por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Alguém conhece esta canção?


Rubí Grená

Composição : Nonato Luiz & Sérgio Natureza

Deve ser diamante o teu coração
Lapidar-te é o trabalho de um artesão
Arte oficio profana religião
Todo ardor no labor da canção
O poeta descreve a iluminação
Os teus olhos brilhando na escuridão
São faróis oue orientam a embarcação
Teu luar ilumina a canção
Garimpando nos rios da solidão
O destino me fez te encontrar minha alga-marinha
Meu céu no fundo do teu olhar
Sai um raio, uma aurora, um clarão
As guitarras lapidam nossa emoção
Dedos ferem as cordas com som
Na oficina da vida
O amor é como um rubi grená
Precioso e mais puro não há

Chamada pública para publicação de cordel do COLETIVO CAMARADAS


Car@s camaradas,

Estamos abrindo inscrições para publicação de 1000 cordéis sobre o Coletivo Camaradas. De acordo com os seguintes critérios:

a) O cordel selecionado para publicação terá como foco: 1. Abordar a história do Coletivo, 2. Apresentar a perspectiva estética e artística do grupo e, 3. Ter um linguajar acessível e didático;

b) Os interessados em escrever o cordel farão isso de forma voluntária e não receberão nenhum valor financeiro em troca;

c) O autor que tiver seu trabalho selecionado automaticamente estará autorizando a divulgação do cordel pelos diversos meios: virtuais e impressos;

d) Havendo mais de uma proposta será selecionado apenas uma e posteriormente será viabilizada uma forma de publicação para as outras;

e) O Coletivo será responsável por definir quais as propostas que se encaixam dentro do interesse de publicação.

f) As propostas devem ser encaminhadas até o dia 31 de maio de 2011, para o email: alexandrelucas65@hotmail.com

Crato, 19 de maio de 2011.

Alexandre Lucas - Coordenador do Coletivo Camaradas







não olvide
Ovídio
veneno pequeno
é antiofídico


(Nicodemos) 

Por João Nicodemos



Grande Pachelly!

Poema azul /prata da casa/Pachelly é arte!
Essa foto de Pachelly é pra instigar Zé do Vale a vir comer tapioca no Crato





Socorro já nasci instigado. Marcado por este voltar. Tanto de ir ao Crato como de viajar na arte. O Pachelly é um grande artista para resumir a conversa. Peque a primeira foto e leia a paisagem que se encontra nela: um peixe pescado, uma praia e a edificação além das pessoas. Esta paisagem já foi infinitamente fotografada até por câmara de celulares. Mas não estas pernas do pescador, simétricas, assentadas no chão como parte firme dele. Um símbolo do domínio do verdadeiro ser humano sobre a paisagem que virou um mero fetiche pequeno burguês de consumo. As pernas do pescador são a esperança do real, do sólido sobre a história, além, é claro, de produzir alimentos. O Pachelly é um doce da vida e paz, mas de vez em quando pesca a realidade com a força revolucionária de um militante da verdade. 


José do Vale Feitosa




SIDERAL - por Stela Siebra

LUA – A NUTRIZ DAS EMOÇÕES


Como atender nossas necessidades emocionais? Como conviver com as flutuações de humor e os sentimentos de mágoa, frustração e ressentimento? Como entender o porquê de certos hábitos que temos?


Para trabalhar suas necessidades emocionais é preciso conhecer o signo ocupado pela lua no dia em que você nasceu. Você já deve ter se deparado muitas vezes com sentimentos de insatisfação, por se achar “vivendo em um mundo” que não alimenta seus anseios pessoais.
Quando há uma desconsideração pelas necessidades lunares, você pode perceber-se inseguro, distante dos seus sentimentos, separado da sua criança interior, incapaz de contatar com sua sensibilidade e sutileza.
Astrologicamente, a Lua descreve o modelo emocional da nossa alma, descreve como é nossa sensibilidade e receptividade e, também, como nos relacionamos com o feminino interior e exterior.
A busca de proteção, de intimidade, de aconchego, de segurança, o nosso modelo de família e a intensidade de ligação com o nosso passado pessoal são funções da Lua. É ela que mostra a nossa reação instintiva e irracional. Se estamos bem sintonizados com nossos sentimentos ou, se ao contrário, desenvolvemos uma instabilidade emocional, é a Lua quem indica, como também indica nossos hábitos pessoais, inclusive os hábitos alimentares.
É interessante que conheçamos a posição da Lua no dia do nosso nascimento para que possamos desenvolver as qualidades expressas pelo signo lunar. Porém, mais interessante é ter o mapa astrológico interpretado por um astrólogo, para que você tenha uma visão inteira da sua vida. Saber só a Lua, o Sol ou o Ascendente, não é suficiente para a compreensão total da nossa alma e para a realização dos propósitos que nos são colocados como missão de vida, para atingirmos o que nossa alma busca e precisa tão urgentemente realizar.
Se quando você nasceu a Lua estava em Áries você precisa de emoções fortes e de aventuras, você tem necessidade de muito movimento e, logicamente, a rotina é um tédio para você. Mas, se a Lua está no signo de Virgem, sua necessidade é de uma rotina diária bem organizada, de cuidar do corpo, de ter contato com a natureza.
Não devemos desconhecer nossa essência lunar e, ao conhecê–la, não podemos negligenciar o atendimento de suas prementes necessidades.
A negação da essência lunar pode acarretar doenças, tanto a nível físico quanto emocional. A pessoa que não nutre sua alma lunar pode, por exemplo, desenvolver quadro de depressão, de distúrbios de estômago ou do sistema reprodutivo, pode tornar-se uma gulosa compulsiva e ansiosa. Quando a pessoa está insatisfeita emocionalmente, dissociada do alimento essencial e instintivo da sua natureza interior, vai buscar fora um preenchimento inadequado para suprir sua necessidade. Daí se originam relacionamentos de dependência, neuroses, mágoas, ressentimentos. A tendência é ir buscar nos outros a compensação pelas necessidades não atendidas internamente, projetando uma imagem vista sob um foco e desejo das outras pessoas. E aí a coisa se complica, porque só a pessoa mesma pode reencontrar e curar sua criança interior, alimentando-a adequadamente. Há uma citação de C.Jung que traduz esse estado da alma: “O que quer que alguém tenha dentro de si mesmo, mas não vive, cresce contra si próprio... aquele que negligencia os instintos será emboscado por eles”.
Se você não ativa e desenvolve a sua expressão lunar, haverá uma distorção de funções: a espontaneidade e a criatividade desaparecerão e o lado sombrio e frustrado prevalecerá, complicando sua vida ainda mais, já que, mal atendido emocionalmente, sua tendência é cometer erro por cima de erro, agindo de modo infantil, inseguro ou sob extremo descontrole emocional.
Conscientize-se das suas emoções, instintos e necessidades, aprendendo a lidar com seus sentimentos e a expressar sua natureza emocional.
Alimente a criança interior que habita no seu santuário interno, dê-lhe a intimidade que ela precisa, abrace sua sensibilidade e aprenda com ela a poesia da vida. Aprenda também, e agora, com o poema de Cecília Meireles a ver a sua lua, e saber que ela está lá detrás das nuvens emocionais, esperando o alimento certo para que possa surgir com todo seu encanto, feminilidade, sensibilidade e esplendor. Gloriosa, como bem afirma Cecília no seu poema, que transcrevemos a seguir.


VIMOS A LUA


Vimos a LUA nascer, na tarde clara.


Orvalhavam diamantes, as tranças aéreas das ondas
e as janelas abriam-se para florestas cheias de cigarras.


Vimos também a nuvem nascer no fim do oeste.
Ninguém lhe dava importância.
Parece uma pessoa solta - diziam.
Uma flor desfolhada.


Vimos a lua nascer, na tarde clara.
Subia com seu diadema transparente,
vagarosa, suportando tanta glória.


Mas a nuvem pequena corria veloz pelo céu.
Reuniu exércitos de lã parda,
levantou por todos os lados o alvoroto da sombra.


Quando quisemos outra vez luar,
ouvimos a chuva precipitar-se nas vidraças,
e a floresta debater-se com o vento.


Por detrás das nuvens, porém,
sabíamos que durava, gloriosa e intacta, a Lua.

Amor, além da Eternidade - Rosa Guerrera







Elizabeth Barret nascida em Durham, autora de obras poéticas de grande sensibilidade na literatura inglesa, (provavelmente decorrente de sua frágil saúde e temperamento arredio),. viveu sua infância numa casa de campo, em Worcestershire quando aos 15 anos contraiu grave doença da qual nunca se recuperou por completo. Mudou-se para Londres (1836), onde publicou seu primeiro volume de poesias, The Seraphim and Other Poems (1838), porém sua consagração como poeta veio definitivamente com a segunda coletânea de poesias, Poems (1844). Casou em 1846 com o também o poeta Robert Browning, apesar da oposição da família... proibição motivada por ser ..Robert ao contrário da vida isolada de Elizabeth, um rapaz que de vasta cultura participava então do mundo distinto da época. Amante também da poesia , Robert após ler as obras de Elizabeth começou a amá-la , escrevendo-lhe cartas e fazendo versos , mesmo sem conhece-la pessoalmente.Seduzido pelos escritos da jovem , enamorou-se perdidamente por Elizabeth , que através de versos correspondia aquele inexplicável amor.Um dia , finalmente se encontraram e entenderam a beleza do amor que os enlaçava .Fugiram e se casaram na Itália sem que nunca abandonassem o elo que um dia os apresentou :a poesia.. Todos os poemas que escreveram mesmo depois de casados , retratavam o grande amor que os acompanhou até a morte .Entre os inúmeros escritos de Elizabeth Browning ,na minha opinião se destaca esses versos que ora transcrevo: ... "Amo-te quanto em largo, alto e profundo/Minh'alma alcança quando, transportada,/Sente, alongando os olhos deste mundo,/Os fins do Ser, a Graça entressonhada./Amo-te em cada dia, hora e segundo:/A luz do sol, na noite sossegada./E é tão pura a paixão de que me inundo/Quanto o pudor dos que não pedem nada./Amo-te com o doer das velhas penas;/Com sorrisos, com lágrimas de prece,/E a fé da minha infância, ingênua e forte./Amo-te até nas coisas mais pequenas./Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,/Ainda mais te amarei depois da morte." Esse poema foi escrito por Elizabeth poucos dias antes de morrer , e entregue ao marido como prova maior do grande amor que os uniu .Elizabeth morreu em Florença nos braços de Robert, que traduziu a sua dor numa única frase : "Sempre sorrindo e com uma expressão de felicidade no seu rosto de menina, faleceu, em poucos minutos, com a cabeça apoiada na minha face". Esse amor não é nem foi um conto de fadas .Ele foi único, inalterável, verdadeiro, que vencendo as barreiras de uma época jamais se desgastou, mas que permanece até hoje nos versos poéticos escritos e vividos por dois corações que nunca se separaram.: Robert e Elizabeth Browning !


por rosa guerrera

REFLITA - Rosa Guerrera





Será que você já parou para pensar alguma vez que não vale a pena se prender a dores e decepções que aconteceram na sua vida ?
Será que você já fez uma análise de que tudo é tão rápido , o tempo é tão veloz ,e que nada adianta recolher lágrimas da noite que passou ?
Será que a nuvem que escureceu ontem o seu sonho vai ser um eterno obstáculo para que você não enxergue como é radiosa e brilhante a luz do sol ?
A alegria faz parte da vida ! A dor também !!!!
Quantas vezes não deixei escapar a felicidade por medo de sofrer !


Quantas outras vezes acenei um adeus quando interiormente meu coração pedia para ficar !
Muitas vezes lamentamos os espinhos das rosas , sem que nos lembremos a beleza e o odor que elas espalham nos canteiros .


Devemos ter em mente que somos os únicos responsáveis pelo nosso céu e nosso inferno interior , essa é a mais pura das verdades.
É impossivel querermos uma felicidade exatamente como está nos nossos sonhos , e sofremos em não aceitamos uma falha por pequenina que seja na escultura desse projeto.
Surgem então as lamentações, as mágoas , as decepções . como se nada mais existisse senão um futuro nublado.
Cabe a nós entendermos que como humanos estamos sujeitos a enfrentarmos de cabeça erguida os revezes costumeiros da vida ,e acreditarmos que somos capazes de aprender de novo a sorrir , mesmo que através de grossas lágrimas. 


ROSA@

Por Luiz Pereira

Paixão

Amo.
E uma canção me diz tudo
o que uma eternidade me diria.
Sou, então, poeta mudo
compenetrado na poesia.

Amo.
E é solene minha alma em festa.
Cada alegria me enaltece
e vejo-me escorrer por essa fresta,
como prece.

Amo!
Tudo reflete no escuro eu.
O espaço cede, a liberdade entoa
uma canção nesses trilhos de breu
e me faz evadir, como qualquer pessoa

"Ex" - José Nilton Mariano Saraiva

Com direito a propaganda antecipada, veiculada com insistência nos principais jornais do Estado, em eleição realizada na cidade de Fortaleza, num processo pra lá de democrático, a cidade de Quixeramobim, com respeitáveis 61,20% dos votos apurados, venceu a disputa para sediar o futuro “Hospital Regional do Sertão Central e Inhamuns”, a ser construído pelo Governo do Estado do Ceará. O investimento, compreendendo estrutura física e equipamentos, será da ordem de R$ 96 milhões (afora a manutenção).
O anúncio oficial do resultado foi feito pelo próprio Chefe do Executivo cearense, que, na oportunidade, fez questão de enfatizar a plenos pulmões (encarando de frente os flashs), o caráter democrático da escolha, porquanto resultado da soberana manifestação das autoridades representativas dos municípios da Região (cerca de 20).
Faltou dizer, e ninguém lembrou de perguntar ou questionar publicamente (por conivência, frouxidão, conveniência ou o que mais aprouver), por qual razão o mesmo alardeado critério (democrático) não foi escolhido, usado e adotado quando da definição do local onde foram construídos (e estão prestes a funcionar) os “hospitais regionais” das regiões sul e norte do Estado, respectivamente Juazeiro do Norte e Sobral, onde prevaleceu a decisão “solo” e autocrática do Governador.
Aliás, não deveria causar qualquer surpresa tal desenlace, porquanto, dias antes, em visita à cidade do Crato (“ex” capital da cultura, “ex” princesa do Cariri, “ex” cidade modelo, “ex” detentora do melhor carnaval do interior do Nordeste, “ex” futura capital do futuro Estado do Cariri - e usem o “ex” até não mais querer), o Governador do Estado simplesmente ignorou o protocolo e as formalidades corriqueiras, ao circular na cidade sem que o seu prefeito fosse sequer cientificado, numa prova inconteste do “real prestígio” do chefe da municipalidade cratense para com os escalões superiores do Estado (e, de sobra ou por simples pirraça, a raquítica verba destinada a “dá um trato” na barafunda em que se transformou a cidade após as chuvas de janeiro, foi bloqueada e transferida para a conta do Estado, que a alocará onde e quando achar necessário).
Conclusão: ou o povo do Crato coloca no “trono” municipal alguém que se relacione e tenha transito livre junto a quem usa a “caneta” ou vamos continuar patinando na maionese e afundando na mediocridade.


"Seu" Chopin desculpe
Johnny Alf
Composição : Johnny Alf

"Seu" Chopin, não vá ficar
Zangado e ressentido
Pela divertida união
Que fiz de sua inspiração
A três tempos de um chorinho meu

"Seu" Chopin, não vá pensar
Que estou me aproveitando
De seu nome projeção
Mas sua cooperação
Valoriza este chorinho meu !

Dizem que o próprio Lizst
Ao seu valor não se renegou
E até a george Sand
Os Pontos entrgou
Por isso eu quero uma veiz mais Dizer que não é plágio
Esta divertida união
Que fiz de sua inspiração
Ao compasso dois por quatro,
Leve e sincopado
Deste chorinho-canção.

Johnny Alf



Johnny Alf, nome artístico de Alfredo José da Silva (Rio de Janeiro, 19 de maio de 1929 — Santo André, 4 de março de 2010), foi um compositor, cantor e pianista brasileiro.

A semana do ditoso Alexandre Garcia - José do Vale Pinheiro Feitosa

Alexandre Garcia, comentarista da Rede Globo, é um homem visível. Eu posso não gostar do conteúdo dos comentários dele até os quarks da minha matéria, mas ele continuará mais visível do que eu. Aqui neste quarto solitário, querendo vestir a roupa de otário, apenas por que ele criticou a gramática dos operários.

Dom Garcia partiu para cima do MEC por causa de uma frase escrita num livro aprovado pelo ministério em que se dizia que não existem falares errados, apenas padrões diferenciados. Eu achei um exagero a verve alexandrina, mas é típico da minha invejosa insignificância frente aos homens visíveis. O Alex acha que tem razão: a rapaziada de baixo está destruindo o país.

Como me disse um dia um professor ao defender um pensamento de Cícero - só em citar um romano da era latina já me humilha - o qual criticou o ensino universal por que só trazia a técnica do saber, mas não a sabedoria. Isso me dizia o professor como a própria experiência viva da frase de Cícero: aos setenta anos com um cigarro aceso e chupando para os seus pulmões toda aquela fumaça enquanto fazia seu relato.

O grande Alexandre, muito mais poderoso que o da antiguidade, é uma Garcia de pessoa. Não se pode acusar o rapaz de ter qualquer vício. De linguagem, diga-se bem. Parece que é gaucho e não tem qualquer dificuldade em fazer muxoxo com as diferenciadas flexões verbais, especialmente aquelas da segunda pessoa tão comuns lá na terrinha.

E isso tudo aconteceu meio num clima Bolsonaro. O deputado brigão. Aqui do Rio de Janeiro. O furibundo, ou faz o tipo, abriu uma razia conta os homossexuais com tanta violência que expôs toda a sua fobia. Resultado: estimulou os valentões a partir para uma linguagem tão violenta no tal do twitter (mais que passarinho mais escroto este) que provocou ondas explícitas de ódio na rede mundial dos computadores complacentes. Teve gente que prometeu a própria morte a ter que dar o que tem medo de dar e gostar.

Tão logo o Garcia, com a primazia de um Alexandre, esteve no palco avantajado da família Marinho, as classes médias brasileiras letradas se açularam iguais aos homofóbicos do Bolsonaro. Mas onde está o problema destes dois ícones? É que não faltam obtusos que pretendem passar uma borracha na realidade. Eliminar a realidade.

Alexandre, Bolsonaro e a turma do repete repete, devia mesmo é seguir a lição de Cícero (aquela que busca a sabedoria). A sabedoria pode saber tirar proveito da realidade, jamais excluir a realidade. Pois então moçada pedrigee, cheia de frases em inglês, com um caminhão de entrecortadas frases e pensamentos, tome a cicuta da realidade: vocês já não estão mais a sós.

Existe um bando de nós no salão de vocês. Um estridente de risos a estimar tuas gaiolas de ouro. O Alexandre e o Bolsonaro apenas foram pego se escondendo enquanto estavam visíveis.

SIDERAL - por Stela Siebra

LUA NO SIGNO DE LEÃO

Expansiva, lúdica, sociável, dramática, centralizadora, vaidosa e calorosa são algumas formas de se nomear uma Lua no signo de Leão.
Você que tem Lua neste signo caracteriza-se pela necessidade de apresentar-se, de ser notado e admirado; mas outra faceta da sua lua leonina faz de você uma pessoa generosa, leal e alegre.
E é esta alegria espontânea que não lhe deixa abater-se por muito tempo com as adversidades do cotidiano. Você reage bem, pois seu senso de humor é um aliado seguro e eficaz.
Quando os anseios substanciais são atendidos, ou seja, quando você nutre de forma satisfatória sua essência lunar, as reações tendem a ser saudáveis e seguras. Você saberá expressar sua alma feminina com dinamismo, generosidade e alegria, incentivando o desenvolvimento dos seus potenciais criativos. Dando livre expressão à espontaneidade e à alegria, você recebe o calor e o amor que tanto anseia, e estará mais apto a vivenciar de forma positiva a generosidade do seu coração

Já uma lua leonina mal atendida, pode levar a pessoa a comportar-se de maneira espalhafatosa, passional e dominadora, querendo ser o centro do universo, tanta é sua necessidade de reconhecimento e aprovação. A tendência é viver tudo de forma muito dramática e insistir em não deixar o centro do palco, porque a atenção externa é o seu alimento. E aí, quando você não ouve aplausos fica frustrado e insatisfeito emocionalmente, embora, amparado no seu orgulho, seja difícil para você admitir isso.
Esta também pode ser uma forma de dissimular o desconforto que os contatos mais íntimos e as expressões emocionais provocam em você.
Quando a pessoa dramatiza um sentimento, está enfatizando muito aquela emoção, mas nem sempre está em contato real com sua dor, raiva, tristeza ou alegria. É um ator que ri e chora no palco da vida.
Mas ... até onde vai a representação?

Você só poderá suprir eficientemente a lua leonina, quando não escamotear mais seus sentimentos e emoções e quando não buscar o deleite com suas ‘estrelices’ externas.
Alimente-se buscando apreciar seu real valor; seja sua própria platéia; mantenha seu coração aberto e se ame. Este é seu alimento.
Assim você irradiará seu calor e sua luz interior, e a verá refletida nos outros.

BARBOSA TAVARES



CRÓNICAS FRANCESAS (III)



Vagueámos pela cidade em longos passeios, até mergulharmos nas entranhas da noite. Entrámos num bar, onde ”nuestros hermanos”, no rubro da emoção, estridentes, devoravam cerveja por enormes canecos de vidro, no delírio da tourada que decorria na televisão.

Senti nitidamente que os Espanhóis eram mais ébrios de sangue, mais vibráteis no desafio perante a morte do touro, que nós Portugueses, mais comedidos e condescendentes nas lides do toureio.

Vergados pelo cansaço e alguns temores, venceu a sonolência. O nosso “passador”, relembra: domir num hotel, sem passaporte, seria arriscadíssimo. Deambulámos, pelos arredores da cidade, com redobrada cautela, em busca de um esconderijo, seguro e recatado, onde consumir a noite.

Havia um velho carro de cavalos abandonado, num ermo, com lenha e cepos informes, sob o mesmo, para ali atirados à sorte . Acertou-se que dormiríamos às estrelas, acantoados entre os tais cepos. De hora a hora acordávamos com os galhos do madeirame a penetrar na carne, a desejar que a noite se esvaísse rápida. Vigiavámos em derredor, a perscrutar algum bulício: o olhar em busca do rastro de um qualquer polícia.

Apesar do vigilante dormitar, a abóboda celestial era de azul-veludo, semeada de estrelas, a infundir esperanças francesas.

Rompe-se a manhã, ainda com vestígios nocturnos. Surge o nosso “passador”, com a frescura de uma noite bem dormida no hotel, a inquirir, com ar desanuviado de alívio, logo que nos enxergou, sobre a noite dormida ao relento. Rumámos à estação do caminho de ferro. Comprei um jornal Espanhol, talvez num desejo inconsciente de tornar insuspeita a Lusa proveniência. Três bilhetes para Salamanca. Arribados na cidade, consumimos o tempo a vaguear pelas ruas, enquanto o nosso “passador” procuraria um tal Espanhol, perito em transpor gente nos Perinéus.

Ancorámos num parque onde ternos avôs passeavam ,de mãos dadas, seus netos, enquanto, jovens namoriscos entreolhavam-se, em lances de ternura, sentados em bancos de pedra ladeados por esmerados canteiros de flores.

Por ali permanecemos horas a fio, saboreando , reluctantes, os nóveis sabores da paisagem salamanquense, até que nosso mentor arribou com a boa nova: dormiríamos em casa do tal Espanhol.

Na manhã seguinte, prosseguiríamos viagem. Palmilhámos o centro da cidade com seus prédios seculares e clássicos, dos quais ressaltavam a centenária Universidade, entre outros belos edifícios de requintada traça arquitectónica.

No bulício matinal da cidade a despertar, eis-nos na estação dos caminhos de ferro, um edifício altaneiro a fervihar de gente. O “passador” adquiriu quatro billhetes com destino a Vitoria. Ele e o seu cúmplice Espanhol, precavidos, seguiam numa outra carruagem, para, em caso de falhanço, permanecerem a recato das implicações legais.

Sobre os trilhos do comboio, comtemplámos uma Espanha ensoneirada, apeadeiros desolados e casebres tristonhos, lugarejos assombrados numa pobreza pasmacenta, que o comboio ia galgando num tédio pressuroso.

Em Medina del Campo, havia que fazer o transbordo que nos levaria a Vitoria. Aqui se deu o malogro da operação. Neste rodopiar ,imbuídos num caudal de gente, deparámos com um enorme dístico em letras garrafais, onde se lia: CUIDADO CON LOS RATONEROS .

De imediato, levei as mãos à carteira e olhei o meu cúmplice, também ele de rosto apreensivo.Decorrido algum tempo de viagem, surgiu o cobrador , exigindo um pagamento extra de vinte pesetas. Não tinhamos em nosso poder uma única moeda ou nota espanhola.

Os nossos mentores não souberam futurar o que se revelaria ser um deslize fatal. Eu e o meu companheiro de aventura balbuciámos , aflitos, em busca de solução.

O cobrador olhou-nos perplexo, afincadamente .Sugeri que um de nós teria que se dirigir à outra carruagem, em busca das ditas pesetas. O meu companheiro decidiu-se. Avançou de imediato ao encontro do “ passador” e do tal Espanhol que supúnhamos Mestre em galgar os Perinéus.

Pela certa, o revisor terá participado à Polícia que dois portuguesinhos, suspeitos, intimidados, sem “plata”, iriam clandestinos, a caminho de França.

Não tardaram quinze minutos. Entra na carruagem um detective.“Passaportes por favor. Policia, passaportes por favor”,enquanto dobrava a lapela do casaco, a mostrar a identificação policial.

Fiquei congelado, o meu companheiro de aventura, estarrecido, olhámo-nos cientes do cárcere

que nos aguardava . Foi-nos dito que sairíamos na próxima paragem, exactamente na estação de

Burgos. Dois polícias aguardavam-nos. Somos levados para o edificio da mesma, numa saleta, onde havia dois exíguos quartos laterais, ambos com um tosco banco longitudinal, num dos quais nos sentámos, desolados , a lacrimejar a nossa desdita. Deram-nos umas sanduíches de anchova, mal atiladas, e dormimos vestidos, sobre as tábuas do soalho denegrido , num aziago Sábado de Março de 1965.



Barbosa Tavares

Dezembro de 2005

Face Molhada-Por Rosemary Borges Xavier

Abro a janela
Espero por ela
A vista custa a ver
Mas aqui está você
De frente para mim
Olhar distante
De jeito arredio
Chegou de mansinho
Parou mais um pouco
Agora vem minha face enxugar
Oh! linda lua cada dia te mostras mais nua
Espero um dia poder te alcançar
E calçar as sandálias da liberdade

Acordando - a Domingos Barroso por José do Vale Feitosa




Que no primeiro tremor dos cílios,
Assim que os ruídos vierem do exterior,
E as luzes já forem deste mundo,
Eu queria ser como o Domingos Barroso.

Acordado,
E declarando ao mundo que nada tenho,
Nem posses, troços, paredes e telhados.

O teu sorriso não é meu,
Este colorau do teu coração também,
Nem a placenta da minha embriogênese.

Sabe aqueles minutos de loteria,
Que pingam chances remotas,
Estão no cesto da posse pública.

Pois como dizia,
Eu queria ser como Domingos Barroso,
Dizendo-me desprovido de posses.

Só para poder falar de tudo,
Do silêncio e segredo do relicário,
Do vazio que nem mundo o é.

Nem experiências para descobrir o Big-Bang.



Autenticidade- Por Rosa Guerrera



Se existe uma coisa que me deixa triste é ver pessoas que vivem e agem na sombra dos outros. Copiam frases, copiam gestos, copiam falas , copiam roupas,copiam opiniões , enfim: verdadeiros papagaios de piratas que por não possuírem devidos valores, vão captando aqui e acolá o que foi dito , falado ou escrito.
Muitas vezes até acintosamente expressam opiniões de outras pessoas querendo fazer crer que todo aquele acúmulo de vocabulários nasceu de suas mentes.
Isso acontece em músicas plagiadas , em poesias enviadas, em cartas de felicitações ou de pêsames e muito mais na política.

(.Para mim isso não passa de uma grande falta de autenticidade) .
Não faz muito tempo ouvi de uma pessoa , que todas as vezes que pensa em enviar um recadinho para a namorada , abre um livro ( seja um romance , ou até um livro de poesias ) retira uma frase bonita , e pronto. Segue por email ou até num cartão uma bela declaração de amor.
Essa pessoa pelo menos teve a coragem de dizer que esse é um hábito comum dela .
Outras agem bem pior , porque possuem a audácia de se revestirem em retalhos de outras mil , e com a maior cara de pau recebem aplausos que nunca lhes pertenceram.
Fico pensando aqui com os meus botões , que tipo de gente é essa vestida de espantalho!
Gente que expressa o que não sabe , que fala o que não sente , que promete o que jamais poderá cumprir .
Afinal , todos nós possuímos os nossos valores , sejam imensos ou pequenos , mas o importante é que são nossos, e cabe a nós aprimorá-los sem que precisemos roubar de outrem aquilo que também lhes pertence.
É muito comum em sites, blogs e cartões belíssimos , lermos frases que foram escritas por outros autores , e quem as copiou nem sequer pensou em colocá-las em “ aspas”( no caso de desconhecerem seus verdadeiros donos). E isso me soa como uma grande desonestidade. Desculpem hoje esse desabafo !,

E por desconhecer o autor ou autora de uma fenomenal frase que um dia li , gostaria de transcrevê-la encerrando esse papo nesse inicio de semana meio sem graça para mim :.
Diz a frase : “ Os planetas se orgulham por possuírem brilho e beleza... no entanto NÃO POSSUEM LUZ PRÓPRIA .”

rosa guerrera

Teclas amorosas - por Socorro Moreira



Cala
Na ala de cá
Fala
No fato de lá
Brilha
Na dança do olhar
Deseja que seja
Azul cor do mar.
Espumas e brumas escondem a  imagem
Imantada na pele da alma.

Insônia - Por Socorro Moreira





 noite mal dormida
 brisa noturna
ignora o  sonho
que desistiu de  brincar
com as senhas do inconsciente

A Poesia de Everardo Norões



SONETO I

Agonizavam os rastros de novembro.
E os meus ossos, cansados das neblinas,
doíam, no concerto das esquinas
da cidade, onde um dia, ainda me lembro,

penetrou-se de escuro a minha alma,
quando um cão, a ladrar contra o sol-posto,
mordeu o lado oculto do meu rosto
e deixou seus sinais à minha palma.

Lembro-me que era de tarde. Ainda chovia.
O eco dos espelhos conduzia
meus passos que jaziam pelas ruas.

Havia o som da água que caía.
E no horizonte, além da agonia,
um cemitério de meninas nuas.

everardo norões

O primeiro beijo - Clarice Lispector



Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

Ele se tornara homem.

(In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)
Clarice Lispector

A César o que é de César - por José do Vale Feitosa



Pode um ato representar a síntese de uma vida? Tenho certeza que não. A vida tem tantas possibilidades, uma quantidade imensa de modos de reagir a um mesmo fato que jamais existiria um ato para conceituá-la. Mas aquele riso entre dentes, com sopros chiados intercalados, entre o prazer próprio do sorriso e a gozação de uma determinada situação, era ele por inteiro.
Claro que havia a pinça formada pelo indicador e o polegar, retirando o torrado de uma variação de caixinhas. Imediatamente indo até ambas as narinas, que o aspirava em apenas dois atos contínuos. Em seguida, oferecia a algum sobrinho já com o olhar vivo de quem esperava algo. O menino, à vezes, só a com a aproximação do rapé às narinas, começava a espirrar e o característico riso balançava seu corpo todo. A voz baixa, roupas simples, de pouca variação, era quase um uniforme. Sempre calçando o que ficava entre algo parecido com sapatos e alpercatas.
Poucas vezes o vi, assim mesmo em ocasiões muito especiais, com roupas distintas. De uma vez, e claro não o vi pessoalmente, era a foto do seu casamento. Pois tais roupas tinham uma expressão que poucos souberam traduzir. Uma tradução mais fácil, que identificasse ali um ser simplório, certamente se enganaria em primeira mão. Outra que visse um revolucionário, que negava o padrão vigente ao vestir-se, também não encontraria a fúria justa de quem deseja soterrar o status quo.
Menos eu que tive o privilégio de ser um sobrinho-filho. Tive a primazia de ser o filho mais velho de sua irmã e, por isso mesmo, a oportunidade de vê-lo muito jovem ainda. Muito jovem cuidando de um grande patrimônio, este de muitos, que de tão enovelado entre pessoas, era inadministrável. O vi coordenando dezenas de empregados, viajando de um lado para outro. Amanhecendo na moagem da cana e anoitecendo no esguicho do vapor que subtraia pressão à caldeira no final da jornada. O vi examinando a soca da cana e acompanhando o seu corte. O vi cuidando de vacaria, jamais esquecerei seu portentoso touro holandês. Que igual valentia e zelo com as fêmeas do seu rebanho, não me recordo.
Um belo dia, de uma manhã iluminada, os mosaicos da sala anunciando uma força de eternidade, ele entrava com grandes pacotes. Chamava os sobrinhos que estivessem por perto e, abrindo os volumes, cortava grandes fatias de queijo de manteiga e goiabada. Fazia um sanduíche maior que a boca dos meninos, só para ter o prazer de vê-los tentando morder aquela espessura além de suas fomes. Enquanto as bocas se escancaram no esforço, o sorriso silencioso estimulava o ambiente em forma de total infantilidade.
Se formos contabilizar os sobrinhos que, em distantes cidades, receberam pacotes com guloseimas nordestinas ou outros artefatos regionais, tem-se a maior proporção do universo deles. Não me dou conta de quantos os recebi pessoalmente ou até mesmo enviado por algum portador ou pelo correio. Como também foram muitas as vezes em que o vi amarrando volumes para enviá-los para alguém à distância. Recordo muito dele organizando tais presentes para enviar aos parentes na transoceânica Europa.
E o quê significava aqueles presentes? Gentileza em primeiro lugar, porque, apesar de ser uma pessoa séria, era muito gentil. Era doce, até mesmo para com os filhos com quem tinha obrigações de disciplinar. Em segundo lugar, era a doação de um patrimônio cultural que ele guardava como registro de vida e história. Recordo quando chegava à casa do meu pai, em Crato e lá vinha ele com Tia Almina, os dois com roupas formais, visitar-me como um presente de boas vindas. Nesse mundo informal e imediatista, não me lembro de outro gesto mais civilizado do que aquele. Em terceiro lugar, era a dimensão da grandeza que possuía, mas não transmitia na sua inserção púbica e nem na vestimenta cotidiana. Era como se dissesse ao mundo, que nem tudo que a aparência denota, informa a real natureza das coisas.
Parece uma espécie de pensamento esotérico. Só relevado para alguns. Mas no quarto dele, na caso do Recreio, haviam tesouros do mundo como realmente o mundo era. Uma foto, uma carta, um recorte de revista ou jornal, algumas peças utilitárias da vida rural, mesmo velhos lampiões ou anéis que ornavam antigos arreios. Sobre os guarda-roupas ou, se não me engano, numa espécie de sótão em que o passado resistência ao esquecimento. Eu jamais fui iniciado naqueles conhecimentos, mas não tive a menor dúvida que havia.
Tempo após, em seu quarto no apartamento em que viveu no Crato, novamente encontrei os sinais desse mundo que se dimensionava além das aparências. Das aparências de quem se resume a um único lado das coisas. Das luzes que brilham feito estrelas, que a semelhança das super-novas, explodem em belíssimo espetáculo, mas de curta permanência. Como acontece continuamente nos espasmos do sucesso, na projeção que costuma encerrar-se com a sessão ou na saliência que praticamente pede às intempéries do tempo, que a aplane.
Quando os familiares brincavam como sua freqüente presença nas marchas fúnebres, mas denotavam seus afastamentos da vida uma vez que o corpo é, até o último ato, a expressão dela. A vida é o corpo integralmente, até a memória que se inscreve na lápide ou a presença frágil de um crânio que revela a idade dos homens desde os primórdios. Na verdade, César compreendia plenamente a sua cidade e a respeitava em sua integralidade, de tal modo que ninguém, que em vida cumprimentava ou ao corpo em respeito acompanhava, lhe era estranho. E isso já não era verdade para desleixo da maioria dos seus parentes.
De hábitos regulares. Jamais se excluiu da dinâmica do prestígio ou desprestígio político dos próximos a si. Quando a maré era enchente, não esteve na maçaneta que abre-se para as vantagens, mas perfeitamente foi solidário na vazante que historicamente teve forte teor raivoso. Se para quem vive ao passo dessas conquistas pessoais, a falta de passos em alguns degraus poderia ser inapetência, é também verdade que os vencedores se mediocrizam pelas próprias conquistas. E ele aprendeu a dar aos outros, conquistadores ou derrotados, um valor que ia além da própria vida.
Como pessoa original de sua cidade, sabia buscar no campo mitológico a antropogenia de sua família. Utilizando-se da mesma metodologia que os gregos usavam para divinizar suas origens. Ele estabeleceu linhas de comunicações e escreveu textos que na prática era a teogonia dos seus valores, com quem se comunicava em silêncio. Um dia revelou para uma sobrinha que era espírita. O que isso pudesse ser, como religião ou filosofia, na verdade era a síntese de um homem que viveu na civilização técnico-científica como se buscasse a fórmula do moto perpétuo para gerar bem estar e a panacéia para sarar o sofrimento da humanidade.
E que todos nós, que o testemunhamos: Dê a César o que é de César.

QUEM MORRE? - por Martha Medeiros


Morre lentamente

Quem não viaja,

Quem não lê,

Quem não ouve música,

Quem não encontra graça em si mesmo

Morre lentamente

Quem destrói seu amor próprio,

Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente

Quem se transforma em escravo do hábito

Repetindo todos os dias os mesmos trajeto,

Quem não muda de marca,

Não se arrisca a vestir uma nova cor ou

Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente

Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções, Justamente as que resgatam o brilho dos

Olhos e os corações aos tropeços.

Morre lentamente

Quem não vira a mesa quando está infeliz

Com o seu trabalho, ou amor,

Quem não arrisca o certo pelo incerto

Para ir atrás de um sonho,

Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, Fugir dos conselhos sensatos...

Viva hoje !

Arrisque hoje !

Faça hoje !

Não se deixe morrer lentamente !

NÃO SE ESQUEÇA DE SER FELIZ

Martha Medeiros