por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Lentes do encanto - por Socorro Moreira




Um falava
A outra escutava de olhos arregalados,
completamente encantados.
Os amores nascentes entravam
por todos os buracos.

Tempos depois, esbarraram-se,
numa das esquinas da vida.
Os dois ainda, pessoas apaixonadas !

Falam do mar, do amor, e
do vento acariciando a alma.

Possuem silenciadores
mas preferem amplificar sentimentos...
Reencontro pra viver tudo aquilo que faltou.


- Mentem !
Faltou um beijo...
E agora querem os juros e as juras...
Querem muitos beijos juntos !

Retrato de um poeta!



Vocês o reconhecem ?

Poema de Rimbaud

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Arthur Rimbaud


A poesia de Lupeu, no dia do poeta




Noite quente de poucas luzes
No céu turvo
Meia dúzia de nuvens de um tom mais escuro
Algumas estrelas
Um garçom entediado
Um cantor de bar que acrescenta letra a letra da música
Noite quente
Uma pontada no peito. Infarto?
Gazes, talvez
Fecho os olhos por um instante
Não é esse bar
Não é esse o dia
Não é essa a cidade onde perdi meus sapatos
Onde a dengue me derrubou uma semana entre a vida e o tédio
Noite quente
Amanhã o relógio vai me acordar
E o por do sol vai estar passando em slow motion na retina do tempo
Tempo nenhum
Mais uma cerveja
Um gole a mais sem gosto
O cantor recria mais uma canção de ninar vampiros
A mágica da noite não amadurece as frutas compradas sem cheiro
Em prateleiras coloridas de supermercado
A fome
A noite é pura fome
E a fome vomita ânsia
Que come a noite
O garçom
E o cantor compositor de um dia que não virá.


por lupeu lacerda

Por José do Vale Feitosa



Surpreende que a seiva,
Se habite de tantos.
Carreando no caule,
Todas as sílabas do seu nome.

E que a solidão,
Se agasalhe sob a copa das árvores,
Uma cantoria de pássaros,
O choramingar de um riacho.

Surpreende teu ódio de pedreira,
Tornando rochas em volumes britados,
Fragmentando o caminho da evolução,
Com teu instinto de pedregulho.

E que versejes como fogos de artifício,
Uma deslumbrante luz no céu,
Que encanta pelo efeito,
Só para lembrar a escuridão.

Surpreende o sol que se põe,
Amiudando a luz em complexidade,
Detalhando o invisível da plena luz,
Nuances do mesmo, fusões dos diferentes.

E que a poesia seja apenas sons,
Mas uma canção também o é,
Ela nos diz do plural de cada um,
Da unidade na distinção.

Surpreende que o amor seja apenas um,
E que sua prática seja uma cena,
De tantos atores, muitos sentimentos,
Esperança, tédio e quebras.

O que não surpreende,
É o tempo me desconstruindo,
Enquanto o evoca na permanência,
A saudade que preserva é matéria do tempo.

Paulo Tapajós - Por Norma Hauer


Foi a 20 de outubro de 1913 que nasceu, aqui no Rio, aquele que seria um dos maiores nomes da radiofonia nacional: PAULO TAPAJÓS.

Com seus irmãos Haroldo e Oswaldo iniciou sua carreira na pioneira Rádio Sociedade, em 1927. Seu irmão Oswaldo logo abandonou o conjunto e Paulo continuou fazendo dupla com Haroldo, quando gravaram a primeira composição de Vinicius de Moraes, então um nome pouco conhecido, embora sobrinho de Melo Moraes, também compositor, apesar de Delegado de Polícia.

Essa primeira gravação foi o samba "Loura e Morena".

Paulo Tapajós e Vinicius de Moraes nasceram apenas com um dia de diferença, ambos em 1913. Paulo gostava de dizer que eles "se encontravam" à meia-noite, para um abraço de parabéns recíproco.

Paulo Tapajós continuou sua carreira com o irmão Haroldo, ingressando na Rádio Mayrink Veiga.

Posteriormente, já sozinho, passou à Rádio Nacional(entre 1942 e 1946) , fez uma pequena temporada na Rádio Tupi, regressando à Nacional onde apresentava, no fim
da noite, o"Musica em Surdina".

Com Albertinho Fortuna e outro cantor cujo nome não me recordo, formou o "Trio
Melodia", ainda na Rádio Nacional.

Nessa época gravou várias serestas, a maioria de Catulo, como "Os Olhos Dela";"Tu
Passaste por este Jardim":"Recorda-te de Mim"; "Ao Luar"; Clélia" e várias outras.

Como sua voz era "pequena", mas muito bem colocada, ele foi considerado "modinheiro" ao invés de seresteiro.

Quando a Rádio Nacional praticamente acabou, Paulo Tapajós conseguiu salvar seu acervo que iria ser sucateado. Hoje, programas da Nacional, como "Rádio Memória",
de Gerdal dos Santos ou "História da MPB", de Osmar Frazão, costumam inserir
partes de programas famosos salvos por Paulo Tapajós.

Paulo Tapajós dirigiu o Museu da Imagem e do Som, depois que Almirante o deixou e
ali ouviu e gravou depoimentos de compositores e cantores que passaram por
nossa música e foi a ele que Pixinguinha revelou o nome de Octavio de Souza como
o autor da letra da belíssima composição "ROSA.

No disco original de ROSA, gravado por Orlando Silva, só consta o nome de Pixinguinha, grande músico, mas que não fazia letras.

Em 1990 Paulo Tapajós, como grande pesquisador que ia "fundo" buscar material para seus programas, apresentou, durante cinco terças-feiras, no Teatro do BNDES
a "História do Carnaval no Brasil", desde os primórdios, quando havia muita influência estrangeira, principalmente lembrando o carnaval de Veneza, passando pela primeira música feita para o carnaval , o "Abre Alas" de Chiquinha Gonzaga, até o apogeu das Escolas de Samba.

Vários cantores ali se apresentaram, dando voz e vida aos programas.

Paulo Tapajó estava preparando outra programação para aquele teatro, quando apresentaria a obra de Ataúlfo Alves, mas faleceu em 29 de dezembro daquele mesmo ano (1990) e o projeto não aconteceu.

Paulo Tapajóis teve três filhos, todos ligados à música:Maurício, Dorinha e Paulinho. Apenas este está vivo.
Som, depois que Almirante o deixou e
ali ouviu e gravou depoimentos de compositores e cantores que passaram por
nossa música e foi a ele que Pixinguinha revelou o nome de Octavio de Souza como
o autor da letra da belíssima composição "ROSA.
No disco original de ROSA, gravado por Orlando Silva, só consta o nome de Pixinguinha, grande músico, mas que não fazia letras.

Em 1990 Paulo Tapajós, como grande pesquisador que ia "fundo" buscar material para seus programas, apresentou, durante cinco terças-feiras, no Teatro do BNDES
a "História do Carnaval no Brasil", desde os primórdios, quando havia muita influência estrangeira, principalmente lembrando o carnaval de Veneza, passando pela primeira música feita para o carnaval , o "Abre Alas" de Chiquinha Gonzaga, até o apogeu das Escolas de Samba.

Vários cantores ali se apresentaram, dando voz e vida aos programas.

Paulo Tapajós estava preparando outra programação para aquele teatro, quando apresentaria a obra de Ataúlfo Alves, mas faleceu em 29 de dezembro daquele mesmo ano (1990) e o projeto não aconteceu.

Paulo Tapajós teve três filhos, todos ligados à música : Maurício, Dorinha e Paulinho. Apenas este está vivo.

Norma

ABOBRINHAS DOS BR BROS - por Ulisses Germano

 
CRENDICE DE CREDOR

Pindura a conta de novo
Que dever é meu dever:
-Devo não nego e só pago
No dia em que eu não lhe ver
CANTOR
O canto é feito do vento
Na voz de quem revela
Que anuncia o momento
Moldado na goela

 TOCADOR (que toca a dor)
Tocador que toca bem / No tanger notas sutis / Bem sabe de onde o som vem / O timbre que é sua matiz
RIMA - TANTO FAZ
A rabeca e a beca / Sairam pra passear / Beca danada da breca / Fez a rabeca chorar

Reencontro - por Socorro Moreira



Paixão

Um olhar profundo,

descolado da multidão,

aporta no mesmo plano .

Alice morava ali

Naquela varanda vazia...


Entrei no cheiro do cigarro

e na cor do campari

Gelo derretido , tremido ...

Sou onda !

Salgo a minha alma

Salvo o meu amor


Num álbum guardado

eu rasgo o teu olhar,

e me apaixono !

"Est(r)ilo Nico"- por Socorro Moreira




Lente e mente
Coração quente
.não mente
 fria mente

Des(compasso)
 o samba
canção
dos meus
ou vi(n)dos
 de alguém.

Vibra (a)ções
Sons e tons
 Peito agonizaamor tecido
 Hospeda,
a(dona) sentidos

por Socorro Moreira

Cenário de um sonho - por Socorro Moreira



Uma vez escutei de um amigo, que tem talentos múltiplos:
"Quero ser poeta. Poeta não envelhece!"
Pode adoecer, ficar barrigudo, e ser o maior coração do mundo.
Naquela hora, entendi superficialmente. Um dançarino se ficar fora de forma, o corpo já não acompanhará os seus movimentos. Poeta não pára de se depurar. Aliás, a poesia só deixa o poeta, se o poeta dispensá-la.
Então descobri que eu gostaria de ser a poesia.
Mas esqueci, o quanto é difícil ser poesia. Em frações de segundos, a varinha de condão corta o encanto. A poesia é fugaz... Constante é a prosa.
Acho que prefiro ser a prosa. Uma prosa ora romântica, ora realista. Ora machucada, ora livre. A vida é prosa, com passagens poéticas, que ficam impressas, no álbum das memórias. Chamo esse álbum poético de oásis. A prosa é um deserto repleto de oásis, com espaços em claro para novas construções. Primeiro a gente mira, imagina... Depois a gente chega perto, toma água na fonte, e adormece, numa sombra pródiga, e sonha, e sonha, e sonha!
Quero o sonho, em cada noite do meu dia.
Neles encontro pessoas intangíveis, como doces; executo tarefas, que a realidade limita. Nos sonhos a gente tudo pode... Pena, que a gente acorde...
Morrer é não acordar de um sonho? Meu pai achava que sim.
É bom pensar que o mundo onírico, um dia, fatalmente tornar-se-á realidade eterna.
A morte pode ser um sono eterno sem sonhos... Aí seria terrível, se a gente sofresse por consciência. Mas não... A morte é o fim do sofrimento, ou a vida de sonhos sem fim!

"Alguém como tu"- Por Socorro Moreira


Eu torcia muito pelos amores, no mundo do cinema.No mundo que me cercava os casamentos eram para sempre , e o amor inevitável... Triste ou feliz !
Em todos os tempos a vida coloria o nosso dia a dia.
Música, Cinema, Leitura ( fosse ou não sub-literatura), viagens para as capitais ( ver o mar , e assistir um filme no S.Luiz era um prémio!), voltear na Siqueira Campos aos domingos, arriscar uma fugida nas tertúlias e dançar uma música ;os passeios da escola ...Um dia tomando sol; banho de piscina era o máximo!
As festas litúrgicas com parques e quermesses, as quadrilhas de S.João, os blocos nos carnavais...Entrar no corso, num jeep sem capota era demais !
Mas o melhor desse tempo era passar férias numa cidade pequena , em relação ao Crato.A gente era paquerada pelos meninos mais interessantes. Danado era você escolher, não entregar seu coração, e ficar fiel durante todo tempo àquela ilusão. Hoje sei que era ilusão...Mas eu me sentia tão apaixonada, e chorava tanto, quando as férias terminavam!
E dessas partidas, vivi minhas primeiras dores de amor. Depois entendi que elas representavam apenas arranhões no coração. As grandes feridas ficaram pra depois... Hoje, cicatrizes , imperceptíveis ! .
O amor na maturidade tem tantas caras :
a cara dos netos, dos filhos, dos amigos...
a cara dos encantos sem paixão
a cara da serenidade do coração
Queria que o meu coração
pulasse do peito outra vez
só pra ver a confusão...Mas não !
Ele fica quietinho, querendo alimentos leves, e com pouco sal. Ele faz caminhadas, pra aguentar a vida e as suas saudades... Ou verdades?
Em qualquer estação , ainda é possível viver a ilusão. Às vezes ela bate na porta, outras aparece num e-mai. Nos sentimos tocados com cenas amorosas de filmes e novelas.
Não quero me emocionar com personagens da ficção.Quero um nome , um apelido pra minha ilusão .O importante é que esse amor não implique em desencanto. A gente constroi o sonho.

Amanhã, dia 20 de Outubro é o dia do POETA. Vamos fazer festa ?



Quem é o poeta?

"Um poeta é um mundo encerrado num homem". Victor Hugo
"Para o poeta a maior tragédia é se o admiram porque não o entendem". Jean Cocteau
"O poeta é como o príncipe das nuvens. As suas asas de gigante não o deixam caminhar". Charles Baudelaire
"O homem de ação é antes de tudo um poeta". André Maurois
"À pergunta habitual: ''Por que é que escreve?'', a resposta do poeta será sempre a mais curta: ''para viver melhor." Saint-Jonh Perse
"O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos". Aerhur Rimbaud
"As palavras do poeta volteiam incessantemente em redor das portas do paraíso e batem implorando a imortalidade". Johann Goethe
"O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo facto de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido". Aristóteles
"O poeta deve ter um só modelo, a Natureza; um só guia, a verdade". Victor Hugo
"O louco, o amoroso e o poeta estão recheados de imaginação". William Shakespeare
"O que distingue um grande poeta é o fato dele nos dizer algo que ninguém ainda disse, mas que não é novo para nós".
José Ortega y Gasset
"A arte apenas faz versos, só o coração é poeta". André Chénier

"Ser misterioso e triste, é ser poeta:
Mesmo a luz que palpita nos teus cantos.
É uma imagem heroica dos teus prantos.
Percorre o teu caminho até ao fundo,
E com os versos que achaste, aumenta o mundo.
Não sejas um escritor, mas um profeta".
Antônio Quadros

Fonte das citações: http://www.citador.pt/
Fonte da imagem: letrapequena
Degrau Cultural

Convidamos :
João Marni, Zé Flávio, Zé do Vale, Liduína, Rosa, Corujinha, , Domingos, Roberto, Pachelly, Brandão, Everardo, Isabella,  Dedê, Edmar, Lídia, Mara, Carlos e Magali, Emerson, Nicodemos, Assis Lima, Marcos, Aloísio, Stella,Rejane, Lupeu, Leonel,, Joaquim, Tetê,, Mariano,  Thiago Araripe, Melgaço, enfim, todos os demais  colaboradores !

Bom dia


As chuvas do pequi inauguraram o inverno cratense. Tempo abafado e quente. Chove nas madrugadas. Encharcam as flores do pequi que atapetavam a Chapada. Cada flor era um fruto... Mais ainda sobraram muitos!
Escuto “Tu, mi delírio”- bela canção pra começar o dia.


Já me deliciei com a poesia de Brandão e Domingos.
Vou comprar coco para o peixe do almoço.
Que todos tenham um excelente dia !

GRANDE OTELO- por Norma Hauer


Quero hoje registrar o aniversário de SEBASTIÃO PRATA nascido a 18 de outubro de 1915, segundo alguns biógrafos ou 18 de agosto, desse ano, segundo outros. Seu nome artístico : GRANDE OTELO.
Na realidade, Grande Otelo, sempre dizia que não sabia quando nascera, pois foi criado por uma família de Uberlândia, adotando o nome de Sebastião Prata. Ele não sabia direito a data de seu nascimento, mas isso é o menos importante, quando se sabe da importância de Grande Otelo em nosso meio artístico.
Acompanhando um circo mambembe, deixou sua terra e foi para São Paulo, vindo mais tarde para o Rio de Janeiro.
Aqui, apresentou-se em circos, em cassinos e, como era de pequena estatura, começou a ser conhecido como "Pequeno Otelo", em consonância com a ópera Otelo. Com muita personalidade, já que era Otelo, seria GRANDE e não pequeno. A partir daí adotou o nome de GRANDE OTELO, com o qual se tornou conhecido em todo o Brasil e até fora dele.
Embora ficasse conhecido pelos vários filmes que, como comediante, fez com OSCARITO ( todos grandes sucessos, que só nos traziam alegrias) também foi ator dramático, sendo "Macunaína" seu maior papel nesse setor.
Trabalhou ainda em Rio-Zona Norte e "Lúcio Flávio- Passageiro da Agonia", cujo papel principal foi de Reginaldo Farias.
Lembro-me de um grande drama real que ele passou, quando sua mulher matou seu filho de seis anos e suicidou-se. Foi difícil para ele suplantar essa tragédia. Mas grande artista que era, "deu a volta por cima".
Além de fazer cinema e teatro, Grande Otelo fez um papel importante na novela "Uma Rosa com Amor", na TV Globo, com Marília Pera.
Na TV Educativa, fez papel de entrevistador, sendo uma de suas últimas apresentações entrevistando CARLOS GALHARDO em um palco aberto, no Largo do Boticário.

Grande Otelo faleceu em Paris, ainda no Aeroporto, para onde havia viajado para receber um prêmio no Festival de Nantes.
Data: 26 de novembro de 1993. Estava com 78 anos. 

Norma

A FONTE DO ITORORÓ


        Fui beber água na fonte do Itororó
aos pés
de Nossa Senhora de Monte Serrat lá no alto
entre o verde e o azul.

A fonte nem sabe que é histórica
e envelhece
(sem música).

Uma prostituta sorri numa casa triste.
Um cachorro abana o rabo,
um jumento abana o rabo,
as moscas zunem alvoroçadas.

Estou suando com o sol forte.
A água dorme com as pedras
em silêncio.
A sombra úmida mal se move no chão.

            A Muricy Domingues

________________

O Muricy lembrou-me a história da canção do Itororó e perguntou-me: Dá poesia?
Ele nasceu em Santos; eu morei lá uns 15 anos, conheci a fonte... Estranho: a música tem mais de cem anos, e já fala na falta d’água. Não, não é bem assim. Mas há uns trinta anos (quando eu estava lá) a água da fonte foi declarada imprópria para beber. Houve um Jardim do Itororó, muito antigamente. Houve uma Companhia de Águas no local. Houve o tempo implacável, com o progresso – seus benefícios e malefícios. De tudo, resta uma fonte mal conservada. Resta uma ou outra palmeira. Resta um pouco de pobreza, de tristeza. Resta uma canção...
Fui no Itororó
beber água não achei
achei bela morena
que no Itororó deixei

Aproveite, minha gente,
que uma noite não é nada
Se não dormir agora,
dormirá de madrugada

Ó dona Maria,
Ó Mariazinha,
entrarás na roda
e dançarás sozinha

Sozinha eu não danço
nem hei de dançar
porque eu tenho o fulano
para ser meu par


       J. C. Brandão