por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Eu sei que vou te amar - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eu sei que vou te amar - Vinícius de Moraes e Antonio Carlos Jobim - Canta Maysa

Prometeu sexual, sem tormentos, esvaziamentos ou o renascer para depois esgotar-se. Não é assim como uma sentença. É uma nascença como a alvorada e o entardecer de todo o universo sobre o panorama que a paisagem da terra me oferece.

Prometeu, a forma da atração, a deidade que é a pele que reveste todos os sentidos, os terminais sensitivos que confessam a sensualidade. A força da gravidade que precipita matéria, energia e o insensível um ao encontro do outro. Esta inconfessável individualidade em plena negação através de um exercício aos píncaros do esgotamento. Um exercício de fusão absoluta.

Mas o abutre não é isso. Nem isso é o fígado de Prometeu. É outra coisa e tantos pela vida pensam que não é. Mas não adianta dizer que é amor. Eu sei que vou te amar. Por toda a minha vida eu vou te amar. Por tanta bile secretada nestas etéreas relações que murcham, se esvaziam, como folhas soltas nas soleiras das portas fechadas.

Tudo é outra coisa. Diferente do cansaço da lida. Das amarguras, desconfianças e traições. Das negações, da covardia, do muito que era e do pequeno que se mostrou. Tudo é diferente porque é o Prometeu Sexual.

A repetição desta maravilhosa fusão que antes do anoitecer parece se esgotar e não se esgota nunca. Recomeça como esta força da consolidação. Da qual civilizações apareceram, o futuro se constituiu e as forças se multiplicaram por todos os continentes.

Por todos os continentes como o conteúdo único dentro deles. A gravidade que funde. 
Manuel Audaz - Toninho Horta e Fernando Brant - canta Jane Duboc

Esta pluma que as correntezas levam. Pelas montanhas de Minas. Curvando pelas estradas labirínticas destes cortes de passagem entre morros. E vamos audaz numa ânsia infinita por novas porteiras. As vacas pastando nas encostas como se estivessem coladas a elas.

Uma beira de cerca. Um velho jirau onde os bules de leite foram deixados pelos caminhões afluentes das cooperativas. Pedaços de chão rachado pelas águas das chuvas. Um capim fora do cercado. O cupim criando morrotes como pequenos bolos de barro na paisagem.

E audaz, este jipe vai fundo no nível mais baixo dos vales, ciranda a beirada dos riachos, pula nos buracos da rodagem, veloz ao encontro do requeijão mineiro. Uma broa de milho. Um café da tarde, uma conversa temperada a silêncios, uma varanda para olhar o mundo se escarafunchando lá nas coisas que acontecem.

E risca com seu rangido de molas enferrujadas bem no terreiro da casa. Os bichos se espantam. O cão late, a vaca responde, o pavão ecoa, e lá os de casa vão apertar as mãos dos viajantes que descem do Manoel Audaz. Uma cachaça de rolha para esquenta a satisfação da boa chegada.

E afinal a que tanta viagem neste passo audaz. Velha amiga eu volto a nossa casa. Já não a encontro sempre pronta. Os corredores emudeceram. As fotografias amarelaram. Os quartos estão vazio. E tu não te encontras ao pé do fogão.

O fogão é só continente. Nem mais um resto do pó das cinzas dá última vez que gerou trabalho.
Velha amiga eu volto à nossa casa. 

Diana - Fernando Brant e Toninho Horta - Canta Boca Livre

Amanhecendo mais um dezembro...