêmica em torno do Programa Mais Médicos seis meses após - José do Vale Pinheiro Feitosa

Os setores corporativos da medicina reagiram negativamente ao programa Mais Médico. Pela primeira vez o Governo havia dado um passo além do limite do discurso que unia a todos: mais recursos financeiros para a saúde. Nesse assunto de mais recursos as corporações médicas se alinhavavam na medida progressista.

Porém quando o assunto chegou à sala dos profissionais de saúde as suas corporações (Conselhos, Sindicatos e Ícones Técnicos como Dráuzio Varela) foram para o canto direito da luta. Quando os médico cearense vaiaram e xingaram os recém chegados, especialmente os cubanos, a situação se tornou puramente ideológica.

Se tornou na luta entre o SUS, de acesso universal e gratuito e o setor corporativo privado baseado na exploração intensiva de tecnologia cara. Naquela altura os sindicatos médicos que tiveram importante papel no período da redemocratização do país, na constituinte apoiando o SUS e depois lutando por mais recursos, pularam a barreira para o lado mercantil.

Muitos sem ter consciência disso, mas foi isso que aconteceu. Nesse momento, também, se rompe uma aparente aliança, muito por causa do silêncio, entre médicos que atuam nos Chamados Cuidados Básicos de Saúde e aqueles que operam na tecnologia de ponta. Na verdade há uma dicotomia de origem na formação de médicos de Atenção Básica e nos Tecnológicos.

A rigor os primeiros são mais médicos na acepção clássica da palavra. Eles operam com um senso coletivo de resultados de suas ações. Enquanto o outro se tornou uma espécie de técnico de nível superior especializado em operar equipamentos que dão lucros em Bolsa de Valores.

E por incrível que pareça os “Médicos Tecnológicos” sempre se acharam “superiores” ao colegas de Atenção Básica. Eles terminavam pelo caminho do acesso do fetiche da tecnologia adotando preconceitos de classe. Aliás essa é uma das características da pós-modernidade: a ideologia de classe decorrente do acesso à tecnologia de ponta.

Mas o que temos? Pela primeira vez uma política de Estado deu conta do problema integralmente. A primeira questão. A população de profissionais de saúde saltou de 5,39% em 2000 para 7,01% de participação na população economicamente ativa. Isso significa gerou muito mais vagas do que as faculdades formavam.

Nos últimos dez anos se abriram 146 mil vagas de médicos no país, mas as faculdades apenas formaram 93 mil. E o Brasil continua um dos países mais baixos em termos de médicos por mil habitantes. No país temos 1,8 médico por mil habitantes, enquanto na Argentina é 3,2, Uruguai 3,7, Alemanha 3,7 e Espanha 4.

E mais importante, eles estão concentrados em São Paulo (2,49), Rio de Janeiro (3,44), Espírito Santos (1,97) e Rio Grande do Sul (2,33). Os demais 22 Estados têm menos de 1,8. No Pará fica em 0,77, no Maranhão em 0,58 e no estados nordestinos o maior é Pernambuco com 1,39 médicos por mil habitantes.

Mesmo os estados mais ricos e que concentram maior número de médicos estão inferiores à correlação de médicos por exemplo da Argentina, do Uruguai, Alemanha e Espanha. Além do mais durante as décadas de 80 e 90 houve uma redução das vagas de médicos nas universidades, ou seja o Brasil formou menos gente e isso não só agravou a falta desses profissionais como aumentou a média de idade do médicos brasileiros. Hoje os médicos com idade entre 50 e 60 anos é maior do que entre 40 e 50.

Por isso o Programa prevê aumentar o número de vagas de graduação e de pós-graduação em residência médica. Ao contrário do que as corporações sempre viram com olhar de preocupação, a abertura de novas faculdades e de vagas nos cursos já existentes, passa a ser uma realidade. Por exemplo pelo que fui informado o Cariri terá um segundo curso de Medicina Federal que funcionará em Crato. Além do mais pretende-se chegar a uma vaga de residência para cada graduando em medicina.

O programa está em curso, já contratou 6.658 médicos para as periferias, atendendo a 2.177 municípios e pretende chegar 13 mil médicos até março e abril do ano que vem. Isso tem um enorme impacto na Atenção Básica de Saúde. Aí é onde cuidados essenciais como prevenção de cânceres, pré-natal, tratamento da tuberculose e hanseníase, vacinação, controle de hipertensos e diabéticos, pneumonias, asmas, bronquites entre outros vão modificar a longevidade e reduzir danos à saúde.


A verdade é que, no final, todos tomarão consciência que é preciso uma Política de Estado, independente da luta corporativa e do embate eleitoral do ano que vem. É preciso compreender que a medicina tecnológica, de alta complexidade e custo é uma decorrência da Atenção Básica de Saúde. E não ao contrário como alguns, olhando para seu umbigo de ouro, pensa. 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

É HOJE! ONTEM FOI APENAS A VÉSPERA - José do Vale Pinheiro Feitosa

A data correta é hoje. Ontem foi a véspera. E todos têm o direito à comemoração e, por serem interdependentes no processo social, mesmo quando ferinos individualistas, predadores mercantilistas ou vorazes rentistas do capital, a querer o abraço pelo nascimento. Pelo novo. Pelo que significa mesmo que por horas, ao coletivo abraça ainda que apenas por palavras e textos velhos, gastos e de puro chavão.

Mas hoje é preciso examinar-se o interior e a derme do cotidiano para sentir a troca de presentes da véspera. Sentir o acréscimo do nascimento. É preciso saber se o abraço comemorativo deixou alguma marca da mensagem de amor, fraternidade, paz e senso de justiça como matéria do humanismo e do perdão.

Comecemos pela necessária proteção e liberdade dos pobres, das crianças, dos idosos, das mulheres vítimas da violência, o arrefecimento do rancor irracional do preconceito de classe, cor, etnia, origem, contra doentes, a homofobia, todo aquele pensamento excludente de privilegiados apavorados com a presença do outro.

Comecemos com a mensagem do novo atribuindo contradição às manifestações que, em pensamentos, palavras e obras de ódio tanta gente assacou pelas redes sociais, nas rodas de parcerias infames, nos panfletos, nas reuniões sociais e políticas todas defendendo a escravidão do camponês espoliado, dos pobres desempregados das periferias urbanas, das adolescentes de famílias pobres que, sem proteção, eram entregues às jornadas escrava do serviço doméstico.

Este velho ranço anticristo que se camufla nos rituais religiosos, com os vasos do pescoço estufados pelo palavrório que repete salmos e palavras como armas para negar toda a nova mensagem que nasceu no dia de hoje. O anticristo que deseja levar para a fogueira da condenação as religiões indígenas, as fabulosas crenças de origem africana. Este mercantilismo concorrencial de quem precisa montar o seu negócio da fé.

E antes de apontar o dedo para anunciar a desgraça que o Bolsa Família ou outros programas de proteção social existam como fator de vagabundagem e para falta de trabalhadores baratos, imaginem o ser que nasceu no dia de hoje. Que viveu poucos anos, mas não para aquela época quando tão poucos chegavam aos quarenta anos de idade. E viveu pregando, pelos caminhos do Oriente Médio, mesmo quando na marcenaria do pai, largava o formão para falar da nova mensagem.

Mas o anticristo, por camuflagem, não terá coragem de nomear a ele vagabundo, apenas por não suar em produtividade, mas descer do seu rosto o suor nas estradas pela nova mensagem. A novidade. O nascimento.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Agora e para sempre "Corra o Risco de Pensar por Você Mesmo

Por manifesto de final de ano aos leitores do blog, reproduz a fala final Christopher Hitchens num debate ocorrido numa escola Metodista do Texas no ano de 2010. A fala de Hitchen, que escreve teses ateias em livros e debate nesse ponto vista, encerrou sua participação e se motivou pelo que foi dito pelo Dr. William Dembsk que disse algo assim: “Estamos mortos até aceitarmos a oferta de vida de Jesus Cristo”.   

Quando Sócrates foi condenado à morte, por suas investigações filosóficas e blasfêmias, por desafiar os deuses da cidade, quando ouviu o veredicto, ele disse: Bem, se eu tiver sorte, talvez eu consiga ter uma conversa com outros grandes pensadores, filósofos e céticos, ou seja, participar de uma discussão sobre o que é bom, sobre o que é belo, sobre o que é nobre, e o que é a verdade, sempre merece continuar. E por que isso é importante? Por que eu iria querer fazer isso? Porque essa é a única conversa que vale a pena ter. Se vai acontecer depois de eu morrer, eu não sei. O que eu sei é que a conversa que eu quero ter ainda vivo. E qual significado tem para mim; a promessa de certeza, a total segurança, a oferta de uma fé impermeável que não pode ceder? Tão só a oferta de algo que não vale a pena ter?

Quero viver a minha vida correndo risco, o tempo todo, a não ver e aprender o bastante. De não entender o suficiente, de não poder saber o suficiente ou então de manter-me sempre faminto, à margem de uma safra potencialmente grande de conhecimento futuro e de sabedoria que nunca poderei alcançar.

Eu os exorto a desconfiar das intenções daqueles que vêm e lhe dizem que vocês estão mortos, mesmo sendo tão jovens, até que aceitem a crença deles. Que coisa terrível a dizer a uma criança. Que apenas poderão viver se curvarem-se a uma autoridade absoluta.  Não pense nisso como um presente. Pense nisso como uma taça de veneno. Afaste-a, não importa quão tentadora possa parecer.


Corra risco de pensar por si mesmo. Muito mais felicidade, verdade, beleza e sabedoria virão até vocês dessa maneira.”  

Agora... vai ??? - José Nilton Mariano Saraiva

Já há cerca de 1.000 anos o filósofo “Branxu” anunciava em seu concorrido blog uma verdade incontestável: “em ano de eleição, despreocupem-se, milagres fluirão”. E de lá até cá, recorrentemente tal assertiva a cada ano eleitoral se comprova.

Já há algum tempo, por exemplo, a população do Crato delegou ao senhor Ely Aguiar a imensa responsabilidade de representá-lo na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará. E por uma razão cristalina: faltava ali alguém que lutasse por recursos e investimento capaz de nos tirar do marasmo e do esquecimento a que o Crato foi relegado pelos seguidos chefes do poder Executivo Estadual (e que já perdura há décadas). Uma voz que se imponha e se faça ouvir, em defesa da terra um dia rotulada “princesa da Cariri”.

Mas, como findou por comprovar que não estava preparado para a nobre missão, em termos de projetos ou bandeiras que justificassem seu mandato (o que ficou evidenciado ao longo do exercício de mais de uma legislatura), espertamente o referido senhor se agarrou como um solitário náufrago a uma idéia chamativa e de apelo popular: erigir  na entrada da cidade a estátua de Nossa Senhora de Fátima (que não é nem a padroeira do município) objetivando atrair visitantes outros e, conseqüentemente, divisas para o município.

Só que, construída na mesma dinâmica do andar de uma tartaruga grávida e com uma das patas fraturada, coincidentemente é sempre às vésperas de alguma eleição que a obra assume a velocidade de um daqueles bólidos da Fórmula 1:  300 por hora.

Pois bem, agora mesmo, como estamos no final do ano e logo ali na esquina nos espera um ano de eleição majoritária e proporcional, o senhor deputado (pensando na reeleição, evidentemente) já começou a velha e desgastada cantilena, anunciando aos quatro ventos: “agora...vai”, a estátua será finalmente inaugurada.

Fato é que, sendo ou não concluída às vésperas da eleição, a população do Crato deveria desde já pensar em sufragar o nome de alguém comprometido com a cidade durante todos os dias do seu mandato e não um que, em termos de “custo X benefício”, acaba saindo muito caro pra todos nós, cratenses.


Assim, por que não renovar, inovar, trocar, reciclar e, enfim, experimentar algo novo, acabando de vez com esse puxa-encolhe desgastante e que não termina nunca, redundando em decepções contínuas, zero à esquerda em termos de alavancagem desenvolvimentista.   

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A Indulgência - José do Vale Pinheiro Feitosa

Num ambiente em disputa a indulgência é seletiva e tende a ser rara. No limite mesmo do julgamento do chamado mensalão (AP 470) há uma questão de Caixa 2 inaceitável para a ordem tributária. Pela tecnicidade da justiça o Caixa 2 tem penas menos amargas para os réus do que aquelas da Ação Penal 470. Por isso o PT clama pelo Caixa 2, confessando fontes de financiamento não declaradas. Assim como todas as rendas por fora de impostos de profissionais da saúde, engenheiros, arquitetos, advogados e outras profissões liberais além de comerciantes, traficantes e segue numa lista infinita. Além das corrupções inconfessáveis e a indústria de lavar dinheiro que é o denominador comum de tudo isso.

As frequentes Notas de Esclarecimento se igualam em indignação contra a acusação ou suspeita, a defesa de suas ações expostas como suspeitas e a desqualificação da fonte e do meio de divulgação das mesmas. É tão frequente a igualdade entre elas que generalizam a suspeição em razão do discurso padronizado que as iguala. O suspeito termina por evidenciar-se como tal.

Mas estou falando da indulgência que do modo geral é um grande ato humano, esse ser terrestre que por reter o pensamento abstrato, a memória e ter a compulsão pela arte é tão especial e tão solitário em toda a biota planetária. Para nos compormos com indulgência: a matriz da palavra latina diz da entrega, da inclinação, propensão, do bom, benévolo, amoroso, terno, complacente, transigente. Como todas as palavras a indulgência vai de um extremo de aceitação ao da negação (dependente da história) entre seus significados. O bom é universalmente aceito, mas para moralistas e intolerantes a transigência e a complacência é um horror.

Então é que a indulgência como o atributo daquele com disposição para perdoar é inegavelmente inerente ao cristianismo. Especialmente ao Jesus humilhado, torturado e crucificado que se irradia como o perdão. “Mas num ambiente em disputa a indulgência e....” tudo o que já se disse. Não se espere para Genoíno, Dirceu ou Delúbio qualquer sentimento de indulgência natalina por parte de alguém que simpatiza com a direita ou com o PSDB e seus aliados.

Mas a indulgência não foi arrancada do dicionário deste referido alguém. Em seu universo afetivo, no seu patrimônio de aceitação, especialmente se membro de alguma denominação cristã, está lá de ponta a indulgência. O perdão. Aquele que nega ao inimigo ainda assim se encontra como uma reserva para sua sobrevivência diante de tantas suspeições e denúncias que o ambiente em disputa produz igual faz uma fábrica.


Mas precisamos encerrar esta nossa conversa: o Papa Francisco cogita, em princípio, acabar com a famigerada venda de indulgência da Igreja Católica que esteve na raiz da Reforma Luterana. E qual a indulgência que o Papa cogita abolir? Aquela que se tornou um comércio e fonte de renda para a Igreja: “no catolicismo, remissão total ou parcial das penas temporais cabíveis para pecados cometidos, que a igreja concede depois de os mesmo terem sido perdoados.”  

Recebi por e-mail de uma recifense...

ALGUMAS LEMBRANÇAS DAQUELE TEMPO...

- Adorávamos ver avião na mureta do Aeroporto dos Guararapes;
- Comprávamos LP's na "A Modinha" e depois na "AKY Discos";
- Comprávamos roupas na Don Juan e nossas irmãs na ELE e ELA; 
- Os sapatos chiques ("cavalo de aço") encontrávamos na MOTINHA;
- Calça LEE tinha que ser na FLAG, na Cd. Boa Vista;
- Comíamos filet à Califórnia ou 1/2 "parmé", na Cantina Star, só de madrugada;
- O chopp era no MUSTANG, próximo à Mesbla;
- Esperávamos com ansiedade o evento "Vamos abraçar o sol";  
- Escutávamos futebol com Ivan Lima na P.R.A.8, Rádio Clube de Pernambuco; os mais antigos: os comentários de Barbosa Filho na Rádio Jornal;
- E o Programa das Vovozinhas, com Alcides Teixeira?;
- Como não tínhamos Rádios FM, o padrão musical era a Rádio Tamandaré - a musicalíssima!;
- Assistíamos "Você faz o Show" e "Noite de Black-Tie"... com Fernando Castelão;
- Queríamos um Puma, MP Lafer ou Santa Matilde para ir ao "Encontro de Brotos" do Internacional;
- Vimos o Papa no Joana Bezerra;
- Tínhamos medo de Biu-do-Olho-Verde, de Galeguinho do Coque; da Perna Cabeluda e do Biu do Alicate; E ELES NÃO PASSAVAM DE CRIANÇAS INOCENTES SE COMPARADOS AOS BANDIDOS DE HOJE.
- E "Chapéu de Couro"?;
- Havia também aqueles que tinham medo de "Lolita"!;
- Vimos a rainha Elizabeth, num Rolls Royce paraguaio na AV. Boa Viagem, transpirando que nem um calunga de caminhão;
- Jogávamos ovos nos jogos estudantis, nas quadras do Salesiano e do Nóbrega;
- Natação e Atletismo, claro, no Português e no Derby;
- Nossas namoradas usavam maiôs "engana-papai" e "engana-mamãe" e a gente morria de ciúmes;
- Comíamos "bauru" no Bar do Derby, enquanto os moleques davam um trato em nossos carros com tala-largas e rebaixados;
- Adorávamos ver o peixe-boi na Praça do Derby e os jacarés do parque 13 de Maio;
- Águas Finas e Sete Casuarinas, em Aldeia, faziam parte do circuito;  
- Assistimos aos "Globetrotters" e ao "Holiday On Ice" no Geraldão, sem falar em Ray Conniff e WillianBat Masterson no Clube Português;
- Assistimos  "Aeroporto 77" e "Tubarão" no cinema Moderno, Terremoto no Veneza, com efeitos sonoros;
- No nosso tempo, o Campeonato Pernambucano tinha times como o Ferroviário, o Santo Amaro (Vovozinha), o Íbis, e o América;
- Tomávamos muito guaraná Fratelli Vita e Laranjada Cliper no restaurante Veleiro, em Boa Viagem; 
- A cerveja tinha que ser Antarctica de Olinda (Av. Pres. Kennedy, 4.400 - Olinda, escrito na tampa);
- A Pitú e Serra Grande eram engarrafadas em "cascos" branco, verde e depois âmbar;
- A COCA COLA próximo ao (hoje) Parque da Jaqueira;
- A Fratelli Vitta junto a Igreja da Soledade e do  Colégio  Nóbrega
- Tínhamos nosso lado inocente de brincar de Pêra, Uva ou Maçã, às vezes  com salada mista;
ALGUNS HÁBITOS DAQUELE TEMPO...
- Jogar boliche no Bola Boliche, na Av. Barão de Souza Leão;  
- Fazer uma bomba de cano de PVC no carnaval e perturbar até os outros se irritarem;
- Brincar Carnaval no Corso, na Rua da Concórdia e na Conde da Boa Vista  num jipe sem capota ou num Galaxie sem portas, à noite, claro, Internacional ou Português; 
- Tomar banho de mar em Boa Viagem (sem tubarão) com bóia feita de  câmara-de-ar de caminhão, no posto 4 (quem tinha vergonha ia pro terminal);  
- Ir aos sábados às 10 horas para a Sessão Bossa Jovem, no Cinema São Luiz ou para a Joveneza, no Veneza;
- Matinês dos Cines Ritz e Astor, na Visconde de Suassuna vendo filmes como  "Love Story", "Uma Janela Para   o Céu" e "Um Dia de Sol" (quem diria);
- Festas (que se chamavam "ASSUSTADOS") nas garagens das casas, com luz negra  e estopa de polimento nas paredes, pra dar efeito "especial", ouvindo "Yellow River","Mandy" ou Elas por Elas Internacional;
- A única bebida alcoólica na época era rum-com-coca ( Cuba Libre);
- Tomar sorvete na Fri-Sabor (perto do Colégio Salesiano), ou na Gemba (mais antiga), até lançaram o Zeca's;
- Dançar no Xixi-Girl, da Boate Ferro-Velho em Piedade;
- Quem estudou na UFPE conheceu o Bar da Tripa, próximo à Escola de Engenharia;
- Assistir ao desfile de 7 de Setembro, na Conde da Boa Vista; 
- Dançar forró na Casa dos Festejos da Torre;
- Lanchar na Karblen, da Rua do Sossego e na  Casa Matos, da Rua da Nova ou na lanchonete do 1º andar da Mesbla;
- Frequentar a Feirinha da Praça do Entroncamento, os bares Cravo e Canela, Acochadinho (em Olinda), Fundo do Poço, Senzala, Água de Beber, Chaplin, Bar do Ninho também em Olinda e o "Depois do Escuro" na Torre, Pirata e Olho Nú em Casa Forte (onde se apresentava a Banda de Pau e Corda), O Som da Terra no Talude (BR 101).
- Assistir aos shows no Circo Voador, no bairro do Recife;
- Comer "chocolate peixinho", embrulhado em papel dourado, prateado, vermelho, bala "Gasosa", Nego Bom.
- Fumar Du Morrier, o cigarro do Kojak;
- Ouvir o compacto simples Je T'aime (do filme Emanuelle I);
- Tomar Coca-Cola em garrafinhas pequenas, do mesmo tamanho do Guaraná Caçula (Antarctica), Clipper ou Grapette e Mirinda;
- Fazer pic-nic aos domingos, no Horto de Dois Irmãos;
- Divertir-se nos brinquedos da FECIN (nossa Disneyworld) e escorregar no tobogã da rua da Aurora;
- Passear na lancha da CTU, no rio Capibaribe;
- Os bares e/ou boates em Olinda eram o Samburá, Zé Pequeno, Eu e Tu e ainda o Las Vegas eram uma farra;
- Um dos primeiros bares de Strip-tease foi o Café Concerto em Olinda;
- Baile dos Artistas no Batutas de São José todo mundo gostava (problema era quando começava uma briga pra descer por aquela escadinha estreita);

ALGUNS LOCAIS DAQUELE TEMPO...
- Casa-Navio, na Av Boa Viagem;
- Sarong em Piedade:
- Maxime no Pina;
- O Buraco de Otília na rua da Aurora;
- Os melhores cinemas eram o São Luiz, Moderno, Trianon, Art Palácio e o Veneza;
- Nos bairros, os cinemas também eram comuns, tais como Cine Eldorado (Largo da Paz), Cine Torre, Cine Rivoli (Casa Amarela), Cine Coliseu (Rosa e Silva), Cine Vera Cruz (Campo Grande),Cine Brasil (Cordeiro) e o Cine Guararapes (Areias);
- O DETRAN era no Cabanga entre as duas pontes (que por sinal, durante muito tempo só havia uma...);
- A Av. Boa Viagem tinha mão-dupla, desde o Pina. Após o Hotel Boa Viagem, só havia duas faixas, as outras duas eram de areia da praia;
- Além da Viana Leal (1ª escada rolante em Recife), Mesbla e Sloper valem lembrar da Girafa (O Centro da Moda), das tradicionais Casas José Araújo (Onde quem manda é o freguês) da Primavera, além da Casa do Mate (o melhor mate batido com limão, com leite ou com maçã...);
- E a árvore (baobá) na Cons. Portela, ao lado da igreja do Espinheiro, que tombou para sempre ???
- A Liberdade de andar nas ruas livres, soltos, sem temer a violência que hoje toma conta de nossa cidade, que saudade!

Se você viveu alguma dessas situações acima, não se preocupe, você não está velho...
Você é um felizardo, pois viveu o Recife como ninguém pode fazer mais !!!

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...EH, ÔÔ VIDA DE GADO,
POVO MARCADO Ê,
POVO FELIZ... (ZÉ RAMALHO)







quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Natal já vem...





Noite.Noite como qualquer outra.Especial como nunca, nenhuma outra,
Estou num tempo que parece passado, corre no presente, e aguarda futura paz.
As pessoas continuam sumindo... Vontade de reencontrá-las. Isso acontece no campo das lembranças ou sonhos.
Busco harmonia a despeito das perdas e desencantos (eles me acordam fora de hora).
Abro a janela pro céu, e vejo estrelas, mesmo quando escondidas, preparadas para um choro natureza. Grama do jardim goteja o pranto dos anos  idos. Umedece e refresca a aridez de todas as saudades.
O Cariri, graças à China, está iluminadíssimo! Cortinas de luzes piscantes, coloridas, transformam a paisagem, sempre linda!
Ainda espero o Natal  com imagens da Sagrada Família, e aquelas canções natalinas. A magia desta época começa na infância: missa do galo, peito de peru, castanhas, rabanadas, passas, biscoito champanhe, guaraná ...
Nossos brinquedos eram compartilhados nas calçadas, na manhã do dia 25.Papel de seda, laços de fita, caixas de todos os tamanhos expressavam a generosa economia das famílias.
O papel  finalmente invertido. Eles nos deixaram como herança  a missão da paternidade. Imitamos-lhes,internalizado, o olhar cristão de família, numa noite feliz!
Desejo a todos, dias de festa, com muita paz, saúde e amor!
Beijo com ternura os amigos do meu sonho azul!
Um abraço especial  nos aniversariantes do mês: Magali, João Marni,Zé Flávio, Zé do Vale...
-Gente do nosso coração!

Socorro Moreira

Natais



NATAIS
J. Flávio Vieira

                               A casa  , meio enterrada na depressão do terreno da fazenda, com sua  capela em vis à vis e seu pé de fícus  frondoso,   acolhendo a calçada alta e os longos bancos  de madeira, carregava um certo ar de magia e mistério.  Tingia os olhos deslumbrados do menino com tintas de acolhimento e medo. Durante o dia , o casarão quase nem sequer se delineava ante a imensidão do quintal, as delícias do pomar, a líquida lâmina da lagoa logo abaixo. À noite, no entanto, avolumava-se a casa, agora sem concorrência, embebida nas suas majestáticas sombras , só penetradas , aqui e ali, pelo fraco foco , em pino, dos candeeiros a querosene. As paredes  dir-se-iam mata-borrões prenhes de passado, de fantasmas, de sonhos , desejos e  (des)ilusões alimentados por muitas e muitas gerações.
                         Na salinha da frente , que se abria logo após à porta principal , a grande mesa com seus tamboretes parecia acolher anfitriões novos e pretéritos. A cozinha ,de um lado, com seu enorme fogão de lenha, com o teto negro de pucumãs , olhava desconfiada para o sótão, no alto, que avaro guardava o milho, o arroz e o feijão em palha,  da última safra. Do outro lado,  a casa se estendia num largo corredor que  se abria para vários quartos, como um rio que desaguasse em seus afluentes. O primeiro, à direita, era o do avô, com uma pequena cama de casal , um baú de pregaria e uma janelinha que se abria para a vista privilegiada  da calçada frontal , do fícus e da capela.Na parede , uma velha espada da Guarda Nacional.  O outro era a do tio padre que ali não morava,  mas que se guardava com desvelo quase arqueológico, intocável, esperando as cada vez mais raras visitas. Defronte , uma sala enorme, com uma infinidade de armadores  , postos frente a frente ,nas duas mais largas paredes, prontos a suportarem o peso de incontáveis redes. A cozinha e a sala maior possuíam portas que as ligavam ao vasto quintal da fazenda.                               Nas férias , a algazarra dos netos, como uma praga de gafanhotos,  tomava  conta  daquele vasto universo, para o desespero dos pássaros, das fruteiras, dos fantasmas, do avô e da avó. A gurizada vinha da cidade, de casas apertadas, onde as ruas já tinham sido engolidas pelos carros, sujeitos ao freio de mão dos pais e professores. Na fazenda eram como  graúnas sem as tariscas da gaiola.
                        Durante o dia, os meninos se espalhavam nos vastos horizontes da fazenda: o sítio, a lagoa, a caça, a pesca.  À noite, aquietavam-se ante o cansaço e o poder hipnotizador das sombras. Talvez, por isso mesmo, detentores dos mistérios da ressurreição, o Natal nunca lhes pareceu uma data especial. Carregavam consigo já a magia do renascer . Ademais, o Papai Noel  sempre se mostrara uma figura urbana e que não gostava das pequenas chaminés impregnadas de fuligem e pucumãs. Os meninos, por isso mesmo, nunca precisaram daquele velho distante e preconceituoso, aprenderam a se virar sozinhos, teciam seus próprios brinquedos : o pião , o triângulo, a peteca, a bola de meia, o carrinho de rolimã . Não bastasse aquela existência colorida que já era uma dádiva da natureza, se autopresenteavam.
                        Naquele ano, no entanto,  aquela regra imutável foi quebrada. O menino , na inocência dos seus seis anos, acordou, no Natal, com um presente colocado abaixo da rede em que dormira no grande corredor da casa de fazenda. Uma garrafinha de uma bebida sofisticada e nobre : um Guaraná Champanhe. Sobrenadava a garrafa num mar de urina : o menino ainda tinha aquela mania feia de urinar na cama. Rápido o guri lavou-a com a água do pote e ,com ajuda do avô, abriu-a. Degustou o refrigerante, em temperatura natural , como um sommelier que apreciasse um Bordeaux de ótima safra. 
                        Desde aquele dia que o meninozinho procura  o inefável gosto daquele guaraná nos outros muitos sabores que a vida lhe tem ofertado. Sem sucesso. Talvez porque as noites tenham pouco a pouco ficado mais longas e os dias mais curtos;  as sombras  agora já não flutuam , mas se balançam nas redes; os Natais vão tomando nuances de sexta-feira santa .  E o menino, ao contemplar-se no espelho, percebe que lhe cresceu, inexplicavelmente, uma grisalha barba como a do Papai Noel e tem ficado cada vez mais ranzinza e parecido com o avô.

Crato, 19/12/13