por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um dia, no passado- por socorro moreira




Era um dia frio de Junho, em Friburgo, próximo à Copa de 94.
A casa estava florida para esperar amigos. Uns já haviam chegado. O último convidado, o especial, chegaria naquele dia, e eu ultimava os últimos retoques na cara e na casa. Ele instalado no meu coração, e em todos os meus porta-retratos. Com o coração aos pulos dirigi-me à Rodoviária local, com vistas ao ônibus que chegaria de Brasília.
Impossível não enxergá-lo de cara. Era o mais alto dos passageiros que desciam. Uma pequena e graciosa mulher o acompanhava.
-Esta é Simone, minha parceira de viagem.
Controlei o brilho do olhar, fechando-lhe a cortina da alegria, mas consegui abrir o melhor dos meus sorrisos... Aquele de compreensão imediata!
Quando estacionei o carro em frente á minha casa, enquanto eles lidavam com as suas mochilas, corri e escondi todos os porta-retratos, que nos denunciavam.
Apertei o cinto, relaxei, e me dispus a viver uma aventura inesperada: conviver estoicamente com o meu amor e a sua namorada. Botei cadeado nas expectativas amorosas, e entreguei-lhes o meu quarto de hóspedes.
A casa virou uma festa: música, dança, fogueiras no quintal, bebidas e fartura de quitutes. Uma semana, numa cratera da lua!
Novamente sozinha, sentimentalmente repensada, aprendi que o coração sabe levar sustos nas chegadas e nas partidas.
Dias futuros viriam com Simone ou com Marias.
Reencontramo-nos na festa de Natal daquele ano.Brindamos a paz do amor universal. Nunca mais seríamos namorados, mas seríamos sempre um casal, se ele três anos depois não tivesse partido, em definitivo.
Fim de ano de 1987.
Festa nas estrelas, pra receber um grande artista. Choram Marias com ciúmes das estrelas piscantes e dançantes.
Pisca de lá uma lua. Eu repisco, na mesma linha, numa cumplicidade misteriosa.
Amores especiais vivem no etéreo. São visitas com rede sempre armada na nossa casa, mas as redes vivem num balanço solitário.

Inebriada - por socorro moreira




É coisa rara
Essa tonta alegria
Exalando prazer
E deixo acontecer...
As palavras pulam em bloco
Fantasiadas de borboletas
E flores matinais

Amanhã o céu ensolarado
Me dirá, se é verdade
O carnaval que dancei
Se a minha embriaguez
Guardou na lucidez
Uma verdade amorosa
Que se veste de saudade

Elizeth Cardoso

Elizeth Cardoso (Rio de Janeiro, 16 de julho de 1920 — 7 de maio de 1990) foi uma cantora brasileira. Conhecida como A Divina, Elizeth é considerada uma das maiores intérpretes da música brasileira e um das mais talentosas cantoras de todos os tempos, reverenciada pelo público e pela crítica.

Arthur Moreira Lima



Arthur Moreira Lima Jr. (Rio de Janeiro, 16 de julho de 1940) é um pianista erudito brasileiro, famoso por suas interpretações de choro.

Inçelença Hardcore- Lupeu Lacerda




O beato zuílio subiu os degraus da igreja matriz e gritou possesso: “estão tocando fogo nas beiradas do céu”. Contam que aquele um, o cego, era a encarnação de lampião truviscado com corisco. Onório correu nu depois de pular a janela de expedito leiteiro. O beato zuílio dizia: “é preciso imolar um cordeiro!” onório caiu aos pés do beato. Em suas costas, o cabo de uma faca de dezoito polegadas cravadas até o talo. Aquele um, cego, se benzeu. O resto do povo correu. O beato olhava em silêncio. Um silêncio de fim de tarde, quando parece de verdade, que tão tocando fogo nas beiradas do céu.


por lupeu lacerda

ELEGIA DE ABRIL


















ELEGIA DE ABRIL

O jardim seco,
a terra se esfarela como farinha de pedra.
Nem os lagartos passeiam entre as pedras, ao sol.
Ainda brilha o sol
e queima como fogo, como ácido.
Espero o sopro da morte
com a memória dos mortos na palma da mão.

Derrotado, ostento
os meus andrajos como bandeiras desfraldadas ao vento.
De minha casa não restam nem as ruínas,
apenas o eco ribomba sob a terra.
Eu me olhava no espelho e não me reconhecia,
olhava novamente e já era outro;
hoje todos os espelhos estão quebrados.
O último baú que abri (quando eu ainda tinha baús)
guardava o meu próprio esqueleto.
Eu me perguntava: como não estou morto, Senhor?
Deus se calava, apascentava as ovelhas do eterno.

Conheço a desolação com um nó na garganta.
Ainda vejo minha mãe aos prantos na beira da estrada,
ainda vejo meu pai na beira do poço
e os meus irmãos perdidos no mundo.
Nós ouvimos o Verbo de Deus,
sofremos todas as desgraças da nossa idade.
A idade do homem é a idade do escárnio,
eu me cubro de cinza e saio pelos caminhos.

Esta é a idade do escárnio, esta é a idade do escárnio.
Eu sou um fraco.
Não aprendi a orar
nem conheci a cegueira dos puros.
Eu tenho uma espada na garganta
para que não conspurque a palavra.
Eu tenho uma espada no peito
que me exaure as forças.
Deus trouxe a espada ao mundo.
A luz vive no eterno, amém.


NOTA !

Os artistas  João do Crato, Abidoral Jamacaru, Luis Carlos Salatiel, Ulisses Germano, João Nicodemos e Stela Siebra  PARTICIPARÃO com performances poéticas da festa de lançamento do Livro "No Azul Sonhado".

- AGUARDAMOS A CONFIRMAÇÃO DE MARCOS VINÍCIUS LEONEL E PACHELLY JAMACARU.



Mudança - Aloísio

Mudança

Naquele tempo de frio
Acordando à meia-noite
O trem quebrado ficou
E a gente arribou

Agora cerro meus olhos
Nesta serra do sertão
Lembrando dos caminhos
Andados de caminhão

Chegando de manhãzinha
Na praça fomos deixados
Naquele dia com a gente
A saudade ficou ao lado

Tudo era novidade
Gente nova encontrando
No meio daquela cidade
Buscava oportunidade

Não sabia naquele dia
Que um mundo ruiria
E a vida lá na roça
Quanta falta me faria

Aloísio

DELAS E DELES



DELAS. O encanto é natureza de um só sexo. É como uma sedução silenciosa, está no jogar os cabelos, no foco do olhar, na boca que cria um mundo sem nenhuma palavra. Como ebule os desejos de fusão nas curvas que as posturas do corpo faz. Faz perguntas com um disfarce tal, que o alvo sente-se o mais importante testemunho da história. Os lábios se entumecem não se sabe se pela umidade ou pela capacidade de sucção. Quando todo o encanto se constituiu, ele tonto de tantas certezas se precipitando como pingos das chuvas de incertezas, balbucia alguns desconexos pensamentos. Todos pensamentos de gravitação. E aí chega a vez dela, satisfeita, algo confusa, um tanto perdedora, mais ainda promitente, dizer: eu sou casada com Chico Braga. Passou rápido como uma ave de agouro, um eclipse do sol. Afinal o encanto é da natureza dela e a sombra foi passageira enquanto ao lado uma força forte agia. Até que ele foi interditado: ouviu o que ela disse?

DELES. A posição de poder é moeda de sedução. Afinal o poder atrai, ao detentor dele se ajuntam uma série de ímãs e as simpatias se aproximam naturalmente. Mas o sedutor pelo poder tanto pode jogar seu charme pela posição, afinal sempre alguém rirá de suas besteiras, como pode ser um sofredor da própria responsabilidade do poder. Guardar uma distância para que a hierarquia não se iguale como é tudo no tempo da vida. Então o poderoso transita através delas entre ordens e conselhos, entre gracinhas de adocicar resistências ou propostas claras e ponto afinal. Então ela vem com aqueles cabelos longos, lisos, brilhosos, os olhos que olham com exame, as palavras de uma imprecisão mesmo quando discute a prova da hipótese. Assim, ela recebe os presentes de casamento, o chefe é convidado de honra. Nas semanas seguintes ele sempre, em meio às outras mulheres pergunta quando nascerá o sobrinho por afinidade. E tanto repetiu a graça que descobriu por trás do parentesco adquirido, um enorme desejo de ser o pai do filho dela.

 por José do Vale Pinheiro Feitosa

E o Crato virou Fortaleza – Por Carlos Eduardo Esmeraldo


Não cheguei a conhecer Juquinha, um comerciante do Crato, cuja mercearia na Praça da Estação, além de muito sortida, era muito freqüentada. Conheci seu filho mais velho, Edísio, rapaz muito estudioso, a quem o diretor do Colégio Diocesano, Monsenhor Montenegro, sempre recorria na falta temporária de qualquer professor de Matemática. Na quarta série do ginasial, Edísio foi nosso professor por mais de quinze dias.
De Juquinha, rolavam pelas ruas, bares e praças do Crato, histórias muito engraçadas. Uma delas dizia respeito a Edísio, esse seu filho dublê de professor de Matemática. Naquela época, era costume do povo simples da roça dizer que o filho tinha terminado o primeiro livro, em vez de concluído o primeiro ano primário. Edísio tinha ido estudar em Recife, onde se preparava para fazer o vestibular em engenharia. Dizem que por este tempo, alguém entrara na mercearia de seu Juquinha e lhe perguntara:
– Seu Juquinha, cadê aquele seu filho mais velho, que eu nunca mais vi?
– Homem, Edísio já leu os livros daqui do Crato todos e agora foi ler os livros do Recife.
Contava-se também que um dos maiores sonhos de seu Juquinha era conhecer Fortaleza. Depois de juntar algumas economias, decidiu embarcar sozinho, pois o dinheiro não dava para levar a mulher ou um dos filhos. Então, numa tarde de domingo, tomou o trem, tendo antes o cuidado de comprar o bilhete de segunda classe, por ser mais barato. Acomodou-se na dura cadeira, apoiando o braço na janela, quando da plataforma um freguês da sua mercearia o avista no carro de segunda e indaga- lhe, admirado:
– Mas, Juquinha, você vai viajar na segunda classe?
– E tem de terceira? – perguntou, muito interessado, o econômico Juquinha.
A viagem transcorreu sem nenhum problema até a cidade do Iguatu, onde o trem pernoitava. O mesmo ocorria com o trem que saía de Fortaleza, que também parava no Iguatu e todos os passageiros se alojavam no Hotel Ferroviário, para de madrugada prosseguirem a viagem.
Às quatro da madrugada em ponto, o porteiro do hotel despertava os hóspedes mais dorminhocos, porque, quinze minutos depois, os dois comboios partiriam em sentidos contrários.
Juquinha foi um dos passageiros que fora surpreendido pelo sono e saiu atarantado, à procura do seu trem. Na pressa, não olhou direito qual era dos dois trens que deveria entrar. Aliás, acho que Juquinha nem percebera que havia dois trens parados na estação. Entrou no trem que ia de Fortaleza ao Crato. E seguiu viagem, sem nada desconfiar. Nem a paisagem nem as cidades pelas quais passara no dia anterior fizeram-lhe notar que havia entrado no tem errado.
Finalmente, o trem começa a chegar ao Crato, e Juquinha exclama para o companheiro do assento ao lado, que, para seu maior azar, era um surdo-mudo:
– Como Fortaleza é parecida com o Crato! Até agora não vi diferença alguma nessa tal de capital. Até a ponta de rua é parecida com ao entrada do Crato. Tem até aquela porção de pedra de gesso amontoada à beira da linha.
Quando o trem parou na estação do Crato, Juquinha desceu falando sozinho, para espanto de quantos que o conheciam:
– Vôte, Fortaleza é igualzinha ao Crato. Até a Praça da Estação parece ser a mesma, com estátua do Cristo Rei e tudo o mais. As mesmas árvores, as pessoas parecem que têm a mesma cara dos meus conhecidos lá do Crato.
E Juquinha seguiu pela praça, a esta altura, com um grupo considerável de pessoas no seu encalce, curioso para saber o que se passava com o velho Juca. Finalmente, Juquinha diz outra frase em voz alta, que foi o estopim para o veredicto popular:
– Arre égua, até uma filial da minha mercearia eu tenho aqui em Fortaleza e não sabia. E aquela vendedora que tá lá dentro é vê a minha mulher! – exclamou Juquinha, ao ler a placa do seu estabelecimento comercial: "Mercearia o Juquinha”.
– Juquinha pirou de vez! – diziam uns.
– Ele tá tergiversando. Não diz coisa com coisa – exclamavam outros.
– Ele tá é doidinho da silva – concluía alguém que fora chamar-lhe a família.
Os familiares, ao verem Juquinha, ainda crente que estava em Fortaleza, levaram-no ao posto de saúde mais próximo.
Ao ser medicado por um médico conhecido, teve tempo de dizer, antes que o sedativo que lhe fora aplicado fizesse o efeito esperado:
– Os doutores daqui de Fortaleza são iguaizinhos aos do Crato. Não sabem de nada também!

Extraído do livro “História que vi, ouvi e contei” de Carlos Eduardo Esmeraldo

Por Socorro Moreira


Ele sabe que de vez em quando entra nos meus sonhos, e faz uma historinha comigo?

Ontem estávamos num dos estúdios de cinema (só pode!).Havia uma casa isolada, como aquela de Katy “, em” Vidas Amargas “. Existiam portas mágicas, nas laterais. A entrada era um sumidouro. A saída, sempre aos meus pés, parecia traze-lo do interior da terra”.

O movimento repetiu-se por várias vezes. Nos encontros, aparecíamos numa festa familiar.Muitos rostos conhecidos... Nos abraçávamos indiferentes àquelas presenças. Aposto que ficávamos invisíveis.

Quando acordei senti a impressão de ter vivido um especial momento amoroso. Os olhos dele acordaram comigo, e procuravam a casa e o sonho.

O inconsciente responde-me à interpretação do sonho: existe uma ponte que nos liga. Namoramos noutros planos, onde o amor impossível é possível.

A realidade encontra sempre um jeito de resolver as pendências dos desejos.


a barca leva e traz
quem quer ser levado e trazido
a barca só não leva o tempo
só não traz o vento

Lupeu Lacerda
Tudo passa.
Nada fica.

Sendo assim
nem tudo passa...