por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

As águas do eterno





AS ÁGUAS DO ETERNO

As águas correm, correm para sempre.
Sou só, sou a paisagem verde e Deus.
Uma garça branca pousa na margem do rio.
O sol pousa no horizonte vermelho.
Por que contemplar? Por que a luz, o êxtase?
Além do horizonte ergue-se um novo horizonte.

A árvore se transfigura, como Cristo.
A árvore sofre, agoniza, como Cristo.
Os frutos pendem da árvore, como pássaros maduros.
Colho os frutos e canto e conheço.
Como o sol, as águas correm para sempre.

A terra seca, o deserto onde não medra a semente.
Não edifico a minha casa nessa terra.
Este é o campo da penumbra.
Este é o campo da penúria, do silêncio seco de Deus.
Preciso de água para a minha argila.
Preciso de argila para o meu cântaro.
Preciso do cântaro para a minha face.
Modelo a minha face à imagem da face de Deus.
As águas correm para sempre.
Onde as águas que correm para sempre?

As vigas da minha casa estão podres.
Onde a palavra nova que sustente a minha casa?
Ouça o vento, que enferruja o arado.
Ouça o lamento dos sulcos, que esperam a semente.
Ouça a semente amarga florindo no meu túmulo.
As águas fluem, os horizontes fluem.
O pássaro e o trigo fluem, com a terra amarga.
No princípio era o verbo, eram os alvos lençóis.
No princípio eram as águas.
No princípio eram as garças brancas sobre as águas.
E as águas correm para sempre.



________


 Foto na ponte sobre o rio Tietê, na divisa de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê (SP), onde passei os últimos anos da minha infância.

________

Uma música para adormecer o coração...

Caminhos Cruzados
Milton Nascimento
Composição: Tom Jobim / Newton Mendonça

Quando um coração que está cansado de sofrer
Encontra um coração também cansado de sofrer
É tempo de se pensar
Que o amor pode de repente chegar

Quando existe alguém que tem saudade de alguém
E este outro alguém não entender
Deixa este novo amor chegar
Mesmo que depois
Seja imprescindível chorar

Que tolo fui eu, que em vão tentei raciocinar
Nas coisas do amor que ninguém pode explicar
Vem nós dois vamos tentar
Só um novo amor
Pode a saudade apagar

Amores X Destinos - por Socorro Moreira


Lucas e Lya namoraram na infância e adolescência. Namoro inocente com vistas para o futuro.Prometeram-se quando aconteceu a separação, na continuação dos estudos, em cidades diferentes e distantes. Alimentavam as promessas nas cartas trocadas, assiduamente.
Passou um tempo.A distância não apaga sentimentos, mas provoca o resfriamento, desliga.
Lucas conheceu uma morena, envolveu-se sentimentalmente, e engravidou-a. Motivo suficiente para um casamento reparador. Filho é vínculo suficientemente forte para mudar destinos, principalmente numa época castradora e tradicionalista.
Lya continuou sua vida.Tornou-se uma executiva de vida próspera, fugiu de novos compromissos, e ficou invulnerável à paixão.
Duas décadas depois, o casamento de Lucas já desgastado foi concluído pelo divórcio.
Reencontrou Lya por acaso, numa viagem de folgas, e enfim, conversaram sobre o passado, sobre o amor que sentiam, sobre tudo que os separaram. Não houve culpados. O entendimento foi fácil.Resolveu-se por um recomeço, com o restauro das esperanças e planos perdidos.Ela o havia esperado todos aqueles anos. Nunca deixara de amá-lo, e isso o deixou comovido, em dívida, no sentido de devolver-lhe um sonho perdido.Reuniriam suas vidas, quando conseguisse transferência para a cidade de Lya.
Enquanto esperava a transferência, conheceu Vera.
Atração fatal.Ela parecia incorporar uma cigana, figura que habitava outros planos, e que o amava desde muitas e muitas vidas.Vera mexia com sua alma e os seus sentidos. Existia entre eles algo inexplicável, que aos poucos os tornava carne e unha.
Com o destino traçado pelo dever, decidiu em não ferir Lya pela segunda vez.Renunciou ao amor que sentia por Vera e entregou sua sorte à companhia de Lya. Tiveram um filho que deu objetivos àquela escolha.
Importara-se com a realização pessoal daquela mulher, que fora fiel a um sentimento antigo.
Não sei se foram felizes, mas presumo que, no mínimo, foram grandes amigos.
O casamento segundo não lhe roubou a liberdade de conviver com os amigos, e fazer as coisas que lhe davam prazer.Na realidade parecia em certos momentos, um homem solteiro.Nesta condição, buscou em outras mulheres a cigana que o apaixonava.Quem sabe, seria o seu amor de alma?
A cigana conseguia manifestar-se apenas através de Vera, mas Vera também existia, e firmava sua importância amorosa.
Onze anos depois decidiram ficar juntos de fato.Lya estava ressarcida de um amor frustrado.Era uma pessoa madura, especial e, sobretudo sábia.Conduziria sua vida com serenidade.
Justo naquele momento, a cigana para não perde-lo para mais uma mulher, chamou-o para o seu domínio. É lá onde hoje habita.Como será, nem imagino!
Vera deixou de ser uma ameaça, um amor personificado, na vida de Lucas.
Sofreu cruelmente a dor da perda.Encarou o luto por muitos anos, e reverenciou a lembrança daquela figura querida.
É comum no plano terreno, o desencontro amoroso.
A felicidade é rara, embora possa ser construída, quando o casal é consciente da sua missão como parceiros de vida.
Não existem triângulos amorosos, união por conveniência, que resistam...
Vera enfim, reconheceu num grande amigo, Pedro, sua alma gêmea.
Derramaram sentimentos.Declararam amor urgente, e apostam na construção de uma felicidade duradoura.
O amor de Vera é Pedro.
O amor de Lya foi Lucas.
E quem foi o amor de Lucas?
Lya, Vera, a cigana que existia nas duas?
Só Deus sabe. O fim deste conto está na eternidade.

*Ficção

Corujinha, seja muito bem-vinda !

Uma das minhas grandes alegrias neste novo espaço é a presença da Corujinha, que esteve afastada dos blogues por longo tempo e nos fez muita falta.
Recebo-a  com o mais carinhoso dos meus abraços !
Claro que estamos comemorando cada chegada  com o entusiasmo que o nosso coração permite.

Vitrine Virtual - Fotos Nívia Uchôa

Poesia da luz !


AS CORES DIZEM O TEMPO
Vieira Calado


As cores dizem o tempo,
o granizo que embranquece as arestas do granito,
o hortelã respirando pequenas flores de sabor a sul.

Ó a antiga sapiência das árvores
e dos caminhos
e da plenitude nas planícies de verdura!

Como não hei-de segredar o teu nome
ó bonina de incenso, em noites de paixão,
nos pântanos que parecem eternizar os teus segredos?

És o pólen e a cegueira
de espirais hipnóticas de paz e medo,
em águas nascentes de musgo e de frescura.

És a vertigem duns olhos feridos pelo orvalho
das manhãs, ao cair da tarde
e eu te invoco na busca dos limites
que fazem o fascínio, a vigília perturbada
do teu violoncelo tocando ao vento.

Um filme, uma música


Chove no Cariri


As roupas no varal embebedam-se , dos alambiques do céu.O coração da gente fica engavetado, na humidade das esperas.

O sentimento luz transita por todos os espaços, e acalora na ardência das intenções.

Quem disse que o encanto amoroso só pertence às entranhas adolescentes?

Conosco também funciona, agilmente. Nada nas profundezas, arvorando descobertas, no interior de nós mesmos.

Meus cantos estão faxinados. Minha alma impregnada de todas as impressões, espera de vermelho um encontro marcado.

Meu corpo em santuário, irrita-se com o desleixo:

Pare de fumar

Corte o cabelo

Pinte as unhas de vermelho

Faça massagens linfáticas

Corra alguns quilômetros

Tome banho de cascata

Compre um vestidinho novo, e um batom escarlate.

É, pois é. O apagado corpo precisa de sol e outros acessórios.

Deixar que mãos servidoras cuidem do nosso corpo...

Podem ser as nossas .Elas sabem o caminho que regenera a beleza/bem estar.

Vou tirar as minhas do teclado, da faca de cozinha,das páginas do livro, e deixá-las a serviço da minha auto-estima.

Ah, e quero uma camisola de cetim pra sonhar enamorada!

Bom dia !

Sábado e Domingo.
Visitei e fui visitada. Um intervalo afetivo, no diário dos eremitas.
Estou ficando pouco tempo na Internet.Propósitos superiores , aleatórios à minha vontade. Posso fazer agora, inclusões missionárias e praseirosas, na pauta do dia.
Vejo mudanças reais e voluntárias. Novas possibilidades de aprendizagem e alegrias.
Tenho muito gosto de estar no meio de pessoas éticas, sensíveis. Não discuto que a parte mais bela do ser humano é artística. Não existem pessoas sem pendores. Já pensei o contrário, subestimando parte maior da humanidade, incluindo-me.
Depois descobri que não toco, nem canto porque não me dediquei ; não sou literata porque li de menos;não pinto, nem bordo, não costuro, porque brinquei com os números.Poderia ter sido bailarina... Lamento !
Todos temos algo para ensinar, aprender, fazer.
Que a vida nos motive, destarte os desencantos.
Palavras à toa, numa manhã chuvosa de começo de semana.
Abraço o coração de todos !