por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

MARINGÁ

E por estes dias. Andei lendo sobre a dinastia política da família Barros de Maringá. Sucessão há três gerações dos poderes públicos que emanam do povo e em nome dele deveria ser exercido.

E lembrei-me de Maria do Ingá, aquela retirante das perdidas vidas dos sertões nordestinos. Aquela retirante que mais dava o que falar e em levas pelos caminhos distantes, na solidão de todas as perdas, o esmagamento do peso do destino dos desamparados, sem solidariedade, desprezados como um bago de laranja chupado na beira da estrada.

Como aqueles ombros caídos, a cabeça baixa, o rosto carregado do amargo adeus entrando em ônibus empoeirados, com o assento impregnado de antigos suores. E pelos solavancos da estrada seguiam dias sem fim, pouco para comer, horas na piçarra da estrada deserta enquanto a mecânica da condução se consertava.

Longas estiradas pelos lugares postados na paisagem imensa e deserta. Assim como a navegação sem fim doutras vagas de gente em busca da sobrevivência, no contra fluxo do Amazonas, tomando afluentes do Juruá e debulhados nas margens desertas e vizinhas das seringueiras.

Maria do Ingá, como todos aqueles que subiram nos ônibus da Varzealegrense em destino das terras roxas do Paraná. Derrubar as florestas. Plantar café. Tornarem-se adereços nos criadouros de dinastias.

Esta sequência de pai para filho, sem consciência alguma dos braços suados, respirando o ar como se a vida fosse uma dádiva divina. Como se tudo já estivesse escrito e tudo que lhes sucede é mero merecimento da ordem maior.

Do retrato severo do patriarca até a caçula da dinastia, há uma arrogância sobre o destino dos demais. Uma arrogância que nunca ensinou ninguém a pescar. Ao contrário sonegou-lhes o peixe da fé e da existência, deu-lhe uma única vara de açoite, plantar e colher café.

E Maringá, esta terra de dinastias, sabe que tudo veio de uma canção de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano. Maria do Ingá se encontra em teu nome enquanto postas vitupérios contra os que lá ficaram. Os que continuam no Nordeste.


Continuam sabendo daqueles apartamentos luxuosos da Aldeota que batem panelas contra o prato de comida dos pobres. Que, de tão culpados, possuem um exército de pistoleiros a proteger os filhos dos assaltantes que infestam toda a cidade.  


Uma reflexão chata de saudade- socorro moreira

A cidade do Crato não contém o Crato antigo, salvo em poucos aspectos físicos: a  casa das Arraes, a Escola Técnica de Comércio, a cor da igreja, que era de S.Vicente, o prédio que foi o Bco Cacheiral, a Igreja da Sé, o Palácio do Bispo, o Colégio Sta Tereza, a quadra Bi-centenária, o prédio da Rádio Educadora, o Crato Tênis Clube...Alguns escombros, e pronto? Nem tanto...
Eu respiro  uma cidade do passado.Não é tão somente  saudosismo,mas a falta que ela me faz.Ela e as pessoas que partiram ou morreram, que um dia a personalizaram ,e se eternizaram, na minha visão sempre verde.
Nas festas de dezembro estes sentimentos são mais fortes.Busco a noite feliz, nas luzes natalinas, e o encantamento humano, em cada sorriso que encontro.A felicidade não escapou no tempo...A felicidade  escapou pra dentro da gente.De boba, ainda a seguro, e dela nunca me canso.
A realidade é que  estamos na terceira idade, com vontade de adotar mágicas, que nos mantenham vitais,em todos os sentidos.
Falta em mim um pouco de tudo.Sobra em mim uma memória de elefante que as vezes  chora, e lembra  do hilariante ou poético, dos riscos que se tornaram dramas, e dos dramas que se tornaram risos. 
De cabelos brancos, sem terço entre os dedos, poderia até acompanhar uma procissão de velas acesas, mas as pernas  me trairiam...Ou não?
Tenho um amigo próximo, justo da minha geração.Imaginei-me vendo e mostrando-lhe um Crato novo com muita admiração.Mas não.Nossos olhos entristecidos, corações minados, se intimidam, se recolhem, e esperam, só com colírio, limpar a vista ,  enxergar o tudo mudado, sem a dor  do passado, e receber do presente  boas manifestações.
Juro que não queria voltar, em 2000.Voltei perambulando pelas ruas, buscando resíduos , que o tempo apagou.E fui me acostumando a viver  estoicamente, contando com o amor.
De repente, queria que todos voltassem, pelo menos, numa simples informação.
Aí criaram esse tal FB, que vem cumprindo a missão.
Faltam 7 dias pra noite de Natal.Vamos catar alegrias.Elas estão escondidas dentro da gente.Que encontremos na paz, tudo que julgamos perdido, e ainda vive! 
Eles se foram, mas a gente continua aqui.