por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Os Muros da Cidade Alta


J. FLÁVIO VIEIRA

                                               Findo o período momino, o Governador da Bahia,  Rui Costa ,  debruçando-se sobre os crescentes índices de violência no Carnaval, chegou a uma conclusão polêmica : a separação dos foliões que pagam dos que não pagam, por cordas, nos trios elétricos, é o principal motor das cenas de agressividade. “Quanto menos cordas, menos violência teremos no Carnaval”, fechou o governador em entrevista.
                        
           Dias antes, um dos maiores compositores brasileiros, Gilberto Gil, dono de um camarote exclusivíssimo no Circuito Barra-Ondina, citou uma frase não menos polêmica, ao ser perguntado sobre o esgotamento daquela modalidade de Carnaval baiano, extremamente industrializado. Gil disse que sempre foi assim no Brasil : As elites nos camarotes assistindo ao povo brincando e se divertindo na avenida. Para ele, essa modalidade de festa à baiana só cresce por conta da tecnologia e dos negócios. A tendência seria, neste oásis da classe rica que são os camarotes, acontecerem festas específicas outras, enquanto na rua, rolaria o carnaval propriamente dito. As duas frases me parecem perfeitas para uma reflexãozinha, neste período quando sacudimos os confetes e serpentinas e deslanchamos o início real de 2015.
                                   O Carnaval, desde seus primórdios, teve sua força no potencial anárquico que carregava consigo. De repente, o mundo virava de ponta cabeça : homens se vestiam de mulher; escravos esguichavam água nos amos; amores ganhavam a eternidade de  quatro dias; maridos escapavam à sorrelfa a despeito da vigilância das esposas. Charangas, blocos de sujos ganhavam a rua e  cada um  se travestia , de repente, dos seus desejos mais íntimos, banhados numa certa cortina de anonimato. A irreverência da festança caiu no gosto dos brasileiros e o Carnaval foi tomando um vulto inesperado, principalmente em alguns polos que se foram tornando mais tradicionais : Rio de Janeiro, Salvador e Recife.
                                    O Mercado, o deus dos dias atuais, rapidamente percebeu que existia ali uma enorme possibilidade de lucro. Só que numa festa tão anárquica era preciso colocar regras fixas para poder cobrar o ingresso. Aí vieram os cordões de isolamento, os camarotes exclusivos, o desfile fechado dos blocos na Sapucaí, a venda de fantasias e adereços, os bailes mominos  em clubes. O Rio de Janeiro terminou por acabar com seu invejável e vultoso carnaval de rua, resumiu-o a um mero espetáculo de arquibancada. As Marchinhas picantes e bem humoradas de outrora foram substituídas pela monotonia de Sambas-Enredos repetitivos e chatos.   Só nos últimos anos, o Rio  vem tentando correr atrás do prejuízo com “A Banda de Ipanema”, o “Monobloco” e outros tantos que tais.
                                   Salvador, que começou com o sonho de Dodô-Armandinho-Osmar,  industrializou seu Carnaval, com seus trio-elétricos fechados por cordão de isolamento e os foliões todos com seus abadás uniformizados e seus camarotes todos caríssimos. O povão ,se quiser brincar, fica de “pipoca” do lado de fora, sujeito aos safanões e aos descuidistas . Talvez muitos dos trombadinhas  contratados pelos mesmos blocos para forçar os pipoqueiros a comprarem seu ingresso nos próximos carnavais. A Axé Music, monocórdica, depois de trinta anos espatifando tímpanos, perdeu fôlego e percebe-se, claramente, que já não traz o fervor e a alegria dos velhos tempos. O formato do Carnaval de Salvador parece estar em pleno declínio.
                                   Restou Recife que mantém a tradição do Carnaval de Rua, com seu frevo que carrega uma bagagem lúdica de mais de um século e sua dança esfuziante e malabarística. Não há cordões de isolamento nos blocos, as fantasias são simples e perfeitamente criativas e não existe apartheid. Todos estão juntos na avenida. Há 25 anos acompanho o Carnaval de Olinda e Recife e conto nos dedos as brigas que presenciei. O “Galo da Madrugada” que arrasta mais de um milhão de foliões de todas as classes sociais dá , anualmente, um exemplo de como é possível juntar tantos , mesmo sob o poder do álcool, alegres, irmanados e tolerantes.
                                   A citação de Rui Costa, assim, me parece perfeita. Vivemos em uma sociedade de castas, apesar de propalarmos a beleza da nossa miscigenação. Os bacanas não querem se misturar com o povaréu. Infelizmente, um dia esses conjuntos têm alguma intersecção. Não dá para morrer de fome quieto  no morro, vendo o vizinho logo abaixo comendo caviar. O Cordão de Isolamento faz com que essas diferenças surjam claras e translúcidas : dentro da corda os cidadãos, fora da corda, a corja.
                                   A frase de Gil, com todo respeito que tenho ao meu compositor brasileiro preferido, me parece muito infeliz. Primeiramente, passa essa separação como uma coisa natural. Os ricos nos camarotes e a pobreza na rua. E mais , transparece uma tendência de imutabilidade: sempre foi assim, meu povo, nunca vai mudar! Por outro lado, Gil esquece que não foi bem isso que aconteceu no Carnaval de Salvador. A Elite já não se conforma em ficar no camarote, ela invadiu a avenida, impermeabilizando-se pelas cordas do blocos  e não permite mais ao povão brincar: “Xô, carniça ! O Carnaval, agora, é privilégio dos bacanas!” Gil que  um dia já morou na Cidade Baixa, deveria lembrar-se como é difícil a vida para quem quer ir à Cidade Alta e  não lhe dão acesso ao Elevador Lacerda.  
                                   Felizmente, essas fórmulas industriais de Carnaval parecem estar se exaurindo. Organizar uma festa anárquica por natureza é, simplesmente, arrancar-lhe a essência. Depois, os festins da Elite são contidos, cheio de regras, seguranças e arrebites extracurriculares. Um dia ruirão todas os camarotes, os trios sairão dos caminhões e virão para rua, as cordas se esfacelarão e todos serão exatamente iguais:  partilhando a alegria, a dança e o milagre da vida.

Crato, 24/02/15

                                   

PETROBRAS

DEFENDER A PETROBRÁS É DEFENDER O BRASIL

Há quase um ano o País acompanha uma operação policial contra evasão de divisas que detectou evidências de outros crimes, pelos quais são investigadas pessoas que participaram da gestão da Petrobrás e de empresas fornecedoras. A ação institucional contra a corrupção tem firme apoio da sociedade, na expectativa de esclarecimento cabal dos fatos e rigorosa punição dos culpados.
É urgente denunciar, no entanto, que esta ação tem servido a uma campanha visando à desmoralização da Petrobrás, com reflexos diretos sobre o setor de Óleo e Gás, responsável por investimentos e geração de empregos em todo o País; campanha que já prejudicou a empresa e o setor em escala muito superior à dos desvios investigados.
A Petrobrás tem sido alvo de um bombardeio de notícias sem adequada verificação, muitas vezes falsas, com impacto sobre seus negócios, sua credibilidade e sua cotação em bolsa. É um ataque sistemático que, ao invés de esclarecer, lança indiscriminadamente a suspeita sobre a empresa, seus contratos e seus 86 mil trabalhadores dedicados e honestos.
Assistimos à repetição do pré-julgamento midiático que dispensa a prova, suprime o contraditório, tortura a jurisprudência e busca constranger os tribunais. Esse método essencialmente antidemocrático ameaça, hoje, a Petrobrás e suas fornecedoras, penalizadas na prática, enquanto empresas produtivas, por desvios atribuídos a pessoas físicas.
Ao mesmo tempo, o devido processo legal vem dando lugar ao tráfico seletivo de denúncias, ofensivo à consciência jurídica brasileira, num ambiente de obscuridade processual que propicia a coação e até o comércio de testemunhos com recompensa financeira. Na aparente busca por eficácia, empregam-se métodos que podem – isto, sim – levar à nulidade processual e ao triunfo da impunidade.
E tudo isso ocorre em meio a tremendas oscilações no mercado global de energia, num contexto geopolítico que afeta as economias emergentes, o Brasil, o Pré-Sal e a nossa Petrobrás.
Não vamos abrir mão de esclarecer todas as denúncias, de exigir o julgamento e a punição dos responsáveis; mas não temos o direito de ser ingênuos nessa hora: há poderosos interesses contrariados pelo crescimento da Petrobrás, ávidos por se apossar da empresa, de seu mercado, suas encomendas e das imensas jazidas de petróleo e gás do Brasil.
Historicamente, tais interesses encontram porta-vozes influentes na mídia e nas instituições. A Petrobrás já nasceu sob o ataque de “inimigos externos e predadores internos”, como destacou a presidenta Dilma Rousseff. Contra a criação da empresa, em 1953, chegaram a afirmar que não havia petróleo no Brasil. São os mesmos que sabotaram a Petrobrás para tentar privatizá-la, no governo do PSDB, e que combateram a legislação do Pré-Sal.
Os objetivos desses setores são bem claros:
- Imobilizar a Petrobrás e depreciar a empresa para facilitar sua captura por interesses privados, nacionais e estrangeiros;
- Fragilizar o setor brasileiro de Óleo e Gás e a política de conteúdo local; favorecendo fornecedores estrangeiros;
- Revogar a nova Lei do Petróleo, o sistema de partilha e a soberania brasileira sobre as imensas jazidas do Pré-Sal.
Para alcançar seu intento, os predadores apresentam a Petrobrás como uma empresa arruinada, o que está longe da verdade, e escondem do público os êxitos operacionais. Por isso é essencial divulgar o que de fato aconteceu na Petrobrás em  2014:
- A produção de petróleo e gás alcançou a marca histórica de 2,670 milhões de barris equivalentes/dia (no Brasil e exterior);
- O Pré-Sal produziu em média 666 mil barris de petróleo/dia;
- A produção de gás natural alcançou 84,5 milhões de metros cúbicos/dia;
- A capacidade de processamento de óleo aumentou em 500 mil barris/dia, com a operação de quatro novas unidades;
- A produção de etanol pela Petrobrás Biocombustíveis cresceu 17%,  para 1,3 bilhão de litros.
E, para coroar esses recordes, em setembro de 2014 a Petrobrás tornou-se a maior produtora mundial de petróleo entre as empresas de capital aberto, superando a ExxonMobil (Esso).
O crescente sucesso operacional da Petrobrás traduz a realidade de uma empresa capaz de enfrentar e superar seus problemas, e que continua sendo motivo de orgulho dos brasileiros.
Os inimigos da Petrobrás também omitem o fato que está na raiz da atual vulnerabilidade da empresa à especulação de mercado: a venda, a preço vil, de 108 milhões de ações da estatal na Bolsa de Nova Iorque, em agosto de 2000, pelo governo do PSDB.
Aquela operação de lesa-pátria reduziu de 62% para 32% a participação da União no capital social da Petrobrás e submeteu a empresa aos interesses de investidores estrangeiros sem compromisso com os objetivos nacionais. Mais grave ainda: abriu mão da soberania nacional sobre nossa empresa estratégica, que ficou subordinada a agências reguladoras estrangeiras.
Os últimos 12 anos foram de recuperação e fortalecimento da empresa. O País voltou a investir em pesquisa e a construir gasodutos e refinarias. Alcançamos a autossuficiência, descobrimos e exploramos o Pré-Sal, recuperamos para 49% o controle público sobre o capital social da Petrobrás.
O valor de mercado da Petrobrás, que era de 15 bilhões de dólares em 2002,  é hoje de 110 bilhões de dólares, apesar dos ataques especulativos. É a maior empresa da América Latina.
A participação do setor de Óleo e Gás no PIB do País, que era de apenas 2% em 2000, hoje é de 13%. A indústria naval brasileira, que havia sido sucateada, emprega hoje 80 mil trabalhadores. Além dos trabalhadores da Petrobrás, o setor de Óleo e Gás emprega mais de 1 milhão de pessoas no Brasil.
É nos laboratórios da Petrobrás que se produz nosso mais avançado conhecimento científico e tecnológico. Os royalties do petróleo e o Fundo Social do Pré-Sal proporcionam aumento significativo do investimento em Educação e Saúde. Este é o papel insubstituível de uma empresa estratégica para o País.
Por tudo isso, o esclarecimento dos fatos interessa, mais do que a ninguém, aos trabalhadores da Petrobrás e à população brasileira, especialmente à parcela que vem conquistando uma vida mais digna.
Os que sempre tentaram alienar o maior patrimônio nacional não têm autoridade política, administrativa, ética ou moral para falar em nome da Petrobrás.
Cabe ao governo rechaçar com firmeza as investidas políticas e midiáticas desses setores, para preservar uma empresa e um setor que tanto contribuíram para a atração de investimentos e a geração de empregos nos últimos anos.
A direção da Petrobrás não pode, nesse grave momento, vacilar diante de pressões indevidas, sujeitar-se à lógica dos interesses privados nem agir como refém de uma auditoria que representa objetivos conflitantes com os da empresa e do País.
A investigação, o julgamento e a punição de corruptos e corruptores, doa a quem doer, não pode significar a paralisia da Petrobrás e do setor mais dinâmico da economia brasileira.
É o povo brasileiro, mais uma vez, que defenderá a empresa construída por gerações, que tem a alma do Brasil e simboliza nossa capacidade de construir um projeto autônomo de Nação.
Pela investigação transparente dos fatos, no Estado de Direito, sem dar trégua à impunidade;
Pela garantia do acesso aos dados e esclarecimentos da Petrobrás nos meios de comunicação, isentos de manipulações;
Pela garantia do sistema de partilha, do Fundo Social e do papel estratégico da Petrobrás na exploração do Pré-Sal;
Pela preservação do setor nacional de Óleo e Gás e da Engenharia brasileira.
Defender a Petrobrás é defender o Brasil – nosso passado de lutas, nosso presente e nosso futuro.