por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 6 de agosto de 2011

Samba de duas notas- Esta é para Nicodemos aprender!


EMILINHA E MARLENE- por Norma Hauer


Posso dizer que ontem, dia 5, "vivi" a Rádio Nacional "dos bons tempos".
Estive presente na Maison de France, onde está sendo apresentado um espetáculo sobre EMILINHA BORBA E MARLENE, relembrando os áureos tempos da Rádio Nacional, que no próximo mês de setembro completará 75 anos, sem o brilho daqueles tempos.

A platéia, parece que estava nos estúdios da emissora "torcendo" por Emilinha ou por Marlene.

Incrível a presença, ainda, de fãs clubes, com direito a torcidas e camisetas, apoiando Emilinha ou Marlene, incentivando as duas atrizes que as representavam, ambas muito boas..
A que representou Marlene parecia a própria, com seus "trejeitos", seus "rebolados" e seu canto muito bom. Parece que, de fato, encontrávamo-nos no auditório da Rádio Nacional, ouvindo e clamando "É a maior".

Embora um pouco mais fraca, mas também com seu valor, a que representou Emilinha foi mais aplaudida, como se fosse a própria, com seu fã-clube alucinado, todos com camisetas com seu retrato.
Já se passaram 5 anos que ela partiu , mas o que é bom não se esquece e isso ficou provado ontem e continuará sendo ainda por muito tempo.
Soube que os ingressos, até setembro, estão todos reservados.

Das duas, sempre apreciei mais a Emilnha, talvez por ser mais simpática ou por ter um repertório mais popular ou, por ela mesma ser mais popular.
Os artistas que representaram Cesar de Alencar, Paulo Gracindo e Manuel Barcelos também estavam bons , além de um sósia de Cauby Peixoto, cantando um trecho de "Conceição" parecer o próprio.

Não fui muito de freqüentar os programas das duas; era mais presente na Rádio Mayrink Veiga ( por motivos óbvios: Carlos Galhardo era contratado pela Mayrink, da qual só se afastou entre 1948 e 1954) mas acompanhava pelo rádio suas participações nos então famosos programas Cesar de Alencar e Manoel Barcelos.

O espetáculo anuncia ainda a derrocada da emissora, em 1964, quando Cesar de Alencar "dedurou" seus colegas para ficar bem com o regime militar e...ninguém mais quis saber dele. Morreu no ostracismo.
A emissora foi-se detoriorando mas as cantoras continuaram suas carreiras em outros tipos de espetáculos, incluindo aí a televisão. E isso também foi mostrado ali no teatro.

Pouco antes de ambas se afastarem definitivamente, elas gravaram um CD com o nome de "Emilinha pinta e Borda" e a peça termina com as duas se confraternizando ao som de músicas desse CD.
E cantando:

"Bandeira branca, amor,
Pela saudade, que me invade,
Eu peço Paz.*

Embora a gravação original dessa música tivesse sido de Dalva de Oliveira, Emilnha e Marlene também a colocaram em seu repertório.

E assim, "vivi" os bons tempos em que o rádio dominava os espetáculos "penetrando" em nossas casas com seus sons, sem imagem, mas que nos fazia sonhar.

Marlene está sem possibilidades de continuar cantando e Emilinha já foi cantar em outras fregesias, onde "reencontrou" Cesar de Alencar , Paulo Gracindo e Manuel Barcelos, os que "dominavam" a Rádio Nacional. 

Norma

Amigos da Rua Formosa- por socorro moreira









Minha história começou nos anos 40, quando a minha mãe veio estudar no Crato com os irmãos na casa dos avós maternos. Casa grande e simples, na Rua Formosa, hoje, Santos Dumont. Acho que era a rua das moças mais bonitas da cidade. Minha mãe, Tia Rosali, Tia Aldenora, Erice, Nazaré, eram singularmente belas. E a minha mãe falava com muito carinho das suas amigas e vizinhas como minha madrinha Eurídice, Ionêda Aguiar, Lindete, Lucimar...
Educação repressiva, vida singela, mas ela dizia-me que todas eram particularmente felizes. Riam à toa, se enamoravam, passeavam na Praça da Estação aos domingos, depois da chegada do trem. Jogavam peteca, nas calçadas, participavam das festas religiosas.
Minha mãe e Eurídice eram carne e unha. Foram amigas/irmãs até os últimos dias de vida. Prometeram-se amadrinhar suas filhas primogênitas, e assim aconteceu. Eu- afilhada de Eurídice; Marta- afilhada da minha mãe. Os restos dos nossos irmãos tratavam-nas também como madrinhas.
Enquanto minha mãe vivia um namoro demorado (8 anos) com meu pai ( culpa do seu lado boêmio, um tanto inaceitável), madrinha Eurídice namorava Vicente Feitosa, um rapaz de qualidades relevantes. Hoje, quando visitei Marta (madrinha do meu filho André), mostrou-nos o álbum de família, e pude lembrar a beleza daquelas mocinhas. O casal Vicente x Eurídice chamou-me a atenção. Foi uma linda história de amor, com final feliz reservado para um futuro longínquo, nos céus... Quem sabe agora?
Antes das bodas, muito pouco antes, ele adoecera de repente. No dia que seria o casamento, foi o seu sepultamento. A casa recebia telegramas de pêsames e parabéns ao mesmo tempo. Minha madrinha ficou vários anos enlutados, pois se considerava espiritualmente viúva. Nos primeiros dias perdeu alguns dos sentidos pelo trauma da dor: fala audição... Depois tudo foi se acomodando.
A dor não passa, não foge; é obrigada a ser compreendida. Eu sinto uma dor enorme por todas as dores das pessoas que não conheço, imaginem como a minha própria dor é digerida...!?
Conheci padrinho Vicente, quando trabalhava com os irmãos, na Livraria Católica. Ele me suspendia me sentava no balcão, e conversava comigo atenciosamente. Deu-me de presente um quadro do Anjo da Guarda, que ainda hoje é o meu protetor.
Pedi á Marta que me enviasse a foto por e-mail, mas não aguentei esperar a ilustração. Estas impressões estão presas no meu coração, como forma de amor transcendente.
A filha de Eurídice, em determinado ponto das lembranças, confidenciou-nos: eles eram almas gêmeas. Rezavam juntos, e as suas almas eram completamente sintonizadas com o amor divino.
Amores perfeitos parecem predestinados à vida eterna.
Ainda temos algumas testemunhas vivas dessa história: Nazaré ( prima da minha mãe, viúva de Raimundo Silvestre)) e Brígida (viúva de Vicente Padeiro).Lucimar, Ionêda e Lindete, moram em Fortaleza.
Que Deus proteja a vida destas amigas sobreviventes. Os demais, já se tornaram anjos, numa esfera superior.
Procuro não ser piegas, mas... Fazer o que?

De Socorro Moreira para Marta Betânia Alves Coelho Peixoto 
Fotos do acervo de Marta Betânia

"O Fusca da Corujinha"



Já disse um comercial que do primeiro sutiã ninguém nunca se esquece. E do primeiro Fusca ? Eu, pelo menos, nunca vou esquecer do meu.

Motorista recém formada ... carteira novinha em folha ... só faltava o carro.

Mas havia um dilema. Qual deveria comprar ? É claro que teria de ser um carro popular ... um carro de preço acessível ao meu bolso.

Também teria de ser um carro que fosse em primeiro lugar fácil de colocar numa vaga. Apesar de ter suado muito para aprender a fazer baliza.

Também queria um que fosse econômico ... de fácil manutenção ... peças fáceis de encontrar...

Não havia dúvida . Só havia um carro que preenchia todos esses requisitos:

O Fusca da “Wolkswagen” – “O carro do povo”. A única coisa boa que aquele "Führer" lunático fez na sua passagem por esse mundo, e que o presidente Juscelino Kubitschek trouxe para o Brasil.

Foi paixão à primeira vista.Branquinho, pequeno, delicado, o motor no ponto certo, assim era o meu primeiro Fusca.
Defeitos ? Não percebi nenhum.Era perfeito.
Convivi bem com meu Fusquinha, por exatos dois anos.

Mas aconteceu o inesperado. Depois que eu adquiri confiança no volante e no acelerador, comecei a achar o meu Fusquinha um pouco devagar ...

Então, resolvi trocar o meu Fusquinha por um Fuscão. Não era um "Fuscão preto", era de um azul clarinho, meio cinza.Esse sim, era bom na arrancada. Deixava muito carro "chic" pra trás. Mas tinha um grande defeito. Era viciado em gasolina. E meu bolso começou a reclamar.

-Não durou muito o nosso relacionamento -Troquei de carro.

Que saudade do meu Fusquinha!

Chuva fora de época. Por Liduina Vilar.


Chuva em final de Julho, começo de agosto, é surpresa boa que Papai do céu nos proporciona. Esse banho de água lá de cima, no nosso jardim e no quintal é presente dos bons. Ela vem como uma carícia namorando as nossas plantas. De noite a gente dorme enquanto escuta o cochichar da água batendo no telhado e caindo no solo. Para mim, é uma doce melodia, que me faz dormir relaxada e sorridente. É bom ficar embaixo dos lençóis enquanto chove! Nestes dias 30 e 31 de julho últimos, fomos sorteados com duas noites seguidas de chuva molhadeira. E o Crato adora tomar banho dessas águas milagrosas e amorosas. Chego a conclusão que Jesus é apaixonado pelo Cariri. Que venha mais chuva, sempre!

ADONIRAN BARBOSA- por Norma Hauer



Ele nasceu no dia 6 de agosto de 1910 na cidade de Valinhos, no Estado de São Paulo, recebendo o nome de João Rubinato , ficando conhecido como o maior intérprete e autor do samba de São Paulo com o nome de ADONIRAN BARBOSA.
Como todo menino de família pobre, começou a trabalhar muito cedo, exercendo várias profissões modestas, enquanto tentava ser cantor
participando de vários programas de calouros, principalmente na Rádio Cruzeiro do Sul de São Paulo.
Já havendo composto alguns sambas, foi em 1955 que seu nome apareceu quando os “Demônios da Garoa” (conjunto de São Paulo) gravaram o samba “Saudosa Maloca”. No mesmo ano, um samba característico daquele Estado, com o linguajar caipira e paulistano italianado: o “Samba do Arnesto”, retratou as camadas populares de São Paulo.
Depois desses dois sambas Adoniran ficou conhecido no Rio de Janeiro e em todo o Brasil.
A ponto de participar das músicas relativas ao 4° Centenário da cidade do Rio de Janeiro, com o samba “Trem das Onze”, que se popularizou no concurso então realizado.
Parece mentira, um compositor de samba paulista foi o vencedor do concurso do 4° Centenário de nossa Cidade.
Sobre este samba, o compositor e radialista Luiz Vieira, costuma dizer que Adoniran inspirou-se em seu “Menino de Jassanã” para compor “Trem das Onze”.
Ele afirma que possui uma gravação de Adoniran confessando ter-se inspirado em sua composição
Apesar de ter minhas dúvidas, porque conheci primeiro “Trem das Onze” e só depois, “Menino de Jassanã”, quando ouvi esta última pela primeira vez, percebi que havia algo em comum entre elas. Seja no nome do local, seja na presença da mãe esperando seu filho...enfim, há algo que liga uma a outra.
Adoniran não foi apenas compositor, ele também atuou em programas humorísticos, como “Papai Sabe Nada” e “Ceará contra 007”, além de participar da primeira versão da novela de Irani Ribeiro “Mulheres de Areia”, na TV Tupi.

Norma
ADONIRAN BARBOSA -2-
Na 1ª Bienal do Samba apresentou o samba “Mulher, Patrão e Cachaça”.
Em 1974 lançou seu primeiro LP individual, registrando antigas e novas composições, como “As Mariposas”, “Iracema” (grande sucesso), Apaga o Fogo, Mané” e, como não poderia deixar de ser “Trem das Onze” e “Saudosa Maloca”.
No ano seguinte, novo LP com outros sambas, dentre eles “Samba do Arnesto” e “Triste Margarida” (Samba do Metrô).
Esse foi o estilo que tornou Adoniran Barbosa o compositor mais popular de São Paulo.

Adoniran Barbosa faleceu em São Paulo, em 23 de novembro de 1992, aos 82 anos

2010 foi o ano do Centenário de Adoniran e ele recebeu homenagens especiais principalmente na cidade de São Paulo. 

Norma

Paulo Sérgio Valle



Paulo Sérgio Kostenbader Valle (Rio de Janeiro, 6 de agosto de 1940) é um compositor e letrista brasileiro.

Jorge Amado



Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.

Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.

Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa.
Índice
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Baden Powell de Aquino



Baden Powell de Aquino (Varre-Sai, 6 de agosto de 1937 — Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2000) foi um violonista brasileiro.

Adoniran Barbosa



João Rubinato, (Valinhos, 6 de agosto de 1910 — São Paulo, 23 de novembro de 1982), mais conhecido como Adoniran Barbosa, foi um compositor, cantor, humorista e ator brasileiro. Rubinato representava em programas de rádio diversos personagens, entre os quais, Adoniran Barbosa, o qual acabou por se confundir com seu criador dada a sua popularidade frente aos demais. Adoniran ficou conhecido nacionalmente como o pai do samba paulista.
wikipédia

Feliz Aniversário, Renata!

Filha da nossa amiga Rosineide, Renata , médica, linda, vive um momento amoroso especia !
Hoje  completa idade nova.

Para ela nosso abraço e desejos de felicidades.


"Uma Saudade Puxa Outra" por Corujinha Baiana



Era o Baile da Saudade. As roupas, os penteados, as gírias, tudo estava como ditava a moda da época. O salão estava iluminado com a presença dos grandes ídolos.Os Românticos de Cuba deram início à festa, lembrando aos amantes que só se ama “Solamente Una Vez.”

Bievenido Granda cantou “Total”, e um “Perfume de Gardenia “ impregnou todo o salão.

Miguel Aceves Mejia, apesar de ter “Alma de acero” sofria e gritava ( ui, ui, ui )“A Los Cuatro Vientos -Dejen que el llanto me bañe el alma Quiero llorar, traigo sentimiento”

Aproveitando aquele clima nostálgico, Agustin Lara aproveitou para perguntar a Maria Félix : “Acuerdate de Acapulco, de aquellas noches, Maria Bonita, Maria Del Alma...” Mas ela não respondeu.

Lucho Gatica, em seguida, tranqüilo e sereno, com voz suave e melodiosa, fez questão de cantar as suas dúvidas : “Sabrá Dios, si tú me quieres o me engañas...”.

Lá, num cantinho, escondido, Roberto Yanez, resolveu aparecer, e tentou mais uma vez,convencer a sua amada “ Que te quiero, Sabrás Que Te Quiero, cariño como este jamás existió...” Muitos achavam que ele imitava o Lucho, mas não, ele apenas tinha uma voz tão ou mais linda que a dele.

Enquanto isso, Pedro Vargas, “Desesperadamente” implorava: “ Ven, mi corazón te llama...”. Também fez questão de lembrar que “Un viejo amor no se olvida si se deja...” e como bom crente que era, suplicou na “Oración Caribe :piedad, piedad para el que sufre,piedad,piedad, para el que llora...”

O Trio Los Panchos indiferente ao sofrimento alheio, apregoava: “Me voy pa Pueblo hoy es mi dia voy alegrar todo el alma mia...”

Joselito, El Pequeno Ruiseñor, era o mais novo, mas também estava contagiado com tanto sofrimento, e aproveitou pra perguntar: ““¿ Donde estará mi vida, por que no vienes…?”

Libertad Lamarque, não satisfeita com tanto “dois pra lá, dois pra cá”,antes de deixar o baile aconselhava “...No llores amor mio, la gente está mirando, Bailemos esse tango, el tango del adiós ...”
Eis que de repente, as atenções se voltaram para um estranho no ninho.Era Nat King Cole e aquele sotaque encantador,que inconformado, repetia “ Siempre que te pregunto,que cuando como y donde,tu siempre me responde “Quizás, quizás,quizás “.E logo em seguida,confessava : “ Quero chourar,no tenho lágrimas,que me roulem na face pra me socouruer...”

O salão ficou em silêncio por alguns instantes,até que, ouviu-se uma voz...aquela voz cheia, potente e vigorosa que cantou, encantou e preencheu de sonhos e fantasias o meu mundo adolescente...

Dos almas que en el mundo
había unido Dios
Dos almas que se amaban
eso éramos tu y yo

Por la sangrante herida
de nuestro inmenso amor
Nos dábamos la vida
como jamás se dió

Un día en el camino
se cruzaban nuestras almas
Surgió una sombra de ódio
que nos aparto a los dos

Y desde aquel instante
mejor fuera morir
Ni cerca ni distante
podremos ya vivir
ni cerca ni distante
podremos ya vivir

Era a voz de Gregório Barrios com Dos Almas, que me convidou para deixar o Baile, e assim, despertar daquele sonho.


Recado : Só quem ouviu, cantou, dançou, sonhou e viveu as músicas aqui citadas, pode participar do Baile da Saudade.

Corujinha Baiana ( 30 de agosto de 2009 )


Ninguém é insubstituível - Colaboração de Ismênia Maia



"Sala de reunião de uma multinacional.
O CEO nervoso fala com sua equipe de gestores.
Agita as mãos mostra gráficos e olhando nos olhos de cada um ameaça:
"Ninguém é insubstituível"!
A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio.
Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça.
Ninguém ousa falar nada.
De repente um braço se levanta e o CEO se prepara para triturar o atrevido:
- Alguma pergunta?
- Tenho sim. E o Beethoven?
- Como? - o CEO encara o gestor confuso.
- O senhor disse que ninguém é insubstituível.
E quem substitui o Beethoven?
Silêncio.
Ouvi essa estória esses dias contada por um profissional que conheço...
E achei muito pertinente falar sobre isso.
Afinal as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos...
Mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças...
Dentro da organização e que quando sai um é só encontrar outro para por no lugar.
Quem substitui Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra?
Dorival Caymmi? Garrincha? Michael Phelps? Santos Dumont? Monteiro Lobato?
Faria Lima ? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Paul Newman? Tiger Woods?
Albert Einstein? Picasso?
Todos esses talentos marcaram a História...
Fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem ...
Ou seja : Fizeram seu talento brilhar!
E portanto são sim, insubstituíveis!
Cada ser humano tem sua contribuição a dar...
E seu talento direcionado para alguma coisa.
Está na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos...
E começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe...
Focando no brilho de seus pontos fortes...
E não utilizando energia em reparar "seus gaps".
Ninguém lembra e nem quer saber se Beethoven era surdo...
Se Picasso era instável...
Caymmi preguiçoso...
Kennedy egocêntrico...
Elvis paranóico.
O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias...
Obras de arte, discursos memoráveis...
E melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos.
Cabe aos líderes de sua organização mudar o olhar sobre a equipe...
E voltar seus esforços em descobrir os pontos fortes de cada membro.
Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto.
Se você ainda está focado em "melhorar as fraquezas" de sua equipe...
Corre o risco de ser aquele tipo de líder que barraria Garrincha...
Por ter as pernas tortas...
Albert Einstein por ter notas baixas na escola...
Beethoven por ser surdo...
E Gisele Bundchen por ter nariz grande.
E na sua gestão o mundo teria perdido todos esses talentos! "

Sobre a morte e o morrer - Rubem Alves


O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de

um ser humano? O que e quem a define?


Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...


Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.


Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”


Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”


Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.


Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".


Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.


Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.


Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?


Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.


Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".


Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.


Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.



Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.


O Homem e a Morte - Manuel Bandeira


O HOMEM E A MORTE

O homem já estava deitado

Dentro da noite sem cor.

Ia adormecendo, e nisto

À porta um golpe soou.

Não era pancada forte.

Contudo, ele se assustou,

Pois nela uma qualquer coisa

De pressago adivinhou.

Levantou-se e junto à porta

- Quem bate? Ele perguntou.

- Sou eu, alguém lhe responde.

- Eu quem? Torna. – A Morte sou.

Um vulto que bem sabia

Pela mente lhe passou:

Esqueleto armado de foice

Que a mãe lhe um dia levou.

Guardou-se de abrir a porta,

Antes ao leito voltou,

E nele os membros gelados

Cobriu, hirto de pavor.

Mas a porta, manso, manso,

Se foi abrindo e deixou

Ver – uma mulher ou anjo?

Figura toda banhada

De suave luz interior.

A luz de quem nesta vida

Tudo viu, tudo perdoou.

Olhar inefável como

De quem ao peito o criou.

Sorriso igual ao da amada

Que amara com mais amor.

- Tu és a Morte? Pergunta.

E o Anjo torna: - A Morte sou!

Venho trazer-te descanso

Do viver que te humilhou.

-Imaginava-te feia,

Pensava em ti com terror...

És mesmo a Morte? Ele insiste.

- Sim, torna o Anjo, a Morte sou,

Mestra que jamais engana,

A tua amiga melhor.

E o Anjo foi-se aproximando,

A fronte do homem tocou,

Com infinita doçura

As magras mãos lhe cerrou...

Era o carinho inefável

De quem ao peito o criou.

Era a doçura da amada

Que amara com mais amor.

A minha Morte - Florbela Espanca


Eu quero, quando morrer, ser enterrada
Ao pé do Oceano ingénuo e manso,
Que reze à meia-noite em voz magoada
As orações finais do meu descanso…


Há-de embalar-me o berço derradeiro
O mar amigo e bom para eu dormir!
Velei na vida o meu viver inteiro,
E nunca mais tive um sonho a que sorrir!


E tu hás-de lá ir… bem sei que vais…
E eu do brando sono hei-de acordar
Para teus olhos ver uma vez mais!


E a Lua há-de dizer-me me voz mansinha:
- Ai, não te assustes… dorme… foi o Mar
Que gemeu… não foi nada… ’stá quietinha…


(Florbela Espanca )



Um trecho do EIS O NOSSO JOÂO DE BARROS - José do Vale Pinheiro Feitosa



Vamos de explicação? Então! Quem é de hoje no Crato eu peço a quem possa decidir sobre tudo, seja qual natureza tenha, que o tempo lhe mostre, ao leitor desta cidade que é boa para curtir, este minutinho dos olhos deles aqui, os tempão que já passou e a ruma que ainda tem de coisa.

Este Crato é bom demais.

É só olhar direitinho que a coisa acontece. Assim é este cidadão da cidade mais cidade que o mundo jamais teve ou terá. O João de Barros. Não dar para mostrar ele todo. Só este trechinho com o qual o apresento. Ele está saindo do Cine Cassino, no meio do dia, de um dia de domingo como hoje. Vamos lá?

Espere um pouco, depois diga qualquer coisa e deposite no bizaco aqui do contador.


"Nisso, alguém chama pelo interlocutor de João e antes mesmo que ele contasse o enredo do filme, o amigo se despede e marca para continuar a conversa outro dia. João, que está em pé na porta do cinema, tem sede e assunta o ambiente para ver por onde vai começar a busca da fonte.

Vai passando do outro lado da praça um adolescente com um carrinho de picolé e João resolve matar a sede e a fome com picolé.

- Ei minino cuma é o picolé?
- Quinhentos réis.
- De que é que tem?
- De munta qualidade, o que é que tu quer?
- Quais são os gosto?
- Baunilha, morango, chocolate...
- O que mais?
- Castanha, leite, banana e abacate.
- Me dê um de castanha!
- Pegue, me dê o dinheiro.
- Peraí, deixô terminar de chupar o bicho.
- Mais eu num vou ficá aqui. Eu vô pru outro lado da praça.
- Aqui tu vai vendê muito mais picolé, tá na frente do cinema.
- Mais já terminou a sessão e todo mundo foi prá casa aimoçar.
- Me dê outro picolé de baunilha!

João chupa picolés de todos os gostos. Aliás falar em chupar é apenas uma força de expressão, pois, na verdade, ele vai mordendo o gelo do picolé e mastigando-o aos pedaços. Naquela sua conversa mole e comendo picolé, já deve três cruzeiros e cinqüenta centavos. O picolezeiro da Sorveteria Cascatinha vai ficando, pois o freguês é do bom. Mais um pouco o rapaz pede a João para tomar conta do carrinho e vai urinar num bar da esquina.

IX
João de Barros, se passando por vendedor de picolé, atende seu Ramiro Paiva, que vinha da casa do padre Frederico e, no percurso até casa, tem sede e resolve chupar um picolé.

- Rapaz, quanto é um picolé?
- Mil réis!
- Este picolé por um cruzeiro não está muito caro, não?
- Não sin-ô, este são especiá, só vende eles nos dia de domingo.
- Me dê um de chocolate!

Seu Ramiro de fato está com sede e embalado, pelos elogios de João aos picolés, chupa dois e paga a conta com uma nota de cinco cruzeiros.

- O sin-ô num tem trocado não. Eu só tenho nota de dois cruzeiros.
- Deixe-me ver.

O comerciante puxa um bolo de notas de dinheiro e vai examinando-o, enquanto João mantém na mão direita uma nota de dois cruzeiros e, na outra, a nota de cinco cruzeiros que seu Ramiro lhe havia entregue. Finalmente, o homem encontra os dois cruzeiros trocados e distraidamente o entrega a João. Nesse momento passa a empregada doméstica chamada Guiomar e faz uma brincadeira com João. Seu Ramiro se interessa pela beleza da morena do pé de serra e João, aproveita para envolver o velho com a moça. Quando a moça sai, João de Barros vai logo lembrando que tem de ir para o outro lado da praça com o carrinho de picolé. O velho satisfeito com os encantos da morena vai para casa sem perceber que nesta enrolação João havia ficado com cinco cruzeiros dele.

- Tu demorou munto!
- É que aproveitei e comi um cachorro quente e bebi um guaraná. Apareceu algum freguês?
- Não, num deu ninguém. Tomém tá na hora do aimoço.
- É mermo, eu vou prá praça da Sé. Té mais!

O esquecimento do vendedor, aumenta o lucro de João na venda de picolé. Chupou sete picolés de graça e ainda apurou sete cruzeiros. Senta-se satisfeito no banco da praça, sob a sombra de um pé de ficus. Aproveita para observar o vai-e-vem da cidade, seus carros, suas bicicletas e as pessoas circulando. Nada mais animador para quem vem das brenhas das roças e florestas.
Passa um senhor e ele pergunta pelas horas. Eram 12:45 horas.

X
João resolve ir andando para o Cine Rádio Araripe que fica na rua Nelson Alencar, a dois quarteirões da praça. Lá, quer assistir às 13:30 horas, a mais um capítulo da série de Nyoka. Logo João está enturmado com a moçada que vende bombons e chocolates, cigarros a granel, trocam e vendem revistas em quadrinhos ou, então, negociam pedaços de fitas de cinema, conseguidos nos cortes e emendas, quando a fita quebra durante a projeção.


Por Socorro Moreira




Estou entorpecida de tédio
Ora me acho, ora me perco
Meus passos
se arrastam,
na passagem do tempo

Um cio sonolento
Permanece no sonho
O mel dos meus olhos,
derretidos no vazio,
molham e ligam
emoções antigas.

A idade muda  o visual
Paira na alma alquebrada
pelas tensões e tempestades

Viajam dentro de mim...
Um entra e sai de pessoas
Dançantes , no imaginário

Praia que não sinto
Rio que não corre
Janeiro que não chega
Setembro,já na porta 

Elos ainda belos ...
Espada de São Jorge
Ilesa ,  saio dessa !

por socorro moreira




Pássaro cativo
num canto do coração
Teus olhos mandacaru
precisam virar sertão

Que o elo já  partido
não fique mais  enrolado
nos grilhões que angustiam

 Voa ...
Teu céu é belo
Este, eu conheci !