por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 6 de novembro de 2011

O APITO DO VIGIA

O vigia que muito apita
Sinaliza sua presença
Mas por dentro ele se agita
Com medo que o medo vença
O vigta da minha rua
Apita tanto que sua
A testa, o bigode e a crença

Ulisses Germano - Crato-CE.

POÉTICA DA INVEJA

VISÃO DE ULISSES GERMANO

Aquele que não tem mérito
Jamais será invejado
A inveja é um sentimento
Que já nasce introjetado
Em calúnia e artifício
É o ócio do ofício
De quem se sente humilhado

VISÃO DE JOSENIR LACERDA

A inveja é uma fera
Da adulação é irmã
Uma espreita, na espera
Outra se faz guaridã
Ambas falsas, traiçoeiras
Inimigas verdadeiras
Sob a máscara de fã

(Do Cordel POÉTICA DA INVEJA de Josenir Lacerda e Ulisses Germano)

Carta Aberta ao Vereador George Macário - José do Vale Pinheiro Feitosa

Os leitores dos blogs em que escrevo e escrevi leram o que falei sobre o seu incidente com Almina Arraes. Acho que ao completar uma semana desta história nem eu e nem você tenhamos muito a acrescentar ao episódio no seu aspecto público. Aliás, guarda-me uma sensação para a qual não tenho conclusão: seria tudo diferente se o estapafúrdio não houvesse se infiltrado neste assunto? Não podemos concluir frente a frente, apenas eu e você, pois a “intromissão” para ganhar posições junto ao grupo político de vocês já levou todo o capital que desejava.

O nosso papel, o meu e o seu, é tirarmos algumas lições diante do que escrevi e do que você escreveu ao meu respeito e sobre meu pai. E faço isso, pois temos duas mãos cada um e uma única cabeça para avaliarmos isso tudo. Penso exatamente que entre nós dois não estejam mais do que nossos leitores. Chega de ganchos de oportunidade para quem nem deveria ter se aproximado e fartamente lambuzado a realidade dos fatos.

Antes de conversar sem lhe provocar dores, deixe meu pai fora disso (se você não se deu conta, isso fez lembrar o descuido que teve com Almina), quando citei a sua situação de filho de papai político a crítica não caía sobre Humberto, este se fez por ele mesmo. Acabei de ler tudo que escrevi sobre o assunto e em momento algum analisei Humberto Macário político e claro, não esperaria que Luiz Gonzaga tivesse feito uma música especificamente para o professor José do Vale Arraes Feitosa. Mas fez música para o professor e aquele professor gostava muito de ser parte destes que mantêm a civilização com a educação. E se nos apegássemos aos argumentos da “intromissão” em defesa das grandes famílias do Crato, aquele que foi derrotado numa candidatura de vice por Humberto, gostava de citar Humberto como parente. Mas isso vai resolver alguma coisa hoje? Humberto foi o principal líder de uma “elite política” que mandou no Crato desde o fim do regime Vargas: a UDN de Filemon Telles, Horácio Pequeno entre outros. Você deve saber que isso se origina em disputas antes mesmo da era Vargas, ainda nas escaramuças do Padre Cícero.

Sobre dores que precisam ser amenizadas. Em primeiro lugar precisamos sarar as dores sofridas por Almina e só depois a sua e a minha e sem a “intromissão” em busca de oportunidades. Quando escrevi dois parágrafos no primeiro texto deste assunto para configurar que não o conhecia, estava dizendo que nada sabia de desabonador ou abonador a seu respeito, a não ser que o encontrara numa reunião da Fundação Araripe. O seu esquecimento deste encontro não modifica este fato. Siga meu texto e meu raciocínio: portanto não tenho nada contra George em caráter histórico, apenas o ato que provocou dor em Almina Arraes. E sabe George como tomei conhecimento do fato?

Soube do incidente pela própria carta de Almina, numa tela de computador como esta. Fiquei agastado com a situação, pois era a repetição do mesmo assunto da SAAEC e que desde o princípio se contextualiza na política do Crato. Almina Arraes é minha tia; casou-se com César Pinheiro, irmão de minha mãe, e na sua casa passei parte da minha adolescência em busca de esclarecimentos para certas infantilidades que teimam em nos afligir naquela fase da vida. Por exemplo, esta história pueril de que editei uma parte do vídeo e a apresentei. Eu nem sabia da existência do vídeo. Apenas tomei conhecimento de uma parte existente no Youtube e foi esta que baixei e a postei no mesmo dia em dois blogs. Somente a postei porque o tumulto da sua defesa divulgava que você não tinha falado nada daquilo no vídeo.

E para você que não sabe, mas a balbúrdia que tomou conta do ambiente em sua volta alardeia, conte a quantidade de vezes em que escrevo sobre a política do Crato e verá que é desprezível em relação ao volume de postagens que faço. Mas é claro que Samuel Araripe, de quem você é líder na Câmara dos Vereadores, não se exime da porção política que cabe ao seu governo. Esta era a minha avaliação e até hoje é; e a cada vez que tumultuam a discussão mais se acentuam evidências: o governo municipal tem a parcela principal na contabilidade política do fato e o incidente é político. Como deixei muito claro no meu texto: não existe motivo pessoal e nem familiar para que você dissesse o que disse na câmara. Volte ao meu texto e verá que o “tumulto” apenas cumpre com a própria natureza de tumultuar, isso não tem briga de família, tem briga política e, pelo que soube, tudo começou com o protesto de uma Associação de Moradores com os valores da conta de água.

Quanto às expressões “ferinas” que teria lhe aplicado. Em primeiro lugar você tem formação em Direito e sabe muito bem fazer a exegese de textos e lá está claro: não podemos confundir o que pode ser dito numa assembléia do povo do Crato com uma discussão qualquer numa calçada de bar. Não podemos porque na assembléia precisamos expor a moralidade pública e ter o respeito ético com o povo e o povo é cada um de nós, inclusive Almina.

Tomemos a “ferina” denominação de “filho de papai político”. Isso foi uma avaliação clara que fiz. Mas me desculpe! O Samuel terceirizando o assunto por uma alternativa agressiva e você por até lembrar um velho e respeitado professor da cidade como um derrotado que prega uma “dor de cotovelo crônica” até nos filhos tantos anos após, mostram algumas características da classificação. E olhe que não existe de sua parte e nem do tumulto em sua volta qualquer respeito pessoal nem por mim e nem pelo meu pai diante do texto que você publicou em seu blog e foi reproduzido no Cariricaturas. E gastar tanta munição, atingindo um professor da cidade, que foi também meu, mas é da cidade, passa a impressão para os desavisados que algo muito grave aconteceu. Aconteceu num debate que considero até banal, deixando-me em dificuldade de não enxergar a mais típica figura do filhinho que amassa o carro do pai por que dinheiro existe para pagar o remendo na oficina.

Mas vamos ao remédio para a dor pungente que inclusive acredito que seja sincero em você. A cidade inteira espera que visite Almina Arraes e desfaça, com toda a humildade, o que você considera pura politicagem. Ela merece o seu carinho, o seu cuidado, precisa da nossa proteção até mais do que as dores que você sentiu vindo da minha parte. Olhar para uma senhora serena e que é referência para muita gente e de olho no olho dela, mesmo que ainda reste a severidade da dor que ela sente, esclarecer toda esta confusão é o que todos esperam de você. Um gesto que nos conforte de paz e encerre de vez a catilinária que alimenta confusão. Com a origem do incidente esclarecida, a balbúrdia tenderá a morrer de inanição.

A arte criativa que transfigura o mau destino - por Stela Siebra

Esses versos formam a última estrofe do poema "À sombra das araucárias", do poeta pernambucano Manuel Bandeira.
O poema é um convite a que, através da criação artística, do desenvolvimento dos nossos dons, façamos mudanças em nossas vidas, criando uma nova maneira de fazer e ser.
Vejamos a estrofe anaterior:
Cria, e terás com que exaltar-te
No mais nobre e maior prazer.
A afeiçoar teu sonho de arte
Sentir-te-ás convalescer.

110 ANOS DE NASCIMENTO DA POETISA CECÍLIA MEIRELES - por Stela Siebra

Certa vez escrevendo sobre minhas memórias de
leitura registrei, entre outras, a seguinte:
“Lembro que nesta época li muitos livros de Malba
Tahan e, mais tarde, toda obra de Machado de Assis. Apaixonei-me por Manuel
Bandeira e por Cecília Meireles, com quem tinha, unilateralmente, lógico, uma
relação de muita proximidade. O aniversário de Cecília (7 de novembro) era dois
dias antes do meu e ela morreu exatamente no dia 9 de novembro quando eu estava
completando 15 anos. Para mim, era como se o mistério transcendente do signo de
Escorpião nos unisse. Ainda hoje carrego esse sentimento de intimidade com a
alma de Cecília Meireles.”
E é assim até hoje: minha alma sempre encontra
abrigo na poética de Cecília Meireles.
Poderia transcrever aqui muitos dos seus poemas,
mas escolhi um que indaga sobre os pequenos mistérios da vida.
EPIGRAMA
Nº 9
O
vento voa,
a
noite toda se atordoa,
a
folha cai.

Haverá
mesmo algum pensamento
sobre
essa noite? sobre esse vento?
sobre
essa folha que se vai?

Colaboração de Stela Siebra de Brito


Texto de Susan Andrews.


Você se lembra daquela linda história do livro “O Pequeno Príncipe”? Bom, existe uma história mais tocante ainda que aconteceu de fato com o criador do Pequeno Príncipe, o escritor francês Antoine de Saint-Exupéry. Poucas pessoas sabem que ele lutou na Guerra Civil Espanhola e, certa vez, foi capturado pelo inimigo e levado ao cárcere para ser executado no dia seguinte.
Nervoso, ele procurou em sua bolsa um cigarro, e achou um, mas suas mãos estavam tremendo tanto que ele não podia nem mesmo levá-lo à boca. Procurou fósforos, mas não tinha porque os soldados haviam tirado todos os fósforos de sua bolsa. Ele olhou, então, para o carcereiro e disse: “Por favor, usted tiene fósforo?”. O carcereiro olhou para ele e chegou perto para acender seu cigarro. Naquela fração de segundo, seus olhos se encontraram e Saint-Exupéry sorriu.
Depois ele disse que não sabia por que sorriu, mas pode ser que quando se chega perto de outro ser humano seja difícil não sorrir. Naquele instante, uma chama pulou no espaço entre o coração dos dois homens e gerou um sorriso no rosto do carcereiro também. Ele acendeu o cigarro de Saint-Exupéry e ficou perto, olhando diretamente em seus olhos, e continuou sorrindo. Saint-Exupéry também continuou sorrindo para ele, vendo-o agora como pessoa, e não como carcereiro.
Parece que o carcereiro também começou a olhar Saint-Exupéry como pessoa, porque lhe perguntou: “Você tem filhos?”. “Sim”, Saint-Exupéry respondeu, e tirou da bolsa fotos de seus filhos. O carcereiro mostrou fotos de seus filhos também e contou todos os seus planos e esperanças para o futuro deles. Os olhos de Saint-Exupéry se encheram de lágrimas quando disse que não tinha mais planos, porque ele jamais os veria de novo. Os olhos do carcereiro se encheram de lágrimas também. E, de repente, sem nenhuma palavra, ele abriu a cela e guiou Saint-Exupéry para fora do cárcere, através das sinuosas ruas, para fora da cidade, e o libertou. Sem nenhuma palavra, o carcereiro deu meia volta e retornou por onde veio.
Mais tarde, Saint-Exupéry disse: “Minha vida foi salva por um sorriso do coração”.
O que foi aquela “chama” que pulou entre o coração desses dois homens? Isso tem sido tema de intensa pesquisa atualmente, na medida em que os cientistas estão se dando conta de que o coração não é meramente uma bomba mecânica, mas um sofisticado sistema para receber e processar informações. De fato, o coração envia mais mensagens ao cérebro que o cérebro envia ao coração! Como disse o filósofo francês Blaise Pascal: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.
Estados emocionais negativos, como raiva ou frustração, geram ondas eletromagnéticas totalmente caóticas do coração, como se estivéssemos pisando no acelerador e no breque simultaneamente. Esse estado de batimentos desordenados é chamado de “incoerência cardíaca” e está ligado à doenças cardíacas, envelhecimento precoce, câncer e morte prematura.
Em estados de amor ou gratidão, nosso batimento cardíaco torna-se “coerente”. Isso diminui a secreção dos hormônios do estresse, reduz a depressão, hipertensão e insônia, melhora o sistema imune e aumenta a clareza mental. Essa é uma das razões pelas quais tem sido provado que as emoções positivas estão associadas à boa saúde física e mental – e à longevidade. Essa irradiação coerente do coração – essa “chama” de genuína afeição – pode afetar pessoas a uma distância de até 5 metros!
Logo, na próxima vez em que você estiver numa situação difícil, respire profundamente, lembre-se de Saint-Exupéry e do Pequeno Príncipe, e irradie a energia de seu coração. Como o Pequeno Príncipe nos lembrou, “somente com o coração podemos ver com clareza”!
By Susan Andrews.

PARA O VEREADOR GEORGE HUGO MACARIO DE BRITO

Demorei um pouco a enviar estas considerações, pois antes queria ter mais informações, tanto a respeito dos temas “loucura” e “senilidade”, como também informações referentes ao senhor.
Depois de uma pequena pesquisa, fiquei surpreso com a confirmação da quantidade de pessoas extraordinárias e de gênios, que em algum lugar foram acusados de insanos, senis, loucos, dementes ou, no mínimo de extravagantes. Eu os admiro, pois foram e são os responsáveis pelas mudanças do comportamento humano e por que não do mundo. Sem suas insanidades ainda estaríamos por aí pulando de galho em galho. Realmente os insanos, os gênios, não foram muitos, mas existiram e existem em todas as épocas e lugares; apesar de poucos, foram e são capazes de fazer a diferença. A insana natureza nos fez herdeiros apenas de alguns aspectos físicos de nossos ascendentes, não nos fez herdeiros das loucuras dos dementes, senis, gênios, que, por acaso, certamente existem em todas as famílias. Como eles são raros ficam preservados do mar de mediocridade que os cercam. Cedo ou tarde serão lembrados e serão exemplos.
Não é necessário citar nomes de insanos, são todos conhecidos. Mas a inteligência ou a genialidade de seus descendentes é desconhecida. Essa espécie de sorteio para escolher quem se sobressai, parece que foi, dentre outras, mais uma das formas encontrada pela natureza para ajudar na continuidade da espécie humana. Se a inteligência ou a mediocridade fossem hereditárias a espécie humana já teria sido extinta há muitos anos, envolvida na maré de burrice que é, de longe, a grande estrela da maioria dos humanos. 
Portanto, dado os acontecimentos envolvendo minha mãe, literalmente gastei algum tempo na tentativa de descobrir quem é e o que o senhor representa.  Encontrei alguma coisa, no Cariricaturas, no Democrato, assisti a sua entrevista no Blog do Crato, na qual o senhor confunde as coisas, compara política com circo, faltando com respeito às duas categorias. Também conversei com amigos residentes na região. Não é muita coisa, mas o suficiente para que pudesse ter uma ideia do que passa em sua cabeça. Por falar em cabeça, Sr. Vereador, da sua, para a qual o senhor aponta várias vezes, quando agride minha mãe (como mostra o registro filmado do seu pronunciamento do dia 18 de outubro de 2011), me parece que não sai muita coisa além de um punhado de chavões.
Recife 05/11/2011
José Almino Pinheiro

Eu, o SUS, a ironia e o mau gosto - Nina Crintzs

Há seis anos atrás eu tive uma dor no olho. Só que a dor no olho era, na verdade, no nervo ótico, que faz parte do sistema nervoso. O meu nervo ótico estava inflamado, e era uma inflamação característica de um processo desmielinizante. Mais tarde eu descobri que a mielina é uma camada de gordura que envolve as células nervosas e que é responsável por passar os estímulos elétricos de uma célula para a outra. Eu descobri também que esta inflamação era causada pelo meu próprio sistema imunológico que, inexplicavelmente, passou a identificar a mielina como um corpo estranho e começou a atacá-la. Em poucas palavras: eu descobri, em detalhes, como se dá uma doença auto-imune no sistema nervoso central. Esta, específica, chama-se Esclerose Múltipla. É o que eu tenho. Há seis anos. Os médicos sabem tudo sobre o coração e quase nada sobre o cérebro – na minha humilde opinião. Ninguém sabe dizer por que a Esclerose Múltipla se manifesta. Não é uma doença genética. Não tem a ver com estilo de vida, hábitos, vícios. Sabe-se, por mera observação estatística, que mulheres jovens e caucasianas estão mais propensas a desenvolver a doença. Eu tinha 26 anos. Right on target. Mil médicos diferentes passaram pela minha vida desde então. Uma via crucis de perguntas sem respostas. O plano de saúde, caro, pago religiosamente desde sempre, não cobria os especialistas mais especialistas que os outros. Fui em todos – TODOS – os neurologistas famosos – sim, porque tem disso, médico famoso – e, um por um, eles viam meus exames, confirmavam o diagnóstico, discutiam os mesmos tratamentos e confirmavam que cura, não tem. Minha mãe é uma heroína – mãos dadas comigo o tempo todo, segurando para não chorar. Ela mesma mais destruída do que eu. E os médicos famosos viam os resultados das ressonâncias magnéticas feitas com prata contra seus quadros de luz – mas não olhavam para mim. Alguns dos exames são medievais: agulhas espetadas pelo corpo, eletrodos no córtex cerebral, “estímulos” elétricos para ver se a partes do corpo respondem. Partes do corpo. Pastas e mais pastas sobre mesas com tampos de vidro. Colunas, crânio, córneas. Nos meus olhos, mesmo, ninguém olhava. O diagnóstico de uma doença grave e incurável é um abismo no qual você é empurrado sem aviso. E sem pára-quedas. E se você ta esperando um “mas” aqui, sinto lhe informar, não tem. Não no meu caso. Não teve revelação divina. Não teve fé súbita em alguma coisa maior. Não teve uma compreensão mais apurada das dores do mundo. O que dá, assim, de cara, é raiva. Porque a vida já caminha na beirada do insuportável sem essa foice tão perto do pescoço. Porque já é suficientemente difícil estar vivo sem esta sentença de morte lenta e degradante. Dá vontade de acreditar em Deus, sim, mas só se for para encher Ele de porrada.
O problema é que uma raiva desse tamanho cansa, e o tempo passa. A minha doença não me definha, porque eu não deixo. Ela gostaria muitíssimo de fazê-lo, mas eu não deixo. Fiz um combinado comigo mesma: essa merda vai ter 30% da atenção que ela demanda. Não mais do que isso. E segue o baile. Mas segue diferente, confesso. Segue com menos energia e mais remédios. Segue com dias bons e dias ruins – e inescapáveis internações hospitalares. A neurologista que me acompanha foi escolhida a dedo: ela tem exatamente a minha idade, olha nos meus olhos durante as minhas consultas, só ri das minhas piadas boas e já me respondeu “eu não sei” mais de uma vez. EU ACHO GENIAL UM MÉDICO QUE DIZ “EU NÃO SEI, VOU PESQUISAR”. Eu não troco a minha neurologista por figurão nenhum. O meu tratamento custaria algo em torno de R$12.000,00 por mês. Isso mesmo: 12 mil reais. “Custaria”, porque eu recebo os remédios pelo SUS. Sabe o SUS ??? O Sistema Único de Saúde ??? Aquele lugar nefasto para onde as pessoas econômica e socialmente privilegiadas estão fazendo piada e mandando o ex-presidente Lula ir se tratar do recém descoberto câncer ??? Pois é, o Brasil é o único país do mundo que distribui gratuitamente o tratamento que eu faço para Esclerose Múltipla. Atenção: o ÚNICO. Se isso implica em uma carga tributária pesada, eu pago o imposto. Eu e as outras 30.000 pessoas que tem o mesmo problema que eu. É pouca gente ??? Não vale a pena ??? Todos os remédios para doenças incuráveis no Brasil são distribuídos pelo SUS. E não, corrupção não é exclusividade do Brasil. O maior especialista em Esclerose Múltipla do Brasil atende no HC, que é do SUS, num ambulatório especial para a doença. De graça, ou melhor, pago pelos impostos que a gente reclama em pagar. Uma vez a cada seis meses, eu me consulto com ele. É no HC que eu pego minhas receitas – para o tratamento propriamente dito e para os remédios que uso para lidar com os efeitos colaterais desse tratamento, que também me são entregues pelo SUS. O que me custaria fácil uns outros R$ 2.000,00. Eu acredito em poucas coisas nessa vida. Tenho certeza de que o mundo não é justo, mas é irônico. E também sei que só o humor salva. Mas a única pessoa que pode fazer piada com a minha desgraça sou eu – e faço com regularidade. Afinal, uma doença auto-imune é o cúmulo da auto-sabotagem. Mas attention shoppers: fazer piada com a tragédia alheia não é humor, é mau gosto. É, talvez, falha de caráter. E falar do que não se conhece é coisa de gente burra. Se você nunca pisou no SUS – se a TV Globo é a referência mais próxima que você tem da saúde pública nacional, talvez esse não seja exatamente o melhor assunto para o seu, digamos, “humor”. Quem me conhece sabe que eu não voto – não voto nem justifico. Pago lá minha multa de três reais e tais depois de cada eleição porque me nego a ser obrigada a votar. O sistema público de saúde está longe de ser o ideal. E eu adoraria não saber tanto dele quanto sei. O mundo, meus amigos, é mesmo uma merda. Mas nós estamos todos juntos nele, não tem jeito. E é bom lembrar: a ironia é uma certeza. Não comemora a desgraça do amiguinho, não.

HOJE EU QUERO...- por Rosa Guerrera




Hoje eu quero deitar preguiçosamente numa folha em branco de um papel , e relembrar um por um todos os sonhos que construíram a minha vida.
Quero abraçar todos os abraços que já recebi , e beijar todas as bocas que me ofertaram beijos Quero reprisar vozes escutadas , promessas juradas, partidas inesperadas, encontros e despedidas que fizeram parte do contexto dos meus dias.
Hoje quero ser mais falante , me arrepender de palavras ocultadas, do medo que tantas vezes tive de amar ,dos poemas que deixei inacabados, das músicas que preferi não escutar para não chorar.
Hoje quero pisar mais firme o chão da realidade , e aceitar de bom grado as recriminações do meu coração.
Quero juntar todos os meus pedacinhos e colher todas as rosas que esqueci de regar,construindo um canteiro bem florido para que eu possa caminhar sem receio de tombos ou ferimento nos meus pés.
Hoje eu quero conversar com o mar e dizer dos meus desejos secretos nunca realizados.
Cantar aquela canção que por muito tempo alimentou a minha alma e os meus momentos de ternura e de amor.
Hoje a minha verdade se resume em aceitar as minhas limitações, e não me revoltar com o tempo ou com o vento.
E essa nudez me completa , me absorve , traz até mais brilho ao meu olhar.
Tudo que vivi , tudo que senti é hoje para mim como uma redoma a ornamentar uma paisagem pintada por minhas emoções num quadro que ficará para sempre pendurado nas paredes do meu coração.

Cecília Meireles


Cecília Benevides de Carvalho Meireles[1] (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada umas das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.



Meu Sonho (Cecília Meireles)

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

Sonhos - por Socorro Moreira


Os sonhos são passeios nas madrugadas
quando uma realidade paralela
parece mostrar o outro lado da vida
Nos sonhos a matéria não pesa
É como voar e enxergar de um mirante
É como chegar junto
de quem está sempre distante
No mundo onírico os vivos e os mortos se misturam
Falam a mesma linguagem,
e sorriem dos mesmos motivos.
Os desejos reprimidos
criam asas
ousam uma aproximação noturna
quando o travesseiro acaricia a nossa cabeça
da realidade nua e crua.
Dormir pra sonhar
Viver pra esperar
que os sonhos aconteçam !



Lauro Maia - compositor cearense



Lauro Maia 06/11/1912 05/01/1950



Nascido em Fortaleza, desde cedo se interessou pela música folclórica de sua terra, realizando diversas pesquisa sobre o tema. Foi o primeiro a tentar urbanizar ritmos locais com o lançamento do balanceio ("Marcha do Balanceio", gravada por Joel e Gaúcho, "Tão Fácil, Tão Bom", interpretada pelos Vocalistas Tropicais em meados da década de 40). No começo da década de 40, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde tocou em cassinos da cidade. Sua primeira composição, “Eu Vi um Leão”, de 1942, foi gravada pelo grupo Quatro Ases e Um Curinga, que só viria a fazer sucesso dois anos depois, com outra marcha do músico: “Trem de Ferro”. Com o cunhado Humberto Teixeira, compôs “Só uma Louca Não Vê”, sucesso na voz de Orlando Silva, em 1945. Após sua morte, em 1950, suas músicas continuaram sendo gravadas e fazendo sucesso – Carmélia Alves gravou “Trem ô Lá Lá”, outra parceria com Teixeira, e Raul de Barros, o choro “Faísca”. Até João Gilberto andou gravando suas canções, como em “Trem de Ferro”, interpretada pelo baiano em 1961.

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