“A liberdade de imprensa é um bem maior que não
deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a
questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente,
esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista
deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse
papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda
sobremaneira o governo.”
Este
parágrafo inteiro, reproduzido no Globo On Line foi dito por Maria
Judith Brito, executivo do grupo Folha de São Paulo e atual presidente
da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) ao se manifestar contra o
Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH3. O Programa foi elaborado
pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal.
O
parágrafo é verdadeiro quando identifica a sua luta contra o Programa e
foca seu debate no governo federal, obviamente o verdadeiro autor de
tais medidas. Daí em diante o parágrafo é a prova cabal do quanto o
debate político nacional, promovido pela imprensa, é frágil e
equivocado. A fragilidade já começa de cara na idéia de poder, liberdade
e limites. Numa sociedade de massa, como são as modernas sociedades, a
majestade só cabe ao povo, jamais a alguém, seja este presidentes do
executivo ou de uma associação de jornais.
Por
isso a idéia do limite não cabe na autoregulação e nem na
autolimitação. Isso não existe de fato a não ser que se tome por
parâmetro algo externo, que de fato o limite e o regule. Por isso na
sociedade existe o poder da Justiça como aquilo que garante o que se
convencionou, pela representação do poder popular, instituir-se em
regulamentos, regras ou leis como são mais conhecidas. Todo o conceito
de liberdade é limitado ao menos na liberdade do outro e isso é apenas o
começo onde se pode discutir o ela, a liberdade, seja em sociedade.
Aí
a executiva, diga-se de verdade uma funcionária de um grupo empresarial
familiar, apega-se ao conceito de responsabilidade. Que
responsabilidade? Uma responsabilidade imediatamente limitada, cerceada,
pois que qualificada: “a responsabilidade dos meios de comunicação”.
Esta manobra é arcaica em qualquer debate, procura-se uma idéia forte
que lhe der poder, no caso, responsabilidade, mas aí é uma liberdade em
particular, aquela dos meios de comunicação, seja quais forem seus
parâmetros. Se for, por exemplo, o meio de comunicação que pense
exatamente ao contrário daquele representado pela D. Judith, já se
observa a contradição.
Mais aí é que vem a
caída definitiva do conteúdo do parágrafo: E, obviamente, esses meios
de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país,
já que a oposição está profundamente fragilizada. Se esses meios fazem
oposição de fato, estão substituindo o papel dos partidos políticos de
oposição, pois estes estariam fragilizados, então a responsabilidade
avocada pela Sra. Judith, já nem é mais dos meios de comunicação, é de
um partido político de oposição. Em outras palavras o que ela defende
mesmo é a “liberdade” de fazer oposição ao governo federal.
Que
o faça, mas não tome para si o sentido golpista do argumento da
liberdade inteira para ela. Alguém pode querer fazer o papel
situacionista com a mesma liberdade que deseja Dona Judith, inclusive a
serviço de alguém ou de um grupo, como o caso da família Frias, dona da
Folha de São Paulo.