por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 3 de julho de 2014

Equício

J. Flávio Vieira

                          Equício vivia encafifado com aquele mistério quase que kafkiniano. Estava ali , como um Sócrates moderno,  tentando entender os destinos do mundo. Ou como  um Hamlet , reencarnado, com seu tablet erguido em feitio de caveira,   e sua dúvida remasterizada :
    
-- Ter ou não ter, eis a questão!
 Como teria sido possível, remói o nosso Equício, a humanidade ter sobrevivido por tanto e tanto tempo, sem o Smartphone ?  Houve vida neste planeta antes da Internet ? Para que serviam os dedos e as mãos se não podiam deslizar nas telas de LED ? Houve uma época em que as pessoas precisavam ainda falar, se encontrar, se locomover para terem qualquer atividade social! Já se imaginou uma loucura dessas? Hoje essa maquininha faz tudo isso por nós! O livro que gostaria de ter está aqui dentro, a musiquinha que quero ouvir está à distância de um toque, o filme , a voz da namorada, a pizza, as compras , tudo está perfeitamente ao alcance de Equício, com um simples deslizar de tela. A coisa ficou fácil, prática e sobra tempo e mais tempo para a gente curtir esta viagem leve e  curta chamada de vida. Nossos avós, pensa Equício, precisavam se desdobrar para conseguir a caça, para descolar o alimento, para sobreviver em meio às enfermidades, às guerras. As mulheres tinham, biblicamente, os filhos com dor, não existia energia elétrica, rádio, TV, cinema. Já pensou na loucura do  mundo sem shopping? Do almoço sem Mac Donald´s ?  De ter que fazer a própria comida? E o deslocamento em lombo de burro? Um mundo sem carro, sem moto, sem trem bala e sem avião ?  
            -- Como eram infelizes nossos avós !
            Equício  tem essa revelação na fila do ônibus, onde aguarda , pacientemente, a volta para casa. Tudo depois de um longo dia de trabalho, como office-boy num escritório de advocacia.  Com sorte chegará umas dez horas da noite e às quatro terá que recomeçar de novo o trabalho de Sísifo.  Aproveita e manda um SMS para a namorada que já não vê há uns dez dias. Pelo  WhatsApp  conversa com alguns amigos que lhe mandaram mensagens e vídeos.  Lembra que precisa organizar um fim de semana para visitar os pais. Internos   num abrigo de idosos , depois que se foram se transformando num estorvo para a família ( infelizmente ainda não existe, nesses casos a tecla “Deletar”) , ele já não os contacta há uns três meses.       
                          Quando o ônibus , por fim, sai em meio ao congestionamento, Equício  vai observando, hipnotizado, as luzes dos teatros, dos cinemas, dos museus da cidade grande. Quantas opções de divertimento nós temos!  Um fim de semana desses, vou tirar para visitá-los!  Chegando à parada, desce, veloz, na velocidade típica dos novos tempos : a número cinco do créu. Olha para um lado e para outro, temendo o trombadinha.  Nem percebe, no céu, uma lua cheia argêntea,  esplendorosa, totalmente supérflua nos dias de hoje, ao alcance de um simples olhar.  Nem sabe que , a despeito de tudo, as Cataratas do Iguaçu continuam caindo com clamor e sem chips; o mar persiste quebrando suas ondas, ritmicamente, em Paraty, sem nenhum App; o Amazonas corta a floresta sob a música  dos pássaros e o mergulho incontrolável dos peixes. Equício   pega, por fim, seu Santo Graal, o aparelho pequenino que lhe dá poder, magia e  segurança e que lhe serve como filtro do mundo.  Pronto !  Eis o  admirável mundo novo : A solidão está perfeitamente atingível a um simples toque !


Crato, 03 de Julho de 2014

"Duelos de Titãs" - José Nilton Mariano Saraiva

A priori, não há o que temer. Agora, a briga é de “cachorro-grande”. E a Colômbia nunca o foi (como não o é, atualmente). Assim, no lucro e com a certeza do dever cumprido, os esforçados jogadores colombianos voltarão pra casa cantando o “amor febril”. Ganharemos, e o faremos com relativa tranqüilidade, apesar da desconfiança de muitos, mas com o time finalmente se estabelecendo em campo (atentem para o Fred).

Já quem não deve ter tanta tranqüilidade, mas certamente seguirá na competição, será a poderosa Alemanha (cujo jogo realizar-se-á antes do embate do Brasil). É que o esquadrão da França, embora pratique um bom e vistoso futebol, não é dos mais competitivos. Portanto, Brasil e Alemanha defrontar-se-ão numa estupenda semifinal. E aí eles tremerão, porque o nosso time já terá engatado e a nossa camisa impõe respeito.

Do outro lado, um embate de arrepiar, verdadeiro teste pra cardíacos: Argentina e Bélgica têm tudo pra patrocinar um dos grandes jogos dessa “Copa de todas as copas” e de tantos grandes jogos. Se jogar o que jogou contra os americanos, os belgas têm tudo pra despachar “los hermanos” (que vêm ganhando, mas sem convencer).

E, finalmente, já sabendo do vencedor do jogo Bélgica versus Argentina, a Holanda entregará o bilhete de volta com uma singela dedicatória de agradecimento à “zebra” Costa Rica, que ficará pelo meio do caminho, sem perdão. Assim, a Holanda fará uma semifinal portentosa com o vencedor do jogo acima.

Enfim, após alguns memoráveis “duelos de titãs”, daqui a exatos 10 dias teremos oportunidade de presenciar um Maracanã (em azul e amarelo) “transbordando” de gente pra acompanhar um mui provável Brasil x Holanda (ou Brasil x Argentina ou um inédito Brasil x Bélgica), quando teremos oportunidade de acabar de vez com essa frescura de “maracanazo”.


Lembram da frase escrita no ônibus da seleção - “Prepare-se. O HEXA está chegando” ??? Pois é, tão feliz profecia há de materializar-se. E por uma razão simplória: porque o povo brasileiro se fez merecedor - e até os “gringos” hão de reconhecer isso, a posteriori.

Por Rejane G Santos

Guiomar
Guiomar vive na rua de cima. Hoje, desceu. Num vestido sem mangas, de saia rodada e flores verdes em salpico, cintura marcada, decote sedento por um pedaço de chão. Braços nus, abandonados ao longo do corpo, mas vivos. Braços de bailarina. Olhos acesos catando os céus, luz em foco na palidez de cera do rosto de santa. Andar roubado, leveza de garça e ondulações de serpente. Veio do alto. Venceu a terra barrenta da rua comprida com força de inundação. Chegou embaixo re...pleta, grandiosa, maior que seu próprio tamanho. Acumulada.
Vi os cabelos de Guiomar, cortados à faca pelos soldados que a conduziam, sumirem na escuridão do corredor da delegacia daquela cidade pequena. Minha quase aldeia, onde o tempo também vai devagar e arrasta-se pestanas adentro das janelas que olham.
Nunca esqueci.
rejane gonçalves
(Para uma certa "mulher da vida", cuja altivez eu nunca esqueci)