por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 25 de julho de 2013

Estou farto de tantos adjetivos - José do Vale Pinheiro Feitosa

Esperto. Manhoso. Velhaco. Ardiloso. Mas não covarde pelo menos como é dicionarizado o termo. Poderia ser astúcia, bote de serpente ou espera de felino. Mas pode ser cafajeste, infame, vil, canalha. Que se dar à práticas de bandos, corja, maloca, malta, quadrilha ou súcia.

Seria isso um estigma? Quem sabe menos. Poderia apenas ser o aprendizado de uma prática social do grupo em que se originou. Ladino menos pela vivacidade e mais por ser um espertalhão. Com pose de prestamista seria aquele vendedor de títulos de terras na lua. Em módicas prestações, com juros e correção monetária.

No particular e no bando é dado a práticas da luxúria. Aos prazeres do sexo, das bebidas refinadas, das comidas caras e dos restaurantes arrasadores de cartões de crédito. É dez, doze, quinze por cento quase sócio das empreitadas e das empreiteiras. Em nome do povo é a fonte que regra sua vida cara.

E tem casca grossa. Casco de jabuti. Não se afeta por tudo que dizem a seu respeito, a vida de velhaco já tem o desrespeito como britadeira dos próprios mal feitos. Não adianta todas as imprecações e todas os anátemas jogados contra sua ética. A vilania é sua natureza.

Se houver um decreto que roube a própria constituição e for pego com a mão na massa, não tem problema, corrige-se o “assessor” e republica-se o decreto. Se o bonde tombar sobre sua completa falta de manutenção, pague-se a defesa do Secretário, o chefe é revestido de teflon. É assim esse típico malandro que herda oito anos na coincidência que gerou um bilionário que quebrou bilhões de muita gente e instituições.  

E o Coquetel Molotov estava na mão de quem mesmo? Há! Mas não tem quem prove. O Coquetel estava lá, numa mochila que ninguém carregava e no entanto afirmaram que estava com um manifestante. Mas isso foi a polícia quem disse. E tudo que se refere à polícia foi delegado.

A culpa é do Secretário de Segurança Pública. A ele foi tudo delegado. Ele é o responsável pelas falsidades, mortes, desaparecimentos e tudo o mais do que um dia grandes assassinos do mundo desejaram como guerra cirúrgica. É o famoso efeito colateral da mezinha aplicada a este corpo rebelde e vivo de um sociedade injusta e capitalista, dado a achaques, mas inteiramente vivo e reativo.


Olhando a imagem na televisão por breves momentos, os únicos da minha vida, tive vergonha de ser da mesma espécie biológica daquele sacripanta. Mas sei que a humanidade tem algo a mais do que apenas seu organismo vivo, tem história e aprendizado. Certamente acima deste pântano de comportamento.  

Quem me levará sou eu - José do Vale Pinheiro Feitosa


E no planisfério daquela minúscula bola azul há um porta por onde se entra e outra por onde se vai. Não se sabe bem se tudo se desmancha no revelo de planícies, planaltos, vales e montanhas. Mas de algum modo há uma porta de saída não se sabe se é apenas uma porta e nada mais, assim como do mesmo modo que ao entrar não se sabe se havia um lugar de onde vir.

Mas o certo é que nesta levada que a mim toca ir adianta posso dizer a todos os meus que “a gente se vê depois. Tarde, toda tarde ir fiando, no silêncio a costurar, noite no bordado, vem chegando em retalho e põe estrelas no lugar.”

Prometo a todos que serei a costureira do lugar. A todos vocês: Anastácia, Alceu Valença, Chico Buarque, Clodô, Climério, Djavan, Fausto Nilo, Gilberto Gil, Guadalupe, Manduka, Nando Cordel, Renato Teixeira e todos que dessa agulha comigo costuraram.

Na levada comigo mesmo levo a “sede de rio e a fome de pão.” “A sede do rio quem bebe é o peixe e sede de pão quem come é o chão. Apôs tá certo,” vim desde aquele “arrebol” de Garanhuns, “arrastando as alpercatas”, junto ao meu “anjo de guarda,” buscando “casa comida e paixão” e foi ai que “bateu no coração.” A “catingueira fulorou,” “vim de mala e cuia” “de volta pro aconchego.” E ói aqui “nós dois de testa”, tem tempo que “tudo é mel” e noutras horas o amargor do fel amanhece na nossa porta.  

Pois “eu sou do mundo,” pelas “costas do Brasil” traçando riscos na poeira, o “sertão me espera” e são “tantas palavras” como tantas são as dobras deste morim das saias das morenas. “E quando chega o verão é aquele desassossego no coração,” aquele sol bronzeando os desejos em forja de brasa.  São “sete meninas,” são todas as meninas. Algumas em cachos de pitomba, uma ruma são vagalumes na vereda, outras uma pluma de talco amaciando as pontas da vida. Mas de tudo quero, o que mais quero é um xodó. Aliás, “eu sou quero um xodó.”

“Estou de volta pru me aconchego, trazendo no peito bastante saudade.” Esse mato e essa terra e peço a tu, “não sai de perto de mim.” Mas a separação quando existe tem a trena da saudade. “Estou com saudade de tu, meu desejo, com saudade do beijo e do mel do teu olhar carinhoso, do teu abraço gostoso, de passear no teu céu.”

E posso dizer que levo a guia e logo na primeira parada “abri a porta.” “E apareci e a mais bonita sorriu pra mim. Nesse instante me convenci o melhor da vida vai prosseguir. Por este céu azul, onde a lei seja o amor e o bom e o melhor seja comum a qualquer um, seja quem for.” E neste lugar “cheguei para ficar.” “Nos olhos trago esperança, no coração trago amor e no futuro muita crença.”

“O amor não é sofrimento, não é tormento, não é dor, não existe lamento, o amor é o amor.” “Estrelas somos nós, dois vaga-lumes sós, dois objetos sós, tão sós, tão sós vamos vagando no ar.” Flutuando sem a economia do ar, a contabilidade da água e os custos dos alimentos. Vagando acima das posses, das cercas proprietárias, das contas bancárias, da renda e do imposto sobre a renda. Mas vagando acima destas coisas sem jamais esquecer das pessoas e tantas possibilidades de costurar a vida de modo tão surpreendente como o nascer de uma estrela.

“Amigos a gente encontra, o mundo não é só aqui. As coisas que eu tenho aqui, na certa terei por lá. Segredos de um caminhão, fronteiras a desvendar. Passar como passam os dias e se o calendário acabar eu faço contar o tempo outra vez. Tudo outra vez a passar. Quem me levará sou eu, quem regressará sou, não diga que não levo a guia de quem souber me amar.”

Atenção: texto construído com as letras das canções de Dominguinhos e seus parceiros.