Crato. Lançado, nesta cidade, o livro "O  Mistério das 13 Portas no Castelo Encantado da Ponte Fantástica", de autoria do  médico José Flávio Vieira, com Ilustrações de Reginaldo Farias. A solenidade de  lançamento aconteceu no Cine Teatro Salviano Arraes, antigo Cine Moderno,  localizado no calçadão da Rua Bárbara de Alencar.
O livro,  engenhosamente, faz uma tessitura dos mitos caririenses e acompanha um CD com 15  Músicas e um Áudio-Livro com a exposição da história. A narração do livro na voz  de Luiz Carlos Salatiel é destinada a deficientes visuais, justifica o autor,  destacando que é o primeiro livro cearense com áudio.
O projeto foi  vencedor do I Prêmio Rachel de Queiroz da Secretaria de Cultura e Turismo  (Secult). Na oportunidade, foi promovido um show com a presença de vários  músicos e compositores cearenses que participaram do projeto, entre os quais  Luiz Carlos Salatiel, Lifanco, Ibbertson Nobre, Luiz Fidelis, Pachelly Jamacaru,  Amélia Coelho, Ulisses Germano, Zé Nilton Figueiredo, João do Crato, Leninha  Linard, Abidoral Jamacaru, Fatinha Gomes, André Saraiva, Elisa Moura, João Neto,  Bonifácio Salvador, Rodrigo e o Coral Mensageiros de  Cristo.

Alusão
Zé Flávio faz questão de dizer que a produção  contou com a participação de mais de 60 pessoas que deram sua colaboração, a  partir de sua neta, Thais, de 13 anos de idade, que leu o livro com o objetivo  de indicar se o texto estava à altura do público infantil. Com base nesta  leitura, o autor teve que fazer algumas correções antes de liberar o trabalho  para impressão.
A obra destinada ao público infantil trata de um Reino  Encantado com o nome de Aimará, localizado no pé de uma serra, com árvores  grandes e frondosas, cercado de fontes perenes que banhavam o vale. Ali, nasciam  flores e cresciam muitas fruteiras. Era o paraíso dos pássaros, entre eles uma  ave especial que era o guardiã do Reino e se chamava Soldadinho. Aimará era  governada pelo Rei Tristão e a Rainha Bárbara. Com tantas fruteiras e caças, os  habitantes não precisavam trabalhar muito. O Reino criado pelo autor é uma  alusão à região do Cariri.
Ao lado, havia outro Reino com o nome de  "Trono do Altar", governado pelo Rei Joaquim que, ao contrário do Rei Tristão,  era guerreiro, perverso e invejoso. Terminou invadindo o Reino de Aimará. Com o  tempo, o Reino foi destruído em consequência do pipoco da pedra da Batateira que  inundou a região. Os sobreviventes se refugiaram na serra do Horto, onde se  encontra a estátua do Padre Cícero, fundador de Juazeiro.
Ao longo da  história, o autor lembra as lendas que povoam o imaginário popular do Cariri.  Entre elas, uma baleia que morava embaixo da Igreja da Sé, o boi misterioso, a  cobra da lagoa encantada, a pedra de Nova Olinda e outras crendices que  construíram e povoaram o mundo do Cariri encantado. No trajeto místico em busca  de decifrar o mistério que envolveu a destruição do Reino, o autor denuncia os  crimes ambientais, o progresso avassalador e a ganância do homem. Por fim,  depois de uma longa caminhada, um dos personagens encontra as 13 portas do  Castelo Encantado, que são representadas por 13 mitos que escreveram com o seu  jeito de ser a história do Cariri.
Maldição
Uma história  construída por gente simples como Canena, uma mulher que vendia tapioca com  fígado no Crato antigo. Tandô, um moreno metido a cangaceiro que carregava na  cartucheira, ao invés de balas, fragrâncias dos mais diversos perfumes  silvestres do Reino.
O Rei da Serra, um ermitão que fez da floresta do  Araripe a sua morada e única propriedade. Capela, um travesti valente que se  tornou o defensor dos injustiçados. Vicente Finim, o filho ingrato que, por  maldição da mãe, virava lobisomem nas noites de lua cheia. Maria Caboré, uma  serviçal que morreu de peste bubônica, enquanto tratava dos pais. O Príncipe  Ribamar da Beira Fresca, que inventou uma fábrica de descaroçar fumaça. Noventa,  um chapeado, um profeta que foi alfabetizado enquanto trabalhava. Zé Bedeu, um  boêmio que fez das praças do Crato o seu lar. Padre Verdeixa, um missionário  irreverente que arranjava um pé-de-briga por onde passava. Zé de Matos, um poeta  que vagava, fazendo poesias nas feiras do Crato. O Beato Zé Lourenço, um líder  espiritual que foi perseguido pelos poderosos e Jeferson da Franca Alencar, o  ecologista que conseguiu salvar alguma coisa do Reio  Encantado.
Identidade
O autor justifica que a história de uma  região nem sempre é escrita por nobres. Estes mitos que alimentam conversas de  mesas de bares, nos alpendres das fazendas e nos terreiros das casas sertanejas  são os verdadeiros símbolos da identidade da Nação Cariri.
Com estes  personagens, mitos e crendices, o médio José Flávio com a ajuda de músicos e  intérpretes regionais, consegue transformar um elenco de lendas numa denúncia  contra a devastação da natureza, alimentada pela ignorância de muitos, pela  ganância especulativa ou pela cegueira política.
MAIS INFORMAÇÕES
Secretária de Cultura, Esporte e Juventude do Crato
Centro Cultural do  Araripe
Telefone: (88) 3523.2365
ANTONIO  VICELMO
Repórter