por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 2 de agosto de 2011

TOADA PARA ESPEDITO - por Ulisses Germano


Seu Espedito Seleiro
Sentiu a dor da agulhada
Foi na voz de um boiadeiro
Que eu ouvi esta toada

Já vi muito sofrimento
No sertão e na cidade
Quem dissipar o lamento
Achará felicidade

Ninguém possui a verdade
É tão simples de se vê
Vejo que a simplicidade
Não se aprende nem se lê

Os espertos necessitam
Dos tolos para viver
É assim que exercitam
A luta pelo poder

Se de noite tem a lua
E de dia tem o sol
Nem é minha e nem é tua
A loucura do arrebol

E assim sendo vou seguindo
Sem nenhuma pretenção
Já vim voltando, vou indo
Levando a sorte na mão

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Feliz Aniversário, Nacélio Oliveira !

Nosso abraço!

Jorge Luís Borges


A CHUVA



A tarde bruscamente se aclarou,

porque já cai a chuva minuciosa.

Cai e caiu. A chuva é só uma coisa

que o passado por certo freqüentou.

Quem a escuta cair já recobrou

o tempo em que a fortuna venturosa

uma flor lhe mostrou chamada rosa

e a cor bizarra do que cor tomou.

Esta chuva que treme sobre os vidros

alegrará nuns arrabaldes idos

as negras uvas de uma parra em horto

que não existe mais. A umedecida

tarde me traz a voz, a voz querida

de meu pai que retorna e não é morto.


(Tradução de Renato Suttana)

Valeu a pena ler...


Walt Whitman








Vida


Sempre a desencorajada alma do homem
resoluta indo à luta.
(Os contingentes anteriores falharam?
Pois mandaremos novos contingentes
e outros mais novos.)
Sempre o cerrado mistério
de todas as idades deste mundo
antigas ou recentes;
sempre os ávidos olhos, hurras, palmas
de boas-vindas, o ruidoso aplauso;
sempre a alma insatisfeita,
curiosa e por fim não convencida,
lutando hoje como sempre,
batalhando como sempre.


Walt Whitman, in "Leaves of Grass"


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Esta é a Forma Fêmea


Esta é a forma fêmea:
dos pés à cabeça dela exala um halo divino,
ela atrai com ardente
e irrecusável poder de atração,
eu me sinto sugado pelo seu respirar
como se eu não fosse mais
que um indefeso vapor
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado
— artes, letras, tempos, religiões,
o que na terra é sólido e visível,
e o que do céu se esperava
e do inferno se temia,
tudo termina:
estranhos filamentos e renovos
incontroláveis vêm à tona dela,
e a acção correspondente
é igualmente incontrolável;
cabelos, peitos, quadris,
curvas de pernas, displicentes mãos caindo
todas difusas, e as minhas também difusas,
maré de influxo e influxo de maré,
carne de amor a inturgescer de dor
deliciosamente,
inesgotáveis jactos límpidos de amor
quentes e enormes, trémula geléia
de amor, alucinado
sopro e sumo em delírio;
noite de amor de noivo
certa e maciamente laborando
no amanhecer prostrado,
a ondular para o presto e proveitoso dia,
perdida na separação do dia
de carne doce e envolvente.


Eis o núcleo — depois vem a criança
nascida de mulher,
vem o homem nascido de mulher;
eis o banho de origem,
a emergência do pequeno e do grande,
e de novo a saída.


Não se envergonhem, mulheres:
é de vocês o privilégio de conterem
os outros e darem saída aos outros
— vocês são os portões do corpo
e são os portões da alma.


A fêmea contém todas
as qualidades e a graça de as temperar,
está no lugar dela e movimenta-se
em perfeito equilíbrio,
ela é todas as coisas devidamente veladas,
é ao mesmo tempo passiva e activa,
e está no mundo para dar ao mundo
tanto filhos como filhas,
tanto filhas como filhos.
Assim como na Natureza eu vejo
minha alma refletida,
assim como através de um nevoeiro,
eu vejo Uma de indizível plenitude
e beleza e saúde,
com a cabeça inclinada e os braços
cruzados sobre o peito
— a Fêmea eu vejo.


Walt Whitman, in "Leaves of Grass"
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Canção de mim mesmo




"Walt Whitman, americano, um bronco, um kosmos,
Agitado corpulento e sensual....comendo e bebendo e procriando,
Nada sentimental....alguém que não se põe acima dos outros homens e mulheres
Nem deles se afasta....nem modesto nem imodesto.
Arranquem os trincos das portas!
Arranquem as próprias portas dos batentes!
Quem degrada uma pessoa me degrada....e tudo que se diz ou se faz no fim volta pra mim,
E o que eu faça ou diga volta pra mim,
A inspiração surgindo e surgindo de mim....por mim a corrente e o índice.
Pronuncio a senha primeva....dou o sinal da democracia;
Por Deus! Não aceito nada que não possa devolver aos demais nos mesmos termos.
Por mim passam muitas vozes mudas há tanto tempo,
Vozes das intermináveis gerações de escravos,
Vozes das prostitutas e pessoas deformadas,
Vozes dos doentes e desesperados e dos ladrões e anões, (...)
Por mim passam vozes proibidas,
Vozes dos sexos e luxúrias....vozes veladas, e eu removo o véu,
Vozes indecentes, esclarecidas e transformadas por mim.
Não cruzo os dedos sobre a boca,
Cuido bem dos meus intestinos tanto quanto da cabeça ou do coração,
A cópula não é mais indecente do que a morte.
Acredito na carne e nos apetites,
Ver e ouvir e sentir são milagres, como é milagre cada parte e migalha de mim."








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Poemas do livro Folhas de Relva
Fonte:
http://www.citador.pt/poemas.php?poemas=Walt_Whitman&op=7&author=256

Nota!

Em breve estará ao alcance de todos o DVD  da noite de lançamento do livro "No Azul Sonhado".

Parabéns ao Laerto Xenofonte, pelo excelente trabalho.

Na oportunidade, agradecemos , mais uma vez, à fotógrafa Nívia Uchôa pelas fotos ESPECIAIS , na cobertura do evento.

BUCY MOREIRA- por Norma Hauer


Foi no dia 1 de agosto de 1909 que ele nasceu, aqui no Rio de Janeiro, recebendo o nome de BUCY MOREIRA

Como seu pai tocava violão, desde pequeno demonstrou sua vocação para ritmista, daí, que, em 1930, foi descoberto por Francisco Alves que gravou, de Buci Moreira, o samba “Palhaço”, além de, nesse mesma época gravar como ritmista da Odeon.

Entre 1936 e 1940 foi diretor de harmonia da extinta Escola de Samba “Vê Se Pode”, do morro de São Carlos. Trabalhou também como cineasta, com Moacyr Fenelon.

Não foi um compositor de muitas músicas, , mas marcou nosso cancioneiro com os sambas “Anda, Vem Cá”; “Em Uma Linda Tarde”; “Não põe a Mão” e “Quem pode, pode”.

É de sua autoria, em dupla com Arnô Canegal,.um samba de nome “Adoro o Samba”, gravado por Carlos Galhardo em 1942, no qual o conhecido “Rei da Valsa”

deu uma interpretação de verdadeiro sambista:


Adoro o samba,

Canto o samba

E no meio de gente bamba,

Quando estou sambando,

Eu me zango e faço até muito barulho,

Se alguém falar que o samba

Está-se acabando.


BUCY MOREIRA faleceu em 28 de março de 1982, sem completar 73 anos.

Norma

ARLINDO MARQUES JÚNIOR E ROBERTO ROBERTI- por Norma Hauer


No dia 1 de agosto de 1913 ele nasceu aqui no Rio de Janeiro, recebendo o nome de ARLINDO MARQUES JÚNIOR.
Estudou no Colégio Pedro II, ingressou no Curso de Direito, desistiu e passou a trabalhar no jornalismo.
Como jornalista, trabalhou em vários jornais da imprensa carioca, entre eles, "Última Hora", " O Radical" e "A Gazeta". Escreveu várias "revistas" para Derci Gonçalves, Alda Garrido e Walter Pinto.
Foi um dos fundadores da Sbacem, cuja primeira diretoria integrou e da qual se desligou, anos depois, para ingressar na UBC.
Estreou como compositor com a valsa "Nossa padroeira", parceria com Zequinha de Abreu, gravada na Columbia por Zezé Lara.
Em 1932, Murilo Caldas (irmão de Sílvio Caldas) gravou na Columbia sua marcha "Sobe no bonde". No mesmo ano, fez a letra para a valsa "Amando sobre o mar", de Zequinha de Abreu.

Formou com ROBERTO ROBERTI ( nascido 8 dias depois) em 9 de agosto de 1913) uma das mais famosas parcerias de sambas e marchas carnavalescas.

Em 1935, lançou com Roberti a marcha "Foi numa noite assim" e o samba "Queixas de Colombina" gravados por Carmen Miranda em sua estréia na Odeon

. No ano seguinte, teve mais duas de suas parcerias com Roberto Roberti gravadas: as marchas "Colombina moderna", por Almirante e "Você é crente", por Mário Reis, ambas na Odeon. Ainda em 1936, mais quatro composições com o mesmo parceiro foram gravadas por Carmen Miranda: as marchas "Nova descoberta" e "Não fui eu" e os sambas "Deixa esse povo falar" e "Capelinha do coração".

Mas seu primeiro grande sucesso, deu-se na voz de Orlando Silva: o samba “Abre a Janela”.

ABRE A JANELA

Abre a janela, formosa mulher
E vem dizer adeus a quem te adora.
Apesar de te amar como sempre amei
Na hora da orgia eu vou-me embora.

Em 1938 a marcha "Ali Babá", fez grande sucesso na voz de Odete Amaral e, no ano seguinte, novo êxito com "O homem sem mulher não vale nada", gravado por Orlando Silva.

No mesmo ano, compôs com Gadé a valsa "Estrada do passado", gravação
de Dircinha Batista e Castro Barbosa na Columbia e, com Roberto Roberti, o samba "Música maestro" .Esta também “estourou” no carnaval de 1938, com Dircinha Batista.

"Encontrei minha amada”, gravada por Orlando Silva no mesmo ano, foi uma resposta a “O Homem Sem Mulher Não Vale Nada”.

Procurei, tanto, tanto,
Mas encontrei minha amada
É por isso que eu canto:
O homem sem mulher não vale nada”

Com "Se a Orgia se Acabar", também da dupla, ocorreu algo referente ao antigo DIP.
Orlando gravou esse samba exatamente com esse nome, onde aparece a palavra "orgia". Pois bem, após essa gravação, que marcou sucesso, o famigerado DIP resolveu que a palavra "orgia" era imoral, por representar vadiagem. Tal palavra foi proibida. Que fizeram os compositores: mudaram o nome para "Fui Traído" e Carlos Galhardo a gravou, no qual a frase final da 1ª estrofe foi transformada de:

"mas eu choro se a orgia se acabar" para
"mas vou chorar se o samba se acabar."

"Grande" DIP, importar-se com mesquinharias. Mas naquele tempo era assim.

Arlindo Marques Júnior faleceu em 4 de junho de 1968, sem completar 55 anos, enquanto seu parceiro Roberto Roberti viveu 89 anos.

Norma

ATÁVICO

a traição 
se configura
na tradição 
da criatura
que faz da ação
só'ua aventura
que sem perdão
ninguém tem cura
fica no chão
toda lisura
a traição 
não se costura 
é a lição
que se atura

Ulisses Germano

FIM DE FÉRIAS - No Terraçus Bar e Petiscaria




Desfilando sucessos do rock das décadas de 60 a 90, as bandas "HOLYWOOD" e "REI BULLDOG" prometem festejar o final das férias no seu melhor estilo nessa sexta-feira, dia 5 de agosto, no TERRAÇUS BAR E PETISCARIA. A Holywood com o seu repertório voltado para as músicas que fizeram parte das trilhas sonoras dos comerciais do Cigarro Holywood e que já tem uma fantástica legião de fãs pelo Cariri afora, vai abrir a noitada. É a hora de esquentar o friozinho gostoso do sopé da Chapada do Araripe para ouvir as belas canções que a banda nos apresenta, para, em seguida, curtir o maravilhoso som da nova banda caririense que já conquistou o coração da moçada: a REI BULLDOG. Formada por roqueiros que veneram os Beatles, a banda cover dos garotos de Liverpool deverão completar a noitada, com sucessos inesquecíveis e muito som nessa noite que promete ser maravilhosa.

Atenção Beatlesmaníacos! Vamos viver esse fim de férias com toda a alegria e energia que essa noite de sexta-feira promete!

Vamos nessa Cariri!

INFORMAÇÕES:

SERTÃO POP PRODUÇÕES
KAIKA LUIZ
(88) 3521.5398 / 9666.9666 / 88242131

"O Mistério das 13 Portas" no Diário do Nordeste



Livro reúne ícones do Cariri

Publicado em 10 de julho de 2011


Crato. Lançado, nesta cidade, o livro "O Mistério das 13 Portas no Castelo Encantado da Ponte Fantástica", de autoria do médico José Flávio Vieira, com Ilustrações de Reginaldo Farias. A solenidade de lançamento aconteceu no Cine Teatro Salviano Arraes, antigo Cine Moderno, localizado no calçadão da Rua Bárbara de Alencar.

O livro, engenhosamente, faz uma tessitura dos mitos caririenses e acompanha um CD com 15 Músicas e um Áudio-Livro com a exposição da história. A narração do livro na voz de Luiz Carlos Salatiel é destinada a deficientes visuais, justifica o autor, destacando que é o primeiro livro cearense com áudio.

O projeto foi vencedor do I Prêmio Rachel de Queiroz da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult). Na oportunidade, foi promovido um show com a presença de vários músicos e compositores cearenses que participaram do projeto, entre os quais Luiz Carlos Salatiel, Lifanco, Ibbertson Nobre, Luiz Fidelis, Pachelly Jamacaru, Amélia Coelho, Ulisses Germano, Zé Nilton Figueiredo, João do Crato, Leninha Linard, Abidoral Jamacaru, Fatinha Gomes, André Saraiva, Elisa Moura, João Neto, Bonifácio Salvador, Rodrigo e o Coral Mensageiros de Cristo.

Alusão

Zé Flávio faz questão de dizer que a produção contou com a participação de mais de 60 pessoas que deram sua colaboração, a partir de sua neta, Thais, de 13 anos de idade, que leu o livro com o objetivo de indicar se o texto estava à altura do público infantil. Com base nesta leitura, o autor teve que fazer algumas correções antes de liberar o trabalho para impressão.

A obra destinada ao público infantil trata de um Reino Encantado com o nome de Aimará, localizado no pé de uma serra, com árvores grandes e frondosas, cercado de fontes perenes que banhavam o vale. Ali, nasciam flores e cresciam muitas fruteiras. Era o paraíso dos pássaros, entre eles uma ave especial que era o guardiã do Reino e se chamava Soldadinho. Aimará era governada pelo Rei Tristão e a Rainha Bárbara. Com tantas fruteiras e caças, os habitantes não precisavam trabalhar muito. O Reino criado pelo autor é uma alusão à região do Cariri.

Ao lado, havia outro Reino com o nome de "Trono do Altar", governado pelo Rei Joaquim que, ao contrário do Rei Tristão, era guerreiro, perverso e invejoso. Terminou invadindo o Reino de Aimará. Com o tempo, o Reino foi destruído em consequência do pipoco da pedra da Batateira que inundou a região. Os sobreviventes se refugiaram na serra do Horto, onde se encontra a estátua do Padre Cícero, fundador de Juazeiro.

Ao longo da história, o autor lembra as lendas que povoam o imaginário popular do Cariri. Entre elas, uma baleia que morava embaixo da Igreja da Sé, o boi misterioso, a cobra da lagoa encantada, a pedra de Nova Olinda e outras crendices que construíram e povoaram o mundo do Cariri encantado. No trajeto místico em busca de decifrar o mistério que envolveu a destruição do Reino, o autor denuncia os crimes ambientais, o progresso avassalador e a ganância do homem. Por fim, depois de uma longa caminhada, um dos personagens encontra as 13 portas do Castelo Encantado, que são representadas por 13 mitos que escreveram com o seu jeito de ser a história do Cariri.

Maldição

Uma história construída por gente simples como Canena, uma mulher que vendia tapioca com fígado no Crato antigo. Tandô, um moreno metido a cangaceiro que carregava na cartucheira, ao invés de balas, fragrâncias dos mais diversos perfumes silvestres do Reino.

O Rei da Serra, um ermitão que fez da floresta do Araripe a sua morada e única propriedade. Capela, um travesti valente que se tornou o defensor dos injustiçados. Vicente Finim, o filho ingrato que, por maldição da mãe, virava lobisomem nas noites de lua cheia. Maria Caboré, uma serviçal que morreu de peste bubônica, enquanto tratava dos pais. O Príncipe Ribamar da Beira Fresca, que inventou uma fábrica de descaroçar fumaça. Noventa, um chapeado, um profeta que foi alfabetizado enquanto trabalhava. Zé Bedeu, um boêmio que fez das praças do Crato o seu lar. Padre Verdeixa, um missionário irreverente que arranjava um pé-de-briga por onde passava. Zé de Matos, um poeta que vagava, fazendo poesias nas feiras do Crato. O Beato Zé Lourenço, um líder espiritual que foi perseguido pelos poderosos e Jeferson da Franca Alencar, o ecologista que conseguiu salvar alguma coisa do Reio Encantado.

Identidade

O autor justifica que a história de uma região nem sempre é escrita por nobres. Estes mitos que alimentam conversas de mesas de bares, nos alpendres das fazendas e nos terreiros das casas sertanejas são os verdadeiros símbolos da identidade da Nação Cariri.

Com estes personagens, mitos e crendices, o médio José Flávio com a ajuda de músicos e intérpretes regionais, consegue transformar um elenco de lendas numa denúncia contra a devastação da natureza, alimentada pela ignorância de muitos, pela ganância especulativa ou pela cegueira política.

MAIS INFORMAÇÕES
Secretária de Cultura, Esporte e Juventude do Crato
Centro Cultural do Araripe
Telefone: (88) 3523.2365


ANTONIO VICELMO
Repórter

Cusco



Quando viajamos empreendemos sempre duas viagens. Uma nos afasta geograficamente do lugar onde habitamos e o deslocamento nos transporta, magicamente, para paragens desconhecidas, para novos costumes, novas línguas, novas culturas. Simultaneamente, fazemos uma excursão por nossas trilhas internas percebendo a existência de novas verdades, novos modos de sentir o mundo , outras formas de conviver com miragem estonteante da vida. Viajar de alguma maneira nos completa e , quando retornamos, é como se trouxéssemos as gavetas da alma rearrumadas, os armários do espírito com cada coisa reposta no seu devido lugar. Talvez, por isso mesmo, é que a ida seja tão prazerosa quanto a volta, como se o ir e o vir fossem, exatamente, os cíclicos movimentos de um mesmo pêndulo.
Senti exatamente isso quando visitei o Peru nestas férias. Foi como se voltasse para casa. A desértica paisagem do sul peruano, com sua pluviosidade rara e eventual, fez-me imergir novamente no Nordeste brasileiro, como se daqui nunca tivesse me ausentado. A placidez do humilde povo do Peru se assemelha enormemente à resignação do nordestino frente às adversidades climáticas e sociais. As roupas de cores vivíssimas e alegres, a música farta e escorreita que fluem das flautas fazem-se um contraponto à aridez da paisagem, às intempéries da natureza. Não tão diferente das vestimentas estampadas nas roupas do nosso povo mais simples, de forte influência afro. O peruano, no entanto, é profundamente orgulhoso da sua cultura e do seu país no que difere cabalmente do povo brasileiro, que ainda carrega consigo, mesmo nos tempos atuais, aquele complexo de cão rabugento, de raposa hidrofóbica.
Perambulando pelas ruínas do Império Inca em Paracas, Nazca e Cusco tem-se à nossa frente o filme da destruição de uma das mais avançadas culturas dos Séculos XII ao XV pela ganância do Colonialismo Espanhol, bem mais predatório do que o Português em terras de Pindorama. Os Incas que no seu auge ocupavam um território gigantesco de mais de 1.800.000 Km2, englobando o Peru, o Equador, a Bolívia, o Chile, Colômbia e norte da Argentina, foram dominados, estranhamente, por algumas caravelas espanholas com pouco mais de 200 soldados. Como terá sido possível ? A pólvora? A guerra biológica ? Quem sabe a ingenuidade Inca em acolher o satanás no seio do seu povo, como se enviado de Deus. O certo é que a Espanha perpetrou um dos maiores crimes da história da humanidade em nome da sua ganância incontrolável.
Os jesuítas chegaram com os espanhóis e promoveram a devassa religiosa do Império Inca, destruindo os inúmeros templos e construindo suas igrejas justamente em cima dos antigos monumentos religiosos , boa parte das vezes utilizando as mesmas pedras que estruturavam as paredes antigas. Os próprios Incas já tinham anteriormente procedido de forma igual com as culturas pré-incas. É que os deuses , amigos, são tão mortais como nós humanos. Onde hoje se encontram os poderosos deuses de outrora ? Zeus, Júpiter, Thor, Osíres , Viracocha, Inti ? “Estão todos dormindo, dormindo profundamente...” Que destino aguarda as sumidades do momento : Jeová, Buda, Maomé ?
Em meio as montanhas andinas, viajando pelo Vale Sagrado dos Incas, tem-se imediatamente uma imersão transcendental. Dos pícaros é quase que impossível olhar para baixo, acima tudo parece estranhamente familiar. Em quitchua, a língua oficial dos Incas, Cusco significa umbigo do mundo. Alguma coisa dá à luz dentro de nós quando visitamos a cidade. Bate-nos a solidão de Pachacuti, em Macchu Picchu, esperando candidamente a destruição final do sonho, pelas hostes inexoráveis do senhor Tempo.
J. Flávio Vieira

Memória do Lançamento de "O Mistério das 13 Portas"


























































































Fotos : Henrique Maia em 07/07/11



Cine Teatro Moderno- Crato


UM RIO QUE UM DIA FOI - por Ulisses Germano

Rio Granjeiro (Crato-CE): "A Lei da Natureza é diferente das leis dos homens" J.K.

Granjeando suas margens
O rio que um dia foi
Relutante e renitente
Se recusa a ser canal
Mesmo não sendo mais
O rio que um dia foi
Um dia reivindicará
Suas margens...
E não me venha 
Falar da "fúria das águas"!
Agora deixo a deixa:
Deixa o rio, deixa! 

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"Do rio que tudo arrasta se diz violento, 
mas ninguém chama de violentas as margens que o aprisionam"
Bertold Brecht