por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 30 de abril de 2012

Os criminosos das Minas Terrestres - José do Vale Pinheiro Feitosa


Na metade dos anos 90 estive numa Missão do Itamaraty (Agência Brasileira de Cooperação – ABC) em Angola e Moçambique para organizar uma cooperação com aqueles países no esforço de consolidar a paz na região. Em Angola a lembrança mais forte que tenho é do estrago que as minas terrestres faziam sobre a população rural.

Nas ruas de Luanda, especialmente na região central, víamos centenas de pessoas mutiladas em decorrência destas minas. Tais minas terrestres são tão criminosas do ponto de vista dos direitos humanos que se de fato funcionasse um tribunal democrático da humanidade já deveria ter condenado Chefes Políticos, Militares de Alta Patente e a Indústria Produtora desta máquina de morte.

Os EUA e seu governo seriam o primeiro da lista apenas com o que fizeram no Laos: lá eles lançaram mais de 78 milhões de munições do tipo durante os conflitos no sudeste asiático. O pobre Laos ganha a medalha de ouro do país mais minado do mundo. E reforcemos a idéia: as minas estão nos campos, onde vive, trabalha e se sustenta a população rural. Mas as minas poderão estar nos campos que formam os atuais pontos de visitação do turismo ecológico, do turismo desbravador de paisagem. No caso a paisagem da morte.

Mas a América Latina também teve o seu solo com alvo de tais munições mutiladoras e mortais: Chile, Peru, Colômbia, Equador, Argentina, Bolívia, El Salvador e Honduras. A Nicarágua apenas recentemente terminou o seu trabalho de desminagem em seu território e, diga-se de passagem, é um trabalho altamente perigoso e de custo altíssimo. Na maioria destes países o ambiente a justificar estes atos criminosos de implantar minas terrestres foi de algum modo decorrente da guerra fria e da ação internacional dos EUA.

No Chile as minas foram postas nas fronteiras do extremo norte, especialmente junto ao Peru, no extremo sul e até mesmo na região central do país. Augusto Pinochet com sua ditadura para dar ventura aos Chicago Boys implantou estas desgraças e até hoje estão lá a lembrar da barbárie ideológica e imperial.

As minas não perdem validade e permanecem ativas quase que pela eternidade. Mas tem um fator mais chocante ainda. Movimentações do solo, por chuvas, tufões, ciclones, desmoronamentos, terremotos, carregam a minas para outras localidades, gerando mais insegurança num raio geográfico amplo.


Instantâneo


Dois homens hesitam em deixar no chão
restos do olhar que no encontro se quebrou.
Na dúvida, desce neles a calçada
a caminho de tão mísero salário.

Ontem, era a tarde nos olhos
de um deles: água salobra.
Sua presença tinha curva,
vara para as costelas e espinhaço,
ferrugem amaciando os dentes,
carimbos que o tempo tem de aço.

O outro trouxe a chuva.
E os dois homens se espremem,
se enroscam nos fios d'água,
a hora se enrijece nos ossos,
a chuva se amarra em balaustradas,
um deles lamenta: sua pressa
encharca a cidade
nervosa.