por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

EUGÊNIO ARAGÃO

Temer e a pouca vergonha de nossos tempos

Por Eugênio Aragão*


As frações de informação tornadas públicas na entrevista do advogado José Yunes, insistentemente apresentado pelos esbulhadores do Palácio do Planalto como desconhecido de Michel Temer, embrulham o estômago, causam ânsia de vômito em qualquer pessoa normal, medianamente decente.

Conclui-se que Temer e sua cambada prepararam a traição à Presidenta Dilma Vana Rousseff bem antes das eleições de 2014. A aliança entre o hoje sedizente presidente e o correntista suíço Eduardo Cunha existia já em maio daquele ano, quando o primeiro recebeu no Palácio do Jaburu, na companhia cúmplice de Eliseu Padilha, o Sr. Marcelo Odebrecht, para solicitar-lhe a módica quantia de 10 milhões de reais. Não para financiar as eleições presidenciais, mas, ao menos em parte, para garantir o voto de 140 parlamentares, que dariam a Eduardo Cunha a presidência da Câmara dos Deputados, passo imprescindível na rota da conspiração para derrubar Dilma.

Temer armou cedo o golpe que lhe daria o que nunca obteria em uma disputa democrática: o mandato de Presidente da República. Definitivamente, esse sujeitinho não foi feito para a democracia. É um gnomo feio, incapaz de encantar multidões, sem ideias, sem concepções, sem voto, mas com elevada dose de inveja e vaidade. Para tomar a si o que não é seu, age à sorrelfa, à imagem e semelhança de Smeágol, o destroncado monstrengo do épico "O Senhor dos Anéis".


Muito ainda saberemos sobre o mais vergonhoso episódio da história republicana brasileira, protagonizado por jagunços da política, gente sem caráter e vergonha na cara, que só conseguiu seu intento porque a sociedade estava debilitada, polarizada no ódio plantado pela mídia comercial e reverberado com afinco nas redes sociais, com a inestimável mãozinha de carreiras da elite do serviço público.

O resultado está aí: o fim de um projeto nacional e soberano de desenvolvimento sustentável e inclusivo. A mais profunda crise econômica que o país já experimentou. A desconstrução do pouco de solidariedade que nosso Estado já prestou aos mais necessitados. A troca do interesse da maioria pela mesquinhez gananciosa e ambiciosa da minoria que, "em nome do PIB" ou "do mercado", se deu o direito de rasgar os votos de 54 milhões de brasileiras e brasileiros. Rasgaram-nos pela fraude e pelo corrompimento das instituições, com o único escopo de liquidar os ativos nacionais e fazer dinheiro rápido e farto, como na privatização de FHC. Dinheiro que o cidadão nunca verá.

É assim que se despedaça e trucida a democracia: dando o poder a quem perdeu as eleições, garantindo aos derrotados uma fatia gigantesca do governo usurpado e até a nomeação de um dos seus para o STF, para assegurar vida mansa a quem tem dívidas com a justiça. A piscadela de Alexandre de Moraes a Edison Lobão, na CCJ, diz tudo.

Assistiremos a tudo isso sem nenhum sentimento de pudor?

A essa altura dos acontecimentos, o STF e a PGR só podem insistir na tese da "regularidade formal" do impedimento da Presidenta Dilma Roussef com a descarada hipocrisia definida por Voltaire como "cortesia dos covardes".

Caiu o véu da mentira. Não há mais como negar: o golpe foi comprado e a compra negociada cedinho, ainda no primeiro mandato de Dilma. O golpe foi dado com uma facada nas costas, desferida por quem deveria portar-se com discreta lealdade diante da companheira de chapa. O Judas revelado está.

E os guardiões da Constituição? Lavarão as mãos como Pilatos - ou tomarão vergonha na cara?
 

*Eugênio Aragão é sub-procurador-geral da República e foi ministro no governo de Dilma antes do golpe.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

"JUIZ DE MERDA" - José Nílton Mariano Saraiva

Muito já se disse, e se comentou, sobre a “parcialidade” (ou, em português claro e cristalino, a desonestidade) de vários dos ministros que integram a nossa Corte Maior (Supremo Tribunal Federal), useiros e corriqueiros em tentar esconder tão requintado “predicado” através de um linguajar/texto rebuscado e prolixo, repleto de citações greco-romanas, inacessíveis ao mortal comum.

Fato é que, após ascenderem àquela egrégia corte por indicação de políticos corruptos e desonestos, não têm nenhum escrúpulo em saírem ávidos à procura de “brechas” em nossas leis e códigos (sempre “acháveis” pelos que conhecem os “caminhos das pedras”), e que lhes permitam atuarem desabridamente em favor dos interesses do “padrinho”, pouco se lixando para as esdrúxulas decisões que tomam; inclusive, até parecem muito se divertir com a dificuldade da “massa ignara” em aceitá-las, passivamente e sem contestação.

O emblemático de tal postura corrupta e mafiosa deu-se agora (de novo, outra vez, novamente) quando o tal “decano” (que babaquice) do STF, Celso de Melo (indicado pelo ex-presidente Sarney), contrariando até uma anterior decisão do falastrão ministro Gilmar Mendes (no caso Lula da Silva), resolveu que o bandido Moreira Franco (citado 43 vezes numa única delação da operação Lava Jato) assuma, sim, uma Secretaria Especial criada pelo golpista sem povo e sem voto que está Presidente da República (Michel Temer), com o explícito objetivo de blindá-lo com o tal “foro privilegiado”, literalmente impedido-o de cair nas garras do onipresente juiz de Curitiba.

Para se entender a falta de caráter e/ou desonestidade do tal “decano” (Celso de Melo), abaixo a narrativa do ex-Ministro da Justiça do governo Sarney, Saulo Ramos, no livro de sua autoria “Código da Vida” (Editora Planeta, 2007):

Quando José Sarney decidiu candidatar-se a senador pelo Amapá, o caso foi parar no STF, porque os adversários resolveram impugnar a candidatura. Celso de Mello votou pela impugnação, mas depois telefonou ao seu padrinho, Saulo Ramos, para explicar-se.
Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do presidente.
Claro! O que deu em você?
É que a Folha de S.Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de S.Paulo. Mas fique tranquilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do presidente.
Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de S.Paulo noticiou que você votaria a favor?
Sim.
E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?
Exatamente. O senhor entendeu?
Entendi. Entendi que você é um JUIZ DE MERDA”.

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E aí, precisa explicar ou quer que desenhe ???

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

"MOTEL FLUTUANTE" - José Nílton Mariano Saraiva

Na inóspita Brasília, um exótico e confortável “motel flutuante”, de propriedade de um dos Deputados da base do golpista que está Presidente da República (Michel Temer), foi o ambiente escolhido para que o indicado pelo próprio para o Supremo Tribunal Federal, o “brucutu” Alexandre Moraes, se reunisse com “íntegros” Senadores da República (citados nas delações premiadas) a fim de, antecipadamente, “ensaiarem” o script de como será a tal sabatina a que será submetido no plenário do covil de corruptos onde têm assento (o Senado Federal), visando sua aprovação para compor aquela corte. Se as “digníssimas profissionais” (prostitutas de luxo) que corriqueiramente frequentam tais ambientes estavam ou não presentes, pouco importa; o que se sabe é que o “scott” rolou solto.

Se, como todos sabemos, o Supremo Tribunal Federal comprovadamente contribuiu para o golpe que derrubou a Presidenta Dilma Rousseff, primeiro ao segurar por cinco meses o pedido de afastamento do marginal que estão presidia a Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha) permitindo-o arquitetar e levar à votação o fraudulento processo de impeachment e, posteriormente, ao negar-se a analisar o “mérito” do referido, adstringindo-se a aprovar o seu “rito”, o que esperar então daquela Corte, agora que temos a perspectiva de ter um Alexandre Moraes lá efetivado com o objetivo primeiro e único de barrar qualquer tentativa de enxotar da vida público os corruptos que pululam no Poder Executivo, à frente Michel Temer e sua gangue, de par com uma cambada de ladrões que fez do Legislativo um antro de marginais ???

Fato é que, sob a égide de um usurpador sem moral e sem voto (Michel Temer), temos no “motel flutuante” de Brasília, o retrato emblemático da depravação que vige hoje na capital federal, quando um notório plagiador de obras de terceiros, e que demonstrou despreparo no exercício da nobre função de Ministro da Justiça (que lhe caiu no colo via indicação presidencial), exercita a asquerosa atividade de “beijar a mão” de notórios bandidos, a fim de garantir um polpudo salário vitalício.

Quando se pensa que meses atrás o Brasil se impunha e gozava de respeito ante o mundo em razão de um projeto governamental do qual o povo era partícipe ativo, e que agora vê desmoronar por obra e graça da quadrilha que se instalou no Planalto, só nos resta a admissibilidade que, definitivamente, temos de volta o velho “complexo de vira lata”. Lamentável.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Não existe medicina sem ética!


Hipócrates.jpg
Hipócrates: aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém
Sobre a notícia de que uma 'dotôra' do Sírio-Libanês vazou informações sigilosas do diagnóstico de Dona Marisa Letícia - além de outros médicos terem trocado mensagens de ódio sobre o ocorrido em um grupo de Whatsapp -, o Conversa Afiada compartilha o texto do dr. Régis Eric Maia Barros, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e mestre e doutor pela Faculdade de Medicina da USP:

Sem ética, não há medicina


O que seria a arte médica? Seria uma mera busca pela cura dos males que acometem o homem? Não, a medicina é muito mais do que isso. A medicina e o seu agente – o médico – demandam outras coisas que vão além desse olhar simplório e reducionista.
Para exercer a medicina, são necessários outros valores humanos e éticos. Sem eles, não há médico e, muito menos, medicina. A ética é vinculante para que a medicina aconteça. Nessa lógica, a busca pelo agir certo e a necessidade de ser virtuoso, frente ao outro, é imperativo. Esse outro, que se encontra adoentado, precisa ser respeitado em todas as suas dimensões. Esse outro, que espera do médico proteção, nunca poderá ser atacado na sua essência humana. É função inata do médico e da medicina garantir tudo isso. Ser protetor independente de quem esteja necessitando de proteção. Essa condição vem muito antes do diagnóstico e do tratamento. Se essa função não for alcançada, para o que serviriam os atos de diagnosticar e tratar?
O médico não deve, em hipótese alguma, colocar sua vertente ideológica e política diante de um paciente que padece. Isso é um absurdo! Infelizmente, a sociedade vem alimentando isso. Lembremos da pergunta que “viralizou” nas mídias sociais e na internet: “quem você salvaria primeiro? O policial ou o traficante?
A questão não é essa. Na verdade, nunca foi. Contudo, de forma decepcionante, essa tem sido a toada do momento. Se o médico, ao tratar alguém, usar isso como crivo de conduta e de postura, ele não deveria ser médico. Se essa lógica prevalecesse, estaríamos presos ao bizarro. Imaginem vocês que fossem criadas emergências médicas para atender “comunistas” e “direitistas”. E que cada uma não atendesse aqueles pacientes de outra ideologia que chegassem e necessitassem de acolhimento. Imaginem, ainda, que algum médico de ideologia “X” recebesse um paciente importante da ideologia “Y”. Por ser de ideologia oposta a dele, o médico não acolhe de forma adequada esse paciente e acaba por vazar, publicamente, exames dele além de, por meio das mídias sociais, desdenhar e desejar o pior para ele.
Seria isso a medicina? Não, meus caros leitores, a medicina nunca foi, é e nunca será isso. Na verdade, estamos diante de um “fake” pouco ético e equivocado. O médico e a medicina não enxergam pela lente política e ideológica. Eles, simplesmente, enxergam pelos olhos da bondade, do humanismo e, sobretudo, da ética.
Régis Eric Maia Barros
Médico Psiquiatra
Em tempo: a tal 'dotôra' foi demitida na noite de ontem. Em nota, o Hospital Sírio-Libanês informou “ter uma política rígida relacionada a privacidade de pacientes” e repudiou a quebra do sigilo por profissionais de saúde.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

As "bestas" de jaleco (Luís Costa Pinto – Jornalista)

Outrora uma profissão abraçada por abnegados ascetas, a ponto de ser comparada por muitos a um sacerdócio, a Medicina parece ter se convertido aqui no Brasil a uma seita satânica seguida como profissão de fé por seres grotescos –sem alma, sem cérebro, sem compreensão do mundo, sem dó ou compaixão.
Exagero e tomo a parte pelo todo porque os médicos brasileiros precisam, seja por iniciativas das entidades de classe, seja por eles mesmos atuando individualmente, reagir de forma dura e organizada à ínfima minoria integrada por seres abjetos como a reumatologista Gabriela Munhoz, o cardiologista Ademar Poltronieri Filho, o urologista Michael Hennich e o neurologista Richam Faissal Ellakkis.
Horas depois de Marisa Letícia da Silva dar entrada no Hospital Sírio Libanês, há 10 dias, com um quadro de Acidente Vascular Cerebral grave, Gabriela Munhoz divulgou em grupos de Whatsapp dados do prontuário médico da ex-primeira-dama cuja morte cerebral foi anunciada ontem (2.fev.2017). Não o fez em busca de auxílio. Eram informações sigilosas de uma paciente –fosse quem fosse– e o simples fato de compartilhá-las configura um atentado à ética médica.
O compartilhamento de Munhoz seguiu-se a disseminação dos dados pessoais da mulher do ex-presidente Lula por Poltronieri Filho. A partir dali o urologista Hennich desdenhava da paciente, fazendo piadas com ela. Tudo culminou com a torcida declarada do neurologista Ellakkis para que Dona Marisa, uma mãe carinhosa, avó dedicada, companheira solidária, mulher de rara fibra e militante valorosa de causas sociais e políticas, evoluísse a óbito –para usar o jargão dessas bestas de jaleco.
Esses fdp vão embolizar ainda por cima”, escreveu, em referência ao procedimento de provocar o fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue em determinado local. “Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela”, escreveu Ellakkis, que presta serviços no hospital da Unimed São Roque, no interior de São Paulo, e em outras unidades de saúde da capital paulista, segundo relato de apuração jornalística efetuado por O Globo e divulgado no site do jornal.
Os valores dessa verdadeira quadrilha de médicos que rasgaram seus juramentos aos princípios de Hipócrates e espicaçaram qualquer solidariedade humana podem –e devem– ser comparados aos patéticos protestos contra o desembarque de doutores e doutoras cubanos no âmbito do programa Mais Médicos levado a cabo no primeiro governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Podem e devem, ainda, ser analisados em paralelo com a atitude criminosa de ortopedistas do Distrito Federal que prescreviam cirurgias de colocação de próteses ósseas desnecessárias e introduziam no corpo dos pacientes peças de segunda mão –matando muitos de infecção, restringindo o movimento de outros e assaltando-os abertamente ao superfaturar os procedimentos clínicos e cirúrgicos.
Somam-se os exemplos e os paralelos. Multiplica-se a solidariedade da infâmia, com a corporação protegendo aos seus e deixando a sociedade à mercê da sorte. Abatido pela onda de ódio conservador e primitivo contra os médicos cubanos, o Mais Médicos se liquefez e devolveu à incerteza e à intermitência o atendimento a milhares de brasileiros, sobretudo nas cidades do interior, porque o exercício da Medicina é encarado por essa corja de “doutoras” e “doutores” como Munhoz, Elliakkis et caterva como uma ação entre amigos da mesma classe, do mesmo credo, do mesmo grupo e com o mesmo objetivo.
O vazamento dos dados pessoais da ex-primeira-dama por uma profissional médica do Sírio-Libanês (o hospital já a demitiu) expôs em definitivo uma faceta sórdida da sociedade brasileira. Estamos, talvez definitivamente, divididos pelas opções e opiniões políticas. Isso é raso. Isso é rasteiro. E isso não é vida real. É ódio e, em alguns casos, é também recalque.
Nem a foto da visita do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a Lula, com os ex-presidentes fazendo-se acompanhar dos ex-ministros José Gregori (Justiça, FHC) e Celso Amorim (Relações Exteriores, Lula), nem o gesto largo de Michel Temer e do presidente do Senado Eunício Oliveira, que visitaram o líder petista ontem à noite para prestar solidariedade na hora de dor e de perda, parecem capazes de restaurar a cordialidade como atributo essencial do caráter brasileiro.
A ação dos vermes de jaleco que abusaram da agonia de Marisa Letícia não pode ficar impune no meio médico. Caso fique, toda a corporação corre o risco de começar a ser tratada com o desprezo que bandidos assim merecem. E sentirão a dor da discriminação que se dedica a quem vende a alma a seitas de fanáticos. Médicos como os que se integraram a essa corrente da infâmia nascida no Sírio-Libanês são passíveis do desprezo e merecedores de todos os castigos divinos.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

CASO MARISA: A ÉTICA DA LAVA JATO E DO PCC (Luis Nassif)

Caso Marisa: a ética da Lava Jato e do PCC



Qual a intenção  de Sérgio Moro e dos Procuradores da Lava Jato em denunciar dona Marisa? Do ponto de vista jurídico, nenhuma. Jamais comprovaram que o tríplex era de Lula. Mesmo se fosse, não havia nada que pudesse ser impingido a dona Marisa. Ela não participava de discussões políticas, menos ainda de negócios. Limitava-se a cuidar dos filhos e netos e dar amparo emocional ao marido.
A intenção foi puramente política, de bater, bater, bater em Lula, até que arriasse emocionalmente.
Não existe ética na guerra. E não existe a figura do inimigo no direito. A Lava Jato se tornou uma operação de guerra, caçando o inimigo e o direito se tornou instrumento de vingança.
Não viam a figura da mãe e da avó, mas apenas a mulher do inimigo a ser batido.
Expuseram como prova de crime os pedalinhos que dona Marisa comprou para os netos. Invadiram sua casa, entraram em seu quarto, reviraram até o colchão da cama. Levaram seu marido detido, expuseram incontáveis vezes os filhos no tribunal da mídia.
Esse exercício continuado de crueldade, mais do que estilo jurídico, é marca de caráter.
É possível encontrá-lo em diversos personagens e diversas situações, cada qual subordinando-se aos ritos da classe e às prerrogativas da profissão.
No Judiciário, gera juízes vingadores. No Ministério Público, projetos de torquemadas. Cada qual busca a jugular do inimigo valendo-se das armas que lhe foram conferidas institucionalmente. Não lhes exija momentos de educação, respingos de respeito, gotículas de humanidade.
No PCC, há chefes sanguinários que não se contentam com assassinatos de imagem e mortes civis: eliminam fisicamente os adversários.  Na Polícia Militar os soldados que, com um revólver na mão, se consideram donos do mundo e das vidas. No crime, o poder das chefias depende apenas da meritocracia: não há concursos, nem carreiras pré-definidas, com planos de cargos e salários. E eles correm risco, pois não contam com a blindagem do Estado. São cruéis e são valentes.
Em comum, todos eles, os da lei e os fora-da-lei, têm a crueldade de caráter, o gozo infindável de chutar o adversário de todas as formas, de tratá-los como inimigos, os fora-da-lei matando pessoas, os da lei expondo-as ao direito penal do inimigo, desumanizando-as, transformando donas-de-casa em cúmplices, presentes de avó para netos em provas de crime, violando seu quarto, sua penteadeira, suas lembranças.
Hoje, na Lava Jato, o juiz Moro e cada procurador colocarão uma marca a mais no coldre virtual de onde empunham suas armas legais. Que pelo menos tranquem a porta antes de iniciar a comemoração.

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y sem soma

Quando os indivíduos se tornam piores que corvos

Linchamento e quebra-quebra são coisas que saem da racionalidade humana. Por mais sensatos que pensamos ser, muitas vezes, nos envolvemos em linchamentos sem perceber... depois é tarde para voltar atrás.
Lembro, por exemplo, na Inglaterra, quando muitos adolescentes de classe média iam devolver aparelhos eletrônicos roubados de lojas depredadas devido a um distúrbio. Eles não conseguiam sequer explicar por que haviam feito aquilo.
Em nosso caso, quando a poeira abaixar, talvez daqui alguns anos, fico a pensar quantos "bons cristãos" conseguirão confessar que ajudaram a linchar a esposa do Lula.
Mas sei... Já se foi o tempo em que arrependimento matava.
E por falar em bons cristãos, ofereço aos linchadores de plantão uma pequena citação de um bom entendedor dessas coisas brasileiras.

“Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo. Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o o inquiridor, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado, já está comido. São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido”. Pe Antônio Vieira – Sermão de Santo Antônio aos peixes.