por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Oração de uma Camponesa de Mal-Mascar - José do Vale Pinheiro Feitosa

video

Não consegui a música original e por isso trago a harpa de Luis Bordon de quem muitas famílias tinha um LP com músicas natalinas tocadas em estilo Paraguaio.

Este texto foi escrito a partir de PPS que recebi trazendo uma oração cristã recolhida na África e que se chama Oração de uma Camponesa de Madagascar.


Senhor,

Que me deu o dom das panelas e marmitas

Não posso resumir-me a este corpo faminto,
pois sou o sagrado aos vossos pés.

Não posso rezar no fausto que os homens deram ao vosso altar.

Então, que seja a santa de todas as colheitas,
a fome saciada pelo meu fogão.

Que o vosso amor distribua o calor da chama que acendi
e faça calar a miséria que sufoca os explorados da terra.

Eu tenho as mãos que colhe,
Mas quero também ter a alma que suplanta. .

Quando eu lavar o chão,
lave Senhor o zinabre das guerras que nos consomem.

Quando a comida for posta à nossa mesa,
alimente-nos, Senhor, da liberdade nascida na manjedoura.

É ao divino ser humano que eu sirvo,
servindo à igualdade de todos.

E, finalmente, que meu espírito seja terra, que a terra seja meu cotidiano, que o meu cotidiano seja coletivo, pois fruto da contradição de ser eu e nós; nada mais belo que a contradição do amor; quando nós buscamos fundir nossos corpos; ao invés de nos reduzirmos à fusão de nós; nos multiplicamos no espaço feito eles - (os filhos).

A "Privataria Tucana" - participação cearense

O primeiro indício de que a privatização das teles encheu os cofres de tucanos apareceu no relatório sobre as movimentações financeiras do ex-caixa de campanha Ricardo Sérgio de Oliveira que transitou pela CPMI do Banestado. A operação comprova que Oliveira de RECEBEU PROPINA DO EMPRESÁRIO CARLOS JEREISSATI, que adquiriu em leilão a Tele Norte Leste e passou a operar a telefonia 16 Estados. A offshore Infinity Trading (de Jereissati) depositou US$ 410 mil em favor da Fanton Interprises (de Ricardo Sérgio) no MTB Bank, de Nova York. Comprovação do vínculo da Infinity Trading com Jereissati: Relatório 369 da Secretaria de Acompanhamento Econômico; documentos da CPMI do Banestado. Comprovação do vínculo de Oliveira com a Franton: declaração do próprio Oliveira, à Receita Federal, de uma doação à Franton, em 2008.

O sapoti do padre Lauro


Era um beco estreito, angustiado entre muros de casas que se estendiam, ao comprido : poucas portas ousavam desembocar naquela curta vielazinha, sem jardins, sem quintais visíveis, sem pomares alcançáveis. Mera e exígua ponte a unir, meio a contra gosto, a exuberância da Praça da Sé , à voluptuosidade pouco sinuosa da Rua das Laranjeiras. À noite, então, o opressivo e cúmplice aconchego do beco – sem olhos perscrutadores de portas e janelas --- como que convidava os casais para os afetos proibidos, os encontros escusos e outras necessidades igualmente incontroláveis e prementes. Ainda sem energia elétrica , o beco era quase uma contravenção arquitetônica, uma fuga à cansativa linearidade geométrica das avenidas vizinhas, um portal de acesso a outras dimensões e outras realidades. Uma quebra àquela fina e eternamente cultivada hipocrisia estampada na sociedade que desfilava imperial na praça, orava sem convicção na Igreja da Sé e se deliciava nas comerciais ruas que oprimiam o bequinho de todos os lados. Muro contra muro , tijolo em vis-à-vis a tijolo e cal, calçadas estreitas e calçamento irregular, o beco não tinha maiores atrativos: aprestava-se o passo rápido para, como num canal de parto, fugir do angustiante trajeto. A insípida paisagem, o desértico e insulso percurso, no entanto, quebrava-se tragicamente, quando já se divisava a Rua das Laranjeiras. Ali, na lateral do casarão do Padre Lauro Pita, um sapotizeiro frondoso varava impetuosamente a altura do muro e da casa e esparramava seus galhos por sobre o beco, como um pinto fendendo a casca do ovo, em busca de luz.

O verde permanente das folhas imprimia uma cor especial à mesmice repetitiva da aquarela do beco, dividida entre o branco da cal dos muros e o cinza dos paralelepípedos. Em tempos de safra do sapoti, então, o beco se transformava. Os pássaros entoavam loas à delícia dos frutos gigantes e dulcíssimos. Os morcegos à noite empreendiam vôos rasantes em torno dos galhos, como uma esquadria da fumaça em dia de festa. E embaixo, a algazarra dos meninos das ruas próximas, de água na boca, esperando, pacientemente, a queda dos frutos mais maduros, tentando alcançá-los ainda no ar, antes que a gravidade os fizesse, num som surdo e grave, se espedaçarem no chão. Na janela , o padre ainda resmungava : um pouco pelo bulício das crianças, um tanto pelo desconforto de perceber que a árvore plantada no quintal terminasse por dar frutos no pomar alheio.

Hoje os meninos cresceram, o beco iluminado já não é mais o mesmo: perdeu seus mistérios e seus fantasmas. O casarão e o sapotizeiro foram mastigados pelos dentes inexoráveis dos minutos e das horas. E o padre silente, já não resmunga. Mas mesmo assim, os meninos, espalhados pelo mundo, enfrentando a cruciante travessia de outros becos, ainda param e olham para cima esperando a queda possível, mas incerta do sapoti . Sabem que ele pende agora de outras árvores , mas ainda mantém o inesquecível sabor daquele fruto da infância e que precisa ser pego antes que a gravidade da vida o faça se esparramar, inutilmente, na calçada estreita .


J. Flávio Vieira

GeOmEtRiA



  ANTES DE EUCLIDES
QUANDO O CÁLCULO ERA UMA PEDRA
O ESQUADRO ERA UMA FORQUILHA
O CIRCULO ERA UM QUADRADO DESGASTADO
 E O QUADRADO ERA UM CIRCULO ACHATADO

Eulisses do Crato
....

"QUANDO DUAS COISAS SÃO IGUAIS A UMA TERCEIRA
É PORQUE AS TRÊS SÃO IGUAIS"
Euclides de Alexandria (360 a.C - 295 a.C.)

Olvidei os advinhos
a eles não dou ouvidos.
Mundo novo há de vir
Há os que crêem no porvir
E na Lei dos merecidos...

Eu, porém, vivo sem pressa
O labor do dia certo
Vejo o fim, no que começa
Sinto que um dia desperto

Vejo o pó que cobre a estrada,
O vento que nela passa,
Apaga minha passada.

Uma fruta sob o sol,
Amadurece o meu dia.

Uma vela empurra o Mar...

Quem conjuga o verbo Amar?


(se soubesse, lhe diria).

A gente leva dessa vida... a vida que se leva” Marta Medeiros

A gente leva dessa vida... a vida que se leva” 
Vende-se Tudo – texto de Martha Medeiros
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu. No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material.
Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.
Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile.
Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:
"só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir,"é melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitudee felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.
Felicidade não é o destino e sim a viagem.

De ângela Lôbo para Zé Flávio

Para ele, os versos de Cecília Meireles:

"Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro.
Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo."

Felicidade sempre!