por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 3 de março de 2011

Salve o Bloco das Piabas

Por Zé Nilton

Como é bonito se ver a nossa Varzealegre mantendo a tradição de carnaval do povo. Blocos, Escolas de Samba e as irmandades carnavalescas nas ruas. Lindo!

Por lá não se canta o:
"Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor"...

Por aqui, na capital da cultura, há todos os tipos de desculpas desde há muito, para acabar com a tradição e com um dos complexos culturais mais expressivos do povo brasileiro.

Mas, eu que não sou de folia, ainda acho que devemos manter esperanças por dias melhores. E para não deixar a letra de Vinícius pela metade, concluo:

"E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe"...

Parabéns ao que fazem a invicta Varzealegre

Bom carnaval para todos!

Jards Macalé



Jards Anet da Silva (Rio de Janeiro, 3 de março de 1943), conhecido como Macalé, é um ator, cantor e compositor brasileiro.

Mais um poema de Yde Schloenbach Blumenschein

VERTIGEM

Uma semana só. Nem mais um dia
durou aquela estranha sensação
que nos aproximava, nos unia...
e amor não era e nem era paixão.

Algo em mim te agradava, te atraía.
Tu tinhas para mim tal sedução
que, tendo-te ao meu lado, eu me sentia
a mulher mais feliz da criação.

Uma semana só... No meu caminho
um vislumbre de sol e de carinho:
uma sombra, talvez, na tua estrada...

Sete dias ardentes de Novembro...
Deves ter esquecido. E eu só me lembro
que nunca fui com tanto amor beijada!

Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein

" Eu " - Yde Schloenbach Blumenschein


Eu

Sou só e sou eu mesma. O que pensem e digam

os demais, nada importa; eu tenho a minha lei.

Que outros a multidão, covardemente, sigam,

pelo caminho oposto, altiva, eu seguirei.

Que, sem brio e vergonha, outros tudo consigam

e que zombem de mim porque nada alcancei;

quanto mais, com seu ódio, o meu nome persigam,

tanto mais orgulhosa em trazê-lo, serei.

As pedradas não fujo e as tormentas aceito;

mas a espinha não curvo em prol de algum proveito,

minha atitude sempre a mesma se revela;

a mim mesma fiel, a minha fé não traio;

e, se em dia fatal ferida pelo raio,

tombar minha bandeira, eu tombarei com ela!


Fonte


http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/yde_textos.html

QUADRINHAS ABOBALHADAS - Ulisses Germano



I

Quadrinhas abobalhadas
Que não tem mais serventia
Mas não são enxovalhadas
Pela falsa melodia

II

Quadrinhas e abobrinhas
É tudo que sei fazer
São tão puras, são tão minhas
Que até chega a predizer

III

Chega um tempo e uma idade
Que o penar não tem mais vez
Se o fim é a eternidade
Vou viver na altivez

IV

O preconceito é um conceito
Que vem antes da razão
Se quizer um ser perfeito
Vá se embora pra Plutão

V

Vê se sai desse aperreio
E desata o nó da dor
Pisa um pouco o pé no freio
Na prudência, meu amor!

VI

Bela menina mulher
A saudade me consome
Mas a vida é como é
Uns comendo e outros com fome
Uns de carro, outros a pé

VII

Vejo que a tu alegria
Nasceu de um grande retorno
De um lugar que contagia
Pois tem o mar por entorno

VIII

Minha mãe que eu amo tanto
Me ensinou o verbo amar
Sendo assim, porém, portanto
Me pediu pra eu calar

XIX

Escrevo no azul sonhado
Com saudades do futuro
Não sou um ser acanhado
Nem fico em cima do muro

X

Se fulano tem desejo
E beltrano também tem
É porque nosso lampejo
Ninguém sabe de onde vem!

XI

Gosto do número onze
Pois tem muita humildade
Que no meu ouvido zonze
Um só som de unicidade

Ulisses, num lampejo na primeira quinta feira do mes de março de dois mil e onze.
Zonzo,  paro por aqui.
 


"Pseudônimos,Heterônimos,Codinomes e Cia " ( 1 )


Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein nasceu na cidade de São Paulo em 26 de maio de 1882, vindo a falecer na madrugada do dia 14 de março de 1963, vítima de um colapso cardíaco. Filha de Otto Schloenbach e de Adelaide Augusta Dorison, Yde fez parte de seus estudos na Alemanha. Poliglota, falava alemão, francês, inglês, espanhol e italiano. Estudou piano e canto. Poeta e cronista, ela começou a escrever aos 13 anos de idade, tendo seus primeiros poemas publicados em A Tribuna, de Santos. Colaborou em revistas e jornais como O Malho, Fon-Fon, Careta e Jornal das Moças, tendo se utilizado muitas vezes dos pseudônimos de Colombina e Paula Brasil.

Casou-se com Hanery Blumenschein com quem teve dois filhos. Mais tarde, desquitou-se, provocando um escândalo. Descrita pelas sobrinhas-netas como uma mulher elegante, esguia e pequena em que sobressaíam os olhos azuis, Yde foi vítima de críticas veementes por parte de amigos e familiares que não aceitavam seu modo independente de ser. Mulher emancipada para sua época, vivia sozinha, fumava, freqüentava meios literários e organizava serões em sua casa.

Sempre cercada de literatos, em 1932, teve a idéia de fundar a Casa do Poeta Lampião de Gás. À princípio funcionando em sua casa, em 7 de novembro de 1948, a casa foi oficialmente criada. No caso, a escolha do nome da casa foi uma homenagem dos intelectuais que a freqüentavam à sua idealizadora –o nome é o título de um de seus livros. Yde foi uma de suas diretoras, tornando-se a responsável pela edição de seu jornal mensal O Fanal.

Quanto à sua poesia, o amor é o leitmotiv que perpassa pela grande maioria de seus versos. No caso das trovas, preponderam versos que tratam do amor de forma mais inocente. Todavia, em outros poemas, a forma como rompe com as convenções burguesas ao falar dos desejos carnais provocou a crítica impiedosa por parte de muitos amigos e familiares. Um processo que eclode com o lançamento de seu último livro, Rapsódia Rubra: Poemas à Carne - livro composto de poemas eróticos.

Para comemorar seu jubileu de poesia, o Clube dos Artistas e Amigos organizou uma festa em 25 de junho de 1955, data em que Yde recebeu uma menção da Assembléia Legislativa de São Paulo, tendo sido mais tarde homenageada com o nome de uma rua – Rua Poética Colombina, no Butantan. Patrona da cadeira número 37 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, ao longo da vida Yde recebeu cognomes como "Cigarra do Planalto" e "Poetisa do Amor".

Obra:

14 dVislumbres. Pref. Luís Edmundo. São Paulo: [s.n.], 1908.

Versos em lá menor. São Paulo: São Paulo Editora Ltda, 1930; 2. ed. Empr. Gráf. Dos Tribunais, 1949.

Lampião de gás. São Paulo: Tip. Cupolo, 1937; 2. ed. [s.n.], 1950; 3. ed. Gráfica Canton Ltda, 1961.

Sândalo. São Paulo: [s.n.], 1941; 2. ed. [s.n.], 1952.

Uma cigarra cantou para você. São Paulo: [s.n.], 1946.

Distância: poemas de amor e de renúncia. São Paulo: [s.n.], 1947; 2. ed. Editora Cupolo Ltda, 1953.

Gratidão. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1954.

Para você, meu amor. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1955.

Cantares de bem-querer. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1956.

Manto de arlequim. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1956.

Inverno em flor. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1959.

Cantigas de luar. São Paulo: Gráfica Canton Ltda, 1960.

Rapsódia rubra. Salvador: SENAI, 1961.

Fonte

http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/yde_vida.html

"Stela By Starlight " Para Stela Siebra


Noite clara
Iluminada
Stela saudosa
Olhou o céu ...
-Brilhava uma estrela
Mas não brilhava Ela.
Pobre Stela !

Noite sem lua
Céu escuro
Stela risonha
Olhou o céu ...
-Não brilhava a estrela
Brilhava Ela.
Voltou o seu amor

Brilha,brilha,Stela !
( Corujinha Baiana - Vila Velha ES, 3 de março de 2011)

APELO:ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DO CRATO

A AFAC-ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DO CRATO, solidaria à situação de varias famílias cratenses que perderam seus pertences na ultima enchente, vem apelar para a solidariedade dos cratenses residentes em Fortaleza, e solicita a doação de lençóis, toalhas e roupas usadas, alimentos não perecíveis e/ou cestas básicas.

As doações poderão ser entregues nos endereços abaixo:

AUDITECE Associação dos Auditores Fiscais do Tesouro do Estado do Ceará
Rua Frei Mansueto Nº 106 (entre a Av. Abolição e Av. Beira Mar)
Bairro Meireles
Fortaleza – CEARÁ

CASA DO LEÃO – Lyons Clube de Fortaleza
Rua João Cordeiro 2181 (entre as ruas Padre Valdevino e Av. Antônio Sales)
Bairro Aldeota
Fortaleza – CEARÁ

As doações serão enviadas para o CORPO DE BOMBEIROS EM CRATO-CE para distribuição entre famílias cadastradas pela Defesa Civil do Município.

CONTATOS DA AFAC:

Wilton Soares: (85) 9613-3936
Graça Barreto: (85) 9959-5242
Amarillo Santana: (85) 9621-6702
Luis Santos: (85) 9621-7016
Pedro Jorge: (85) 8785-6582
Cicera Policarpo: (85) 3246.3662


A AFAC AGRADECE A AJUDA DE TODOS

REPASSE ESSA INFORMAÇÃO PARA OS SEUS AMIGOS

"Pierrot" - Uma Música Inesquecível

Em 1931-2 (?), Joubert de Carvalho e
Paschoal Carlos Magno compuseram essa pérola do nosso cancioneiro popular imortalizada na voz do caboclinho Silvio Caldas.


Sistema Operacional do Casamento !!!- Colaboração de Geraldo Ananias



Prezado Técnico,

Há um ano e meio troquei o programa [Noiva 1.0] pelo [Esposa 1.0] e verifiquei que o Programa gerou um aplicativo inesperado chamado [ Bebê.exe ] que ocupa muito espaço no HD.

Por outro lado, o [Esposa1.0] se auto-instala em todos os outros programas e é carregado automaticamente assim que eu abro qualquer aplicativo.

Aplicativos como [Cerveja_Com_A_Turma 0.3], [Noite_De_Farra 2.5] ou [Domingo_De_Futebol 2.8], não funcionam mais, e o sistema trava assim que eu tento carregá-los novamente.

Além disso, de tempos em tempos um executável oculto (vírus) chamado [Sogra 1.0] aparece, encerrando Abruptamente a execução de um comando.

Não consigo desinstalar este programa. Também não consigo diminuir o espaço ocupado pelo [Esposa 1.0] quando estou rodando meus aplicativos preferidos.

Sem falar também que o programa [Sexo 5.1] sumiu do HD.

Eu gostaria de voltar ao programa que eu usava antes, o [Noiva 1.0], mas o comando [Uninstall.exe] não funciona adequadamente.

Poderia ajudar-me? Por favor!

Ass: Usuário Arrependido


RESPOSTA:

Prezado Usuário,
Sua queixa é muito comum entre os usuários, mas é devido, na maioria das vezes, a um erro básico de conceito: muitos usuários migram de qualquer versão [Noiva 1.0] para [Esposa 1.0] com a falsa idéia de que se trata de um aplicativo de entretenimento e utilitário.

Entretanto, o [Esposa 1.0] é muito mais do que isso: é um sistema operacional completo, criado para controlar todo o sistema!

É quase impossível desinstalar [Esposa 1.0] e voltar para uma versão [Noiva 1.0], porque há aplicativos criados pelo [Esposa 1.0], como o [Filhos.dll], que não poderiam ser deletados, também ocupam muito espaço, e não rodam sem o [Esposa 1.0].

É impossível desinstalar, deletar ou esvaziar os arquivos dos programas depois de instalados. Você não pode voltar ao [Noiva 1.0] porque [Esposa 1.0] não foi programado para isso.

Alguns usuários tentaram formatar todo o sistema para em seguida instalar a [Noiva Plus] ou o [Esposa 2.0], mas passaram a ter mais problemas do que antes.


Leia os capítulos 'Cuidados Gerais' referente a ' Pensões Alimentícias' e ' Guarda das crianças' do software [CASAMENTO].

Uma das melhores soluções é o comando [DESCULPAR.EXE /flores/all] assim que aparecer o menor problema ou se travar o programa.. Evite o uso excessivo da tecla [ESC] (escapar).

Para melhorar a rentabilidade do [Esposa 1.0], aconselho o uso de [Flores 5.1], [Férias_No_Caribe 3.2] ou [Jóias 3.3].

Os resultados são bem interessantes!


Mas nunca instale [Secretária_De_Minissaia 3.3], [Antiga_Namorada 2.6] ou [Turma_Do_Chopp 4.6 ], pois não funcionam depois de ter sido instalado o [Esposa 1.0] e podem causar problemas irreparáveis ao sistema.

Com relação ao programa [Sexo 5.1], esqueça! Esse roda quando quer.

Se você tivesse procurado o suporte técnico antes de instalar o [ Esposa1.0] a orientação seria: NUNCA INSTALE O [ESPOSA 1.0] sem ter a certeza de que é capaz de usá-lo!

Ass: Técnico
--
"As pessoas confundem desejo com realidade.
Tentar transformar o seu desejo em realidade é romântico,
mas achar que a realidade tem que se submeter
aos caprichos dos seus desejos é idiotice."

DECLARAÇÃO - Ulisses Germano

*******
Declaro para os devidos fins de prova
Junto a Comarca do Coração
Que o  amor é livre e  incondicional
E está presente em qualquer pessoa
Embora a inveja, o orgulho e o egoismo
Impeçam seu afloramento.
Como não pode ser ensinado
Nem repassado como lição de casa
Muitos ainda permanecerão 
Vivendo sem saber sabendo
Que estão fingindo
Mentindo no pensamento
Nos gestos e na fala
Criando máscaras de risos
Ou de cara de gente séria


Atenciosamente,

Dona Benevolência

Crato, 03 de março de 2011



Mundos virtuais


A freira dominicana Maria Jesús Galán foi afastada , recentemente, de sua ordem religiosa, após 35 anos de reclusão. A religiosa é espanhola e carrega nos lábios um sorriso solto de quem anda de bem com a vida. A expulsão , em si, não seria notícia, não fosse pela causa que levou de volta a irmã Maria a este mundo ríspido e cruel. Galán é uma usuária assídua da internet, usa o computador para ler, ouvir músicas e fazer amigos. Sua página no Facebook arrolava quase seiscentos seguidores. A ordem dominicana possivelmente interpretou isto como uma perigosa quebra de reclusão, a freirinha estava periodicamente fugindo para o cyberspace.
Claro que os dominicanos têm lá suas regras, próprias do fechado clube que criaram e , como tal, têm o sagrado direito de escolher quem pode ou não freqüentar as suas hostes. A atitude, no entanto, me traz um mote para refletir sobre a terrível dificuldade que têm as religiões de acompanhar o dinamismo inexorável do tempo e da vida. Os templos todos terminam por ter um cheiro mal disfarçado de fuligem, de mofo, de teia de aranha.
As grandes religiões alicerçam-se em livros sagrados que foram escritos pretensamente sob inspiração divina há muitos séculos atrás: O Talmud, o Alcorão, a Bíblia, o Tipitaka, o Rig Veda, o Zend Avesta . Respeitemos todos os religiosos e acatemos a sacralidade destes livros. Mesmo assim, vem uma grande pergunta: mesmo sagrados e inspirados, quem os interpreta , quem os traduz, quem os ensina ? Ora, várias gerações de sacerdotes,místicos, beatos todos eles humanos, falíveis, eivados de paixões e defeitos. Mesmo assim, se outorgam poderes especiais e se apresentam como representantes legais do Homem, sem apresentarem, nunca, uma procuração assinada pelo Ser Supremo. Pois são justamente esses inúmeros sacerdotes falíveis que interpretam os desejos mais insondáveis de Deus. Montados neste poder supremo: criam regras, cospem sentenças, ditam códigos de ética, loteiam os céus e cobram pedágio, a todo momento ,neste caminho que pretensamente levará ao Shangri-lá da eternidade. A interpretação apaixonada e tantas vezes tendenciosa dos livros sagrados levou a tragédias históricas inimagináveis: a Inquisição, as Cruzadas, as Guerras “Santas”, as Jihads, os “Homens Bomba”, o genocídio indígena no Novo Mundo. Seria possível sair de um Ser Onisciente regras absurdas como : a proibição de transfusão de sangue; das crianças brincarem em parque de diversão; do uso da camisinha na prevenção da AIDS; a demonização do sexo e do prazer; o preconceito terrível com a diversidade sexual; o apedrejamento público de mulheres em caso de adultério ?
Além de tudo, esses livros escritos, alguns há milhares de anos, teriam condição de contemplar o mundo atual, com sua vertiginosa evolução ? Barriga de aluguel, Clonagem, Células Tronco,Fertilização in vitro, Internet, Globalização ? Claro parece que todos esses livros necessitariam de um upgrade providenciado pelo próprio Autor e não por seus pretensos procuradores.
A expulsão da madre Maria Galán é um nítido sinal de como as religiões estão presas ao passado . Emboloradas, não conseguem interpretar os novos tempos e suas complexidades. Fecham-se em guetos e vomitam ordens e leis ultrapassadas. Em tempos de cirurgia robótica ainda teimam em curar as chagas do corpo e do espírito com cataplasmas e sanguessugas. Madre Galán há de facilmente perceber que o mundo real é esse que ela vê agora fora dos muros do claustro, lá dentro o que existe é um universo virtual, fictício igualzinho ao que ela navegava quando acessava as páginas do Facebook.


J. Flávio Vieira

Estação do Silêncio - socorro moreira





Plataforma escura, silenciosa angústia.
Meu coração já se apinhou de gente chegando, e partindo.
Já chorou, se descabelou...
Já dormiu em pé, já sonhou dormindo.
“Café com pão”.
Bolacha não
Café com pão... ““.
- Olha a tapioca, olha a mariola...
(Tudo tão depressa, tudo já sumindo...)
-Corre menina, senão você perde o trem!
-Desce menino, o trem não tem paciência com ninguém!
Naquele sacolejar...
Vi a roça, vi a rosa, puxei prosa.
Vi a lua crescer, e a madrugada passar.
Queimei o braço no sol
Queimei o olhar, noutro olhar!
Viagens curtas e amorosas.
Outras desencarrilhadas, nauseantes.
E o apito, ainda soa em meu ouvido.
Encontros marcados, impacientes.
Trem atrasado, que um dia deixou de chegar.
Pessoas também se quebram nos trilhos da vida
Fragmentam-se, viram pós de estrelas...
Perdem o trem!

Ramon- Por Ronaldo Correia Lima


 

- O siilêncio é uma rua de janelas fechadas - pensou em voz alta.


À luz da lua, avistou na areia branca da praia as imóveis caveiras de elefantes, restos encalhados de barcos de pesca. Lembravam as costelas de um paquiderme, desmanchando-se ao embate das ondas. Se a maré subia, naufragavam; se baixava, as proas pediam socorro.

Fazer o quê? O avô quisera assim.

- Os homens inventaram os cemitérios.

Ramon acendeu um cigarro e riu. Nunca contava os cigarros fumados, nem olhava as fotografias que ilustravam as embalagens, para não se amedrontar e desistir do vício. Um homem numa máscara de oxigênio. O Ministério da Saúde adverte: fumar provoca câncer de pulmão. A foto que mais o atemorizava era a de um cigarro com as cinzas arqueadas, sugerindo algo que baixou e não levantará mais nunca. O Ministério da Saúde adverte: fumar causa impotência sexual. Meninos desnutridos, mulheres grávidas, membros ulcerados. Ele mesmo perdera os dentes. Caíram por causa da infecção, um a um.

Como os barcos que o avô deixou encalhar na praia, depois que adoeceu e não podia se aventurar nas águas profundas.

- Nunca mais sairão à pesca.

As madeiras apodreciam, os tabuados finos soltavam-se das vigas, a maresia comia os ferros. Do jeito que se decompunham os elefantes mortos na savana. Primeiro, os caçadores arrancavam as presas de marfim. Depois, as aves de rapina devoravam os olhos, furavam o couro e comiam as vísceras. Por último, as hienas se banqueteavam com gorduras e carnes. Restavam os ossos, arreganhados para o céu, sem nenhum pudor. Iguaizinhos aos barcos.

Ramon não ligou para a metáfora do poema e riu alto. O silêncio é uma fileira de barcos arruinados. Alguém deixaria de se divertir com a imagem de caveiras de elefante, enfileiradas e silenciosas? Achou que era um gênio do humor, e riu até se engasgar com a nona taça de vinho. Tornou-se sério apenas quando acendeu outro cigarro. Sem querer, viu a foto de um menino raquítico.

Nunca visitara a África, onde os meninos desaprendiam a mastigar, porque não comiam. O Ministério da Saúde adverte: fumar durante a gravidez causa problemas ao feto. Ainda bem que ele não corria esse risco. Mais uma vantagem em nascer homem, os espermatozóides não sofrem desnutrição pelo tabagismo. Nem pelo álcool.

Encheu a décima taça e olhou através da janela. Era a única aberta na rua. A única com as luzes acesas e gente espreitando. Ele.

Do outro lado, a praia, os barcos que o avô deixara encalhar quando soube que estava morrendo. E o mar.

O avô lhe presenteara com um maço de cigarros, ao completar treze anos. Ensinou-o a desfazer o invólucro de celofane, a tragar e a expelir fumaça pelo nariz. Sempre fumaram juntos, até poucos dias antes do avô morrer de câncer de pulmão.

- Não acredito que isso faça mal.

Riram.

O avô contou sobre o único dia em que decidiu largar o vício. Pescava no mar alto. Não permitira que ninguém levasse cigarros na embarcação. Uma noite não suportou o desejo e deu ordens pra voltarem. Encontrou os botecos fechados. Bateu na porta de uma casa, pediu que lhe vendessem um maço. Pagava qualquer preço. Acendeu um cigarro e revoltou-se com a constatação de que uma coisa tão pequena o dominava. Jogou-o no chão e esmagou-o.

- Você é um homem letrado, mas o vício nos iguala - falou pra Ramon.
 
- É possível.

Mudos, os dois olhavam os barcos. Nos porões se desmanchando, nenhuma memória de peixes.

E o avô, de que se lembrava antes de morrer? Ele e Ramon amavam o silêncio acima de todos os bens. O silêncio que se segue a uma baforada, a fumaça pairando sobre as cabeças, como nuvens antes de uma tempestade. Em silêncio, todos os homens são iguais, como ruas de janelas fechadas.

Ronaldo Correia Brito

As borboletas sutis- Marcos Vinícius Leonel








E assim
Ele converte rios
Em desertos
E nascentes em
Terra sedenta
E em um vórtice
Faz habitar ali
Na solerte morte
Deitada no encardido
Da rede escarpada
O ar dos arados
Rente ao chão e
Além do horizonte

O medo maior
Que já espoliou
Minhas entranhas
Não se parece nada
Com esse desvão
Onde almas fundidas
A velhos ferrolhos
Resguardam tesouros
Fartos de mapas
Lá onde os carcarás
Gaguejam de azia
Rente ao vazio e
Além do carcomido

Tenho me
Confundido e
Resvalado no chão
Como o eco de
Palavras perdidas
Tenho despescado
O peixe azul e
Tenho retido
Em uma das mãos
O ar que me falta
Sou a permanência
Rente ao sido e
Além do retorcido

Morte maior
É a minha que é
Repetida várias vezes
Em várias fezes
Despovoada assim
Bem aos poucos
Dizem que meu barco
Naufragou em
Um rio fantasma
Que de tanto correr
Para o mar secou
Rente ao engasgo e
Além do engano

A última vez
Que eu vi Berta
De Aprígio Sozinho
Aquela a quem
Chamam de arribada
Ela trazia nas mãos um
Rosário azul e branco
E nos lábios uma
Reza espichada
De palavras achadas
Na enxadada
Rente ao plantio e
Além da colheita

Foi quando
Eu percebi que
As minhas favelas
Fabulam por dever
Contra o devir
E camuflam das
Agonias o estertor
Revezam o dia
Pela noite nos
Grandes lábios do
Abismo que me acolhe
Rente ao nascido e
Além do por morrer

São tantas
As primazias
Como assim tantos
São os pruridos
Como assim tantos
São Gertrudes e
Antônio e Apolônio
E Sebastiana com
Seus treze filhos
Feliz da vida sem
Grão pra enfeite
Rente ao fastio e
Além do por comer

Mas me diga
O que fazer por essa
Saudade por nada
Dessa pedra por
Tosco sabão sábio
Das sujeiras da
Velha alma posta
No quaradouro
Tão próximo a esse
Charco imóvel
Latente de batismo
Rente ao suplício e
Além do martírio

E esses
Tocos esturricados
Que se deitam espaçosos
Pela paisagem diurética
Que se erguem tão
Fantasmagóricos quando
A noite investe em
Passos largos vestindo
De vestígios o trem
De feira que percorre
A minha memória
Rente ao confisco e
Além do narrado

Não servem
Eles nem para
Delimitar o árido
Ante o hálito da
Árvore frondosa que
Finca reificando
A solidão sonora de
Sua sombra assombrada
Dormida em potes
E quartinhas e
Cabaças domesticadas
Rente ao armistício e
Além do ardil

Mas me diga tu
Lurdinha de Ubaldo
A quem chamam
De a venerosa
E ainda tu Malaquías
Da Baixa Danta
E ainda tu Eleutério
Da Santa Cruz
O que fazer por essa
Alma que vaga no
Deserto que se estende
Rente ao ralo e
Além do escorrido

Assim têm
Sido os meus dias
Longe das três chaves
E bem próximo do
Eterno retorno
Tenho esperado
Por ti e por ti
Esquadrinham meus
Rins e meu coração
Tiro os meus pés
Dessa rede
Rente ao relento e
Além do frio

Não me
Chamem agora
Para a terra prometida
Estou no aperreio
Dos meus farrapos
As noites debulham
Borboletas sutis
Que durante os dias
Prendem meu reflexo
Em seus espelhos
E voam em círculos
Rente ao engreno e
Além do debreio

"Sussuruídos" - socorro moreira





"Sussuruídos"
O Mestre fala no silêncio.
Quem vive no silêncio, se torna Mestre!

Pingos na calçada
Lama no caminho
E agora, destino?
Traça e transforma
a vida, em fados!

Antes da comunhão,
Voltamos à mesma estação...
Roda da fortuna
Giro cármico
No silêncio que grita
Faço as tuas malas

Nem a rosa, nem o cheiro...
Só o jardim das lembranças!
A praça é do mesmo jeito
Do meu tempo de criança
Cheirinho de filhoses,
Batata frita e pipocas
Bancos ocupados...
Uns namoram,
Outros passeiam a vista,
Enquanto a Igreja chama!
Chama de velas
Toques de sino
Almas benditas...

Dia árduo
Dia passado
Hoje é vindouro
Bem vindas todas as garças!

Dunas, dunas...
Ventos, Aracati...
Canoas partidas
Metades de luas
Sóis inteiros
Zoom viajante

Faz calor
Teu canto
perto de mim resfriou.
Tudo fora de área
Desfolho margaridas?
Caminho a esmo?

Estrada seca
Vagueia meu olhar
Fala meu coração
Engole canção
Como se fosse ostra

As luas se fazem novas e cheias
Rugas se fazem, na expressão do desgosto.
Aonde me acho, quando a preguiça me deita no leito?

Queria um poema que falasse do nada
Do amor curado, do beijo saciado.
Da noite festiva, num dia cansado.
Da rua vazia e triste
Dos carros que não passam
Das horas que se arrastam
Do teu cheiro de mato
Do teu olhar de gato
Do mel que engarrafaram
Do gênio...
Que não cumpriu seu mandato!

Queria um pouco de frio
No lençol que me acoberta
Um pouco de vento
Na cortina da janela
Unicidade e paz
Na pergunta sem resposta...

O sono é indutivo
O coração é dedutivo
Os sentimentos calam por timidez
Ou medo das contradições?
Um pingo de gente
Encharca meu coração .

Nosso amor capotou na curva da incompreensão
Nosso caminho ainda terá chão?
Aquietei-me, numa ausência sem recados!


Tudo é incerto
O novo com cara de velho
O ar com cheiro de rosas!