por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012



Gilberto Milfont X Moreirinha - por Socorro Moreira















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"Gilberto Milfont (João Milfont Rodrigues). Cantor e compositor nasceu em Lavras da Mangabeira/CE em 7/11/1922. Cantou em público pela primeira vez aos 14 anos, convidado pelo seu tio para o programa Hora Infantil, na PRE-9, onde trabalhou, mais tarde, como diretor artístico.
Integrou também um regional com Zé Cavaquinho (José Meneses), na época em que sua voz de adolescente se assemelhava muito à de Carmen Miranda. Na fase de mudança de voz, afastou-se da carreira por dois anos, retornando para cantar no mesmo programa em que estreara.
Naquela época, os discos lançados no Rio de Janeiro demoravam muito a chegar ao Ceará e para que seu repertório não ficasse ultrapassado, por conselho de um amigo aprendeu taquigrafia. Assim, ouvindo emissoras cariocas, taquigrafava as letras, enquanto a irmã gêmea, Maninha, prestava atenção na melodia.
Com esse método, chegou a apresentar em primeira audição no Ceará, antes mesmo de sair a gravação de Orlando Silva no Rio de Janeiro, a música Atire a primeira pedra (Ataulfo Alves e Mário Lago), que só seria lançada no Carnaval de 1943.
Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1945, e estreou na Rádio Mayrink Veiga, quando compôs um samba que levou ao Cassino da Urca para Dick Farney ouvir. No ano seguinte, Dick Farney lançou Esquece, e ele gravou seu primeiro disco, com a orquestra do maestro Gaó na Victor, com duas canções de Joubert de Carvalho, Geremoabo e Maringá.
Também em 1946, lançou dois sambas de Claudionor Cruz e Pedro Caetano, Estão vendo aquela mulher e Apelo, na Victor, e, para o Carnaval do ano seguinte, O meu prazer (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), seu primeiro sucesso. Por intermédio de Luiz Gonzaga, fez um teste na Rádio Nacional em abril de 1948, sendo aprovado por unanimidade. Estreou no programa A Canção Romântica, como convidado de Francisco Alves.
Em 1949 gravou o samba carnavalesco Um falso amor (Haroldo Lobo, Milton de Oliveira e Jorge Gonçalves) e, em 1951, Pra seu governo (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), na Victor. Ainda em 1950, Lúcio Alves lançou o samba Não devemos mais brigar (com Milton de Oliveira).
Como cantor, obteve outros sucessos com o bolero Senhora (versão de Lourival Faissal), e, do mesmo gênero e autor, Que será de ti, além dos sambas As aparências enganam e Castigo (ambos de Lupicínio Rodrigues).
Entre suas composições de maior êxito estão o samba Reverso (com Marino Pinto), de 1950; Tudo acabou de 1951, e, em 1952, o samba-canção Você vai (ambos com Milton de Oliveira). Outras músicas de sua autoria que tiveram sucesso foram Fui tolo, o samba-canção Talvez (com Marino Pinto) e Desfeito (com Mary Monteiro).
Em 1954, transferindo-se para a Continental, lançou Valei-me, Nossa Senhora (Paquito e Romeu Gentil) e Amor secreto (versão de Chiaroni). Gravou ainda, a pedido da direção da Continental, o Hino a Getúlio Vargas (João de Barro). Por essa época deixou de cantar, continuando, porém, a compor. Trabalha no Projeto Minerva, da Rádio MEC, no Rio de Janeiro. "

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Eu sinto uma quase ternura sentimental por Gilberto Milfont. Filha de boêmio , minha vida era sonora 24 h por dia. Meu pai só entrava em casa cantando , e saia assobiando, uma valsa , um samba antigo. Entre os seus preferidos estavam Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves , Carlos Galhardo , ... e Gilberto Milfont!
Contava-me que foram meninos , nas ruas do Crato , e participaram de programas de calouros , na antiga Rádio Araripe. Enquanto Gilberto ficava com o primeiro lugar, ele ganhava o segundo , e os dois ficavam felizes ! 
Num tempo em que  não tínhamos internet, os consumidores de música ficavam á mercê dos programas de rádio , e dos minguados discos de cera, que chegavam racionados. Papai se abastecia em "Seu Hilário Lucetti ". Encomendava os lançamentos , chegavam, e a radiola era acionada em toda altura.
Entretanto , até os úlimos dias da sua vida , ficava catando e desejando músicas interpretadas por Gilberto Milfont, considerando-o um dos melhores intérpretes do cancioneiro popular, e uma das vozes mais bonitas do Brasil.
Na biografia acima, senti falta de uma referência maior à valsa "MIMI", que o meu pai cantava e ouvia, na voz do Milfont. Pequena ainda, ele analisava a letra para mim, e alertava: veja o que esse verso diz ..." um eclípse do sol com o luar... Isso não existe, mas é poético e lindo demais !"
Meu pai era assim ... Uma figura pra lá de especial . Dizem que sabia ser amigo, e eu digo ...Sabia ser o melhor pai do mundo !

Mimi
Gravada por Carlos Galhardo e Gilberto Milfont
Composição: Uriel Lourival

Dentro d’alma dolorida
Eu tenho um riso teu
Meu amor
Teu sorriso é um lindo albor
Uma existência um céu
Tens na boca embelecida
Pérolas de luz
Rubra ilusão do austral
Perolário a iluminar
Um eclipse do sol com o luar
Num portento de alegria
Deus teve uma idéia um dia
E pediu com santa pena
Que eu te trocasse amor
Por Santa Madalena oh não
Ah! Eu respondi chorando
Deus, Senhor, estou pecando
Mas, doce Pai não trocarei
Sem Mimi sem Mimi
Morrerei
Ah não fosse esse teu riso
Eu morreria então
Quanta dor
Ris, eu gozo
Eu sinto amor
É denisada unção
Estais de mim fugindo agora
Mas que importa a dor
Se me deixares de a luz
Breviário inspirador
Dos poemas da bíblia do amor

socorro moreira

Cor- de- mel - por Socorro Moreira




Amanheceu claro e límpido.

Um céu azul

como a cor dos meus lápis .

Procurei papel em branco

pra desenhar um oásis.


Dia de calma quietude

Um domingo

sem os ranços do passado

Minha alma está serena

Meu coração se espreguiça

e acorda em plena luz.


Depois da tempestade

vem a bonança?!

Esqueci que fui criança

Esqueci que sou mulher

Ganhei as asas

de um anjo

Vou voar querendo

o céu ...


E nessa rota sem planos

Eu ministro o meu pincel

nas tintas que se derramam

do teu olhar cor de mel.

Da chegada do amor - Elisa Lucinda





Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.

Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.

Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.

Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.

Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.

Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.

Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.

Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.

Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.

Sem senãos.

Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.

Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.

Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.

Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.


Poesia extraída do livro "Euteamo e suas estréias", Editora Record - Rio de Janeiro, 1999,

do

Jogando pro alto - por Socorro Moreira




Estou devolvendo os teus segredos

desacomodados na minha imprudência.

Estou jogando pro alto os meus desejos

Eles fogem dos teus , inconfidentes

Estou esquecendo o nosso adeus

O encontro foi ontem,

e eu nem me lembro...

Estou vivendo o meu amor diário

Meu confidente, meu usuário...

Rabisco, e ele permanece mudo

Não disca, nem atende ao telefone.

Sinto o vazio dos sonhos perdidos

Sinto falta às chamadas pro desconhecido

Acho que a felicidade gosta de cair nos buracos ...

Os meus estão desocupados!

vapt, vupt !

entendi logo o truque :

apostar, ganhar, perder.

a bolsa todo mês se esvazia

o coração aguenta o trampo

a música e a poesia, me visitam !

solidão é coisa da imaginação

É não enxergar o amor,

que adormece, em nossa vida !
( Socorro Moreira)

"Poetlástico" - por Socorro Moreira


Não , a palavra não existe... Mas existe a plástica poesia. Ela armazena o sentimento , e se amolda a uma estrutura imposta por regras que eu não sigo. Eu sei pensar, mas não sei fazer. Eu sou poeta em cadeira de rodas, sem asas, sequer tenras...
Ninguém vive sem música , sem festa, sem agrupamento . Fugir dessa mistura é parar na estrada da vida. O monge é peregrino. O eremita é andarilho. Não quero correr no mental... Quero chegar com calos nos pés, num pé de poesia , que não imagino. Colher pencas de sentimentos , sem a ansiedade da busca.Hoje foi uma noite de encontros . Declarações de amor... Amor amigo, amor único e uno. Ele não se diferencia no tamanho... Ele só muda, no jeito de expressão. É culpa do cheiro , e da compreensão.

Enquanto estou aqui ... - Por Socorro Moreira


Naquele mundo vivo
eu senti que preciso da luz
O escuro me adormece
e eu quero as cores do outro mundo
Quero achar quem partiu primeiro
Quero esperar, quem partirá...
Quero continuar
sem mandar em mim...
Entendendo , que ser livre
é não deixar de amar.
Estamos ainda aqui ...
o que fazer pra completar
o projeto divino?
Nada fazer...
Apenas viver !
Escrever é comer
É engolir , e mastigar,
o que nunca foi dito, nem visto.
Escrever é matar ou fazer nascer...
E essas duas coisas se alternam,
muitas vezes,
num único verso !

Na Rádio Azul

Amor É Pra Quem Ama
Lenine

Qualquer amor já é
um pouquinho de saúde
um montão de claridade
contribuição
pra cura dos problemas da cidade

Qualquer amor que vem
desse vagabundo e bobo
coração atrapalhado
procurando o endereço
de outro coração fechado

Amor é pra quem ama
Amor matéria-prima
A chama
O sumo
A soma
O tema
Amor é pra quem vive
Amor que não prescreve
Eterno
Terno
Pleno
Insano
Luz do sol da noite escura
"qualquer amor já é
um pouquinho de saúde
um descanso na loucura"

Os suspiros - Emerson Monteiro

Quando ouço alguém suspirar profundo, lembro de um provérbio popular destinado a essas situações, que diz: Quem suspira não tem o que deseja. Bela sabedoria humana perpetuada nessas tiradas impagáveis que o tempo transmite dos pais aos filhos, no vagar dos calendários. Vem pela tal oralidade, boa e ouvida, repassando o conhecimento decantado na mais fina literatura das pessoas que não têm a literatura oficial.

Bom, mas tratar disso indica outras colocações nestas palavras, onde os suspiros, aqueles respirares pespegados de emoção que saem sentidos do coração e esvoaçam no correr das jornadas. De quando se acorda com o peito dolorido das tantas insatisfações, procuras frustradas e esperanças encravadas lá por dentro feitas crianças guardadas que dormem sem querer logo nascer. Sujeitas até nem querer nascer mais, quando os suspiros encruaram e vêm bem fortes, chamando a atenção dos companheiros de quarto que andam ali perto às vezes até suspirando, gemendo e chorando, nesse vale das lágrimas quentes da longa estrada do chão.

Orar lembra, sim, este assunto. Invés de andar suspirando toda hora, há criaturas que rezam primeiro; de terço na mão, balbucia os lábios, olhos conformados e murchos de chorar. Esquecem mesmo de suspirar, partem para a ação de pedir aos santos, a Deus, os lenitivos que aguardam pacientes.

Quase ninguém, neste mundo, entretanto, pode usar a prerrogativa de andar de barriga cheia no que tange isso de felicidade, quando conformação virou fruta rara, posição firme dos apanhados experientes, os chamados realistas. Poucos respeitam a pulsação da natureza e ajeitam viver só no espaço das quatro linhas dos próprios limites, longe de pretender além do que lhe merece.

Os ensinos sagrados repetem as tais necessidade soberanas do respeito às leis que regem a existência, e não contrariam aquilo que recebem de direito. Contudo poucos agem assim. No entanto que jamais devam ultrapassar a conformação, sob pena de virar desilusão e desconforto.

Enquanto demorar a correspondência dos pedidos, suspirar compõe o quadro, e gemer alto pelo menos alivia o que a alma sente e a boca evita transformar nas palavras. Nesse meio turno, os suspiros cumprem a doce função das linguagens quase silenciosas, a demonstrar os sentimentos guardados a sete capas das saudades e dos sonhos queridos que permaneceram misteriosos.