por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 13 de dezembro de 2014

É o Colégio Eleitoral Estúpido! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Pronto. Gilmar Mendes seguiu o inusitado a ele esperado e aprovou, com ressalvas, as contas da Campanha de Dilma Roussef. O mesmo destino será dado às contas das demais campanhas. A lava jato vai continuar. A mídia paquidérmica continuará ansiosa por dinheiro e atacar o governo para daí extrair sua imensa fome.

Mas de fato o processo vai continuar. Qual seja transformar o Brasil numa grande economia capitalista, que implica nos modelos vigentes até agora, a uma grande sociedade de consumo, quando as rendas e salários da maior parte da população impulsiona o modelo concentrador e ao mesmo tempo expansionista. E as minorias privilegiadas continuarão com suas bandeiras se opondo.

Como o futuro é do capitalismo estas bandeiras “opositoras de natureza minoritária” estão na contra mão do curso adiante. Por isso são identificados por várias classificações: reacionários, conservadores, etc. A regressão e aversão ao popular é uma natureza inerente de certo tipo de posição política.

Apenas para lembrar quando o voto é facultativo desde os 16 e obrigatório para todo brasileiro até certa idade. Hoje o universo de pessoas de 16 anos e mais são eleitores legítimos. Elegem seus governantes.

Mas nem sempre foi assim. Muitas pessoas não tinham o direito ao voto, ainda nos anos 30 as mulheres não podiam votar, inclusive analfabetos, militares de baixa patente e assim o colégio eleitoral era uma minoria. Para lembrar: nas eleições de 1950, disputadas para os cargos de Presidente, com Getúlio Vargas, Cristiano Machado e Eduardo Gomes, apenas 21,76% da população brasileira tinha direito ao voto.

Nos territórios o colégio eleitoral no máximo chegava a 10% da população e o mais alto era o do Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro) com 34,5% da população com direito ao voto. O poderoso estado de São Paulo chegava a 22%, havia o interior enorme e rural. Em Pernambuco, um dos estados mais avançados politicamente do Nordeste, a situação dos camponeses era um desastre de modo que os eleitores correspondiam apenas a 13% da população.

Agora um quadro deste tem outros detalhes. Numa sociedade semi-rural como éramos, imaginem a dificuldade de fazer chegar o eleitor até a boca da urna. Resultado: apenas 72% dos eleitores válidos compareceram às eleições em 1950. Enfim em 1950 elegeram os nossos governantes apenas 15% da população brasileira. Hoje o eleitorado representa mais de 70% da população total.

O nosso cratinho de açúcar era um primor de colégio eleitoral. Quem examinar o número de eleitores nas eleições gerais de 1954 e 1955 ficará perplexo com o s números encontrados. Crato, em 1955, apenas tinha 13.036 eleitores. É bom salientar que falamos em zonas eleitorais e, portanto, municípios menores poderiam agrupar outras populações como Tauá que tinha naquele ano 13.595 eleitores. O nosso Juazeiro do Norte não ficava atrás: tinha apenas 9.396 eleitores.

Talvez estes dados expliquem alguns aspectos seletivos e conservadores que permeiam a sociedade geração após a outra.  


VASSOUREIRO! - José do Vale Pinheiro Feitosa

O espaço onde vivemos não apenas garante a sobrevivência. Desenha nossas emoções, o modo como compreendemos o conteúdo e o continente. A formação da memória e o processo pelo qual a memória não é um mero arquivo. É coisa viva. Que pulsa, se anima, se entristece, apreende coisas novas, inclusive dos acontecidos.

Moramos numa ladeira. Uma ladeira que tem curva. Portanto, não apenas o aclive esconde pedaços de sua sequência para cima ou para baixo, como a curva extrai eventos na proximidade. Isso é, a visão deles. Pois tudo o que resta a outros sentidos, se tem por testemunha de ocorrência.

E como ladeira, no talude da montanha, à audição adiciona uma certa reverberação dos sons. São os carros bufando na subida, os freios na descida. São cães latindo na caminhada de seus donos, como naquele momento do sol nas prisões. Os cães dormitam no espaço menor dos apartamentos.

De vez em quando lá de algum lugar que não se enxerga começa uma chamada. Uma voz repetindo a mesma palavra. Subindo pelas encostas. Como uma pena voando em direção aos galhos das árvores altas que margeiam a passagem. Uma palavra bela. Um canto. Um som que vai no âmago da memória e extrai as coisas passageiras, tidas como idas, mas havidas como atuais.

E a voz vai revelando fonemas. Vai subindo. Vem lá de baixo. Se aproxima da minha janela. Com pouco a palavra se revelará como um sujeito em sua ação. Uma ação que juro, antes do acontecido, é a fusão de centúrias, da lida humana, dos pés atemporais como aqueles que vão pelas ruas para expressar as mãos ritmadas do triângulo anunciando o cavaco chinês.

E do primeiro momento que o olhar capta a visão, o ouvido interpreta a palavra. VASSOUREIRO! E repete tantas vezes quanto a oportunidade de vender as suas vassouras. Vai subindo pela minha rua, o vassoureiro do início do século XX aqui no Rio de Janeiro. O momento em que fica claro que a saudade também é uma forma de eternidade.

Pego na carteira de dinheiro. Não quero nem saber a situação das minhas. Pego o elevador e desço para comprar alguma coisa com o vassoureiro. Tudo para que o grito do vassoureiro nunca desapareça da minha rua. Nesta ladeira.