por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Chomsky: "Minha reação diante da morte de Osama"

O assassinato do Bin Laden pelos EUA não é uma coisa historicamente banal. Ele, como um fato jornalístico guarda um poder transformador que muitos não identificam e nem identificarão, mas será imenso. Marca a explicitação da perversidade e da barbárie sobre civilização. O momento de arrogância de um império que a cada década perde mais a sua capacidade de manter-se. Por isso é importante ler o que pensa Noam Chomsky sobre esta ato:

"Poderiamos perguntar a nós mesmo como reagiríamos se um comando iraquiano pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto".

Noam Chomsky - Guernica Magazine

Fica cada vez mais evidente que a operação foi um assassinato planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito internacional. Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma oposição, exceto, como afirmara, a da esposa de Osama bin Laden, que se atirou contra eles.

Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.

O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam 8 meses antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas instantâneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Portanto, Obama simplesmente mentiu quando disse na sua declaração da Casa Branca, que "rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram realizados pela al-Qaeda".

Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.

Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregue Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.

O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.

Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.

Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórida, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.

O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.

É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".

Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.

(*) Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.

Lançamento do Livro "No Azul Sonhado"


Data de lançamento do livro
Estou deveras confusa em firmar a data de lançamento. Presenças importantes ( todas !) apontam impossibilidades.Desejei aproveitar o período de festas da Exposição ( 10 a 17.07.2011), mas teríamos a ausência de muitos.

Deixem os seus comentários !

Assim que o livro sair do forno, começaremos a distribuição.
As reservas para cota extra ( além dos 5 livros prometidos já foram feitas) :

Magali e Carlos
Telma Brilhante
Liduína
Dedê
Corujinha
Geraldo Ananias
Mara Thiers
Aloísio

Restam 50 exemplares.

Grande abraço!

e-mail: sauska_8@hotmail.com

Liduina Belchior disse...
Socorro, A data ideal para mim, seria dia 9/7.
Stela disse...
É difícil mesmo conciliar datas para o lançamento de um livro com tantos autores. Seja qual for a data vai ter alguém que não pode ir, isso é certo. Portanto, vamos sossegar e pensar numa data que seja propícia ao tipo de evento. Se está complicado fazer na semana da festa ExpoCrato, pensemos se pode ser na semana seguinte, ou na anterior, ou no mês de junho... com as bençãos dos santos Antônio, João e Pedro... ou no início de agosto, depois que o sol entrar no signo Leão e com uma Lua na fase Crescente ou Cheia. Temos um tanto de coisas a considerar para a definição da data, avaliemos, pois, e marquemos. Vixe, falei até difícil, por conta dessa data! (risosss)
Ah, esqueci de dizer a minha data preferida: na semana da ExpoCrato. Mas...

Clausura- Rejane Gonçalves



Fiquei guardado dentro das paredes redondas sem ver o mundo e descobri que, por mais que me pusesse na ponta dos pés aguacentos, os tijolos estariam ainda a um palmo acima de mim.
Antes do confinamento, uma camada de lama fina, mingau ocre, por vezes vermelho, marrom, estagnava-se ao meu redor e não ligava a mínima para minhas intromissões em seus domínios. Eu podia brincar com as flores do cajueiro, que despregadas pelo vento, deslizavam naquela gelatina escura, andar sobre ela, ou até entrar nela, mexê-la para lá e para cá como se eu fosse uma colher de pau a desandar um angu.
Desenvolvi nesse tempo um apurado senso de observação, que me fazia saber de imediato a quem pertencia o pé que deixara suas marcas nas margens já meio endurecidas da lama, se era de homem ou de mulher, se andava apressado ou devagar. Houve dias em que nomeei, com todas as letras, o dono ou a dona do pé. Tornei-me com a anuência de todos um profundo conhecedor de pegadas.
Meu olho tem cílios que se expandem, muitas vezes ultrapassam a fina camada de lama e desenham um círculo azulado e lacrimoso em torno dela. Do alto, é como ver um ovo a fritar, quebrado numa frigideira, a gema no centro, a clara densa, derramada por sobre a gema e por todos os lados, um lençol que embora cumprisse a sina de cobrir, o fizesse com transparências.
Quando recolho os cílios, deixo nos lugares, por onde eles se estenderam, berços de umidade que podem servir de nascedouro e abrigo às plantinhas diáfanas, às penugens verdes que farão cócegas nos pés das mulheres que se debruçam sobre mim e abrem minhas pestanas, para ver se estou vivo ou morto. Elas seguram pequenas panelas arredondadas, mergulham essas panelas dentro de mim, uma, duas, três, várias vezes. Dias há em que são muitas as mulheres. Não me dão descanso. Nem me sobra um tempo para fechar e abrir o olho, umedecê-lo, descansá-lo. Depois da saída da última mulher eu fico parado, me privo de qualquer movimento, evito a formação de bolhas, fujo das ondulações. Sereno. Porque me assalta o pavor do olho seco. Um olho precisa estar molhado, disto eu bem sei, nem que seja à custa de colírios.
Desde que fiquei preso no meio desse muro redondo, não tenho mais contato com a lama, não afago as flores empapadas do cajueiro e quase mulher nenhuma, ou mesmo homem me procuram. Ao terminar a construção da pequena muralha, os operários tocaram-me com o respeito próprio dos devotos e no meio deles um, que parecia chinês, não parava de fazer reverências, de sorrir, em frente à ponta da muralha que se unira com unhas e dentes à outra ponta. Estava finalmente concluída. E eu protegido. Preservado.
No meio da mata silenciosa, viúva de tantos animais, semi-vestida, cada dia mais nua, eu era apenas um olho. Um olho d’água. Livre.

(março-2007)

Rejane Gonçalves, é escritora contista e desde os anos 80 tem vínculos familiares caririenses.

Uma Paisagem Banal (Rejane Gonçalves)


Trata-se de um quadro de dimensão singular pendurado no topo do mundo. Nele há uma profusão de imagens, de coisas que se sobrepõem umas às outras, de cores em constante luta com seus tons contrários. É como se o tempo tivesse borrado a tinta; tudo acontece em meio a pesadas brumas. Percebe-se, mesmo assim, a tela cortada ao centro por uma cerca não muito alta, de troncos retorcidos, feito braços dispostos em tranças a ornamentar uma cabeça de fartos cabelos. Do lado onde, dizem alguns, a paisagem parece mais nítida, está um cavaleiro montado em seu cavalo bravio. Segura fortemente as rédeas e todo o seu corpo empenha-se no sentido de impedir o animal de pular a cerca. Do outro lado desta, onde, dizem alguns, a paisagem é confusa e pródiga em abismos, acaba de pisar o chão um cavalo, trazendo montado em seu dorso um cavaleiro bravio. Seu corpo quase deitado sobre o animal e suas mãos, por onde escorrem as rédeas, parecem indicar não ter ele conseguido ser do outro cavaleiro uma parelha, pois que ultrapassou a cerca.

Os viandantes com gestos disformes passam ao largo. Todos, com raríssimas exceções, evitam uma observação demorada desse quadro de dimensão singular. É sabido que uma maior apreensão da paisagem transporta o rosto do incauto observador às alturas, sobrepondo-o ao rosto de um dos cavaleiros. Essa esquisita peculiaridade do quadro é na maioria das vezes incômoda e talvez fatal. Por isto é que os viandantes passam ao largo. Tapam os olhos dos filhos e repetem em ladainha o que há muito tempo ouviram com a força de um massacre de mil martelos zunindo em suas cabeças:

− Desses dois homens montados... de um diz-se que é louco, do outro diz-se que é são.

setembro/ 1987

Rejane Gonçalves é contista, nasceu em Caruaru-PE e tem laços familiares cratenses firmados desde os anos 70. Atualmente mora em Recife.

A poesia incendiária de Lupeu Lacerda- SILVASSA · Salvador, BA


É pra ser uma resenha. De um dos livros mais geniais que li até agora. E não porque o escritor é meu irmão e chapa, parceiro de noitadas, biritas e similares. Dos bons tempos. A afirmação vem junto com a certeza de que os escritos que tenho comigo agora são verdadeiramente raros. Digo raros, pois entendo que, num mundo de escritores muito formais, ou de outros que se engajam em falsas vanguardas – um chute nos bagos em métrica e rima -, estes poemas funcionam como providenciais coquetéis Molotov.

Esse tipo de arte anda meio esquecida, já que cada vez mais os leitores preferem à prosa. Como se a velha matrona literatura jogasse pra escanteio a poesia furiosa, bela e inflamável.


Os textos que leio neste exato momento são aqueles que acordam os excessivamente metódicos. Em seus escritos e, por que não dizer, em suas vidas. Não que eu tenha nada contra os melancólicos de olhar tristonho e os filósofos de plantão – alguns donos de textos inspiradores. O que eu não tolero é o sujeito fingir que implode toda vez que escreve algo, enquanto não passa de um babaca enclausurado. Até ter a capacidade de diferenciar um do outro, vai um logo caminho. Mas a gente percebe a falsidade e a fraqueza explícita em cada ponto e vírgula depois que pega a manha.

Então, sendo isso aqui uma suposta resenha de um livro, sou obrigado a dar algumas informações didáticas e necessárias, antes de divagar um pouco.

Lupeu Lacerda, artesão e escritor, nasceu em Juazeiro do Norte. Passou bravamente – e com bêbado louvor– pelos anos setenta e de lá tirou suas melhores referências. Na verdade, longe das débeis cronologias, o escritor sacou que muita coisa hoje considerada eterna – Helter Skelter, dos Beatles; o disco Aqualung, Robert Crumb, Leminski, entre tantas outras ondas – surgiu naquela época. Tornando-se o seu lastro. Além de ser o tipo de cara que vislumbrava atrás de um muro, ou de qualquer vastidão seca, árida e meio desesperançada, um mundo de possibilidades, certamente o ar, a famosa resposta soprada pelo vento do Dylan, também deve ter feito lá seu estrago. E ele caiu fora. Viajou, montou bandas, tomou todas, escreveu pra caralho. Principalmente em fanzines, num momento em que isso implicava em datilografar os textos, recortar fotos e montar tudo com cola para, depois, tirar umas fotocópias.

Quando não era feito no jurássico e extinto mimeógrafo.

Seus textos foram “publicados” em diversos desses bravos redutos de literatura, tais como Séquiço Sacro e o Art Pop Zine, antológico zine que sacudiu a velha Juazeiro natal do sonolento João Gilberto. Viveu com a intensidade digna dos escritores que tanto admira – e esqueçam aqui o peso “clichê” da frase; se conhecerem um dia o cara verão do que falo: suas aventuras e viagens estão gravadas em seus olhos.

O livro Entre o Alho e o Sal - um petardo de 136 páginas, de qualidade gráfica indiscutível - começou a ganhar corpo no início da década de 90. Ao menos como projeto, algo que pudesse se transformar em livro. Foi nesse período que a coisa tomava um outro rumo para o poeta. Não em suas convicções, mas no mundo em si - ou alguém esqueceu que foi a partir de 1990, mais ou menos, que as nossas velhas crenças começaram a sumir com a chamada revolução tecnológica? O livro, assim como a tal revolução de bytes, teclados, chips e todo o resto, veio sem data pra terminar. Entre uma noite e outra, Lupeu enchia garrafas com gasolina e ácido sulfúrico, colocava um velho pano nos gargalos, acendia seu cigarro e esperava: ou seja, escrevia.

Na época ele já tava morando na terra natal do suposto gênio da Bossa Nova. Foi por aí que o conheci. A cidade não era mais tão sonolenta quanto seu filho desafinado e temperamental. Aqui e acolá, rolavam shows de bandas locais. Peças de teatro eram montadas no peito e na raça. Muita gente boa andava pelas estreitas ruas de pedra com Kerouac, Ginsberg, Henry Miller e Murilo Mendes debaixo do braço. Além de contar com um sebo, heroicamente comandado por Hélio, Dom Roncalli e Uberdan – nobres desconhecidos para vocês, mas fundamentais pra caras como eu. O sebo ficava numa sala pequena e acolhedora, em frente à igreja principal. E estava sempre lotado de clássicos da literatura mundial, livros Beat, quadrinhos verdadeiramente undergrounds e vinis raríssimos. Foi lá que eu vi, pela primeira vez em minha vida, um exemplar do Pasquim, da década de setenta.

Também foi ali que Ângelo Roncalli, amigo, autor do livro Orbitais e editor, teve o primeiro contato com o que seria Entre o Alho e o Sal. E gostou, batizando o tal com o título. Então, convertido numa espécie de Lawrence Ferlinghetti do São Francisco - não confundam com San Francisco -, começou a batalhar para que a obra pudesse ser publicada, muitos anos depois. Mas a falta de grana, recurso motriz de qualquer porra neste mundo confuso, jogou o projeto por água abaixo. Apesar do esforço eminente a coisa não vingou para o nosso Dom Roncalli.

Foi aí que outro cara, Sidney Rocha, amigo de longa data, sujeito nascido na Juazeiro inicial, a do Norte, topou a parada. E, “... se apaixonou pelo projeto”, como afirma o autor. Tomando pra si a iniciativa de publicar aquelas verdadeiras e ferventes sacações de mundo. E foi ele quem deu as caras e correu atrás – e deu a cara ao livro. O projeto gráfico, que contém alto relevo, ilustrações fabulosas de Leugim, colagens de Spirit, Crumb e etc – num merecido revival dos bons tempos dos zines – é algo que complementa o livro. Digo, sem risco de errar, que o editor e idealizador da Kabalah Editora tratou com todo o respeito à obra do cara. Coisa de parceiros.


***


É comum, quando alguém faz uma resenha, rolar aquele tipo de comparação fundamental com algum escritor antigo e de maior visibilidade. Geralmente, esses críticos de literatura fazem o que eles próprios chamam de “traçar um paralelo” entre o autor “x” e o “y” – na maioria dos casos o “y” é novato e tem sua obra diminuída pela comparação malfadada. E, na concepção inicial deste texto, enquanto organizava mentalmente as idéias, não foi diferente. Tive a pretensão vaga, que logo virou fumaça, de compará-lo ao Waly Salomão e Leminski. Ou até mesmo ao Gregory Corso. O que para Lupeu, creio, seria motivo de orgulho. Porém, tanto eu quanto o Roncalli e o próprio Sidney, que escrevem no livro, não caímos nesse expediente; um puta esparro. Por compreendermos tanto o livro. E por sabermos que as condições, contexto, história, vida, vontades subentendidas e escancaradas, biritas, fodas, madrugadas heróicas e outras coisas mais que fizeram surgir os poemas, foram tão diferentes e únicas, resolvemos impor nossa vontade. Colocamos Entre o Alho e o Sal ao “lado” dos grandes. Numa boa, sossegados.

Nas palavras – ou seriam tiros ? - do Sidney: “Não que eu catalogue o trabalho de Lupeu Lacerda com vanguardista ou romântico. E não o faço temendo outros críticos, que sabem muito bem que estas categorias carecem de significações mais profundas (...). Não o faço só porque não aprecio a catalogação das espécies(...)”; no que Roncalli arremata: “Entre conhecimentos que ainda não temos, entre coisas que temos e ainda não conhecemos. Lupeu é lupa e telescópio...ao mesmo tempo(...)”

Lupeu é lupa e telescópio...

Ou seja, os “molotovs” – dei esse nome pela carga explosiva contida em cada linha - deram conta do recado e incendiaram essa minha vontade de compará-lo a quem quer que fosse. E acho que eles também foram por esse caminho.

Não dá para simplificar uma obra desse quilate, quando leio, por exemplo: “uma mulher / é uma tempestade de verão / uma mulher / é uma bala perdida / na madrugada do sábado / uma mulher é um grito de gol anulado”.

Por enxergar beleza demais nas palavras; por ver, sutilmente entre uma letra e outra, além da influência dos já citados poetas, resquícios de um Murilo Mendes e de um Maiakosvky – meio chapado, de sarro e carregado de genuína esperança.

Ou então, quando mudo a página e vejo algo como: “A verdade / É que eu me amarro / Quando você me olha / Com essa cara de quem entrou / No banheiro errado. / Eu, eu entro pelas frestas / Eu, eu entro pelas saídas”. Típico texto de quem já varou diversas madrugadas tontas – e eu tava em algumas delas; os dois embriagados e divertidos pra caralho, tomando todas e mais algumas, tentando ver qual era a do próximo bar, se estava aberto ou se já tinha entregado as pontas e baixado as portas.

Outra garrafa incendiária: “quem quiser mais verde engole a serra. / quando vai falar, / cospe duzentas e trinta gramas, de bobagens coloridas. / o luar salta do bolso descorado / do mendigo em chamas / e solicita uma água tônica gelada. / o presidente cerra os dentes / e se auto-prolifera. / as feras comem a pinacoteca / do palácio da alvorada”.

Fogo, explosão. Uma espécie de “...alta temperatura anarquista (...)” como diz o editor e projetista gráfico do livro.

É por isso que não devo fazer a tal comparação, pura e simples. Recuso-me a “traçar” o tal “paralelo” tão comum aos críticos de verdade - nunca fui chegado a retas, paralelas ou não; sempre preferi parábolas e outras curvas que não sabem aonde vão chegar. Não sou jornalista, catedrático, ou coisa parecida.

Sei que se fizer isso, muita coisa se perde. A essência de todo o livro – algo não linear, que detona a tal linha reta - se corrói, desaparece. Injustamente. Cada vez que leio Entre o Alho e o Sal, acredito que ele tem o direito de reivindicar seu espaço e sua existência nas estantes desse tal mundo louco e entediado, como sendo uma obra particular e nova. Mesmo que de vez em quando a gente suponha, preguiçosamente, reconhecer uma ou outra coisa parecida com esse ou aquele escritor “estabelecido”.

Mas um livro não é inventar a roda; talvez reinventá-la, atear fogo à dita cuja...

A minha “crítica” surge da sorte assumida de poder ler essa obra, que se disfarça de pequena e casual; algo feito entre amigos numa mesa de boteco. Este meu texto começou por conhecer e admirar o cara, o autor do livro. E de poder dizer, com aquele raro orgulho, que ele é meu irmão; meu bróder, um dos escolhidos. Sem desmerecer, caindo numa espécie de descrédito ou da mais deslavada picaretagem, a qualidade de seus textos. Nem diminuir esta minha tentativa de explicar o que não tem tanta explicação assim.

Notas: Contatos com o escritor: 1 - lupeulacerda@gmail.com 2 - (87) 8812 9504 3 - (74) 3612-5264 / (74) 3614-2142 Onde comprar o livro: 1 - Livraria Cultura

Artur Gomes


ALGUMA POESIA

não.
não bastaria a poesia deste bonde
que despenca lua nos meus cílios
num trapézio de pingentes onde a lapa
carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos.

não.
não bastaria a poesia cristalina
se rasgando o corpo estão muitas meninas
tentando a sorte em cada porta de metrô
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador.

não.
não bastaria todo riso pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos

não bastaria delirar Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando um charme gay
e uma cheiro de fêmea no ar devorador
aparentando realismo hiper-moderno
num corpo de anjo que não foi meu deus quem fez
esse gosto de coisa do inferno
como provar do amor no posto seis
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do Arpoador
uma mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas de mistérios que são vossos

não.
não bastaria toda poesia
que eu trago em minha alma um tanto porca,
este postal com uma imagem meio Lorca:
um bondinho aterrizando lá na Urca
e esta cidade deitando água
em meus destroços
pois se o cristo redentor deixasse a pedra
na certa nunca mais rezaria padre-nossos
e na certa só faria poesia com os meus ossos.

Artur Gomes
In Couro Cru & Carne Viva
Prêmio Internacional de Poesia - Quebec - Canadá 1987
http://tropicanalice.blogspot.com/

Ettore Scola



Ettore Scola (Trevico, 10 de maio de 1931) é um dos mais importantes diretores italianos de cinema.

Estudou Direito em Roma, passando depois ao jornalismo e ao rádio. Ali travou conhecimento com gente do cinema para os quais começou a trabalhar como argumentista, o que fez entre 1954 a 1963. Neste período, em parceria com Ruggero Maccari, escreveu argumentos para Antonio Pietrangeli e Dino Risi.

Sua estreia como realizador deu-se em 1964, com a comédia Fala-se de mulheres. Seguiram-se outros filmes, como Nós que nos amávamos tanto, de 1974, que ganhou o Prêmio César de melhor filme estrangeiro.

wikopédia

Fred Astaire



Fred Astaire, nome artístico de Frederick Austerlitz (Omaha, 10 de Maio de 1899 — Los Angeles, 22 de Junho de 1987) foi um ator e dançarino estado-unidense.

Catulo da Paixão Cearense



Catulo da Paixão Cearense (São Luís do Maranhão, 8 de outubro de 1863 — Rio de Janeiro, 10 de maio de 1946) foi um poeta, músico e compositor brasileiro.

Filho de Amâncio José Paixão Cearense (natural do Ceará) e Maria Celestina Braga (natural do Maranhão)

Mudou-se para o Rio em 1880, aos 17 anos, com a família. Trabalhou como relojoeiro. Conheceu vários chorões da época, como Anacleto de Medeiros e Viriato Figueira da Silva, quando se iniciou na música. Integrado nos meios boêmicos da cidade, associou-se ao livreiro Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo, que passou a editar em folhetos de cordel o repertório de modinhas da época.

Catulo da Paixão Cearense passou a organizar coletâneas, entre elas O cantor fluminense e O cancioneiro popular, além de obras próprias. Vivia despreocupado, pois era boêmio, e morreu na pobreza.

Em algumas composições teve a colaboração de alguns parceiros: Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Francisco Braga e outros. Como interprete, o maior tenor do Brasil, Vicente Celestino .

Suas mais famosas composições são Luar do Sertão (em parceria com João Pernambuco), de 1908, que na opinião de Pedro Lessa é o hino nacional do sertanejo brasileiro, e Flor amorosa, composta juntamente com Joaquim Calado em 1867. Também é o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da ´modinha´.

Norma

Alfajores argentinos



Massa

200 g de manteiga em temperatura ambiente
1 xícara (chá) de açúcar
1 ovo
2 gemas
5 xícaras (chá) de farinha de trigo
4 colheres (sopa) de mel
meia colher (sopa) de bicarbonato de sódio
2 colheres (sopa) de fermento químico em pó
meia colher (chá) de essência de baunilha (opcional)
farinha de trigo para polvilhar
manteiga para untar

Recheio

1 lata de Doce de Leite Cremoso MOÇA®

Cobertura

3 tabletes de Cobertura Chocolate com Leite NESTLÉ® 1,5 kg

Modo de Preparo

Massa:
Bata a manteiga com o açúcar, o ovo e as gemas na batedeira e reserve. À parte, misture a farinha de trigo, o mel, o bicarbonato, o fermento e, se quiser, a essência de baunilha. Junte à mistura de manteiga reservada. Trabalhe bem a massa até ficar lisa e macia. Deixe descansar por cerca de 30 minutos. Abra a massa com um rolo entre dois filmes plásticos, deixando com espessura de 0,5cm. Com um cortador próprio, recorte círculos de cerca de 5cm de diâmetro e arrume-os em uma assadeira untada e enfarinhada. Asse em forno médio (180°C), preaquecido, por cerca de 8 minutos (sem dourar muito). Retire do forno e deixe esfriar na própria assadeira, coberto com papel-manteiga.
Recheio:
Depois de frios, una dois discos com uma camada de Doce de LEITE MOÇA®, retirando o excesso. Reserve.
Cobertura:
À parte, derreta o Chocolate conforme as indicações da embalagem e banhe os alfajores um a um. Coloque-os sobre papel de alumínio ou papel-manteiga e deixe secar.
Dicas:
- Se quiser, embrulhe os alfajores depois de secos, um a um, em papel celofane; -Caso não tenha cortador apropriado, improvise com outro utensílio com medida equivalente (copo ou xícara); -Para manter a maciez, é importante não deixar os discos dourarem demais. Caso contrário, a massa ficará ressecada, com aspecto de biscoito.

MuitoGostoso

Alfajores Peruanos Por Umberto



Ingredientes

125g de Farinha de trigo
160g de Amido de Milho
200g de manteiga
5 colheres (de sopa) de açúcar de confeiteiro
2 gemas
Doce de leite ou similar para recheio

Forno

Preaqueça o forno em 175 graus
Preparação

Peneire a farinha com o Amido de milho por 3 vezes e reservar

Bater na batedeira a manteiga e o açucar por 3 minutos, agregar as gemas logo depois e bater um pouco mais, misturar os ingredientes secos neste creme e misturar até ficar homogêneo. Deixe a massa descansar por 20 minutos. Abra a massa com um rolo em uma mesa enfarinhada para não grudar, corte com cortadores redondos (um copo pode ser usado) e asse por aproximadamente 15 minutos, Não deixe os alfajores escurecerem, veja se estão assados levantando-s com uma espátula, cuidado, são muito macios.

Deixe-os esfriar por 2 horas e recheie com doce de leite

Alceu Valença defende Chico Cézar contra o "Forró de Plástico"

O Forró Vivo!
Vejo com muito bons olhos – olhos atentos de quem há décadas observa os movimentos da cultura em nosso país – a iniciativa do Secretário de Cultura do Estado da Paraíba, Chico César, de “investir conceitualmente nos festejos juninos”, segundo comunicado oficial divulgado esta semana. Além de brilhante cantor e compositor, Chico tem se mostrado um grande amigo da arte também como um dos maiores gestores da cultura desse país.
A maneira mais fácil de dominar um povo – e a mais sórdida também – é despi-lo de sua cultura natural, daquilo que o identifica enquanto um grupamento social homogêneo, com linguagens e referências próprias. Festas como o São João e o carnaval, que no Brasil adquiriram status extraordinariamente significativo, tem sido vilipendiadas com a adesão de pretensos agentes culturais alienígenas mancomunados com políticas públicas mercantilistas sem o menor compromisso com a identidade de nosso povo, de nossas festas, e por que não, de nossas melhores tradições, no sentido mais progressista da palavra.
Sempre digo que precisamos valorizar os conceitos, para que a arte não se dilua em enganosas jogadas de marketing. No que se refere ao papel de uma secretaria ou qualquer órgão público, entendo que seu objetivo primordial seja o de fomentar, preservar e difundir a cultura de seu estado, muito mais do que simplesmente promover eventos de entretenimento fácil com recursos públicos. É preciso compreender esta diferença quando se fala de gestão de cultura em nosso país.
Defendo democraticamente qualquer manifestação artística, mas entendo que o calendário anual seja largo o suficiente para comportar shows de todos os estilos, nacionais ou internacionais. Por isso apóio a iniciativa de Chico em evitar que interesses mercadológicos enfiem pelo gargalo atrações que nada tem a ver com os elementos que fizeram das festas juninas uma das celebrações brasileiras mais reconhecidas em todo o mundo.
Lembro-me que da última vez que encontrei o mestre Luiz Gonzaga, num leito de hospital, este me pedia aos prantos: “não deixe meu forrozinho morrer”. Graças a exemplos como o de Chico César, o velho Lua pode descansar mais tranquilo. O forró de sua linhagem há de permanecer vivo e fortalecido sempre que houver uma fogueira queimando em homenagem a São João.
Alceu Valença

SOBRE MÃES

"Em geral, as mães,mais que amar os filhos, amam-se nos filhos."
(Friedrich Nietzsche)

MÃES SÓ MORREM QUANDO QUEREM

"Eu tinha 7 anos quando matei minha mãe pela primeira vez.
Eu não a queria junto a mim quando chegasse à escola em meu 1º dia de aula.
Me achava forte o suficiente para enfrentar os desafios que a nova vida iria me trazer.
Poucas semanas depois descobri aliviado que ela ainda estava lá, pronta para me defender não somente daqueles garotos brutamontes que me ameaçavam, como das dificuldades intransponíveis da tabuada.

Quando fiz 14 anos eu a matei novamente.
Não a queria me impondo regras ou limites, nem que me impedisse de viver a plenitude dos vôos juvenis.
Mas logo no primeiro porre eu felizmente a redescobri viva.
Foi quando ela não só me curou da ressaca, como impediu que eu levasse uma vergonhosa surra de meu pai.

Aos 18 anos achei que mataria minha mãe definitivamente.
Entrara na faculdade, iria morar em república, faria política estudantil, atividades em que a presença materna não cabia em nenhuma hipótese.
Ledo engano.
Quando me descobri confuso sobre qual rumo seguir, voltei à casa materna. Único espaço possível de guarida e compreensão.

Aos 23 anos me dei conta de que a morte materna era possível, porém requereria muita lentidão...
Foi quando me casei, finquei bandeira de independência e segui viagem.
Mas bastou nascer a primeira filha para descobrir que o bicho mãe se transformara num espécime ainda mais vigoroso chamado avó.
Apesar de tudo, continuei acreditando na tese de que a morte seria bem demorada,
e aos poucos fui me sentindo mais distante e autônomo, mesmo que a intervalos regulares, ela reaparecesse em minha vida desempenhando papéis importantes e únicos.
Papéis que somente ela poderia protagonizar...

Mas o final dessa história, ao contrário do que eu sempre imaginei, foi ela quem definiu: Quando menos esperava, ela decidiu morrer...
Assim, sem mais, nem menos, sem pedir licença ou permissão, sem data marcada ou ocasião para despedida, minha tese da morte bem demorada ruiu.
Ela simplesmente se foi, deixando a lição que mães não são para sempre.
Ao contrário do que sempre imaginei, são elas que decidem o quanto esta eternidade pode durar em vida, e o quanto fica relegado para o etéreo terreno da saudade..

Autor desconhecido