por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 3 de março de 2011

Árvore Frondosa - Por Marcos Vinícius Leonel



E se
Desnecessária for
A dor poente operária
Dos serenos arenosos
De respiração difícil
E olhos postiços
As tuas palavras
Petrificadas ficarão
Demarcando amargas
A mortandade dos dias
E a luz suspendida
Tão supremas
Quanto suportadas

E quando as sobras
Se repartirem mais do
Que as sombras
E quando pouco de ti
For esbaldado para
Deixar toda cacimba
Mergulhada em si
E quando flechas
Não te tocarem e mil
Caírem do teu lado
Tudo permanecerá
Tão firme
Quanto fremido

Dizem que eu ando
E as palavras me
Perseguem lavadas
Mas não é verdade
Dizem que eu redobro
O velho preço das
Peles engilhadas
Mas não é verdade
Dizem que eu vasculho
O basculante dos alhures
Em busca do vasto
Tão hirto
Quanto abismado

Sei que depois da
Lâmpada acesa
Criou-se a escuridão
Desvirginada
Sei que depois de
Alexandrina e
Cibele partirem
Criou-se o sorriso
Dos mortos dormindo
E nunca mais vimos
Rodopiando a poeira
Tão grossa
Quanto pesada

E mesmo assim
Quando as cabras
Amassam assíduas
A solidão solene
Com seus berros
De arribação
É fácil perceber
O silêncio se
Desprender de mim
E se recobrir com uma
Camada fina de saudade
Tão poroso
Quanto solícito

E não é apenas
O senhor deus dos
Exércitos que sofre só
As amputações da vitória
Eu mesmo só posso
Ter dois mil cavalos
Se neles puder montar
É assim que o
Chão racha sob
A paz dos meus pés
Emprenhados
Tão sedoso
Quanto cáustico

Das cangalhas que
Dependuradas em pares
De espasmos
Transportam provisões
Arriaram duas mantas
De carne seca que
Não matou a fome
E o sal sozinho
Conservou a saudade
Que Taumaturgo disse
Como profeta ser
Tão pontiaguda
Quanto destinada

Mas não temos
Para onde ir
Eu e minha saudade
Bordada em linho
E o mormaço
Fincado não sobe
Fica emparedado
Tornando a alma
Cheia de pedregulho
E me fadiga
Desenterrar os meses
Tão despossuído
Quanto empoçado

Quase todos
Já se foram de si
Aqui ainda estou eu
Pespontando os teus
Nervos ausentes
Enquanto do alpendre
Os meninos de Letícia
Miram-me com
Peixes azuis
Flutuando no olhar
É um reinado curto
Tão ardiloso
Quanto totalitário

As coisas podiam
Muito bem caberem
Em tuas mãos incontidas
Mas vê bem a estiagem
Por onde já passaram
Tantas agonias
Ela é maior do que
O próprio destino
Com seus dias de glória
E suas nuvens novenas
Orando pelos vivos
Tão esquálida
Quanto impávida

Crespa é minha sorte
Ondulada como
As cercas desse vale
Já esquartejado
Pelo desejo de ter
Mas a mim a desonra
Não tem olhado
Com o seu manto
Acima dos tornozelos
Apenas o sono brilha
Como ferro em marteladas
Tão silente
Quanto calado

Os tijolos aparentes
Dessa velha casa
Já não são tão absortos
Como antigamente
Disse Eleutério
Sem voz e suspenso
Olhando firme
Por sobre meus
Assopros e espantos
Alguns sentados
Nos batentes
Tão denso
Quanto etéreo

Sei que minhas
Unhas crescem e eu
Desejo a noite
Mas ela não vem
Ante tantos dias enfiados
Num rosário de esperas
Enquanto isso
Tateio pregos hirsutos
Para fixar o pleno
Dessa árvore frondosa
Que se ergue
Tão alada
Quanto grávida


Nenhum comentário: