por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 9 de janeiro de 2011

cotidiano


Madruguei.
Ainda sonolenta , com a manhã despertei.
Liguei a TV.
Aula de Matemática : Progressão Aritmética. Fórmula tão amplamente usada. Exemplo prático ?
-Calcular , a partir de quilômetros percorridos, o valor da corrida de taxi.
E o tempo?
Nunca esquecer , que ele onera a conta !
Mudei de canal. Sai à procura de um clássico do cinema. Saudades de Gary Grant !
Geralmente , fujo das palestras religiosas, dos testemunhos que vendem a fé.
De cara, uma mulher de rosto e voz apaziguantes. Falas envolventes, sobre a necessidade humana da beleza. Comecei a concordar com cada palavra, cada expressão ... Um susto feliz !
E fui concordando com o "ordinário" do cotidiano. Com o momento "épico", as vezes silencioso, nas pequenas coisas...
Concordando que a felicidade está na construção dos afetos , na educação da sensibilidade.
Arte. Arte não é luxo. Ela é natural, generosa, pródiga !
Ela é identificada no que transcende. Quem tira do branco a palavra , e a transforma num recado, consegue criar !
Se do concreto, algo se fez vibrante , posso chamar de poesia , a minha emoção.
Ouvi , respirando feliz, aquela simpática senhora ...Linda , dos cabelos de algodão. Foi falando , falando , e se identificando. Era Adélia Prado .
Enfim , nos conhecíamos !
Amamos os mesmos livros, na infância. Convivemos com os mesmos autores , e guardamos os mesmos personagens.
A Emília de Monteiro Lobato ; a Lílian de M.Delly ; a Sofia e seus desastres; a Poliana e o jogo do feliz ...
Hoje reencontrei o prazer de chorar diante da arte. Diante de qualquer palavra, que traduza simplicidade : " o arroz com feijão e molho de batatas" da Adélia Prado !
Clareou !
Posso respirar um dia diferente.
Ser feliz no amor que sinto por mim e pelos outros.
A gente sempre espera da vida uma boa hora...
E a boa nova é que a minha hora chegou !
Estou atenta para vivê-la em cada minuto,
uma lembrança , uma experiência , e um esquecimento.
Abrir e fechar janelas ,dependo do sol ou da chuva .
Não tenho medo de morrer do cotidiano.
Muito pelo contrário...
-Ele me alimenta !

Santos Dumont ´A Rua Formosa


Um voo pelo Crato antigo. Aterrizagem na rua mais " formosa " da cidade. Pelas mangueiras dos Silvestres, pisando nas folhas secas, eu chego.
Casa de Seu Jefferson Albuquerque e Dona Letícia Figueirêdo... Sons de piano... - É Diana , a filha mais velha. Eleonora, Ângela, Júnior, Cristina, Ronald...Cada um com sua sina.Simpaticamente lembrados !
Indústria de massas do Seu Gessi.Pedaço do Crato , bem alimentado.
Bodega de Raimundo Silvestre. Cheiro de fumo, aguardente ,e rapadura.
Família amiga , aparentada... Nazaré e seu doce de manga... um manjar !
Mercado das frutas , carnes e verduras. Valdemir Correia e Sônia ( quando começaram) ,Cantina do Oliveira, Mercearia de Zé Honor e a de Chico Beija-Flor; nosso querido Seu Pierre, Casa dos Parafusos, Farmácia Teodorico, Padaria de Seu Acássio, casa de Joaquim Patrício, Bar Ideal...Com e sem Isabel Virgínia. Zé Cangalha, Seu Pedro Felício e Dona Ailsa, Dona Marilê e Nailê Felício, Dona Zélia e Seu Almir.Dona Madalena ou tia Madalena , como a conhecia: Tia Ivone e tio Joãozinho. Seu Cisino Brito, Dona Evangelina, Dão João . e a cara do MODERNO, no meio do quarteirão , que é o seu limite.
As esperas, nas calçadas.Os cheiros de café e outras especiarias. Naquele pedaço tudo se fazia :política, feira ( gergelim , amendoim , goma, e miúdezas), culinária, educação e pão.
Panos e retalhos finos , nas mãos de duas grandes damas : Ivone Moreira e Evangelina.
Tia Ivone tinha um excelente corte.Fazia dinheiro na máquina de costura para tornar mais confortável e elegante, a vida da família. Tinha sete filhos. : Maryane , Aderbal(levava-nos aos domingos para assistir os programas de auditório , na Rádio Educadora .Com ele ouvíamos o melhor da música estrangeira : Doris Day, Connie France, Yves Montand, Pat Boone... e as brasileiras também , principalmente , Luiz Gonzaga. Estava sempre consertando um rádio ou uma radiola... e haja discos de cera ou vinil). Teresa ( a rainha do Madre Ana Couto); Gracinha- "Aqueles olhos verdes "; Antonio Aragão ( gênio no humor, inteligência e saudável esperteza ) . Ivone Maria , a menina do vestido azul ou branco; Fátima , uma boneca - a caçulinha !
Tia Ivone gostava dos linhos bordados, dos cristais, das porcelanas , dos perfumes da Myrurgia, sabão da Costa, Água Inglesa, cerveja preta, e de tocar violão.
Personalidade forte, altiva, guerreira.Educou bem sua prole. Comemorava todas as datas festivas com muito apuro e brilho.Morreu lúcida e sábia aos 93 anos.
Dona Evangelina era da Alta Costura. Gente da minhas posses com ela não costurava. Mas podíamos nos dar ao luxo de sentir sua tesoura, nos nossos cachos.Mãos leves.Fazia um trabalho delicado e demorado.Conversava, conversava... E seu cachorro do lado- uma criança mimada e bem zelada ! Tempos depois deixou a vida de solteira e casou-se com o primeiro amor que voltara...Amor de contos de fadas ...Não sei quanto tempo durou , nem quero saber. Gosto de acreditar , na eternidade
Mas, a Rua Santos Dumont era mesmo bem festiva. Animada nas épocas de política, S.João, festa de S.Vicente, Natal , procissões, mês de maio... Vivia da alegria . Todos se envolviam nos seus eventos, inclusive , os imigrantes .Uma única e grande família !
Rua formosa.
Quarteirões curtos.
A Rua de Seu Pedro Felício

Memorial - Virtual x Real


Fui criada presa na gaiola. Bem alimentada , bem cuidada , e com direito a mimos de avô, colo de vó, palmadas de mãe, cantorias de primos , bênção dos tios. Do meu pai herdei o prazer de amar todas as artes !
Minha mãe não permitia que eu andasse nas casas dos vizinhos , a não ser para participar das festas de aniversário ou fazer um trabalho escolar. Por ela, eu jamais teria usado um vestido de alça, uma calça comprida, um biquini, um decote cavado, pulado um Carnaval, casado mais de uma vez, pintado as unhas e a boca de vermelho , fumado, feito as sobrancelhas, dançado , pintado o cabelo ...Por ela , eu não perderia missa aos domingos , faria as primeiras sextas-feiras do mês, e rezaria o terço em família...
Fui infratora de todas as normas. Cometi todos esses pequenos pecados, depois que cresci.
Entretanto , mãe é mãe. Só pensa em proteger suas crias. O jeito é soltar , esperar a volta...Com colo e leite morno . Que Deus proteja todos os filhos e permita o paraíso a todas as mães.
Com o tempo aprendi a aquietar-me no meu canto. Gosto da minha casa , do seu silêncio , e da minha companhia.
Tenho até um blog ( completou primeiro aniversário , no dia 22 de janeiro passado -presente do meu amigo Dihelson), aonde posto os meus rabiscos. Quando eles resolvem brincar noutras áreas, até permito ... E, como quem está na chuva tem que se molhar, exponho-me às críticas , construtivas ou não !
Mas, boa romaria faz, quem em sua casa está em paz. Não podemos poluir os ares , além dos nossos limites. Respeito é a palavra chave !
Delicio-me nos passeios virtuais. Adoro encontrar a poesia do Domingos e do Sávio, beber os textos de , Zé do Vale, Zé Flávio , A. Morais, e outros mais. Pelo Cariricult, pelo Blog do Crato, meus passos se elevam, e conseguem voar... Como aquela canção de Salatiel e Pachelly.
Vejo fotografias ilustrativas, artísticas ... Um zoom, que amplia o meu sonhar.
No virtual não percebo diferenças de idade. Aqui , o que deveras conta são as afinidades da alma. Fora da sintonia, ninguém acha graça de nada. Dentro da sintonia , as emoções se misturam , se unificam, na paixão universal.
Afora os blogs , faço percursos nos sites de música ( embora a Rádio Chapada me preencha, e muito !); entro em salas de bate-papo , escrevo e recebo recadinhos no Orkut. Acho que sou uma borboleta vadia, carente de novos assuntos, assustada com o desconhecido, mas ousando ratificar sua imagem real.
O virtual é um laboratório , aonde a nossa essência estagia, e depura-se, através de boas trocas , interagindo energias !
Nada contra. Nem contra o conflito. O caminho é livre. Não precisamos marcá-lo com miolos de
pão , como João e Maria.
Marcamos a nossa presença , na leveza das intenções, expressas num pensamento terno.
Sou mesmo borboleta, margarida ou cigana ?
Quando chove no virtual , eu pinto na tela, um arcoiris !

Templário



"Como um templário deslumbrado, a cruz a santificar a cervilheira altiva, levei o meu balção de cavaleiro aos prélios do mistério, e de lá voltei desolado, porque não se colhem estrelas como se fossem rosas." (Alphonsus de Guimaraens, Obra Completa, pp. 430-431.)


Chegou de um tempo incontemplável

Ficou gelado pra chegar depois
Chegou na hora, em que o vazio aguarda

Chegou agora, como aurora nova.

Usei meus verbos, minhas reticências ...

Todas as aspas, e escondi acrósticos

Não sei se fica , nem sei o que dita
Meu coração não leu sua resposta

Mas eu aposto num querer eclético

Se me fez falta , falta eu também cobro

Nem toda noite , a lua espreita a serra

Nem todo dia , o sol invade a sorte

Seja bem vindo , nos mistérios claros
Seja bem vindo , nos meus versos soltos

Nos meus repentes , faltam as suas loas ...

Nos seus repentes , faltam os meus açoites.

O amor em todos os tempos


(Atesto para todos os fins, que não sou agnóstica como pensei , durante tantos anos ...
Creio no amor humano e no amor divino, com caráter de infinitude e imortalidade .)
Creio no amor , em todos os seus estágios. Até no amor promíscuo, (professo a minha fé) , sujeito evolutivo , cuja qualidade , transforma-se ao longo das eras , no amor deveras... Universal !
Em 1967 , eu tinha 16 anos , e cursava o segundo ano científico , no Colégio Estadual Wilson Gonçalves. Vieirinha era o nosso professor de Português. Nas aulas de sábado, abria espaço para os "Grêmios Literários ". O despontar do poder de comunicação , através das artes.
Naquela primeira semana, ainda novata, fui escalada por ele, para falar sobre o amor.
Apavorei-me ! Passei a semana toda queimando as pestanas sobre o assunto. Não conseguia achar a forma , nem a expressão correta. Como falar de uma coisa que estava na minha filogenia , mas me era inexplicável , e estranho ?
Abri enciclopédias , e achei textos, com personagens míticos.
Arrisquei ! Colei , no trabalho , a história de Cupido e Psiquê. A explicação sobre o amor Eros , Filos e Ágape...
- Foi inglório... Hoje eu sei ! Nem dez , nem zero ...
Eu precisava viver !
Felizes aqueles que perceberam o amor , nos seus primeiros anos ,com projeções no túnel do tempo.
Eu entrei no túnel da vida, atrevida (mente ), procurando o amor , no escuro do meu tempo.
No fim do túnel ... "Eureka" ! O amor me acompanhara pela vida afora, esteve dentro de mim , naquele tempo , e sempre ! A viagem até achá-lo , apenas desenvolveu a minha capacidade de amar a mim mesma. Por isso acho que o zero mandamento é o amor próprio ! Amar a si mesmo é a forma mais complexa de vivenciar o verbo amar.
Dar, compartilhar !
Merecer, receber !
Amor alegria ...
Amor (com) paixão !
Ontem assisti o filme " O amor nos tempos do cólera "- adaptação do romance de Gabriel Garcia Marquez.
A crítica foi impiedosa :
"Gabriel escreveu com as entranhas, e o filme é apenas um mingauzinho da história ".
O certo é que reli o livro , e vou rever o filme. Os dois me impressionaram muito !
Em 1987, mudei-me do Cariri para Bela-Vista (MS). Recebi pelos Correios , Gabriel G.Marquez, como presente. Na recomedação do remetente - "Foi o melhor romance que eu já li."
Devorei página por página , gulosamente, até o fim.
Vinte e dois anos se passaram. O filme rasgou a cortina do entendimento. Aquele presente , encerrava um recado , que a cegueira das emoções havia bloqueado.
Amor que espera não se divide , mas vive dividido , sem deixar de ser virgem, até o reencontro. Amor inteiro é aquele que buscamos a vida inteira. Os românticos apostam na sua eternidade ; os práticos e apaixonados , sentem como Vinícius , e dizem :" que seja infinito , enquanto dure !
E os amores platônicos ?
E os amores carnais ?
E os amores " ilegais " ?
- Melhor nem tê-los. Mas, como detê-los ?
Matá-los, não vivê-los... é crime inafiançável !
Creio no amor que um dia achei, e de mim se desencontrou pela vida ou pela morte;
Creio no amor dos pares encontrados. Privilegiados , pelos encontros em vida.Tiveram sorte e sabedoria nas escolhas. Amores em construção e transformações. Amores que só acabam , quando a morte os separam !
O amor noutro plano, continua amando . Nos visita quando dele nos lembramos. Chega em forma de borboleta, passarinho , vento, chuva, flor...
O amor que não nos abandona ," mesmo em face do maior encanto" , que resiste ao cotidiano , merece o pódio , ainda nesse plano.
Sejam felizes os que teem a sorte de vivê-lo;
Sejam felizes os que ainda esperam um encontro;
Sejam felizes os que amam , incondicionalmete ;
Sejam felizes os sozinhos... Os que amam à distância , sem cobranças , sem a posse , mas que transpiram amor , por todos os poros.
Sejam felizes todos , no ponto do amor em se encontram !
- Entre todos os sentimentos luminosos , o amor é um so(l) !

Cega, no invisível



"Quem pensa muito não casa ". Quem pensa muito vive cansado. Quem vive o dia, no caminho do sol, tem a esperteza dos mascotes.
Dias chuvosos , nos convidam a permanecer na cama. O apetite é voraz, olhamos menos para o espelho, nos desapaixonamos .
Hoje estou assim ... Desativada da minha energia natural. Caminho pesadamente , entre o térreo e o primeiro andar... Parece que tenho tamancos nos pés. O céu tem cheiro de lavanda ; minha roupa tem cheiro de lama , e perfume do passado.
Escrever , ainda é uma boa saída. Até porque , oferece passagem de ida e de volta , num vai e vem sem limites.
Visito um recanto , que apenas imagino. Busco o concreto imaginável , já que estou diante da cegueira , no invisível ...
Subo no elevador. É o apartamento de um pintor. Respiro terebentina e tintas frescas . Imagino afrescos , e telas espalhadas pelos cantos. O dono está ausente. Viajou com um baú de desenganos , esculpindo pedras no caminho. Rasgando a matéria , como se ela fosse molambo. Deixando nela , o produto do seu pranto.
Faço a vistoria , tateando a intuição. Um sofá confortável , mas cheio de marcas; sala íntima com cheiro de " vetiver ";um relógio de pulso atrasado ; canetas e papéis , numa escrivaninha de cedro... Escritos em negrito.Uns esquecidos , e outros amassados.
Falei com seu short , largado na cadeira do quarto. Ele olhou para mim meio intimidado,(Desconfiou que eu não era uma ladra comum... De nada dali , me apossara , a não ser com o olhar , e o resto dos sentidos) e disse-me : ele sempre me deixa assim , quando se cansa de mim.
Meu dono viajou . Ele sempre volta com um sorriso enfadado , e um brilho novo no olhar.
Sai do cenário. Não olhei em volta , nem fui até a janela , descobrir em qual cidade estive. Desprezei a personalidade física de um lugar... De um lugar , provavelmente conhecido.

Quarta-feira de cinzas. Um sopro forte , e tudo fica limpo !



Bateram na porta. Alguém pedindo o jejum... Como em todos os tempos, alguém precisa de um mínimo, sempre!
Quando eu era criança maxixe, feijão verde, milho, quiabo, pequi, macaxeira, jerimum, macaúba, banana, manga, seriguela, cajá, umbu, etc.. Não se vendia , se ofertava!
E a gente retribuía com um pedaço de bacalhau, uma caneca de arroz ou coisas desse tipo (que se comprava nas mercearias).
Hoje acordei com os pecados do mundo - Todos meus !
Em tempos passados , as minhas fantasias amanheciam molhadas. Minhas roupas estão no varal. O que mudou foi a fonte das águas !
Desci pra fazer o almoço e senti vontade de comer apenas frutas. Faço o jejum das palavras, embalo o meu silêncio, e nele me aquieto. O perdão já fez a sua parte. Tudo certo!
E a vida continua no caminho de um fim incerto. Viver de acordo com uma cartilha, só se for a Bíblia!
É bom ficar em casa por uns tempos. As trocas assim mesmo acontecem, e os conflitos também!Hora de recolhimento é sagrada. Poupar energias pra gastá-las com mais versos, na cumplicidade das horas, e na companhia dos afins.
Estou ansiosa pelo resultado do desfile das Escolas cariocas. Tenho uma grande simpatia pela Mangueira, Salgueiro, Portela... Vi na madrugada, os desfiles.
Fico com a paz e alegria do Universo!



Cidade cortada de pontes...Rios emendando sonhos




Os dias da Infância são corridos, e as noites custam um sono profundo. Os tempos nos transformam numa incandescente festa... De repente, nascem seios, nascem pelos, e já ficamos a contar estrelas... A vê-las, significativamente.
Depois é a lua, onde nos miramos... É no sol que nos achamos... Achamos cor, energia, e até o amor. Fogo solar... Queima, mas não esconde o poder da musa... Queima, queixa, e deixa. Acho que o tempo inesquecível tem que ser dito... Sim!
Semana passada estive no Recife. Pensei chegar, e ficar... Foi mais curto do que desejei... Mas valeu!
Deixei um pedaço de mim naquele lugar. Nunca voltei pra buscar... Era um pedaço bonito... E o Recife bem que o merecia; era um pedaço tristonho... Entreguei-o às águas dos rios... Transmutaram-se... Ficou um sonho... Um tempo que nem chega a ser passado... Ficou um conto!Nem de fadas, nem de Esopo, nem de Machado, nem de Clarice... Ficou um conto Mariana... Que fala de amigos!

Recife (PE), 1975.


Rodoviária, no Bairro S.José.

Salta uma mulher de uns 23 anos. De malas e cuias, e 3 filhos nas mãos. Perece mais, cena de novela mexicana. Vontade de viver, e um emprego debaixo do braço... Será fácil?

"Viver não é fácil não... Pergunte ao meu coração...”

Encontrou conhecidos, e por tabela, outros conhecidos achou... Combinou um encontro... Naquela tarde, e naquela noite... Ainda!
Driver do Derby... (Um brinde ao momento: gim-tônica, calandre, alerte limão, halls, “Only Yesterday” -The Carpenters ... Sons, cheiros... Tudo mágico... Refrescante e encantante... Noite com olhares, sorrisos reticentes, beijos... Quase soltos ,quase loucos, quase dados de mãos beijadas. Era um início... E um fim) !
Vida de turista... Uma semana, uns meses, uns anos... E depois de todos os anos, lembranças doces, amenas.
Talude, Beer House, sorvete no Free Sabor ou Z’ecas , Casa D’Itália, Suape, Maria Farinha, Zoológico, Agulha frita no Samburá de Olinda... Comida Chinesa em B. Viagem... Água de coco, na Piedade.
Vejo o Paço da Alfândega, a Rua da Aurora, onde existia o Buraco de Otília... Vejo a Real da Torre, onde dormi maquiada , de salto alto ,meias de seda, esperando a buzina de um carro..
Sexta era dia de matar a saudade; sábado , programa gustativo...domingo era dia de mar...E mar era o seu olhar.Mar caribenho ... Azul-piscina!Barba perfumada, e inconfundivelmente, bem tratada. Tinha charme, dizia as coisas no tom mais baixo, e sensual... Momentos de contenção do desejo; momentos de explosão do encanto... Momentos de pura e clara amizade... Momentos de desencontros, e desvios do interesse.
Com aquela criatura aprendi novas perguntas, e novas respostas... Aprendi a passar tempo, nas minhas Recreativas. Éramos amigos!
Passaram-se 30 anos.
Você é a minha saudade feliz!
Recife...
Acho o amor em cada rio.
Acho o rio, em seu mar ...
Acho o Fantástico , que me doía...
Acho a toca, onde a gente se encontra...
Uma toca oca...
Bombeada por um sentimento único...
Que o tempo respeita...
Não gasta, nem subtrai..
É sempre novo!

P.S.Vamos nos reencontrar , sexta-feira da Paixão ?

Entre tintos e tintas ... Um brinde !



Depois das luzes de néon , derretidas no rio,
eu ri das minhas grandes tolices.
Um pedaço do meu filme ,
em lâminas se aprontam ,
num prato de porcelana.
Parecem fotos , mas teem sentido de vida.
Teem um cheiro, teem o soma...
Teem uma data , uma base
teem um gosto de passado
Tomate, no calor do abraço
E esse presente que eu não entendo ,
e fico querendo alcançar ,
no canto de um esquecimento ?


Vem.
Se brincar sério
Fica possível
Vem !
Aceito o desafio .


É gente de Paris ?
Vamos brindar com drambuie...
Vamos nos lombrar , nos tintos e carmins
Vamos aqui ... Vamos ali.
Vamos fugir de um dia,
e sair poetando ,
como criança ou gente grande,
nos quintais dos nossos sonhos.

Para você , que tem o fel destilado, e o doce na medida certa

pra você !

Blue Velvet

Repouso na areia - tela de Edilma Rocha



Minha ansiedade rasgou a perfeita embalagem, num átimo !
Toquei, apalpei para confirmar se era de verdade. Parecia um sonho, e eu sentia o milagre acontecendo , na minha cara. O processo da metamorfose , configurado !
Lagarta transformada em borboleta com suas tenras asas...
Uma mulher entre veús, serenado espírito, brincando com seus delírios: lua, estrelas, pássaros, flores, borboleteando com as palavras, num vínculo onírico.
Olhos cerrados e coração pulsando em paz, entretido com lembranças pueris, e brinquedos infantis.
Iemanjá, rainha do mar
Princesa das águas claras, e Deus Oxalá !
E o mistério nunca esclarecido, fica pendurado, na parede do meu quarto... Dias após dia, será cultuado, como uma oração em paisagem, conecção abreviada, essência natural de poemas que irão brotar, em cada noite, na música divina de um amanhã singular.
Estás lá.
Estou lá.
Estamos todos, na viagem sideral, embarcados pelos anjos.
Terrestres são eles.. .Celestes , no azulsonhado, um dia seremos !

Obrigada , Edilma !
Abraço comovido

Socorro Moreira

Seja bemvindo !



meu amor te esperava
enquanto isso, grande aprendizagem
Existe o tempo de perder
e o tempo de ganhar...

porque nunca fomos
um dia seremos
e não vai custar

grãos em grãos
moedas do carinho
tudo teu
ternura depurada
tudo teu
a paz plenificada

tira-me 
dessa espera feliz
vamos brincar no mundo 
que  não sonhamos

sem planos 
nos reencontramos !

Luz acesa


Corre corre louco
desvencilhado ficas
no ficar à toa
comporemos versos
novos alicerces
e um viver nativo
pés descalços vejo
no telúrio firmam
alongo o meu carinho
flagro teu sorriso
minha boca cala
prova a tua paz

Aurora em ti



dormi, acordei, dormi
corpo relaxado
tristezas quietas
angústias dissolvidas
numa garapa de açúcar

repasso passos
apago  o meu cansaço
seguro amigos
que no peito vivem
olhar atento pros que eu não duvido

tudo é cíclico
até quebrar  a haste
uma espiral começa  a se formar
puxando a linha
tenho o teu desvelo
a fila anda 
 este céu nos chama

quero estar  pronta para um dia claro
dormir  ligada no teu corpo quente
ouvir suspiros
roncos e delírios
viver a prosa do que foi contido

e nas manhãs quando o sol raiar
quero o sorriso de comemorar
todas auroras que esperei no ar



Socorro !

Pois é amigos, a Arte abre frestas na nossa percepção e nos possibilita ver o mundo em outras arestas, ângulos e dimensões. Na culinária não é diferente, há que se ter mãos de bruxo e sutilezas de equilibrista e mágico para conseguir aguçar a nossa memória gustativa. O Restaurante de Socorro Moreira , disparadamente, serve a melhor culinária no Cariri.Fica ali na Travessa da Penha, defronte à Solibral, vizinho à antiga gravadora do nosso Cleivan Paiva. Não bastasse suas artes de Gourmet, nossa anfitriã soma a isto tudo sua simpatia, seu carinho e bom gosto. Tudo está em seu devido lugar: a música, a decoração, o papo, a clientela e os quadros na parede do nosso inesquecível Normando. O Restaurante é Cult, escondidinho: como uma mocinha de respeito não se abre para todos nem para qualquer cantada. Tornou-se quase que um Clube.Aqui para nós do Cariricult, não existe local mais agradável em toda região para um Slow-Food. Confiram e, se gostarem, bico calado! Que Arte é artigo de luxo para ser degustado por poucos.Socorro !
.
Postado por jflavio às 12:13 5  no Cariricult
sábado, 28 de julho de 2007


poemas azul sonhados

Amor marginal
Se descoberto sob mantas
nas esquinas,nos muros pichados...
Deixe a declaração...
Não assine!
A máxima do amor é quando ele perde a cara
Mistura-se na luz,
e enche o coração do mundo!
Elos físicos
são frágeis laços de fita
Elos espirituais
são fios invisíveis...
conjugam no infinito!
No silêncio das manhãs
vou fiando, o terço do meio dia
e quando o céu se avermelha,
meu coração se inflama,
e acende uma poesia!
Tonta e branca,
a lua descobre a pauta,
e compôe a melodia!
Belo, alto,rico de encanto
Leve, baixo,preso de lamento
Voz de auroras que se repetem
luas lastimosas que reclamam canto
como gotas de orvalho,
aspergindo a terra...
fêmeas colcheias atiradas pelo ar
repousam, renascem...
Filhas da natureza!

Vagares Vadios


Farto o teu vazio
Basto-me na rosa,
colhida no jardim.

Se não chegares,
a rosa vai namorar seu jasmim
devolvo as lágrimas ao mar
fico com o olhar em botão
discretamente nascido,num pé de saudade!

Existem idas sem voltas
momentos saem da órbita
desistem do seu destino...

Existem voltas sem malas
um amor extraviado
que brinca do outro lado
Existe o ausente
que não cabe no presente...

O riso palhaço,
o olhar desconfiado,
a palavra maldita...
Que sufoca cruelmente,
o respirar de uma flor!


Entre pela porta,
pela meia voz...
Entre na hora,
no antes ou no depois...
Entre você e o tempo
é sempre você quem ganha!

Dono da porta e da chave
dono também das janelas,
paredes, barraco de papel...

Noite fria, negra magia
Nela fiz minha pauta
Nela escondi a poesia
Dela fiz meu pentagrama com claves de lua,
preenchido de estrelas
breves e semifusas
pulsares de luz!

Noturna teimosia
Gosto do teu manto
Fujo do olhar do dia!


De véus, fios e teias...

Tudo nos separa...
Mas uma ponte invisível
sempre unirá
a tua e a minha saudade!

Cheguei no umbral do destino
porta estreita,
sem caminho encaro a viagem,
sem os veús,
que me atrapalham!

Sigo...
sem perder de vistas o rumo do infinito!
Tenho encontro com Osiris
numa tarde de abril!

Estamos sempre mergulhados
na essência que recheia
o que a vida fatia!

Você vive protegido...
Que tecido é esse?
Quero um fio para entrar na tua teia!

Claro-escuro



Encontros
nos claros e escuros do tempo
Encontros
nas extensões mentais
nas diagramações da alma

Acontece
sempre de repente
o fluxo (contínuo) de imagens,
na corrente da mente
Acontece
no sonho , na esquina ,
num ponto de chegada ou de partida
Música , cheiro , fotografia
a consciência da ausência
das afinidades,
Reencontros ...
Até com o desconhecido
gestual e linguagem
que a alma identifica.

Um momento novo
sentimento antigo
ansiedade, vetor temporal
emoção crescente
fogo que abrasa
luz incandescente
nascendo e morrendo
Sol, lua
Noite e dia !

Flor em sufoco



Inspiro verde
expiro amor
ando no branco com alma leve
dispo a rosa do mistério
pinto a vida de amarelo


Por que te espero?
Amor em pentagrama
cada nota uma cor
cada cor uma emoção...

Em lá te avistava
em dó te perdia
em ré tu voltavas
em fa(da) me encantavas!

Flor de lótus
lápis-lazúli
perfume de jasmim
pássaro do sol
água cristalina
ocupem o meu jardim!

Sobra um canto na mesa
um lugarzinho na rede
um sonho, e uma valsa

Falta livro aberto
voz contando casos
olhar atônito
enxergando o poema,
e criando a canção!

Pego o coração e arranco do peito?
Encontro meu eixo...
deleto o cheiro,
Escureço o sol que me iluminou?

Dono do coração
saiu devagar
como se fosse divina a despedida em silêncio

Coração puro, coração menino
Só quem se torna teu dono
Pode entender teu destino!

Saudades do teu alô...



Tua competência
me faz  acreditar
que o amor é vivo
e precisa ficar perto

Um dia sem te ver
folhinhas voando do calendário
por todas as  janelas
Voz querida,
acenda  a minha tela !

Atitude




e o domingo chegou 
como primeiro dia da semana
você de lá
eu de cá
ajustando a vida
querendo mudanças
mudando  o olhar.

procuro uma casa
que tenha quintal
varanda não pode faltar
rede é fundamental

preciso de trilhas pra caminhar
estender camisas no varal
acender o fogo
fazer  arroz integral
encantar de flores 
o  jarro da mesa
acender velas, incensos
deixar rolar uma música ,
e cantarolar...

colher teu abraço
entrar nos teus olhos
e neles ficar
Só para o seu coração
Sérgio Sampaio
Composição: Sérgio Sampaio

Mais do que cantar pra o mundo inteiro
Eu quero cantar primeiro
Só para o seu coração
Mais do que este palco iluminado
Eu quero esse delicado
Contato da sua mão

É você que me fica fazendo
Os mais doces carinhos
Roçando esses dedos macios
Assim nos meus lábios
Fazendo com que eu fique quente
Depois de tão frio

Ah, como eu desejo esses seus
Movimentos tão sábios
Emoção é o lado mais doce de nossa energia
E em mim é você que alimenta esta forma de luz
Você é a mulher que me faz infinito na vida
Estrela que me orienta, ilumina e seduz

Mais do que cantar pra o mundo inteiro
Eu quero cantar primeiro
Só para o seu coração
Mais do que este palco iluminado
Eu quero esse delicado
Contato da sua mão


CABRAS PASTANDO
(Letra e música: Sérgio Sampaio)

Eu tenho
um dom de causar consequências
um ar de criar evidências
um sapato novo no lixo
vem cá,
vem me lembrar
que eu venho
de um bando de cabras pastando
de um ninho de cobras me olhando
de herói, de poeta e bandido
Eu vejo
um simples carneiro no pasto
cachorros latindo pra lua
e eu distraído e sem medo
indo pra rua
em tempo
de ver os cordeiros
que amam fechados nos quartos
e pagam pecados a Deus.