por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



RECITAL DE LANÇAMENTO - AZUL SONHADO.

Dedicatória
Esta coletânea é dedicada a dois cearenses singulares: José de Figueiredo Filho e Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré. Ambos caririenses, ambos diretamente relacionados à cultura popular da região. O escritor Figueiredo Filho, meu avô, como estudioso do folclore local e da identidade cultural do povo do Cariri. O poeta do Assaré, como uma das mais fortes expressões dessa identidade. Não por acaso, o encontro dos dois foi seara fértil que resultou no livro Patativa do Assaré – novos poemas comentados, lançado em 1970 e relançado 12 anos depois pelo Museu do Ceará. Um comovente e pioneiro reconhecimento de Figueiredo Filho à genialidade de Patativa. Além dos fazeres e saberes de cada um, eles tiveram em comum a largueza de espírito que caracteriza os homens incomuns. Cada um ao seu modo, com generosidade só comparável à compreensão que mostraram ter do seu povo e da sua época. Agora, seus nomes voltam a convergir na forma de evocação para este livro. Não poderia haver melhor inspiração.
Tiago Araripe
Recife, fevereiro de 2011


Azul à vista!
Este livro é o diário de bordo de muitas viagens. Reúnem-se nele os espólios de guerra de vários sobreviventes. Vencedores/vencidos da peste negra do tempo, do aríete dos anos, do curare paralisante do cotidiano. Como o poeta já nos havia alertado: “Tudo que respira/conspira.” Partimos lépidos, sem sequer perceber que a vida, como a terra, é esférica. Caminhos díspares, eis que nos encontramos todos, algo fatigados, na mesma encruzilhada. Vimo-nos Sísifos, fitando-nos surpresos, na certeza que tudo passou exatamente para que tudo recomeçasse. Como se todos fôssemos palavras de uma mesma oração, peças de um mesmo tabuleiro, planetas aparentemente dispersos no éter, mas presos, ainda que imperceptivelmente, por uma mesma força gravitacional misteriosa. Assim, como contas de um mesmo colar, estes contos / crônicas / poemas / ensaios têm um fino fio que os une. No fundo são capítulos de uma mesma história. Como Scheherazade, pomo-nos a narrar nossas “1001 Noites”, na inglória tentativa de aplacarmos a tara do Grão-Vizir do tempo. O leitor desavisado ao mergulhar nestas páginas não sairá incólume. Instigado pela tênue centelha, quem sabe descobrirá que o futuro gesta no ventre do passado e que a sabedoria é apenas a loucura que tirou férias? Esta é nossa tentativa em levar o rubro da paixão à aquarela da vida. Ela que teima em esmaecer frente aos raios do Sol que, se ironicamente de um lado lhe dão brilho incandescente, do outro lhe sugam as cores e matizes.
J. Flávio Vieira




"A liberdade que os escritores tiveram nesta coletânea revela muito que ela tanto pode ser o árido dos desertos quanto a exuberância da Floresta do Araripe. Em outras palavras, não basta ter a liberdade, é preciso ter vontade de voar, e mesmo que seja de apenas ficar, reconhecer o particular de cada recanto.
O Pachelly Jamacaru, que ilustra a capa deste livro, é o exemplo desta última modalidade de liberdade: mostra o quanto a criatividade é universal e múltipla apenas com as imagens do Cariri. Outros tantos abrem um leque temático, vão por tantos caminhos que poucos imaginam. Enfim, esse é o espírito desta coletânea.
O espírito de uma região exuberante em pessoas. Tanto em liberdade quanto em capacidade de realização. O que essas pessoas livres fazem é volumoso, não é fácil reunir em dois semestres tantos trabalhos, tanta poesia, contos, crônicas como aqui lemos. Este livro é o registro de uma potência cultural, mesmo que relativizada neste mundo globalizado.
A capacidade de realização é o que explica o aproveitamento dessa potência. Não basta ter disposição, é preciso articular, planejar, seduzir, mostrar uma brecha onde muitos não a enxergam. Isso é necessário, pois as coisas não acontecem espontaneamente. Existem pessoas que percebem a potência, têm a capacidade de produzi-la, de amar e estimular os outros a ajuntarem-se. São essas pessoas que convocam, criam as condições para editoração, e finalmente a região tem seu produto.
Quem ler este livro e não conhece o Cariri um dia chegará por lá. Quem já o conhece tem outro estímulo para não esquecê-lo jamais. Quem por lá nasceu é bom saber desta liberdade: que é a soma da potência de multiplicar e da capacidade de realizar."


José do Vale
                                  














O Livro "No Azul Sonhado"

Eis aqui outro fenômeno caririense produzido em blogs da Internet que congrega elenco de escritores do Cariri cearense, ou ligados ao seu meio de conhecida tradição artístico-cultural. São pessoas somadas pelo gosto das letras e pela amizade, numa produção que reflete o espírito criativo desta época de tantos e recentes multimeios da comunicação eletrônica. Reunidos, pois, no Azul Sonhado, formam trabalho amplo de inovações, o que sumiria pelos dedos imediatos da virtualidade, não fosse o empenho da sua edição. Resta usufruir os resultados surpreendentes da feliz iniciativa.

Emerson Monteiro