por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

OS VERSOS QUE VOCÊ COMPLETOU - Ulisses Germano




Nenhuma outra pessoa no mundo
Poderia completar o meu verso
Tu que já provaste do adverso
Pegando a lama do poço profundo
Enfrentando o descaso e a picuinha
A dor e a alegria de estar sozinha
Vivendo o hoje do verbo encantado
No profundo sonho de um azul sonhado
Esbanjando o amor que jorra das fontes
Abrindo vias, construindo pontes
Pra trazer de volta o ser amado

Dedicado a Socorro Moreira 
Ulisses Germano
Crato-CE.

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Uma foto de Anduiá num time do Piauí - José do Vale Pinheiro Feitosa

Foto cedida por Napoleão o primeiro à esquerda em pé. Anduiá é o segundo à esquerda da coluna de cócoras. Se tocar na imagem ela poderá aparecer mais ampliada e se verá a legenda da mesma.

Ainda um menino rural, mas já estudante da cidade. Falo numa data entre 1961 e 1963 quando fui assistir a um jogo do Sport no campo da cidade onde hoje estão prédios da URCA. Aquele terreno vizinho ao parque de exposições. Era um jogo especial, a despedida de Anduiá, o maior craque da cidade e que iria para uma aventura de sucesso no futebol. Transferia-se para o futebol da capital do Piauí.

O menino nunca esqueceu aquele momento especial. Ali estava de alguma forma o destino de muita gente. Ir para um centro maior tentar um futuro melhor e mais próximo onde se poderia projetar. Por isso postar esta foto do time Caiçara de Campo Maior no Piauí é uma ligação com aquele momento. Daqui onde veio parar, o menino renasce abrindo as brecha de uma carga de anos passados.




Enquanto Houver Saudade
Mário Lago

Não posso acreditar
Que algumas vezes
Não lembres com vontade de chorar
Daqueles deliciosos quatro meses
Vividos sem sentir e sem pensar

Não posso acreditar
Que hoje não sintas
Saudade dessa história singular
Escrita com as mais suaves tintas
Que existem pra escrever o verbo ama

Enquanto houver saudade
Pensarás em mim
Pois a felicidade
Não se esquece assim
O amor passa mas deixa
Sempre a recordação
De um beijo ou de uma queixa
No coração

Composição: Custódio Mesquita e Mário Lago

Só pra lembrar Mário Lago


Brincando com "nosotros"...

de um tudo 
meu amor 
farei por ti

desatento
escolho o contentamento
sem desalento

ensina-me a ver
o que posso ser

rasga o véu 
do encanto real

Façamos o nosso toldo
- tenda pra sempre!

(Ulisses x Socorro)



Pra que serve a Poesia ?


Permitam-me começar esta cerimônia com um poema do “Four Quartets” de Thomas Stearnes Eliot . É que a literatura carrega consigo seus misteriosos ritos e se há muito de eucarístico na Poesia , os versos são uma Prece e nos conectam com o divino e o sagrado, fazendo pairar sobre todos nós os eflúvios das musas e deuses do Olimpo.


“Em meu Princípio está meu fim. Umas após outras
As casas se levantam e tombam, desmoronam, são ampliadas,
Removidas, destruídas, restauradas, ou em seu lugar
Surgem um campo aberto, uma usina ou um atalho.
Velhas pedras para novas construções, velhas lenhas para novas chamas,
Velhas chamas em cinza convertidas, e cinzas sobre a terra semeadas,
Terra agora feita carne, pedra, fezes,
Ossos de homens e bestas, trigais e folhas.
As casas vivem e morrem: há um tempo para construir
E um tempo para viver e conceber
E um tempo para o vento estilhaçar as trêmulas vidraças
E sacudir o lambril onde vagueia o rato silvestre
E sacudir as tapeçarias em farrapo tecidas com a silente legenda”
.................................................................................................................
“Aqui ou ali, não interessa
Devemos estar imóveis e contudo mover-nos
Rumo a outra intensidade
A uma união mais ampla, uma comunhão mais profunda
Através da escura frieza e da vazia desolação,
O grito da vaga, o grito do vento, as águas infinitas
Da procelária e do delfim. Em meu fim está meu princípio"

E a poesia, amigos, parece louco dizê-lo , está no princípio de tudo neste universo. O Gênesis e o Apocalipse que mais são além de um orgasmo poético das superiores e insondáveis forças que com seus cadarços invisíveis movem a amplidão ? A flor fosforescente que, em botão, desabrocha no campo; a pétala que adiante cai e alimenta o solo; a semente que se abre e reinicia o ciclo; o pólen aspergido pelo vento que amplia o universo da fertilização; o corpo desfalecido que sucumbe – são todos capítulos de uma mesma história, ramalhetes de um mesmo bouquet.
Pareceria , então, perfeitamente plausível que aqui estivéssemos em comunhão , para uma celebração sagrada: o lançamento de um livro de poesias. No entanto, diante de um mundo tão pouco poético, tão tecnicista, tão pouco glamoroso, esta solenidade pode parecer totalmente obsoleta e grita-nos a pergunta inevitável : Prá que diabos serve Poesia no mundo de hoje ? Um mundo onde não mais se conversa: se tecla; não mais há encontros em praças, mas em chats; onde o olho-a-olho, o toque, o sorriso foram substituídos pelos e-mails. Um mundo líquido, tão bem caracterizado por Baumman , onde a fluidez estonteante leva de roldão não só as modas, os costumes, mas os sentimentos mais profundos que serviram um dia de amálgama contra a inevitabilidade da morte e o cupim inexorável do tempo. Numa sociedade tão pragmática como a que nos tornamos, onde tudo no planeta se tenta representar numa planilha do Excel; onde o Código de Barras foi se tornando mais importante que o Código de Ética; onde o grande dilema de Hamlet hoje se resume a “Ter ou não ter: eis a questão”... Prá que diabos serve a Poesia ? Se já não nos interessa o mistério das coisas porque tudo pode ser encontrado facilmente no Google; se escancaramos todas as barreiras da intimidade ; se amigo é definido como aquele que faz parte da mesma comunidade no Facebook; se a Ciência tudo pode e tudo permite; se só existe um Deus : O consumo e uma só Igreja verdadeira: o Shopping Center... Prá que diabos se lança um livro de poesias ?
Antecipei, amigos, estas questões porque percebo, claramente, que muitos dos que vieram já se viram diante de iguais inquirições e boa parte daqueles que convidados não compareceram, com certeza, assim o fizeram, acicatados por dúvidas semelhantes. A Poesia ? Tem alguma serventia ?
Pois bem, amigos, tentarei decifrar o enigma da Esfinge. A poesia não possui qualquer utilidade prática, como dizia Leminsky : é um objeto perfeitamente inutilitário. Com ela você não desconta cheque em Banco, não compra bolacha em supermercado, não cura tísica de menino catarrento. Mas a nossa Sociedade, amigos, só compra objetos perfeitamente úteis? Observem a casa de vocês num dia de mudança: quanto traste adquirido desnecessariamente ! O taco de beisebol trazido como lembrança de Miami; as roupas incontáveis que caíram de moda de repente; o sapateiro repleto de sapatos que fariam inveja a um imbuá... Hoje, amigos, mais que nunca, as coisas todas são perfeita e intencionalmente descartáveis , até nós! Mas não proponho que vocês comprem poemas por simples compulsão, que juntem os livros às outras tantas coisas imprestáveis da casa de vocês. Não !
Observem mais um pouco e percebam que na nossa casa existem objetos valiosíssimos, inegociáveis e que, por outro lado, não teriam qualquer valor de mercado. A foto da primeira namorada que entocamos no fundo da gaveta; o primeiro caderno de caligrafia ; a primeira boneca de porcelana; uma pedrinha que trouxemos da Chapada Diamantina num Réveillon inesquecível... ninguém daria um vintém por qualquer um desses itens e por outro lado muitos não os venderiam por qualquer dinheiro desse mundo. Eles têm um valor intrínseco que é impossível de mensurar. Não existem balanças aferidas para pesar o sonho e os mais estranhos objetos do nosso desejo. Há assim valores que sobrepassam as simples tabelas contábeis do Deve-Haver. E eu ousaria afirmar que – imunes aos bolores do tempo e à ferrugem das horas – esta é a única bagagem que nos será permitida conduzir na derradeira viagem quando o Princípio de tudo tocará a sua outra extremidade : o Fim.
A Poesia, amigos, faz parte dessa aresta imaterial da nossa existência. Sem ela é-nos impossível atingir a essência íntima das coisas. Ela possibilita enxergar além da fronteira do aparentemente real. Olhos embotados pela dura realidade cotidiana , uma normalidade perigosa nos solapará pouco a pouco a alma: a violência, a desigualdade, a injustiça, o preconceito, a fome irão se tornando para nós perfeitamente normais e imutáveis. A Poesia nos mostrará outros caminhos a trilhar, antepondo-nos um filtro diante das retinas poderemos perceber nuances até então inexploradas do universo à nossa volta. A percepção dessa dimensão multi-sensorial nos faz compreender o planeta além do nosso pomar e do nosso quintal. Seria impossível a um poeta acender o estopim do Enola Gay ou incendiar Roma, mesmo sob o pretexto de compor uma Sinfonia perfeita. É que Ética e Estética são o verso e o anverso de uma mesma moeda, amigos. Se alguém pretende ensinar Ética para as gerações futuras, conduza as crianças pelas veredas da Arte. Qualquer pessoa que consiga se emocionar diante do Não-Figurativismo de Iberê Camargo , tem no seu âmago uma profunda comunhão com os mistérios da Vida. E a Poesia , amigos, é o amálgama básico de qualquer forma de Arte, uma poderosa forma de alumbramento.
E aqui estamos nós, em meio a tantas digressões, para o lançamento do sétimo livro do nosso Wellington Alves: “Inventário de Poesias”. Mais conhecido por todos pelo afetuoso apelido de TON-TON. Ele, em verdade, seguindo o epíteto quase que premonitório, sempre executou a sinfonia da Vida em muitos tons : Médico psiquiatra, cidadão do mundo, alma de boêmio, militante político ,compulsivo tecedor de amizades; a poesia de Ton-Ton é uma extensão da sua vida. Apesar do que possa parecer o título desse livro, não se trata de um poeta burocrático, Ton-Ton deixa fluir dos seus versos, o encantamento de um vate maduro frente ao mundo com seus mistérios, suas complexidades e sua finitude. Sabiamente, o poeta faz o inventário, em vida, para muitos amigos e muitos leitores, da riqueza que foi auferindo durante a existência. Não de bens materiais perfeitamente expostos ao caruncho e às traças e que fazem a canibalesca festa dos inventários tradicionais, onde se partilham quinquilharias , se destroem laços familiares e se criam inimigos figadais. Ton-Ton deixa como herança sentimentos impalpáveis mas perceptíveis fragmentos de toda uma existência: seu amor incondicional por Fátima e pelos filhos, sua proximidade ao sagrado e sua aversão ao ritual, a estrada que se alonga às costas e parece se estreitar à frente.
Sintam-se assim, todos, seus herdeiros universais. A cada um de vocês caberá : uma nesga da lua de agosto, um crepúsculo na duna de Jeriquaquara, um sopro do orvalho da Chapada, um alvorecer no Vale do Loire. Este é o tempo de viver e conceber, da ampla comunhão com a vida, antes que o Tempo venha estilhaçar as trêmulas vidraças que separam o Príncipio do Fim.
P.S. - Apresentação do livro "Inventário de Poesias" de Wellington Alves, em 24/11/11 no SESC /Crato, com inesquecível Performance de Luiz Carlos Salatiel.
J. Flávio Vieira

Sob suspeita - José Nilton Mariano Saraiva

Teoricamente, o Poder Judiciário deveria funcionar como referência em termos de moralidade e isenção nas suas decisões, um fórum permanente e apropriado ao qual pudessem recorrer os que vítimas de arbitrariedades e injustiças. É o mínimo que se poderia esperar. No entanto, em termos de Brasil a “coisa” não funciona propriamente assim, porquanto claramente privilegiadora dos poderosos e bem situados na vida, a ponto da velha máxima dos “três PS” sempre ser lembrada: no Brasil, cadeia só pra preto, pobre e puta.
É bem verdade que novos ares vem experimentando o nosso Ministério Público, com promotores jovens e independentes “ousando” um pouco mais (vide um Fausto de Sanctis, juiz paulista) mas que esbarram nas nossas caducas leis e códigos processuais (que necessitam passar por uma reciclagem urgente, disso não tenhamos dúvida), além do que “cultura” estabelecida ainda vá demorar um pouco a ser abolida, via aposentadoria de alguns dos nossos viciados e inoperantes “magistrados”, claramente adeptos de certas conveniências e jeitinhos, e sem maiores preocupações com a defesa da cidadania. E não é difícil identifica-los: é só atentarmos para a atuação dos pseudos “paladinos da Justiça” com assento em nossa corte maior: o Supremo Tribunal Federal (STF). Mas um dia chegaremos lá, embora cause calafrios tomar conhecimento do abaixo exposto:

Um poder de costas para o país – Marco Antonio Villa


A Justiça no Brasil vai mal, muito mal. Porém, de acordo com o relatório de atividades do Supremo Tribunal Federal de 2010, tudo vai muito bem. Nas 80 páginas - parte delas em branco - recheadas de fotografias (como uma revista de consultório médico), gráficos coloridos e frases vazias, o leitor fica com a impressão que o STF é um exemplo de eficiência, presteza e defesa da cidadania. Neste terreno de enganos, ficamos sabendo que um dos gabinetes (que tem milhares de processos parados, aguardando encaminhamento) recebeu "pela excelência dos serviços prestados" o certificado ISO 9001. E há até informações futebolísticas: o relatório informa que o ministro Marco Aurélio é flamenguista.
A leitura do documento é chocante. Descreve até uma diplomacia judiciária para justificar os passeios dos ministros à Europa e aos Estados Unidos. Ou, como prefere o relatório, as viagens possibilitaram "uma proveitosa troca de opiniões sobre o trabalho cotidiano." Custosas, muito custosas, estas trocas de opiniões. Pena que a diplomacia judiciária não é exercida internamente. Pena. Basta citar o assassinato da juíza Patrícia Acioli, de São Gonçalo. Nenhum ministro do STF, muito menos o seu presidente, foi ao velório ou ao enterro. Sequer foi feita uma declaração formal em nome da instituição. Nada. Silêncio absoluto. Por que? E a triste ironia: a juíza foi assassinada em 11 de agosto, data comemorativa do nascimento dos cursos jurídicos no Brasil.
Mas, se o STF se omitiu sobre o cruel assassinato da juíza, o mesmo não o fez quando o assunto foi o aumento salarial do Judiciário. Seu presidente, Cézar Peluso, ocupou seu tempo nas últimas semanas defendendo - como um líder sindical de toga - o abusivo aumento salarial para o Judiciário Federal. Considera ético e moral coagir o Executivo a aumentar as despesas em R$ 8,3 bilhões.
A proposta do aumento salarial é um escárnio. É um prêmio à paralisia do STF, onde processos chegam a permanecer décadas sem qualquer decisão. A lentidão decisória do Supremo não pode ser imputada à falta de funcionários. De acordo com os dados disponibilizados, o tribunal tem 1.096 cargos efetivos e mais 578 cargos comissionados. Portanto, são 1.674 funcionários, isto somente para um tribunal com 11 juízes. Mas, também de acordo com dados fornecidos pelo próprio STF, 1.148 postos de trabalho são terceirizados, perfazendo um total de 2.822 funcionários. Assim, o tribunal tem a incrível média de 256 funcionários por ministro. Ficam no ar várias perguntas: como abrigar os quase 3 mil funcionários no prédio-sede e nos anexos? Cabe todo mundo? Ou será preciso aumentar os salários com algum adicional de insalubridade?
Causa estupor o número de seguranças entre os funcionários terceirizados. São 435. O leitor não se enganou: são 435. Nem na Casa Branca tem tanto segurança. Será que o STF está sendo ameaçado e não sabemos? Parte destes vigilantes é de seguranças pessoais de ministros. Só Cézar Peluso tem 9 homens para protegê-lo em São Paulo (fora os de Brasília). Não é uma exceção: Ricardo Lewandovski tem 8 exercendo a mesma função em São Paulo.
Mas os números continuam impressionando. Somente entre as funcionárias terceirizadas, estão registradas 239 recepcionistas. Com toda a certeza, é o tribunal que melhor recebe as pessoas em todo mundo. Será que são necessárias mais de duas centenas de recepcionistas para o STF cumprir suas tarefas rotineiras? Não é mais um abuso? Ah, abuso é que não falta naquela Corte. Só de assistência médica e odontológica o tribunal gastou em 2010, R$16 milhões. O orçamento total do STF foi de R$518 milhões, dos quais R$315 milhões somente para o pagamento de salários.
Falando em relatório, chama a atenção o número de fotografias onde está presente Cézar Peluso. No momento da leitura recordei o comentário de Nélson Rodrigues sobre Pedro Bloch. O motivo foi uma entrevista para a revista "Manchete". O maior teatrólogo brasileiro ironizou o colega: "Ninguém ama tanto Pedro Bloch como o próprio Pedro Bloch." Peluso é o Bloch da vez. Deve gostar muito de si mesmo. São 12 fotos, parte delas de página inteira. Os outros ministros aparecem em uma ou duas fotos. Ele, não. Reservou para si uma dúzia de fotos, a última cercado por crianças. A egolatria chega ao ponto de, ao apresentar a página do STF na intranet, também ter reproduzida uma foto sua acompanhada de uma frase (irônica?) destacando que o "a experiência do Judiciário brasileiro tem importância mundial".
No relatório já citado, o ministro Peluso escreveu algumas linhas, logo na introdução, explicando a importância das atividades do tribunal. E concluiu, numa linguagem confusa, que "a sociedade confia na Corte Suprema de seu País. Fazer melhor, a cada dia, ainda que em pequenos mas significativos passos, é nossa responsabilidade, nosso dever e nosso empenho permanente". Se Bussunda estivesse vivo poderia retrucar com aquele bordão inesquecível: "Fala sério, ministro!"
As mazelas do STF têm raízes na crise das instituições da jovem democracia brasileira. Se os três Poderes da República têm sérios problemas de funcionamento, É INEGÁVEL QUE O JUDICIÁRIO É O PIOR DELES. E deveria ser o mais importante. Ninguém entende o seu funcionamento. É lento e caro. Seus membros buscam privilégios, e não a austeridade. Confundem independência entre os poderes com autonomia para fazer o que bem entendem. Estão de costas para o país. No fundo, desprezam as insistentes cobranças por justiça. Consideram uma intromissão.

Clara mente
A poesia fala

Silêncio " light"
Obscura mente

Solidão aceita
Vida "diet "

por socorro moreira




Estude o projeto de vida que Deus criou pra você... Execute-o , passo a passo , no rítmo de uma chuva fininha, que fará desabrochar suas flores - viva cores !






Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.


Pablo Neruda


Pra não dizer que não falei de azul - Por José do Vale Pinheiro Feitosa


Azul,
Nem céu ou perturbado,
Firmamento e assustado.

Na origem,
Uma linda pedra chamada
Lápis-lázuli.

Nem era isso,
É que as nódoas da roupa,
Se vão com o anil.

E esta tosse obstrutiva,
Cianose por batom,
Cianamida com força vermicida.

Adversário,
Nas lutas amazônicas,
Desfilados bois rubros de sucesso.

Meus sonhos são azuis,
Um japonês hibridou uma rosa azul,
O Egeu é azul.

E este azul é só meu,
É crítico entre o verde e o violeta,
Fui eu quem descobriu este azul.

Feito Colombo,
As Américas,
O gringo no samba,
Um brasileiro no Louvre,
Um papa na África.

Este azul é só meu.
Esteta nos galhos da ibiraobi
Deste cinza no lombo do boi.


por José do Vale Pinheiro Feitosa

Etérea- por Socorro Moreira




Existe tanta solidão na dor do mundo...

Existe solidão na própria felicidade

E o dia a dia esperando o destino ,

no recreio entre duas aulas principais:

O sono letárgico , e o suspiro final.


Vivo o plantão dos meus mistérios.

Palcos paralelos , espetáculo estranho

Simbiose de tristeza e desafeto.


Rodopio minha própria valsa ,

numa vertigem etérea ...

Desfaleço no imaginário ,

e permaneço no vazio da paz.

Na madrugada...



Varal- por José Flávio Vieira



Fundo de quintal. Uma corda estendia-se diagonalmente entre um galho de jaqueira e um ramo de figueira. Como que delimitava uma fronteira imponderável entre o pomar e o resto do mundo. Do fundo, a goela da manhã soprava um vento alísio que vibrava as folhas das árvores , arrancando do verde uma música lânguida e reconfortante. A um lado, logo abaixo da figueira, mal se entrevia uma mulherzinha atarracada, defronte a um tanque de alvenaria. Pano envolvendo a cabeça, vestido longo, desfalecendo o tecido solto até os pés, parecia uma afegã se dirigindo à mesquita. Uns braços roliços saltavam das mangas e, ritmicamente, iam batendo contra a laje do tanque, untadas de água e sabão, uma montanha de roupas. Elas se ajuntavam dentro de uma bacia posta por cima de um tamborete, ao pé da árvore. Lavadas, as peças iam sendo paulatinamente colocadas no varadouro, presas a pegadores, ao doce sabor adocicado do vento. Aos poucos, o sopro cálido , espargindo as roupas úmidas , como bandeiras desfraldadas, lhes roubava a umidade. Abaixo do varal estendiam-se vários buraquinhos, quase que milimetricamente esculpidos pelas gotas que escorriam das malhas de tecido.
À medida que as roupas se iam enxugando, alguns resquícios de manchas se tornavam mais visíveis em meio ao encardido das vestes. Como se o varadouro fosse um mastro e cada peça uma bandeira a expor simbolicamente histórias de batalhas pretéritas e seus espólios de guerra. A cueca do adolescente tentava esconder a mácula próximo a braguilha, resultado do míssil lançado, a contra gosto , na polução da noite anterior. A fraldinha do bebê , por outro lado, não estava nem aí para nódoa amarronzada que lhe marcava o centro do quadrilátero, como se calculada geometricamente por prumo de pedreiro. A calçola rósea da mocinha avermelhava-se ainda mais, tentando esconder a marca rubra da primeira menstruação. A colcha de cama tomava egoisticamente grande espaço do varal e fora virada com o lado avesso para o mundo, quem sabe assim não se ocultavam melhor os claros sinais da batalha de Eros travada por um casal na noite anterior ? No meio delas, uma mancha oleosa escura fazia um contraponto esquisito com as outras mais esbranquiçadas. A calça comprida parecia olhar com empáfia para os outros trajes pendurados na corda, entendia-se claramente ser do dono da casa, até porque mostrava como vestígios o respingado da tinta, um pouco esmaecida de um pintor de paredes. A Samba-Canção do vovô , com as desvanecidas manchas amareladas da incontinência, olhava algo sorridente para a fralda, presa do outro lado da corda, percebia claramente que as extremidades se tocam. O vestido de cambraia da dona de casa estampava manchas indeléveis, já aparentemente imunes à lavagem , típicos resquícios da cotidiana batalha doméstica.
De repente, a repetitiva e costumeira paisagem pareceu estilhaçar-se. Os galhos entrelaçados da figueira e da jaqueira fremiram como se assumissem o testemunho ocular de um crime perpetrado. Um macacão jeans, rapidamente esfregado pelas mãos da mulher, foi colocado, disfarçadamente, no varal. Mal ocultava marcas de óleo escuro que resistiam ao enxágüe. A colcha o observou com um ar de indisfarçável familiaridade. Um lufada de vento mais forte fez com que suas pernas enroscassem languidamente o vestido de cambraia, sob o visível olhar de reprovação de todo o varal. Abaixo, na terra úmida , os fluidos escorridos se mesclavam em homogeneidade, sem preconceitos. Corriam líquidos , como afluentes de um rio maior chamado vida. Unidos na fluidez , já era impossível definir sua origem. Apenas uma nódoa oleosa destoava , sobressaindo-se heterogeneamente no fluxo, dificultando a respiração dos peixes e conciliação dos elementos a caminho da foz.

J Flávio Vieira

Oficialmente Velho Leonardo Boff


Neste mês de dezembro completo 70 anos. Pelas condições brasileiras, metorno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas éuma outra etapa da vida, a derradeira. Esta possui uma dimensão biológica, pois irrefreavelmente o capital vital se esgota, nosdebilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamentede todas as coisas. De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe,impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente àslágrimas, Mas há um outro lado, mais instigante. A velhice é a última etapado crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir aexistência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar onosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então entramos no silêncio. E morremos. A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: "na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenesce o homem interior"(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de sere de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical.Esta identidade devemos encará-la face a face.Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vida nos impõe. Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis.Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo,filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator dealgumas revistas, inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano,submetido ao "silêncio obsequioso" e outros papéis mais. Mas há ummomento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha. Então deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: Afinal, quemsou eu? Que sonhos me movem? Que anjos que habitam? Que demônios me atormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? Na medida emque tentamos, com temor e tremor, responder a estas indagações vem à lume o homem interior. A resposta nunca é conclusiva; perde-se paradentro do Inefável.Este é o desafio para a etapa da velhice. Então nos damos conta deque precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que nos defina. Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgarnovos horizontes e criar sentidos de vida. Especialmente para tentarfazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhosque nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com osfracassos e buscando sabedoria. É ilusão pensar que esta vem com a velhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como aetapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.Por fim, importa preparar o grande Encontro. A vida não éestruturada para terminar na morte, mas para se transfigurar através damorte. Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia. Aísaberemos finalmente quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome.Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento:"contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para aeternidade".Por fim, alimento dois sonhos, sonhos de um jovem ancião: o primeiroé escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e o segundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua epoetisa:"eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver". isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus.Parafraseando Camões, completo: mais vivera se não fora, para tão longo ideal, tão curta a vida.