A galinha atravessa vagarosamente o terreiro.
Cada passo é quase uma queda
(como a vida).
A galinha é torta,
tem uma perna mais curta que a outra.
É uma galinha manca.
Atravessa o terreiro compenetrada como se estivesse
calculando
cada
movimento.
O terreiro é largo,
clareado aqui e ali por algumas réstias de sol.
O chão é coberto de terra vermelha, uma ou outra pedra
preta,
folhas, penas e dor.
A galinha é um bicho só.
Procura algum grão de milho, uma minhoca,
procura a sombra,
procura o sol.
A galinha conjuga os verbos da solidão.
Nenhuma outra galinha,
nenhum galo.
A vida parece sem sentido.
A galinha ergue a cabeça,
apruma o corpo,
soluça
e volta a caminhar.
É preciso presto caminhar, dominar o ambiente em que se vive.
A galinha olha para um lado,
para o outro,
olha fixo para um objetivo determinado, um ponto que só ela vê.
E caminha.
Sente falta de uma muleta, talvez de uma bengala.
Mas caminha
tropeçando na própria perna,
caindo,
levantando.
Caminha.
A galinha mínima dominou o seu mundo mínimo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário