por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 18 de novembro de 2012

O Supremo Tribunal Federal Condenou Olga Prestes - José do Vale Pinheiro Feitosa


Os punhos cerrados e o ódio acelerado recomendam aos contemporâneos dos fatos a razão do tempo até que o equilíbrio se restabeleça e as pessoas possam viver sem sangrar rotineiramente. Quem leu o recente livro Marighella o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, escrito pelo jornalista Mário Magalhães há de perceber quanto os meios de comunicação são meros estímulos a punhos e ódios. Marighella em 35 é pintado com todas as humilhações pela redação a serviço das elites e do regime e em 45 como herói contra a ditadura. Bastava que se pensasse um pouco mais para compreender a razão pela qual em 27 de Agosto de 1947 o Supremo Tribunal Federal negou a extradição de um estrangeiro casado com uma brasileira, pois esta estava grávida e esse mesmo STF onze anos antes, em 21 de março de 1936 expulsou Olga Benário do País, recusando-se a testar seu estado de gravidez e permitindo que o Governo brasileiro a entregasse ao governo Nazista que a assassinou tão logo a filha nasceu.  

O Supremo Tribunal Federal com um provável parecer jurídico do famoso jurista Clóvis Bevilácqua, consultor Jurídico do Itamaraty aposentado – natural de Viçosa do Ceará e filho do Padre José Beviláqua e Martiniana Maria – votou pela expulsão de Olga Benário com o seguinte acórdão: A Corte Suprema, indeferindo não somente a requisição dos autos do respectivo processo administrativo, como também o comparecimento da paciente e bem a assim a perícia médica a fim de constatar o seu alegado estado de alta gravidez. E desse modo sem ao menos permitir que uma junta médica atestasse a gravidez de Olga os Excelentíssimos Senhores Juízes do Supremos Tribunal Federal assinaram contra o impedimento e, portanto, pela permissão da expulsão de Olga o Edmundo Pereira Lins pela Presidência e Bento de Faria o Relator. Votaram a favor: Hermenegildo de Barros (Vice-Presidência), Plínio Casado, Laudo de Camargo, Costa Manso, Octávio Kelly, Ataulfo de Paiva, Carlos Maximiliano, Carvalho Mourão e Eduardo Espínola. Unânimes num crime histórico.

Uma ressalva: já estamos falando aí nas decisões finais, pois analisamos um requerimento da ré, Olga Benário, detida na Casa de Detenção, impetrada pelo seu Advogado Heitor Lima. A biografia de todos os envolvidos vem ao caso, especialmente dos Membros do Supremo Tribunal Federal, uma vez que não são meros agentes da política, mas instituições dos poderes do Estado. O Presidente que assina a permissão da expulsão o relator Bento de Faria era um burocrata do direito nomeado para STF pelo autoritário Artur Bernardes que governou quase inteiramente em Estado do Sítio.   

Apenas para lembrar a citação de um dos ministros que votaram por entregar Olga para um Campo de Concentração Nazista: “Toda lei é obra humana e aplicada por homens; portanto imperfeita na forma e no fundo, e dará duvidosos resultados práticos, se não verificarem com esmero, o sentido e o alcance de suas prescrições”. E nisso vem a nossa perplexidade: como alguém pode pensar e não perceber o que fazia naquele ato? É que a tecnicidade a que muitos chamam de mérito é um instrumento contaminado a serviço do poder. Especialmente o poder discricionário. Quando a vida econômica é luxuosa, os mídias adulam e estimulam a vaidade no extremo da idiotice, a tecnicidade de um Celso de Mello é manjar do Olimpo.

A verdade é que a Olga, não se pode negar o desconhecimento dos Ministros daqueles momentos de atrocidades humanas, pois não ocorriam apenas no além mar, mas ali perto, alguns quarteirões entre o Supremo na Avenida Rio Branco e o Quartel da Polícia no Morro de Santo Antonio. Olga não era um monstro, fora enviada por demanda da Polícia Política Alemã e em sua correspondência com Prestes desde o Campo de Concentração onde afinal teve a filha o foi assassinada escreveu após a filha lhe ter sido retirada: Desde que Anita me deixou, mantenho todos os dias longas, longas conversas contigo. Que possa vir o dia em que estejamos novamente juntos! Abraço-te de todo o coração. Tua Olga.

Por isso mesmo estes arrufos tomando por base o Supremo com uma verdade última mostra-se mesmo uma vingança de punhos e ódios, sobretudo. Aliás, hoje vou marcar a frase da Presidenta Dilma para o Jornal El Pais sobre o julgamento do Mensalão  afirmando que como Presidenta da República não poderia se manifestar sobre decisões da Suprema Corte e completou: “Acato suas sentenças. Não as discuto. O que não significa que ninguém nesse mundo de Deus está por cima dos erros e das paixões humanas.” (O grifo é meu).



Amar verbo incondicional - José do Vale Pinheiro Feitosa







OUÇA A MÚSICA ENQUANTO SEGUE O POEMA


eu amo teus olhos baços,
não como lembrança do brilho de outrora,
amo as luzes finas,
penumbras que traduzem detalhes,
pupilas que escondem universos,
pálpebras pregueadas de resguardos,
amo teu olhar lento,
penetrando o irrevelado,
e assim me deixa leve,
leve de palavras não ditas.

como amo tuas rugas universais,
cada trajeto de tuas veias tortas,
as vigas musculares de tuas mãos,
as manchas solares de teu corpo,
amo a trajetória no tempo,
a longa espera dos espaços,
amo a delicadeza de tua pele frágil,
cada detalhe da superfície de teu mundo,
este mundo ao qual gravito.

amo teus cabelos opacos,
a rebeldia dos fios esquecidos da cor,
cada mecha que diz: até aqui vivi,
o modo displicente que parece pouco,
quando na verdade foram muitos anos,
e tantos que parecem evocativo sésamo,
sobre os ombros como se nunca houvesse fim.

amo tua coragem de viver,
pois a beleza não é estética plástica,
é um pouco de forma, um tanto conteúdo,
como uma fera que teima sobreviver,
uma criança que deita-se no colo para sonhar,

amo tua virtude de envelhecer,
sendo outra a cada passo
e a mesma no horizonte,
amo teu ardor de viver,
pois beleza não é grade da juventude,
ela é o que meus olhos amam,
como amo teus olhos baços,
tuas rugas universais,
teus cabelos opacos,
subterfúgio para amar tua coragem.